"Uau". Esse foi o único pensamento que conseguiu se processar na minha mente quando meus olhos recaíram sobre o do canto esquerdo. Não que tenha sido algo muito palpável e profundo, mas aquela simples expressão de três letras foi a única reação rápida e eficiente o bastante como resposta para o estímulo visual que eu tive. E eu de fato, verbalizaria "uau" se não estivéssemos sob todos aqueles flashs e holofotes.
Bem, ao todo, eles eram cinco. Pude ver de cara, pois ao contrário do que muitos pensam, tenho um cérebro tão capacitado quanto o de qualquer ser humano normal. Logo, com essa maravilhosa habilidade nata, consigo distinguir apenas com a visão periférica até sete coisas. Isso mesmo. Se fossem dez caras ao invés de cinco, como eram, minha visão já me trairia e para mim, já não seriam indivíduos separados, mas sim, um conjunto de pessoas. Enfim, disse tudo isso apenas para explicar que diferenciei cinco seres vivos diferentes de uma sacada só. E juro que foi bem rápido, coisa de segundos a olhadela que dei para eles ali, posando para as fotos. E foi suficiente para minha atenção simplesmente perfurar o cara do canto esquerdo. Imagino que minha expressão tenha ficado um tanto quanto exasperada logo que pus os olhos... bem... digamos... naquilo.
Imaginem comigo. O.K. está certo que não sou mais uma adolescentezinha com os hormônios à flor da pele. Tenho 22 anos de pura saúde e muita maturidade. Mas enfim, imaginem comigo. Toda mulher tem aquele fetiche... bizarro... vocês me entendem. Não é à toa que são tão comuns e famosas fantasias sexuais com padres, bombeiros, leiteiros... Bem, no meu caso, as fantasias existem, mas não com padres, bombeiros ou leiteiros.
Eu costumo ser rodeada pelos caras mais bacanas e badalados da atualidade. Quer que cite exemplos? Robert Pattinson. Aposto que você já teve devaneios com ele e aqueles olhos frios e sedutores... Então, ele já me cantou. Isso mesmo, não estou brincando! Mas a coisa foi tão "pedreiresca" que o encanto dos olhos frios e sedutores brochou no ato. Claro que ele continuou sendo o Robert Pattinson. Robert Pattinson nos dias de hoje não é mais só um cara, ele é um conceito, entende? E um conceito dos bons. E é aí que minha integridade entra. Tudo bem que sou bem influente e gracinha, mas não tenho interesse em destruir esses... conceitos. Não, jamais! E não posso negar que o menino é um docinho. Mas é pedreiro. Enfim, digamos que não saí espalhando essa característica do Pattinson aos quatro ventos por aí. Prosseguindo a lista de exemplo... logo depois de Pattinson, vem meu outro colega de trabalho, o sarado, malhado e bombado Kellan Lutz. Com o Kellan já muda um pouco de figura. Eu já tinha provado aquela montanha de músculos, e como tinha. Ele sim era hot, uma máquina na cama. E não necessariamente só nela. Enfim, Kellan tinha um grande potencial para comigo, tinha tudo para seguirmos com aquelas tardes maravilhosas de sexo selvagem e descompromissado... Se não fosse o coitado se apaixonar. Eu realmente não entendo os homens... O que um monumento daqueles queria se amarrando? Será que ele não pensava nas possibilidades de diversão que deixaria para trás? As milhares de gostosonas que ele poderia ter aos pés com apenas um estalar de dedos? Deve ser muito complexo esse meu raciocínio, só pode. Conheço pouca gente que pensa assim, como eu; mesmo para mim parecendo a alternativa mais óbvia de felicidade na vida. Aproveitar ao máximo até cansar. Carpe diem, minha gente!
Mas o mais doloroso e difícil foi ter de abdicar daquelas tardes promiscuas ao lado do loirão. Mas, tudo pelo social, iludi-lo eu não ia, não faz parte de mim. Me prender, muito menos, isso sim definitivamente não faz parte de mim. Fim da história é que como sempre, pagamos de melhores amigos na frente das câmeras. Porém, Kellan na realidade não tem mais a velha empatia por mim, longe disso. Ainda bem que ele é discreto e não teve coragem de me dizer que me achava uma vadia descarada na minha cara - só na minha cara que não, porque para minha amiga Lizzie ele disse, com todas as letras "vadia descarada", deprimente, não concordam? - , não me importaria nem um pouco de dar um murro na face angelical dele, caso o fizesse.
Vejo que estou me estendendo demais nos exemplos, mas vamos lá, prometo ser o último. Ah, o meu bichinho da goiaba, Jackson Rathbone! De longe, o mais gracinha de todos. Ele era aquilo que na minha infância eu intitularia de "príncipe". Não na aparência, particularmente o achava bem esquisitinho, mas ele era e ainda é, definitivamente, um amor. Daqueles apaixonantes mesmo, sabe? Mas eu não estou preparada para romances. E creio que não tão cedo estarei. Jackson parecia incansável, era como se estivesse disposto a me esperar o tempo que fosse. Não é lindo? Até eu, que sou eu, acho isso. Enfim, quando eu julgasse já ter aproveitado o suficiente da minha vida e ele ainda me quisesse, quase certo que com ele me amarrava. Mas isso é teoria do presente, nada mais que teoria.
Voltando ao presente mais atual ainda, se é que me entendem. O indivíduo da esquerda. Bem... o carinha se encaixava perfeitamente na minha visão do que seria uma fantasia sexual daquelas bem quentes. Para começo de conversa, só os olhos dele já eram uma imensidão de detalhes à parte. Da distância que eu estava, podia ver que eram cinzentos, cinzentos e pequenos. Mas não era só isso. Havia aquela maquiagem toda, preta e densa nos olhos dele. E é "dele" sim, você não leu errado. Ele era um homem, maquiado, mas era definitivamente um homem.
O.K.; agora vem a parte que você pensa: "que tipo de mulher tem fantasias com um gay??". Mas deixe-me terminar. Nada contra os gays, pelo contrário, eu particularmente sempre simpatizei com eles. Mas a questão é que o cara da esquerda não me parecia ser nada gay, apesar da maquiagem; ou talvez eu meramente precisava crer que ele não era. Todo caso, aquele olhar antipático e altivo – proposital, era nítido que ele estava posando – que ele dispensava a cada flash disparado estava me deixando cada vez mais interessada. E o pior é que não era só o olhar de desprezo, era todo um conjunto. Quero citar tudo que me chamou atenção. E sim, isso vai demorar. Vamos organizar então, por partes, como diria meu amigo Jack.
O indivíduo aparentava ter aproximadamente uns 25 anos. Tinha piercings. E eram mais de sete porque meu cérebro não os processou individualmente. Queria poder ter contado quantos, mas não consegui. Vi um na boca. Um não, talvez dois. Ou três. E na sobrancelha. E nas orelhas, muitos nas orelhas. Ele era quase uma peneira, admito. Eu nunca tinha parado para pensar no quanto piercings estratégicos podiam ser sexys. Mas não parava por aí não. O cabelo dele... eu nunca tinha visto um cabelo como aquele, a não ser em desenhos japoneses, onde por sinal a gravidade não parecia existir. O cabelo dele era de um preto com um vermelho sangue, bem punk. Aliás, o corte podia se dizer que era mais punk ainda. Era ralo nas laterais, como um moicano, mas eu podia ver que na região da nuca era comprido, com algumas mechinhas que davam na altura dos ombros.
Sei que estou me enrolando para conseguir deixar claro como era, mas convenhamos, só eu poderia saber o quanto aquele cabelo era difícil de se explicar. Ah, claro; já ia esquecendo. Uma espécie de franja inteira caía e cobria totalmente um dos seus olhos. Mas não de uma forma lambida. Era bagunçada, e quanto mais próximo do topo da cabeça, mais arrepiados e espetados os fios eram. De qualquer modo, o que poderia soar estranho numa mistura que envolvia piercings, maquiagem e moicano, acabava sendo extremamente style. Mas não style do tipo Marilyn Manson, juro. Era de dar calor até. Mas nada se comparava ao calor provocado pelo corpo – Oh Deus – daquele homem. Ele era alto, bem mais do que eu, vestindo aquela regata preta desbotada parecia despreocupado, com um ar de desleixo bem másculo – mas eu logo pude ver que tudo, até mesmo isso, fazia parte da caracterização. Bem, eu entendo de roupas; posso dizer que quase entendo mais de roupas do que de gente. Sei bem o quanto uma regata num corpo masculino pode ser bem... digamos... traiçoeira. Homens peludos ficam nada menos que escrotos dentro de uma regata, por exemplo. O mesmo serve para os gordinhos – é, desistam. Mas, graças ao meu bom Deus, o indivíduo da esquerda não era peludo e muito menos gordo. Muito pelo contrário, ele tinha aqueles braços pálidos, imensos, definidos e cheios de veias – babo tanto nessas veias que os caras que puxam ferro têm – perfeitamente expostos. Um sacrilégio aquilo, senhor. Tranquilamente malhado, ele. Mas não era do tipo "monkeyman", feito Kellan. Não. O carinha era totalmente definido, mas sua estrutura corporal era tão... lânguida.
Se Kellan parecia um gorila, o indivíduo da esquerda correspondia a um leopardo. Não era um atarracado de músculos feito um tanque de guerra lento, mas sim ágil, com ombros largos, clavículas protuberantes... uma coisa de louco. Mas agora vem o golpe de misericórdia: o cara era tatuado – mais que sete. Eu já estava arfando. Se tudo nesse cara fosse mais que sete, meu cérebro entraria em colapso, estou falando sério. Símbolos japoneses, um em cada ombro – gostoso. OK, vou tentar ser mais comedida, prometo. Algo na parte interna do braço. Algarismos romanos.
Não.
Não podia ser.
Eu estava realmente vendo o número 369 tatuado nas costas dos dedos dele? Aquilo era demais. Até tentei, mas não tive como não fantasiar o quanto ele devia fazer chover com aqueles três dedos tatuados.
Já estava decidido. Eu não precisava sequer conhecê-lo para saber que o queria. Do jeito que a aparência dele era, nada politicamente correta, eu tive a leve impressão de que entraríamos num acordo bem interessante...
–Ash, vamos? – eu senti o toque suave de uma mão no meu ombro. Virei o rosto de imediato, meio embasbacada e pude logo ver Jackson sorrindo para mim – estamos atrasados...
"Estávamos?" me perguntei em pensamento, ainda confusa. Sem ter certeza da resposta, me permiti ser guiada por Jackson pelo tapete vermelho, deixando o quinteto sair do meu campo de visão.
– Quem são eles, Jack?- questionei, sem conseguir me segurar naquele instante, ainda com os pensamentos embaralhados.
–Eles quem? – disse-me de volta, erguendo os olhos na direção que eu estava olhando.
Jackson, como sempre, estava esquisitinho. Usava aquele cabelo melado de creme para pentear, a textura lembrava bem demais um Nissin miojo. O.K., isso era nojento, mas ainda assim, o jeito mais eficiente de descrever a coisa.
–Oh sim – ele voltou a falar – você diz a banda alemã? São os Cinema Bizarre. Mas Ash, sorria.
Novamente ele interrompeu meus pensamentos. Eu tinha até esquecido de sorrir para as câmeras durante os segundos que os fiquei observando, mas isso era uma tremenda de uma gafe. Alice Cullen não poderia decepcionar. Eu não poderia decepcionar, melhor dizendo. Coloquei meu sorriso mais radiante para funcionar no instante em que parei juntamente ao lado de Jackson no meio do tapete, nós dois estando com o letreiro de "Lua Nova" as nossas costas. Os flashs jorraram sobre nós. E sabíamos o que todos queriam, Alice e Jasper reais, juntos e simpáticos. Fãs adoravam confundir ficção com realidade – como se não fosse inviável, visto a quantidade de personagens diferentes que encarnamos e a diversidade de colegas de trabalho com quem contracenamos.
Ficamos ali, Jackson e eu, por instantes. Mas droga, eu estava encucada. Cinema Bizarre? Banda alemã? Isso explicava o motivo de não conhecê-los – eles eram alemães, hello? – e explicava também o fato de estarem ali, no meio da premierè de Lua Nova; um mínimo de fama deveriam ter – mas eles continuavam sendo alemães.
Escutei a risada de Jackson no meu ouvido, com um arrepio.
–Hoje você está mais avoada do que o normal.
Eu ri também, em resposta. E realmente eu estava... mas não seria legal que percebessem, como aconteceu. Estava precisando relaxar e deixar alguns caprichos pessoais – como aquele, da fixação no carinha da banda – para depois. Afinal, na noite de hoje eu não era apenas um rostinho lindo e maravilhoso com interesses supérfluos. Não mesmo. Eu era a figura pública Ashley Greene. Ou melhor, a Diva Ashley – adoro isso, gente – como meus fãs amavam me chamar. Ai, ai...
