A vida é uma filha da puta.

Mas eu sou mais.

É com esse pensamento que levo o cotidiano. Enveredando-me entre as saias dessas mulheres dissimuladas, roubando dinheiro e entornando canecos até que eu esteja caído em qualquer canto sórdido e imundo. Acham que eu me importo? Estão errados. Não dou a mínima.

Chamo-me Robin. Robin de Locksley. Tenho estatura mediana, cabelos lisos e espetados num tom castanho-claro, quase loiro. Sei que sou atraente, mas não me arrumo muito. Não há muitas mulheres por aqui que valham um investimento e as que têm uma aparência relativamente decente já foram traçadas por quase todo o povoado. Eu as dispenso – exceto se estiver bêbado demais. Nesse caso, elas tomam conta de mim.

Essa noite vai ser só mais uma entre as centenas em que passei no bar. Bebendo cerveja barata, vendo esses barbudos nojentos brigando um com o outro até caírem em coma alcoólico. Talvez mais tarde eu vá até a mesa de baralho, mas roubei tanto dinheiro deles na última vez que duvido que me deixem participar.

Babacas.

Eu estava rindo de um idiota que levara um tapa na cara de uma das vagabundas sorrateiras que ficavam pelo bar quando John encheu meu caneco e me chamou a atenção.

"Você a viu?"

"Vi quem, seu bêbado idiota?"

"Aquela garota que apareceu na porta do bar."

"Eu estou de costas para a porta, como eu iria vê-la?"

"Azar o seu, Locky." Ele gargalhou, batendo a caneca contra a minha. "Ela era a coisinha mais linda que eu já vi."

"Você nem sabe o que é uma mulher, seu porco." Empurrei-o para longe de mim.

"A garota era uma princesa."

A voz de Matthew me surpreendeu. Ele puxou uma cadeira e sentou-se perto de mim. Era um covarde, mas eu sabia que ele era uma boa pessoa.

"Mas uma pena que saiu correndo. Se entrasse, eu a convidaria para beber comigo."

Olhei para trás e me deparei com a porta fechada, mas o pensamento me incinerou. Quem seria essa garota? Qual seria a sua história?