Ele olhava para as defesas aliadas. Sentia o cheiro de sangue. Muitos estavam gravemente feridos, outros mortos. Ele fecha os olhos e solta um suspiro. Seu ninja de comunicação estava entre os feridos. Não tinha como ele enviar uma mensagem a Tsunade ou aos seus irmãos. Não sabia onde eles estavam e estava preocupado. Tinha medo que algo acontecesse com Kankuro e Temari. Tinha medo de perdê-los. Medo de ficar só. Antes não se importava com isso. Mas fora antes de conhecer Naruto e passar a entender o significado da palavra amizade. Agora ele tinha laços com os irmãos e amigos que tinha feito em Suna. Agora ele conseguia conversar, sem ameaçar ninguém e até sorrir, ás vezes. Não queria perder os laços que construira durante aqueles anos. Ele volta para dentro da tenda. Ele e os outros Kages tinham se retirado da luta. Estava perigoso e fora solicitado que eles se resguardassem. Gaara entendia. Um Kage era o maior símbolo de uma Vila. Porém ele se sentia um fraco, um covarde, por não estar lutando. Ele solta outro suspiro, frustrado com a situação. Esperava que lhe enviassem outro shinobi de comunicação. Precisava saber o que estava acontecendo. Madara tinha trazido fortes shinobis de volta do tumulo, incluindo o Quarto Kazekage de Suna, seu pai. O homem que mais odiara em toda a sua vida. Que o transformara em um monstro, uma arma e depois se arrependera e tentara matá-lo, várias vezes. Agora depois de morto ele vinha lhe pedir perdão. Gaara estava confuso. Não sabia o que fazer ou o que sentir. Sentimentos ainda eram novidades para ele. Durante os primeiros anos de vida os únicos sentimentos que experimentara foram o ódio e o rancor. Ele senta e coloca as mãos sobre o rosto. O silêncio depois da batalha o incomodava. A única coisa que se ouvia eram alguns gemidos de dor. As equipes médicas estavam atendendo os ninjas feridos. O barulho da cortina da tenda sendo afastada atrai a sua atenção. Ele se vira e vê Baki, seu antigo sensei entrando, com uma jovem loira muito bonita. Ele se levanta e olha para os dois. Quem seria aquela jovem que olhava para ele com medo? Ele espera pelas apresentações.
-Gaara-sama, esta é Yamanaka Ino de Konoha. Ela veio para ajudá-lo com as comunicações. – A jovem se adianta e faz uma reverência, porém sem encarar Gaara nenhuma vez. Ele reconhece a atitude. Já tinha visto várias pessoas reagirem dessa forma em sua presença. Por muito tempo Gaara provocou medo nos outros, e gostava da sensação de ser temido. Mas agora aquilo o incomodava. Ele fica olhando para a kunoichi por vários minutos até que ela, incomodada com o silêncio levantasse o rosto. Ele se espanta com a intensidade do azul dos olhos dela. Yamanaka Ino era dona de profundos olhos azuis que pareciam desnudar-lhe a alma e ler cada segredo dele.
-Boa tarde, Gaara-sama. Vim a pedido de Tsunade-sama para ajudá-lo a se comunicar com quem for necessário.
Gaara estava mudo, ainda sob o impacto do olhar dela. Ino não sabe o que dizer e desvia o olhar, fixando-o em Baki.
-Gaara, está tudo bem? – Baki pergunta ao ex-aluno. Gaara parece despertar do transe e olha para os dois. – Sim, claro. Gostaria de fala com Tsunade, poderia me ajudar?
- É para isso que vim. Podemos começar? – Ele confirma e Ino se aproxima. Ela estende a mão, mas como ele era mais alto que ela, Ino tem que chegar bem próxima para poder tocar a cabeça dele. Ela praticamente encosta o corpo no corpo dele, sentindo o calor do rapaz. Gaara era um rapaz bonito. Olhos verdes, pele clara e cabelos vermelhos. Ino olhava diretamente nos olhos dele, nunca tinha visto olhos tão lindos. Mesmo os olhos de Hyuuga Neji não eram tão bonitos quanto os do jovem Kazekage. Ino sentia um pouco de medo dele. Ainda se lembrava do que tinha acontecido no exame chunnin. Gaara quase matara Lee. Ela deixa seu medo transparecer e Gaara fica chateado, baixando o olhar. Ino se concentra e entra em contato com o pai que estava com Tsunade a quilômetros de distância dali.
-Tsunade, pode me ouvir? – Gaara ainda não se acostumara com aquele tipo de comunicação. Era estranho. A voz da outra pessoa parecia vir de dentro de seu cérebro.
-Diga, Gaara. Como estão as coisas aí do lado Leste?
-Muitas baixas. Tenho muitos shinobis feridos. Tem noticias de meus irmãos, ou de Naruto? – A jovem o olha séria. – Não ainda não tenho noticias de ninguém do front. Mas Ino pode ajudá-lo a se comunicar com a frente de batalha, temos outros ninjas de comunicação lá que poderão te informar a respeito deles. Precisa de apoio médico ou reforços?
-Sim, preciso de reforços, se continuarmos sendo pressionados aqui, logo não terei mais nenhum shinobi vivo. Gostaria de ajudar meus ninjas na luta.
-Ainda não. Foi uma decisão do Raikage, devemos respeitá-la. Sei que você é o General, mas ele quer evitar que os Kages sejam mortos. Espere mais um pouco.
-Certo. Obrigado, Tsunade-sama. – Ino retira a mão da cabeça dele e dá um passo para trás. O contato forçado com ele lhe deixara um pouco tonta. Gaara parecia irradiar força e poder. Ela solta um suspiro baixo, mas audível. Ele a olha.
-Não se sente bem?
-Não, estou bem, obrigada Gaara-sama. Quer tentar localizar seus irmãos agora? Eu vi Temari lutando e sei onde ela está. – Ele apenas confirma e Ino novamente se aproxima para tocar-lhe a cabeça. Os cabelos dele eram macios e pareciam ter vida própria. Ela fecha os olhos e se concentra, entrando em contato com outro membro do seu clã que se encontrava no campo de batalha. – Ayko, Gaara-sama gostaria de falar com Temari-dono. Pode me ajudar a encontrá-la?
-Aguarde Ino-chan. Ela está aqui perto. – Ela espera um pouco. Gaara a olhava. Ino sente a força do olhar dele e abre os olhos. Eles se encaram durante alguns minutos, até que ela ouve a voz de Ayko em sua mente. – Pronto Ino.
Ela faz sinal com a cabeça para Gaara e ele começa a ouvir a voz de Temari em sua mente. – Gaara, você está bem? Soubemos que houve uma grande batalha para o seu lado. Como estão as coisa aí?
- Tivemos uma grande luta e muitos estão feridos, mas conseguimos derrotar as forças de Madara aqui. Temari, nosso pai estava com ele. – Ino o olha novamente, tinha percebido uma nota de tristeza na voz dele. Ela ouve a voz de Temari de novo e volta a fechar os olhos. – O que aconteceu entre vocês? O que ele lhe disse?
-Ele me pediu perdão e disse que minha mãe sempre me amou. – Sentia-se leve em dividir aquilo com a irmã. Ele vê que Ino mantinha seus olhos fechados, era uma pena queria ver os olhos dela novamente. Ino abre os olhos no mesmo instante e ele se surpreende. Será que ela tinha ouvido seus pensamentos?
- Eu nunca duvidei disso, Gaara. – Temari responde de forma amável. – Eu lhe disse várias vezes que Yashamaru estava mentindo. Como você se sente?
-É estranho saber a verdade agora. Eu perdoei nosso pai. – Ele continuava olhando para Ino, hipnotizado. – Como você e Kankuro estão? O que aconteceu aí?
- Estamos bem. Também tivemos uma grande batalha, mas perdemos poucos ninjas.
-Eu preciso lutar, Temari. Não posso ficar apenas olhando.
-Não faça isso. Sabe que você é importante para Suna. Deve se proteger. Se algo lhe acontecer, nosso povo se sentira perdido. Espere o momento correto.
-Está bem. Temari, tenha cuidado.
-Você também, irmãozinho. – Ino não pode deixar de sorrir ao ouvir Temari chamar Gaara de irmãozinho. Ele percebe e estreita os olhos, irritado. –Assim que for possível, nos encontraremos.
-Certo. Cuide-se. –Ele encerra o contato e Ino retira a mão da cabeça dele, e se afasta. - Quer falar com Naruto agora? Posso tentar encontrá-lo? – Ele confirma e Ino começa a procurar por Naruto. Ela coloca a mão sobre a cabeça dele e entra em contato com outro membro do clã Yamanaka. – Akeme, você viu Naruto?
-Sim, Ino, Naruto está aqui, junto com os shinobis da Folha. Quer se comunicar com ele?
-O Kazekage de Suna gostaria de falar com ele.
-Espere, vou chamá-lo. –Eles aguardam e logo ouvem a voz de Naruto. – Diga, Gaara. Como estão as coisas aí? Soube que houve uma grande batalha, mas que vocês conseguiram vencer as forças de Madara. Parabéns.
-Você está bem, Naruto? – Ino percebe a preocupação na voz de Gaara e se surpreende. Ela abre os olhos e vê que Gaara a encarava, firme.
-Estamos bem, Gaara. Ino está com você, certo?
-Estou aqui Naruto. – Ino fala, séria. – O que você quer?
-Shikamaru queria saber se você tinha chegado bem aí.
Ino dá um pequeno sorriso. – Diga a ele que cheguei aqui sem problemas. Um ANBU me escoltou. Naruto, nossos amigos estão bem? – Ela vê que Gaara acompanhava a conversa curioso. – Sim, Ino estão todos bem. Gaara, logo irei até aí. Tome cuidado até lá. Sei que o Raikage decidiu que os Kages não devem participar da lutas e imagino que deva estar chateado com isso, mas acho que ele está com a razão. Por enquanto é melhor vocês se manterem fora.
-Você também não deveria estar lutando Naruto. Sabe que Madara quer pegar os últimos bijuus. Você e Killer Bee são os alvos deste confronto. – Naruto dá uma risada e se despede. Ino retira a mão da cabeça de Gaara, um pouco e se afasta dele a contragosto. – Obrigado, Yamanaka Ino.
-Me chame de Ino. Ficarei aqui para ajudá-lo até que o seu ninja de comunicação esteja bem. Depois retornarei para junto de meu time. – Ela não sabia por que estava dizendo aquilo. Ele já sabia que sua permanência ali era temporária.
-Você estava lutando? – Ele a olha surpreso e ela fica irritada. Sabia que era baixa e miúda. Mas ele não precisava fazer aquela cara de descrença. – Sim, eu estava lutando contra as forças de Madara. Afinal sou uma shinobi e fui treinada para lutar por aquilo que acredito e por aqueles a quem amo. – Ela faz uma reverência e sai, zangada. Ele fica olhando sem entender por que ela tinha ficado tão brava. Por um momento ele esquece que estão em uma guerra e se concentra na imagem da loira.
XXX
Idiota. Sabaku no Gaara era um idiota. Por que aquela cara de surpresa? Ela era uma excelente kunoichi, sabia lutar e executar jutsus incríveis. Estabelecer comunicação á longas distâncias era apenas uma de suas habilidades. Ela solta um suspiro e retira a bandana do pescoço. Sentia-se cansada. Estivera lutando por mais de vinte e quatro horas, quando seu pai lhe chamara e a mandara para ajudar o Kazekage. Não gostara nenhum pouco da idéia. Sentia medo de Gaara. Naruto dizia que ele era uma ótima pessoa, porém muito fechado, mas Ino se lembrava de que ele quase matara Rock Lee no hospital. Fora Naruto e Shikamaru que salvaram o rapaz. Ela se senta em um banco na frente da tenda dele e fica a espera. Tinha que ficar próxima e a disposição dele. Gaara poderia precisar dela a qualquer hora do dia ou da noite. Ela fica sentada durante alguns minutos, mas não fazia parte de sua personalidade ficar parada muito tempo. Ela começa a se alongar e não percebe que a cortina da tenda tinha sido aberta pelo lado de dentro. Gaara ia chamar Ino para tomar um chá. Percebera que tinha ofendido a kunoichi e pretendia se desculpar. Ele a vê se alongando e fica observando como ela movia o corpo. A jovem era muito bonita. Gaara nunca tinha se interessado por garotas antes. Não tinha tempo e não gostava do assédio que sofria em sua Vila. Mas Ino atraia seu olhar. Ele a fica observando durante um longo tempo, até que Ino percebe e se vira para ele. Rapidamente ela se endireita. – Precisa de algo, Gaara-sama?
Por um momento ele se esquece do que tinha ia falar-lhe, depois com um meneio de cabeça ele abre a cortina. – Vim lhe convidar para um chá. Aceita?
Ela fica surpresa e confirma com a cabeça. Ele então segura a cortina para que a jovem entrasse e a segue para o interior da tenda. Ele puxa um banquinho para que ela se sentar e a serve, servindo-se em seguida. Gaara se senta a frente dela e a olha. Ino sente um arrepio na coluna ao sentir os olhos dele sobre ela. – Acho que lhe devo desculpas. Não queria ofendê-la, tenho certeza de que é uma grande shinobi, afinal pertence à força ninja de Konoha e é filha de Yamanaka Inoichi, alguém por quem tenho grande respeito. Só fiquei surpreso que tivesse aceitado deixar o campo de batalha para vir me ajudar. Lhe sou grato por isso.
- Tudo bem, acho que me zanguei a toa. Shikamaru, meu parceiro, sempre me diz que devo controlar meu temperamento. Tem razão, não queria deixar meu time, mas meu pai me pediu para vir ajudar-lhe. – Ela se levanta. – Obrigada pelo chá. Se precisar de mim, basta me chamar. – Ela se vira para sair, mas Gaara a segura pela mão.
-Fique, por favor. – Ela o olha surpresa e confirma com a cabeça, voltando a sentar. Gaara também estava surpreso consigo mesmo. Ele solta a mão da kunoichi, confuso. – Não prefere ficar aqui dentro?
Ela confirma e volta a se sentar. A mão dele era quente, ao contrário do que ela imaginara. Ela o observa discretamente. Ele volta a se sentar e pega umas folhas de papel. Durante vários minutos, ele não diz nada. Ino se sentia inquieta, não gostava de ficar parada. Era contra a sua natureza. Ela se levanta e começa a andar pela minúscula tenda, atraindo o olhar dele.
-Precisa de algo? – Ino ouve a voz baixa e controlada dele. Gaara era sério , porém muito educado. – Não, obrigada, Gaara-sama.
-Me chame apenas de Gaara, afinal não sou tão velho assim. – Ela o olha, espantada. Ele tinha pedido que lhe chamasse apenas pelo nome? E tinha feito uma piada? Será que algo tinha atingido a cabeça dele durante a batalha? Ela volta a sentar. Gaara era um verdadeiro mistério e a tinha deixado curiosa. Muito curiosa. Ela tentaria desvendar aquele mistério enquanto estivesse ali.
