BLUEBIRD
Tarde da noite, quando o ar está parado, eu virei voando pela sua porta...
A noite não estava tão fria como na semana anterior, porém era possível sentir uma brisa leve, quase inofensiva, mas que ainda era capaz de causar arrepios.
Botan estava decidida a ir confrontar Hiei.
Não era nem louca em se atrever a lutar contra o koorime, porque sabia que perderia facilmente. Mesmo psicologicamente, era muito inferior a ele. Isso por conta do seu péssimo hábito em demonstrar emoções com uma facilidade que o youkai de fogo detestava.
Mas ela tinha um plano.
Todos os outros saíram naquela noite para comemorar a vitória do time Urameshi nas quartas-de-final do Torneio das Trevas. Uma vez que estavam hospedados em um hotel de luxo, combinaram que para aquela ocasião, iriam vestir a melhor roupa que tinham e desceriam até o Salão de Festas para beber sem se preocupar. Afinal de contas, o próximo dia seria totalmente dedicado ao descanso.
Com certeza, Hiei não ia se juntar ao grupo, porque detestava ser social e, Botan imaginou, ele não tinha nenhuma roupa adequada para vestir.
Quando notou que a turma já estava de saída do quarto do hotel, Keiko perguntou à amiga porque ela não ia.
-Estou com um pouco de dor de cabeça. Sabe como é, nós nos estressamos muito nesse tipo de evento!
-Tome um remédio e vá para a cama, Botan. Aproveite que amanhã temos o dia todo para descansar e trate de melhorar. – a amiga recomendou, dando tapinhas no ombro da guia espiritual. Só estranhou muito o fato de Botan estar vestida com uma camisola cheia de rendas por baixo do roupão. Afinal de contas, pra quê tanto excesso de sensualidade? E de onde surgiu aquela peça de roupa, sendo que Botan só usava pijamas de flanelas? Deu de ombros e seguiu o resto do pessoal, despertando seu sexto sentido feminino quando percebeu que Hiei também não estava entre eles. Arregalou os olhos, surpresa, parando no meio do corredor.
"Ai meu Deus! Justo com o Hiei?" ela pensou um pouco desesperada.
-Keiko? Esqueceu alguma coisa no quarto? – Yusuke chamou, trazendo-a de volta para a realidade. Ela deu uma risada forçada, alegando que estava se certificando se havia deixado remédios para Botan.
Assim que ficou sozinha, sentiu um frio na barriga enorme, do tipo que dá quando se anda em uma montanha-russa. Hiei poderia estar no quarto ao lado. Como ela ia entrar lá sem mais nem menos, sem que espantasse o youkai quando ele percebesse que os dois estariam a sós?
Botan parou para pensar. Se quisesse surpreendê-lo, não poderia entrar no quarto pela porta, fingindo ter perdido algo. Àquela altura do campeonato, Hiei já deveria estar farejando o plano dela de longe, por isso tratou de ser rápida. Deu uma última olhada no espelho, e sorriu com doçura. Vestia uma fina camisola de seda, em um tom de azul bem claro, com um comprimento bastante ausente. Para cobrir o que era necessário, desenhos florais de renda estavam bordados e iam até as costas, onde desciam em um decote majestoso. Seu cabelo estava metade preso, com os fios lisos que estavam soltos alcançando quase a sua lombar. Como uma boa mulher neurótica, Botan beliscou as bochechas e mordiscou os lábios, até que ambos ficassem em um tom avermelhado.
Aquela ia ser a hora da verdade.
Caminhou até a janela principal da sala, respirando fundo no momento em que decidiu pulá-la.
Do lado de fora, olhou para baixo com um medo terrível, podendo avistar pessoas entrando e saindo do hotel, que àquela altura mais pareciam pontinhos minúsculos e insignificantes. Andou graciosamente e rápido até chegar à janela vizinha. Abriu o vidro com facilidade, arrastando-o para que pudesse entrar pela sala.
Assim que aterrissou os pés no carpete macio, percebeu que estava tudo apagado. A luz do luar ajudou-a, porque estava iluminando algumas partes do cômodo, permitindo que ela avistasse que ali não tinha ninguém.
Um pouco decepcionada, andou até o centro da sala, olhando aos arredores para ter a certeza de que seu plano ia por água abaixo.
"Ele está treinando à uma hora dessas?" pensou com raiva.
Suspirou.
Tarde da noite, quando o ar está parado
Eu virei voando pela sua porta,
E você vai saber pra que serve o amor
Sou um pássaro azul, eu sou um pássaro azul
Eu sou um pássaro azul, sou um pássaro azul
No fundo se sentia uma tola por estar se preparando de forma tão ridícula, sendo que ela sabia o tipo de pessoa que Hiei era; provavelmente, mandaria ela embora antes mesmo de tentar sentir qualquer tipo de atração pelas roupas quase inexistentes que ela usava.
Ao girar os pés para ir até a janela novamente, recebeu um golpe rasteiro forte, caindo imediatamente no chão. A sorte é que havia um tapete felpudo sob os pés dela e um sofá bem ao lado, prontos para ampararem a bela guia do acontecimento repentino.
Caiu sentada, escutando um riso abafado vindo de algum lugar próximo. Ao se dar conta de que Hiei estava sentado bem ao seu lado e ele fora o responsável pela rasteira, sentiu o coração entalar na garganta.
-Hiei! – a voz saiu esganiçada, demonstrando claramente que aquilo não estava previsto dentro do plano de Botan.
Ele não disse nada; apenas perfurou-a com o olhar gélido de sempre. Botan às vezes se encontrava em um dilema sobre gostar ou não do jeito como ele a tratava. Ser intimidada pelo demônio de fogo era algo que costumava tirar o ar da guia espiritual, mas quem se importava?
Ela estava ali, sozinha com ele.
-Eu estava torcendo pra você cair daquela janela. A porta serve para quê?
Botan suspirou, se sentindo cansada pelo início da possível rodada de "elevação dos defeitos" que Hiei adorava fazer sempre quando se encontravam.
-O que é mais fácil não tem graça, e acho que você concorda comigo. – ela lançou a ele o melhor olhar que pôde. Estavam ali, sentados no chão, no escuro e sozinhos. Se tratando de Hiei, não poderia ser menos inusitado.
-Não acho que seja mais fácil. Acho que é menos idiota. Você com esse pedaço minúsculo de pano cobrindo seu corpo e o mundo inteiro lá embaixo, olhando tudo. – ele usou um tom sarcástico. Botan levava tudo ao pé da letra, sempre. Sua cabeça costumava maquinar coisas impossíveis e, quando Hiei disse aquilo, ela começou a imaginar se ele não estava com uma ponta de ciúmes.
Ela levantou e parou bem à frente dele com as mãos na cintura, como se quisesse fazê-lo acreditar que ela realmente estava irritada. Estava mesmo é tremendo de nervosismo.
-E qual seria o problema se eles olhassem? – perguntou, fazendo cara de desdém.
Hiei deu um meio sorriso. Não conseguia se conformar em como aquela garota conseguia ser tão idiota.
-Por mim, você pode fazer o que quiser. Isso não é da minha conta.
Tocar seus lábios com um beijo mágico
E você será um pássaro também,
E você saberá o que o amor pode fazer
Ele conseguia ser muito irritante. Ela detestava ter que admitir que sentia uma coisa pura e um pouco ingênua por alguém tão indiferente e desdenhoso. Afinal de contas, porque ele simplesmente não deixava de lado a carranca e, só por uma noite, se deixava levar pelo momento?
-Está certo então. – decidida e derrotada, se prontificou a sair dali o mais rápido possível para não fazer um papelão, pisando duro até chegar à porta.
Mas ela sempre se esquecia do fato de que Hiei possuía uma rapidez incontestável. Antes mesmo de conseguir alcançar a maçaneta, ele já estava cara a cara com ela novamente, impedindo sua passagem para fora da sala.
-O problema é que eu não gosto nem um pouco de pensar em tanta gente de olhando. – sussurrou com uma voz lânguida e característica dele.
Botan sentiu um arrepio no corpo todo, como se um raio a tivesse atingido o topo da cabeça, e se estendido por todas as suas extremidades, até sentir algo estranho no baixo ventre.
Oh-oh.
Voando pra longe através do ar da meia noite
Enquanto nós cruzamos o oceano,
E assim, finalmente, estaremos livres
Mais ágil do que costumava ser, Hiei a pegou no colo e em poucos instantes estavam na sacada. Aquela lua azul clareando o que antes era escuridão, o som baixinho da música que tocava no salão de festas do hotel, o vento leve que balançava as árvores... Botan conseguia avistar o mar de onde estava, ao mesmo tempo em que sentia dois braços fortes circularem sua cintura e lábios atrevidos deslizando pelo pescoço, chegando até o ombro, deixando a manga do seu roupão escorregar.
Com certeza, a visão da pele nua dela despertou um desejo irreparável no koorime, além de uma vontade louca de marca-la como sua e somente sua.
Botan deixou um gemido de dor escapar quando percebeu que Hiei cravou os dentes caninos no ombro dela. Aquela ia ser uma marca que, por menor que fosse, estaria sempre ali e vivenciaria para sempre um momento sublime e particular dos dois.
Ela se virou, ficando a poucos milímetros da boca dele. Podia sentir a respiração quente tocar sua pele e como aquilo estava sendo torturante...
O beijo que veio a seguir era lento e sedutor, carregado de paixão e desejo, e Botan certamente não poderia mais voltar atrás, sabendo que o que estava para acontecer era apenas parte do seu plano. Praguejou a si mesma por sofrer tanto antecipadamente, uma vez que havia sido bem mais fácil do que ela imaginou.
As mãos de Hiei eram espertas e chegavam aos lugares certos, na hora certa. Ela não estava preocupada em parecer controlada ou qualquer coisa do gênero. Estava claro para ele que aquela situação vinha se formando há meses, e uma hora ela seria inevitável.
Botan se soltou dos braço dele e foi caminhando em direção ao quarto. Instintivamente, o youkai de fogo foi atrás, sem precisar quebrar aquele silêncio agradável que cercava os dois.
Sozinhos em uma ilha deserta
Estamos vivendo nas árvores,
E estamos voando na brisa
Quando se deu conta, seu corpo jazia na cama macia, com o peso de um homem incrível sobre si. Os braços de Hiei prenderam Botan e ele a fitou por longos segundos. A guia conseguia ver com o canto do olho a tatuagem de dragão no braço direito dele. Aquilo a deixava tão excitada...
Ele não perdeu muito mais tempo, porque sentia a necessidade de ter aquela perfeição para si mesmo o mais rápido que pudesse. Embora jamais admitisse que ela o desconcertava, não podia deixar de concordar que ela era linda.
Se livrou de suas roupas negras e incentivou Botan a tirar as dela também. Não demorou muito tempo para que o desejo dele se concretizasse; os olhos dela cintilavam, as bochechas levemente coradas, os cabelos espalhados pelo colchão como uma cascata azul e ela...totalmente entregue a ele.
O momento em que os dois se tornaram um só foi como mágica para ela; não deixou que a dor atrapalhasse nenhum de seus pensamentos coloridos que brilhavam em sua mente. Hiei era forte, determinado e extremamente sexual.
Era de uma forma primitiva, erótica. Ele era possessivo e não muito cuidadoso quanto a se preocupar se ela estava achando estranho ou não; era de se imaginar que tudo o que ele fazia tinha o tempero que ele queria.
Mas Botan adorou tudo.
E no momento em que os dois se sincronizaram e chegaram ao ápice daquela história juntos, ela teve a certeza de que ele jamais a esqueceria.
Não foi demorado. As coisas aconteceram rapidamente, como tinha que ser. Não estavam sozinhos e a turma poderia voltar a qualquer momento.
Botan escondeu o rosto da curva do pescoço dele, rindo.
-O que foi? – ele perguntou com uma sobrancelha erguida. Ela não cessou o riso e Hiei começou a imaginar se tinha se saído mal na sua performance, ou qualquer coisa do tipo. Do jeito que aquela garota era louca, não o surpreenderia se ela dissesse que não tinha gostado e, por isso, agora queria mais.
-Quem imaginaria que um iceberg ambulante teria tanto fogo pra oferecer... – Botan caiu na gargalhada ao terminar a frase, deixando Hiei visivelmente constrangido e irritado.
-Sua...
-Mas não se preocupe, Hiei. Eu simplesmente amei tudo. E pode deixar a sua janela aberta quando puder... – ela sussurrou, encostando a ponta do nariz no nariz dele.
-Baka onna.
Se vestiram em silêncio, embora Botan estivesse morrendo de vontade de quebrar o gelo fazendo uma de suas piadinhas. Mas sabia que Hiei não era Yusuke, nem Kuwabara. Ele não tinha senso de humor algum, mas aquilo não importava. Ela se sentia feliz e com o dever cumprido.
Assim que ela ia saindo pela porta para ir embora, se virou rapidamente para beijar o seu koorime temperamental de uma forma que deixaria a continuidade daquela noite no ar.
Hiei observou-a ir até o quarto vizinho em silêncio. Foi até a sacada olhar a lua azul banhar tudo o que tocava, inclusive ele próprio. Seria melancólica em outra situação, mas naquela noite estava extremamente agradável. Se sentou no parapeito da sacada e recostou-se na parede, fechando os olhos para poder descansar.
Permitiu que um fino sorriso se estampasse em seu rosto sereno.
Agora, eles eram um só.
Nós somos os pássaros azuis, nós somos os pássaros azuis
Nós somos os pássaros azuis, nós somos os pássaros azuis
Hentai, weeeeeeeeee! Fazia tempo que eu não escrevia alguma coisa do gênero... Anyway, espero que vocês gostem. Acho que ando muito obcecada por esse casal Ç_Ç
Beijo!
