Disclaimer: The GazettE não me pertence. Essa fic não tem fins lucrativos e bla bla bla

Sinopse: Quando um beijo roubado ameaça a reputação de um dos integrantes do The GazettE, todos se voltam contra Uruha. Mas quando a vida daquele a quem maltrataram está em risco percebem que cometeram um grande erro para o qual talvez não haja volta, principalmente para Aoi que descobre amá-lo. - The GazettE, AxU - YAOI.

Notas: Essa fic foi publicada no Nyah Fanfics originalmente em 03/01/2011 e terminada em 11/01/2011 mas como o site proibiu as fics de banda...


POR UM FIO

Capítulo 1.

Choque.

Não dava pra definir o que estavam sentindo de outra forma.

Estavam todos em uma sala de espera, cada um tentando reagir a aquilo de alguma forma e se distrair enquanto esperavam alguma noticia de Kouyou.

Há quanto tempo estavam ali? Horas. Implacáveis e incontáveis horas sem que nada lhes fosse dito. Estavam perdidos, confusos, sem saber o que fazer ou pensar. Diante disso, as hipóteses sobre o que pudesse estar acontecendo lá dentro com o parceiro de banda eram as piores possíveis.

Se tivessem agido de outra forma, não tivessem ignorado aquilo não estaria acontecendo. Não estariam naquele hospital lamentando qualquer coisa. Kouyou estaria ali com eles e não naquele carro.

Kai olhou ao seu redor, observando os outros membros. Cada um com sua culpa. Ruki mordia os lábios freneticamente enquanto Reita parecia muito atento, pronto para interpelar qualquer um que passasse vestido de branco por ali e disposto a ter informações até mesmo à força. Já Aoi estava ausente, com olhar perdido, certamente absorto em pensamentos.

Talvez tivessem começado a perceber o absurdo daquela situação, em como os três tinham sido injustos. Aquele beijo que o guitarrista loiro roubara de Aoi durante um fanservice em um live não justificava de forma alguma o modo como passaram a trata-lo. O que seria capaz de justificar más palavras e até mesmo a rejeição até mesmo de seu amigo de infância?

O quanto não tinham decepcionado Kouyou? Como não perceberam que tinham ultrapassado todos os limites quando o isolaram daquele jeito? Uruha, que normalmente já era quieto parecia cada dia mais distante. Muito mal ouviam sua voz, a não ser quando se dirigia a Kai ou a alguém do staff. O sorriso tornou-se cada dia mais raro. Não saiam mais juntos, nem se encontravam em outro lugar que não fosse a gravadora, por nenhum outro pretexto que não fosse o trabalho.

Uruha estava se distanciando por conta própria, na certa cansado de ser enxotado. Como se sua presença não dissesse respeito a nada além do The GazettE. Como se a partir daí ele simplesmente fosse invisível ou descartável. O que mais poderia fazer após ser chamado de "doente"?

Todos os pensamentos se esvaíram quando finalmente um homem de jaleco saiu daquela sala. A reação geral foi imediata, ao pularem das poltronas e irem em direção ao médico de expressão soturna.

– Vocês são parentes de Takashima Kouyou?

– Somos amigos dele. Onegai, o que aconteceu com ele? Como ele está?

As notícias não eram nada boas.

Uruha estava muito machucado. Sofrera uma hemorragia interna da qual o pior já fora controlado, mas de qualquer modo perdera muito sangue. Quebrara algumas costelas que perfuraram alguns órgãos, e estilhaços quase atingiram a coluna vertebral. Havia batido a cabeça, mas ainda estava inconsciente. Estava fraco demais, muito abaixo do peso e isso contribuira para a situação atual. O sistema imunológico estava falhando, seu estado era delicado demais para se permitirem qualquer espécie de descuido.

Kouyou estava muito mal. Não podiam se enganar.

E a reação que tiveram frente a isso foi muito distante do pensamento de que o rapaz era simplesmente descartável. Lágrimas foram apenas o esperado, clichês de afeto assim como os sinais de ansiedade, as perguntas tolas e desesperadas, os pensamentos sussurrados e palavrões em voz alta... o forte tilintar de cacos de vidro se partindo, estilhaçados por um soco forte de quem parecia incapaz de aceitar a ideia de que seu amigo de infância estava naquela situação.

Culpa não era nada com o qual uma injeção de calmantes fosse resolver, mas pelo menos ajudava a aliviar a dor momentânea e agir com pouco mais de calma. Não era frieza, mas precisavam de lucidez. Uruha precisava disso. Ele merecia esse esforço.

– Como nós deixamos isso acontecer, Kai? – a voz de Ruki soou hesitante.

– Ainda pergunta, Takanori? Acha mesmo que aconteceu do nada? Pense um pouco.

A resposta de Yutaka foi seca. Não tinha tempo ou disposição para ser delicado. Era hora de pensar no tamanho dos erros cometidos, se aquilo tinha conserto, se poderia ao menos ser remediado. As oportunidades pareciam se esvair. Kai tentara de todas as formas remediar aquilo e manter pelo menos uma coisa de pé. Deveria se considerar um felizardo estar em uma situação melhor perante o loiro, porém pensar nisso lhe fazia mal. Era como pensar que restava pouco.

Até pouco tempo, eram uma banda de amigos. E agora, o que eram?

Sua vontade era jogar a culpa sobre todos, dizer tudo o que havia de ser dito, porém aquilo talvez não fosse necessário. Eles estavam fazendo isso sozinho, cada um ao seu modo. Alguns mais reservados, outros mais expansivos e até mesmo inconsequentes, como Reita e seu soco na máquina de refrigerantes. Esperava apenas que ele pudesse voltar a tocar seu baixo mais tarde, quando tudo se resolvesse... Ruki tentava acalmá-lo de alguma forma, tentando acalmar a si mesmo e se distrair com algo. Já Aoi...

Aoi era um caso a parte. Uma surpresa. Quem imaginava que ele poderia ir as lágrimas por alguém a quem tanto desprezara?

Desprezara mesmo?

Quantos não desdenham embora na verdade queiram comprar?

Kai só conseguia pensar que Aoi era um bastardo.

Bastardo por negar que o queria. Por desdenhar de Uruha todo esse tempo mesmo que na verdade o quisesse desesperadamente. Bastardo por negar que poderia sentir nada a mais por um homem, negando que aquele beijo roubado mudara tudo. Em fazer outra pessoa sofrer ao tentar se afirmar como um macho garanhão. Em ignorar a expressão triste do outro, em fazê-lo sentir-se rejeitado.

Bastardo por somente ter percebido o quanto estava errado quando poderia ser tarde demais, pois podia ver em seus olhos que Yuu daria tudo para voltar no tempo para que o loiro não tivesse entrado naquele carro.

Porém não podia voltar no tempo e esse tudo já não tinha mais valor algum. Àquela altura, já estavam em um caminho sem volta e para o baterista, as lembranças da véspera foram inevitáveis.

ooOOoo

Início de junho. Dia 7.

Dois dias para o aniversário de Kouyou. Uma data que, como seria normal esperava-se que fosse passada ao lado da banda, de seus amigos. Seus companheiros de estrada.

Kai vinha pensando nisso há alguns dias. Era costume que o aniversário de todos fosse comemorado onde quer que estivessem e de modo algum o loiro seria uma exceção.

Terminando o ensaio, algumas palavras do guitarrista o obrigavam a mudar de planos. Um pedido de alguns dias de folga, três ou quatro. Bem no dia de seu aniversário.

– Aconteceu alguma coisa, Kou?

– Não houve nada, Kai.

Definitivamente não era o que parecia. Kouyou tinha o rosto levemente pálido, a expressão cansada, aparentando mais desgaste que o de costume. Tudo bem: estivam ensaiando e trabalhando a todo vapor para cumprir uma agenda com vários lives, mas nada daquilo poderia justificar a expressão do jovem.

Sabia que ele estava mentindo e sentiu pena. O amigo estava se distanciando cada vez mais e ninguém parecia prestar atenção nisso. Será que ninguém via? Ninguém se importava?

– Não parece. – insistiu – Está esquisito.

– Não está acontecendo nada, é sério.

– Bem, eu pensei que...

– Sei o que pensou, Kai. – interrompeu em tom de voz suave - Sei o que está querendo dizer, mas dispenso.

– Mas nós somos...

– Errado – Uruha não o deixou completar – Não fale por eles. Eu sei que você é meu amigo de verdade, mas não tenho condições pra aguentar hipocrisia. Gomen, Kai, mas não posso. Preciso de um tempo pra mim.

– Tudo bem, Kou. Entendo. Para onde pretende ir?

– Ainda não sei, nem pensei nisso. Acho que vou ver minha família, não apareço por lá há tempos e estão cobrando uma visita há meses. Talvez seja a melhor hora.

Um sorriso discreto se fez presente nos lábios do loiro ao falar sobre seus planos. Era visível para Yutaka que não poderia negar essa vontade. Talvez fosse melhor mesmo passar o aniversário ao lado de pessoas que realmente o quisessem, e esse não parecia ser o caso dos demais membros da banda. Kouyou merecia um pouco de paz e seria injusto lhe negar isso. Tudo que poderia esperar era por alguma nova oportunidade de se redimir, algum outro tipo de ocasião. Quem sabe Uruha não voltasse mais disposto depois desses poucos dias de folga?

– O mesmo horário quando voltar do paraíso? – a voz grave de Kouyou soou próxima, interrompendo seus pensamentos. A guitarra dele já guardada no estojo, esperando apenas a resposta para finalmente ir embora.

– Hai, no mesmo horário. – respondeu, sorrindo suavemente, indagando a si mesmo se deveria continuar tentando tocar no assunto.

Optou por não insistir, sabia que ele recuaria caso se sentisse pressionado. De qualquer modo o tom de voz do outro falando em paraíso lhe dava a dimensão do que esperar, da forma como ele sentia estando junto com a banda.

– Arigatou, Kai. Até a volta.

– Até.

Viu de longe quando o guitarrista sorriu-lhe em resposta, talvez satisfeito por estar indo embora ou por ter aqueles dias de folga. Fosse como fosse era um sorriso, e nos lábios de Kouyou eram um avanço e tanto. Esperava que valesse a pena.

Diante daquelas lembranças, o celular pendia nas mãos de Kai como se fossem alguma espécie de talismã. Não que fosse certo pensar dessa forma, mas era apenas uma observação tola.O pequeno objeto parecia queimar nas mãos do baterista que não parecia ter coragem de agir diante de sua tarefa. De fato, a missão certamente não era das mais fáceis.

Como avisar a uma família que um de seus membros sofrera um grave acidente?

Kai era o líder, para o bem e para o mal, então não se tratava apenas de colher os louros quando tudo estava indo bem. Yutaka nunca fugira as suas responsabilidades e não o faria agora. Faltava apenas a coragem. Não queria pensar em como a família de Kouyou se sentiria, especialmente quando o esperavam para circunstâncias muito mais felizes.

Respirou fundo, pressionando send para que o aparelho discasse o número já selecionado na agenda. Aguardou que alguém atendesse, e quem o fez tinha a voz feminina e melodiosa. Era uma das irmãs de Kouyou e quase pode fazer um agradecimento silencioso aos céus por não ter de lidar diretamente com os pais do guitarrista. Não teria forças para tanto.

– Moshi Moshi. – a voz doce soou metálica pelo aparelho. Era a hora.

ooOOoo

Do outro lado da sala de espera...

– Como está sua mão? – perguntou Ruki, preocupado com o baixista que parecia quieto demais.

– Dolorida.

– Não era pra menos. Você destruiu a máquina de refrigerantes.

– Eu precisava desabafar de alguma forma e não consegui me controlar. – justificou o loiro, simples.

– Seu desabafo assustou as pessoas, e também custou caro.

– Já me acertei com o diretor do hospital e vou pagar o prejuízo, Takanori. – a voz soou fria, como se respondesse a uma provocação e a rispidez assustou o menor.

– Não estou me referindo a isso, mas sim a sua mão. – explicou para que não fosse mal interpretado - Poderia ter se machucado a ponto de não conseguir mais tocar.

– Nem pensei nisso... pra dizer a verdade era a última coisa que eu pensaria. – respondeu, observando a própria mão enfaixada enquanto sentia os olhos arderem – Eu nem senti dor na hora, Ru-chan. Eu só... – hesitou, sentindo algumas lágrimas descerem por seu rosto sem o menor controle – Isso não tinha de ter acontecido. Não era pra ele estar naquele carro... ele tinha que estar com a gente, comemorando o aniversário e comendo aquele bolo branco de sempre...

– Tenta ficar calmo, Ue-chan.

– Ficar calmo como?! Kou-chan é meu amigo de infância, mas olha só o que eu fiz! Eu devia ter ficado do lado dele, mas olhe a forma como eu o tratei! Nada justifica o que fiz... nada.

– Não foi só você, Ue-chan... nós também fizemos isso.

– Mas eu não tinha esse direito. Eu o conheço desde sempre e tinha a obrigação de ter ficado do lado dele. No fim ele nem estava mais se importando com o que dizíamos... e eu nem sei por que fiz isso. Por achar que ele pudesse por o nome do The GazettE no limbo por causa de um beijo? De uma coisa que no máximo despertou a atenção de fangirls yaoi? Foi tudo tão rápido... e de uma hipocrisia tão grande.

Sim, hipocrisia. O que mais Reita poderia dizer quando nenhum deles estava isento das responsabilidades e da culpa jogada nos ombros de Uruha? Akira e Takanori estavam "se descobrindo" e Kai tinha seus relacionamentos lá e cá. Aoi era o único entre eles que refutava até mesmo as pequenas insinuações que fossem além de um fanservice. Por que então agir como homofóbicos que não eram?

– Por que fizemos isso mesmo? – perguntou-se em voz alta, secando as lágrimas que insistiam em se fazer presentes. – Por que supostamente a atitude dele poderia pôr tudo a perder quanto à banda? Tudo o que? A reputação de garanhão metido a certinho do Yuu? Grande merda... grande merda.

– Não vai adiantar se culpar agora, Reita. O que temos de fazer é nos desculpar com o Kou, mas enquanto ele não acorda tudo que dá pra fazer é tentar manter a calma. Nós não vamos ajuda-lo se estivermos agindo desse jeito. Nós precisamos estar firmes para quando ele acordar.

– Mas pode ser que...

– Shhhh... Kouyou é forte. Você sabe disso, nós sabemos disso. – interrompeu Ruki, segurando as mãos do loiro em uma espécie de consolo enquanto olhava em seus olhos – Nós só temos uma chance e temos de nos agarrar a ela. Kouyou vai sair dessa. Precisamos acreditar nisso.

Em resposta, o loiro apertou as mãos pequenas que seguravam as suas. Precisavam acreditar. Precisavam mesmo.

ooOOoo

Sozinho, Aoi apenas observava de longe. Não tinha muito que fazer, muito menos o que pensar. Para falar a verdade, sequer sabia o que pensar.

O tempo nunca fora tão irônico e nunca se sentira tão... impotente. O tempo parecia não passar, não se dava conta de ponteiros ou números se movendo no relógio. E se passavam, não havia nada a ser dito. Ninguém dizia nada.

Sequer haviam deixado que o vissem. Tudo que sabia era que seu estado de saúde era grave. Exatamente a mesma informação desde que receberam aquele telefonema e entraram naquele hospital.

Não seria exagero pensar que aquelas paredes brancas estavam lhe enlouquecendo, seria?

Não por claustrofobia, pois seria tolice, mas o lugar era frio. Frio demais. E o mais estranho era pensar que Uruha estava ali dentro, em algum lugar naquele labirinto de paredes frias, sozinho.

Na verdade, sua vontade era de morrer. Certamente isso seria melhor do que estar ali, naquela espera que era bem mais que uma prova de paciência. Daria tudo para voltar atrás, para ter um pouco mais de tempo e fazer tudo diferente.

Não queria perder Kouyou.

Não queria e nem podia.

Quanto tempo aquilo ainda ia durar?

Como se rezava mesmo?

ooOOoo

De longe, Kai encerrava a ligação e colocava seu celular de volta no bolso. Secou algumas lágrimas que sequer tiveram tempo de rolar em seu rosto, tentando manter a aparência de força e calma, pois, entre todos, ele não poderia desabar. De qualquer modo, o pior já estava feito. Detestava ser o portador de más noticias, mas estava feito.

Jogou-se em uma das cadeiras, observando os rapazes logo adiante, cada um perdido em suas reações. Precisava se assegurar sobre o estado de espírito de todos, pois tinham uma longa espera pela frente e pelo jeito teriam de encarar uma verdadeira tempestade emocional. Não ia demorar para que a família do guitarrista loiro se juntasse a eles naquela espera. E a todos os que tinham alguma espécie de sentimento de culpa, seria uma prova de fogo. Especialmente para Yuu.

Isso era estranho, afinal fora Reita quem teve a reação mais explosiva ao socar uma máquina de refrigerantes, mas era Aoi quem parecia estar em pior situação. Embora calado, seu olhar lhe parecia bastante expressivo.

Desde o telefonema do hospital falando sobre o acidente Yuu parecia distante. Perdido, remoendo mais que seria o seu quinhão de culpa mesmo que sua parcela provavelmente fosse maior que a dos demais por ter começado aquilo. Tudo isso sem falar nada em voz alta, em uma reação muito parecida com a que Kouyou tivera durante todo aquele tempo.

Desconfiava que ali havia mais que culpa. Sempre desconfiara sobre algo entre aqueles dois, uma tensão estranha, algo quase palpável. Aoi admirava o loiro e uma vez chegara até a reclamar sua falta em uma entrevista. E de repente aquele beijo...

Kai nunca tinha conseguido arrancar uma resposta conclusiva sobre alguma razão para o ato. Na única vez em que Uruha lhe disse algo, foi parecido com "Ahhhhh O Aoi-san estava tão bonito..." Algo estranho se tivesse em mente que o loiro nunca dera qualquer sinal de que sentisse atração por homens... talvez Kouyou fosse apenas discreto e reservado quanto ao assunto, ou quem sabe naquele momento estivesse descobrindo algo novo, alguma espécie de sentimento diferente quanto ao companheiro de banda.

Justamente por alguém que, de todas as formas, afirmava e reafirmava sua "masculinidade". Uma atitude patética de quem se incomodava por pouco, pois estando em uma banda como o The GazettE nunca estariam livres de insinuações do gênero.

O que Aoi sentia parecia ir além da culpa pelas consequências finais, por aquele acidente. Era algo mais complexo.

Seria possível dizer que as coisas estavam mudando? Yuu sentia alguma coisa por Kouyou?

Sentiu pena. Era tudo que podia sentir diante daquelas circunstâncias, de onde as coisas poderiam estar por um fio.

Pena de Uruha, pena de Aoi... pena pelo que talvez nunca poderia se concretizar.

Kouyou precisava acordar e sair dessa para o bem de todos.

Assim como o próprio baterista precisava sair daquela letargia e agir.

– Acabei de falar com uma das irmãs de Kouyou. Eles estão vindo pra cá. – comunicou Kai, solenemente, tendo o silêncio como resposta: o mais natural dada as circunstâncias.

– Como eles reagiram? – perguntou Reita, em voz baixa.

– Ela ficou bastante abalada... prometeu que viriam imediatamente. Nem dá pra esperar outra coisa, não é mesmo?

Reita concordou, meneando a cabeça. Kouyou tinha uma família unida, era o filho caçula e único homem. Sempre protegido, acolhido. Era óbvio que estariam junto a ele se acontecesse algo.

Sempre havia uma compensação, e Uruha era muito abençoado por ainda ter alguém por si quando os próprios amigos lhe faltaram.

– Nem preciso dizer que precisam ter paciência, preciso?

A concordância à pergunta foi perceptível, ainda que silenciosa. Precisavam ter paciência, ninguém poderia esperar que fosse fácil lidar com eles quando soubessem do estado do loiro. E nem podiam fazer muita coisa, pois o que sabiam já era tão difuso... nem haviam conseguido vê-lo ainda.

– Com licença – uma voz feminina interrompeu-os. – O Doutor Nishiikawa autorizou que os senhores vissem o paciente, mas tem algumas condições.

Veriam Uruha através de um vidro. Não poderiam ficar ali por mais que cinco minutos. Parecia razoável. Não estavam em condições de exigir mais. Diante do desconhecimento total, isso era melhor que nada. Apenas concordaram e obedeceram, na esperança de que a aparentemente bondosa enfermeira lhes levassem até ele.

Ela o fez. E sem grande demora estavam ali, esperando que abrissem a cortina. Só não estavam preparados para ver o que viram.

O rapaz deitado naquela cama mal lembrava o companheiro de banda. Mal parecia Takashima Kouyou, aquele rapaz forte que colocava o palco abaixo a cada live. O pouco que podiam ver de seu corpo, coberto por um lençol, estava machucado. A pele branca maculada por hematomas e arranhões que realçavam ainda mais sua palidez. Um colar cervical mantinha o pescoço imobilizado enquanto uma máscara de oxigênio embalava sua respiração quase inexistente e outras máquinas o monitoravam.

Ele parecia tão frágil...

– Kami-Sama... – a voz de Reita se fez presente em um esgar, quebrando um silêncio que parecia sepulcral. Cada um estava imerso em sua própria reação, onde até mesmo o ato de respirar poderia ser audível.

Cinco minutos pareceu ser tempo demais e quando finalmente saíram daquela sala, perguntaram-se se por acaso não seria melhor não o terem visto daquele jeito... apenas mais uma das perguntas sem resposta. Cada um preocupado sobre o que fazer a respeito daquilo, entre remoer aquela imagem e a vontade de esquecê-la completamente.

Foi quando Aoi não aguentou mais e deixou que as lágrimas fluíssem livremente por seu rosto e os soluços se tornassem audíveis. Porque era tudo culpa sua: se Uruha estava triste, se estava naquele carro, se agora estava naquele hospital... tudo sua culpa.

Por que tinha feito tudo aquilo? Se tivesse feito diferente, não reagido como um idiota nos bastidores ao fim do live, ou pelo menos ter se desculpado um dia depois... ter feito qualquer coisa que pudesse ter o poder de mudar aquilo... talvez uma única palavra tivesse bastado.

Por que o tinha rejeitado daquela forma? Os motivos que lhe pareciam ser tão fortes antes agora não significavam nada.

Por que mesmo o tendo rejeitado e tratando-o feito bicho durante todo esse tempo, ainda tinha o sabor do beijo do loiro em seus lábios?

Pra que perder tanto tempo mentindo pra si mesmo tentando preservar uma imagem quando na verdade ficava ansioso a cada vez que ele vinha em direção a si em um live?

Sentira tanto a sua falta quando notou que Uruha não se aproximava mais dele no palco, e quando faziam algo juntos o loiro mantinha uma distancia incômoda. Ou da voz grave que ultimamente mal era ouvida, logo a voz dele que sempre lhe dera bons conselhos. Daquele sorriso tão infantil que parecia ser cada vez mais raro... e isso justo depois de tanto tempo e tanto esforço para finalmente conseguir se aproximar do guitarrista que sempre lhe parecera tão distante a ponto de acreditar que ele não tivesse apreço por si.

Tinha estragado tudo... havia machucado Kouyou e estragado tudo.

– Aoi... – a voz de Kai soou baixa. O baterista estava agachado em frente ao moreno, que chorava de cabeça baixa.

– Olha só o que eu fiz, Kai. É tudo minha culpa. Eu poderia ter evitado isso, eu...

– Não adianta pensar nisso agora. Precisa pensar no que vai ser daqui em diante. Tudo que você pode fazer é esperar e torcer pra ele acordar e quando isso acontecer vai ter de estar inteiro se quiser consertar alguma coisa.

– Consertar...?

– Kou-chan tem um coração enorme, Yuu. E você não é o único que tem dívidas com ele. Não sabemos como vai ser, se ele pode perdoar, mas é dever nosso fazer o que for possível. Agora, chore tudo que tiver de chorar porque não sabemos a que horas a família dele vai estar aqui, mas enquanto estiverem, teremos de segurar a onda.

E assim o fez. As lágrimas e os soluços vieram sem o menor controle por um tempo incontável até que perdesse suas forças, sob olhares atentos que sequer notou. Kai tinha razão, precisava estar inteiro para estar ao lado do loiro quando ele acordasse. Precisava estar forte para tentar consertar o que estivesse ao seu alcance, o que pudesse.

Se era por Kouyou, precisava fazer valer a pena.

ooOOoo

Como o baterista previra, a família de Kouyou chegou em poucas horas em velocidade proporcional à preocupação que a notícia do acidente causara, demonstrada nas expressões ansiosas em ter notícias mais concretas sobre o filho caçula.

Saber que a presença daquelas pessoas significava pensar no melhor para o loiro, fazia com que os companheiros de banda estivessem mais fortes para estar próximos a eles, para presenciar as reações diante da fala dos médicos, mesmo sabendo que isso não seria nada se comparado ao momento onde lhes seria permitido vê-lo.

Estavam sim muito abalados e não era por menos, mas ainda assim tentavam manter a serenidade. Amparavam-se de uma forma invejável, fazendo-os entender claramente a razão de o guitarrista desejar estar junto deles naquele aniversário quando provavelmente Uruha devia estar se sentindo abandonado. E quem o julgaria depois de tudo? Quem o julgaria por querer um pouco de proteção quando provavelmente se sentia desamparado?

– Há quanto tempo estão aqui, Uke-san? – perguntou o pai do loiro, esfregando os olhos.

– Há algumas horas. Viemos assim que nos avisaram do acidente.

– Vocês foram o primeiro contato?

Hai. Como trabalhamos juntos foi normal que um de nós fosse uma opção para emergências, ou a gravadora. – interveio Reita, tentando participar da conversa, afinal já conhecia a família do loiro de longa data.

– Entendo. Vocês já o viram?

O baterista meneou a cabeça, dizendo que sim e tendo o gesto confirmado por Akira.

– Como ele está? Quero dizer, qual o estado dele, de verdade?

– Não vou mentir, Takashima-san... o acidente foi violento e Kouyou está bastante machucado.

– Vocês viram o carro?

Ie. Mandaram para um depósito, mas não nos preocupamos em saber essas informações. Pelo que soube, o carro ficou destruído.

– E como está o motorista do caminhão?

– Ele não sofreu nenhum ferimento grave. Um policial disse que ele será preso por estar dirigindo bêbado. Os policiais quiseram saber por que estava trafegando em alta velocidade na contramão e fizeram os testes... parece que o homem havia tomado muito saquê. Encontraram garrafas vazias na cabine.

– Maldito... – o pai do loiro sussurrou, inconformado fechando os olhos com força e cerrando os punhos, para logo depois respirar fundo, impotente – Gomenasai, foi apenas um momento... Bem, agora que estamos aqui, não precisam mais ficar. Podem ir se quiserem.

– Ir embora?

Hai, devem estar cansados se estão aqui há tanto tempo.

Ie, Takashima-san. Não pretendo sair daqui e nem Reita. Duvido que os outros também queiram.

– Nós não vamos simplesmente deixar o Kou-chan aqui e ir embora. – disse o baixista.

– Vocês terão de trabalhar, com certeza tem vários compromissos que não poderão ser adiados. Nós os manteremos informados.

– O The GazettE é feito por cinco pessoas. Enquanto ele estiver aqui, nós também estaremos.

O homem suspirou, desenhando em seus lábios um sorriso fraco.

– Vejo que são fiéis. Kouyou tem mesmo muita sorte por ter amigos assim como vocês. Arigatou.

Engoliram em seco diante das palavras do pai do loiro. Quem eram eles pra falar em fidelidade? Aquelas palavras pesaram, especialmente para Reita cuja culpa parecia imensa, pois dentre todos naquela banda, ele deveria ter ficado ao lado de Takashima. O contrário disso era uma traição sem tamanho.

O baixista se sentia um traidor, mas ainda tinha esperanças de remediar aquilo.

- Continua...