Vingança
_Olá, Pai. – Sorento o acompanhava de perto, um facão na mão caso ele tentasse se soltar.
_Benny. – e então o Pai virou-se em sua direção. – Estou sem palavras.
Aqueles olhos azuis claros se fixaram em sua face e Benny por um momento fraquejou em sua missão, viu quando ele colocou o livro em cima da mesa, ainda sem desviar os olhos de si.
_Você pode nos ajudar a entender? – o ouviu perguntar. – Eu sei que você não nos deve nada, mas como? – ele parecia não acreditar que estava mesmo vendo Benny ali, parecia algo fora de sua compreensão. – Como você está aqui, parado na minha frente?
_Eu encontrei um caminho de volta. – respondeu simplesmente, ia matá-lo mesmo, não tinha porque esconder a verdade.
_Do inferno? – o Pai perguntou, Benny sentiu um incomodo e tentou se manter firme, mas aqueles olhos o estavam perturbando.
_Da porta ao lado, é o máximo que posso dizer. – estava cansado de ficar respondendo perguntas, queria apenas cortar algumas cabeças e sair dali vitorioso, só queria que aquela parte de sua vida acabasse, porque estava cansado.
_Porta ao lado? – ele insistiu. – O que é isso?
Sorriu minimamente, como o Pai era curioso! Tinha se esquecido disso depois de tanto tempo no Purgatório.
_Oh, acho que vou ter que te mostrar. – disse.
Estava queimando por dentro, seu Pai tinha lhe descartado, o tinha jogado lá, por isso iria se vingar, mas o Pai não fez nada, não se abalou com aquelas palavras rancorosas, nem mesmo sua expressão facial mudou, era como se estivesse aceitando aquela virada de jogo.
E então uma única resposta.
_Eu sei que isso não vai mudar nada, – ele começou. – mas me arrependi de ter matado você. – isso doeu em Benny, mais do que qualquer outra coisa, mais até mesmo do que ter perdido Andrea. – Quando estava tudo acabado, eu chorei quando vi você em todos aqueles pedaços.
Sorento pareceu desconfortável no cômodo, como se estivesse invadindo a privacidade do Pai e de seu filho preferido, porque todos sabiam, Benny era especial demais para ele.
_Não foi, Sorento? –o ouviu perguntar para o outro que estava li. – Eu não chorei como o bebê mais feio do mundo?
_Sim, Pai. – respondeu, encarando Benny com fúria, ele queria ser o preferido, Benny tinha traído o Pai, mas ainda assim, continuava sendo o único para ele, isso não era justo, tinha estado o tempo todo com o Pai e nunca ganhara nada além de palavras, diferente de Benny, que sempre teve tudo, que sempre teve o Pai. – Foi quando você decidiu transformar a vaca dele. – emendou, querendo que o Pai lhe desse logo a ordem para arrancar a cabeça de Benny.
Desviou seus olhos para Sorento e o vampiro pode ver toda aquela fúria nos olhos azuis revoltados.
_O coitado está amargo porque a vaca não quer mais saber dele.
Benny pareceu ignorá-lo, pois seus olhos buscaram os do Pai.
_Por que você não a deixou morrer? – perguntou. – Ela não significava nada pra você.
_Mas ela significava tudo pra você. – o Pai o cortou, deixando que tudo aquilo saísse, ele tinha raiva, odiava o fato de que Benny o deixara para ficar com Andrea. – Se isso era tudo o que eu podia salvar do meu filho rebelde... A mulher por quem ele desafiou seu Criador... – e sorriu de lado, encarando Benny. – Eu queria alguém para lembrar de você.
Benny teve vontade de deixar aquilo tudo para trás, que o Pai o matasse novamente, por um momento deixou de se importar com aquela vingança estúpida, afinal Andrea estava viva, por que continuava com aquilo então? Suspirou fundo e então o ouviu continuar.
_Eu suponho que você tenha voltado dos mortos, bem... Essa é a definição de motim, não é? – a voz dele continuava calma enquanto se referia ao fato de que Benny estava ali unicamente para matá-lo, o Pai encostou-se na mesa, continuando o monologo. – Tudo isso tem feito com que eu me sinta muito... – ele fez uma pausa, como se escolhesse a palavra certa. – Cansado.
_Você deveria ter me deixado ir. – Benny resolveu reagir, não queria ficar ali, vendo-o falar daquele modo que fazia seus sentidos falharem, a beleza e a voz do Pai ainda o faziam tremer.
_Mas, Benny, eu não deixo as coisas irem. – o cortou.
_Mesmo? – devolveu. – Você viveu tanto tempo, como é que tem tão pouco? Nada além de um velho cravo e um ninho de hienas. – e então desviou o olhar para Sorento, que parecia sedento em lhe arrancar os membros.
_Eu tenho mar. – retrucou. – E eu tenho Andrea. – queria machucá-lo, queria que Benny sentisse o que sentiu quando ele o deixou por causa daquela vadia.
_Não. – Benny o cortou. – Você não a tem. Pelo menos isso eu sei. – e mostrou as mãos livres das algemas.
O Pai apenas suspirou, olhando das algemas para o rosto de seu filho, o seu preferido.
_Oh, aquela piranha idiota. – Sorento se manifestou, mataria Benny e depois Andrea, ficaria com o Pai apenas para si.
Investiu com fúria para cima dele, o facão passou perto do pescoço de Benny, mas não fez nem mesmo um arranhão. Benny aproveitou o golpe de Sorento e pegou-lhe a outra mão, algemando-a, pegou o facão e o jogou contra um armário. Pisou em cima da algema, imobilizando-o enquanto o puxava pelo cabelo para que a cabeça ficasse para cima.
O Pai acompanhou a luta sem piscar. Os olhos sem desgrudar de Benny, tão lindo, tão veloz... Um verdadeiro vampiro, elegante, majestoso... Mortal.
_Onde diabos você aprendeu a lutar assim?
_Eu tenho praticado bastante. – respondeu antes de lhe decepar a cabeça.
O Pai não pareceu se importar ao ver a cabeça de Sorento rolar, na verdade, era claro a excitação que ele estava sentindo ao ver Benny tomando o controle daquele modo, mas ainda assim, encarou o filho com descaso quando este fixou seus olhos nele.
Benny esticou os braços e abriu as mãos deixando que o facão caísse.
_Você vai ficar aí? –perguntou.
_Você está certo. – disse. – Tenho estado aqui por muito tempo, Benny. Vi todos os resultados, todos os padrões, um trilhão de vezes. – seus olhos acompanhavam Benny que se aproximava cada vez mais. – Tudo isso significa tão pouco. Esse universo é uma pirâmide de desespero, nada mais.
_Um pouco sombrio. – Benny concluiu, chegando perto o suficiente para que o perfume que o Pai usava lhe fizesse lembrar o começo, de quando o Pai o transformou.
O outro sorriu de leve, os olhos azuis nunca desviavam de Benny e mesmo que aquela tentação fosse quase incontrolável, não, ele não cederia, ele não pediria um último beijo a Benny, ele não pediria nada.
_Eu sou mau, apesar de tudo. – disse. – Ao menos tenho tudo isso para me manter frio durante a noite. Você nunca teve isso, teve? – perguntou, mas Benny sabia que não precisava responder. – Tudo tinha que ser pensado, considerado.
_Você sabe o que Sócrates disse sobre a vida sem consideração.
_Sim. – retrucou em um tom de descaso. – Mas o que nós temos? – perguntou. – Benny isso não é vida... É isso que você não entendeu ainda. É por isso que é sempre tão difícil para você, meu pobre Benjamim. – e levantou ficando quase na mesma altura que Benny.
Ouvir seu nome ser pronunciado daquele modo o fez respirar fundo, o Pai tinha razão, tudo era sempre tão difícil para ele, mas não seria agora, ele mataria o Pai, jurou por si mesmo, sim, mataria.
Deixou que aquela raiva viesse a fora e jogou o outro contra outro armário, fazendo com que a cabeça do Pai quebrasse o vidro e vários pedaços se estilhaçassem pelo chão.
O Pai estava caído.
_Levante-se. – disse, mas o outro apenas ria, o nariz sangrando pela batida violenta contra o armário.
_Essa é a ultima coisa que vou aturar de você. – ele disse, estava claro que não reagiria, doeria demais matar Benny, seu Benny, mais uma vez.
_Não. – ele retrucou, olhando o Pai caído, tão... Indefeso diante do que tinha se tornado depois do Purgatório. – Tente, droga. Tente e me mate de novo.
_Essa é minha história, seu verme. – disse com raiva, estava cansado de viver daquele jeito, estivera esperando Benny voltar e lhe levar para longe, estivera todo esse tempo esperando que ele aparecesse e cumprisse todos aqueles planos que fez com Andrea, mas nesse caso, com ele. Estava cansado, que Benny lhe arrancasse logo a cabeça, estava cansado de tudo, estava cansado de querer Benny e de sempre ficar em segundo plano por causa da maldita Andrea.
_Levante-se! – gritou, querendo acabar logo com aquilo.
_Acaba como eu quiser, não você.
Benny agarrou-lhe pelo colarinho, o cheiro do sangue do Pai entrando em suas narinas e o fazendo quase sentir o gosto bom e ferroso que tinha, como tinha boas lembranças daquele sangue. Tão doce... Escorrendo por sua boca enquanto seus corpos... 'Não!' gritou em sua mente, não queria se tornar cativo dele de novo.
_Bem, ao menos, poderei finalmente te mostrar algo novo. – disse raivoso. – Todo um mundo novo. – e mostrou a adaga que Andrea tinha lhe dado.
O Pai em momento nenhum cedeu ou implorou, Benny sofria mais que ele, machucava-o, mas sentia toda a dor, o Pai era uma parte de si, uma parte que nunca esqueceria, mas que precisava destruir.
Terminou o que tinha prometido, o Pai estava morto.
Saiu da sala e não pareceu que agora estava livre, na verdade era o contrário, sentia-se sozinho, perdido. Devolveu a adaga para Andrea e nem mesmo a olhou nos olhos e saiu dali, querendo deixar tudo para trás, mas sabia ser impossível.
O Pai ainda estava ali, com ele, dentro de si, pra sempre, e não, não era apenas modo de dizer, porque vampiros vivem para sempre. E Benny tinha certeza, do Pai, nunca esqueceria.
N/a: Essa basicamente é a cena original, eu apenas coloquei um pouco de pensamentos impuros e modifiquei o final, ou seja, quem leu até aqui e ainda não viu o ep., tem spoiler tá?! =)
