Disclaimer: Naruto e seus respectivos personagens não me pertencem.
Classificação etária: M
Intrínseco
Prólogo
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Sua pele alva fora ainda mais salientada pelo pó branco que cuidadosamente estava disposto em seu rosto — inclusive em seus lábios, mas que logo foram tingidos de vermelho. As sobrancelhas róseas também foram manipuladas de modo a deixá-las levemente arqueadas. No canto extremo de seus olhos, era notória uma sombra esverdeada, como a tonalidade de sua pupila de esmeralda. Sua cabeça doía por conta do exorbitante penteado que, embora simples, puxava os fios obstinadamente. Além disso, um kanzashi* jazia ao topo de seu cabelo, numa bela réplica de flores de lótus cravejadas em ouro branco e diamantes. Tamanha exuberância, contudo, não era suficiente para a afeição que a moça tinha por uma simples presilha de seda rosa, em formato de uma flor de cerejeira. Estava sentada em frente à sua penteadeira, observando atônita ao próprio reflexo por mais tempo do que deveria. Seu kimono branco encostava-se ao chão, cobrindo os tamancos de madeira.
Ela era uma noiva vestida tradicionalmente, porém tudo o que se passava em sua mente era um atípico dilema, que de certa forma não lhe surpreendia. Seus pais a esperavam no andar de baixo, assim como a janela aberta que a chamava para uma fuga leviana. Algumas conversas próximas a porta de seu quarto soavam alegremente, mas seu coração parecia bater cada vez mais triste e fraco. Ela pegou mais uma vez a presilha, desfrutando de uma breve lembrança do momento em que a ganhara. Sorriu.
Não importa qual passo ela desse, seria crucial em sua vida. Ela riu novamente, estalando a língua. Estava em um daqueles momentos em que uma simples decisão mudaria completamente a sua vida. Pular ou não a janela? Mas não era a primeira vez que uma simples ação tenha mudado a sua vida — evidentemente que não. Ela já tinha seus vinte e um anos completos e passara por muitas coisas durante esses anos. Só que nem sempre o poder de decisão esteve ali, tão próximo de si que ela tinha a sensação de que poderia até mesmo tateá-lo. Seja o que for que lhe ocorresse futuramente, ela não poderia culpar o destino, visto que desta vez ele parecia conceder-lhe a escolha.
Ledo engano.
Levantou-se, arrastando o tamanco barulhento no chão. Fitou seu kimono exagerado pelo espelho. Embora não gostasse de tamanha formalidade, sua família a obrigara a seguir tais tradições. A penteadeira estava cheia de objetos supérfluos, com exceção da presilha velha. Parada no meio do cômodo, havia um empasse em sua cabeça. Sem ainda saber o que faria, trilhou em direção do pequeno objeto. Tarde demais. Além de pegá-lo, notou que a janela tornou-se convidativa e que as suas pernas passaram a agir impulsivas.
Já estava na calçada quando notou qual fora a decisão tomada. Talvez, daquela vez, ela não pudesse botar a culpa no destino. Queria poder acreditar que a decisão, certada ou inequívoca, era unicamente dela. Entretanto, ele havia brincado com seus sentimentos, e agora ela tinha de concertar os danos que tinha causado. Não poderia mais voltar atrás, não quando já estava pulando para cima dos telhados da vizinhança, correndo em uma direção bastante conhecida por ela — com aquela pequena presilha em mãos.
O acaso torturou-os, imprudentemente, brincando com suas emoções. As coisas aconteceram tão de repente, e foram se arrastando com o tempo. Era como uma avalanche que só aumentava a velocidade com a descida e o tempo. Não importava o que acontecesse, as coisas eram mais intensas hoje do que ontem, e provavelmente serão ainda mais amanhã, comparadas a agora.
Talvez, ao chegar onde seus passos errantes a levavam, não fosse bem recebida. Porém, não era como se aquilo lhe surpreendesse. Afinal, há quase dois anos também não fora bem recebida. Também, há quase dois anos, se tornaram fantoches do destino. E, também neste mesmo intervalo de tempo, permaneciam presos em um intrínseco dilema.
O destino era mesquinho ao brincar com a vida.
*kanzashi: espécie de adereço de cabelo usados em penteados. Um tipo de presilha.
N/A: Eu sei que sumi há alguns anos, porém esse projeto estava engavetado (e concluído, diga-se de passagem) desde 2013.
Caso ainda haja algum leitor de O Plano, acredito que teremos uma boa notícia em breve rs
No mais, comentários são bem-vindos e apreciados.
=)
