Se eu me apaixonar

Fanfiction de Sion Neblina

Romance – Yaoi

Disclaimer: Saint Seiya não me pertence, todos os direitos são de Masami Kurumada. Trabalho sem fins lucrativos, apenas para diversão dos fãs.

Notas iniciais:

Yaoi - Relacionamento homossexual masculino, podendo ou não ter cenas de sexo, indicada para maiores de 18 anos.

Essa fic terá algumas passagens narrada em primeira pessoa. Tentativa de escrever algo leve sem ser exatamente uma comédia, mas, vindo de mim que sou "angstmaníaca" isso é quase um flufly. Espero que gostem.

Obs. Não foi betada, caso encontre qualquer erro, por favor, me informe e corrigirei.

Boa leitura.

I Capítulo

O santo e os pecadores

Quem não olharia para ele? Assim que ele entrou no templo, eu tive a certeza que até o grande mestre, por trás da máscara rígida, suspirava.

A calça branca e fina cobria as perfeitas pernas até os tornozelos, e me fazia imaginar como elas deveriam ser. Os pés brancos e magros eram calçados em sandálias e pareciam frágeis e desprotegidos. O sári vermelho cobria o ombro, preso a um broche dourado, assim como seus brilhantes cabelos que ondulava enquanto andava com os olhos fechados.

Todos no salão pareciam prender a respiração enquanto Shaka passava pelo tapete vermelho.

Todos os cavaleiros no santuário foram chamados para aquela reunião, inclusive os de prata e bronze e todos o observavam.

Todos os rostos estavam tensos, menos o dele, aquele mesmo ar de deus indiferente, enquanto caminhava, dizia-se até, levitava e se achegava a Deusa para fazer a reverência.

Seus olhos nem passaram em minha direção, também como saberia, se ele estava com os olhos fechados? Só vi seus lindos olhos azuis uma única vez, mas era diferente, estávamos no meio de uma batalha. Sentir-me patético por achar que ele se importaria em me cumprimentar, afinal, ali estava o mais belo, desejado, poderoso e inatingível cavaleiro de ouro.

O homem mais próximo de Deus.

-"Sagrado desde o céu até o inferno." - Ouço-me murmurar as palavras que ele mesmo havia me dito certa vez, enquanto o vejo sentar-se próximo a Mu e Aiolia, seus amigos, por que eles? Por que somente eles tinham o privilégio da amizade do indiano?

Ele e Áries não se falaram, porém, os dois franziram a testa quase que ao mesmo tempo o que me deu uma idéia de que deveria haver algum diálogo entre eles.

Os dois têm poderes psíquicos. Devem se comunicar pelo pensamento. Cheguei à leiga conclusão e decido que é melhor deixar de olhar pra ele e me concentrar no que seria dito na reunião.

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Lá está ele novamente, uma palavra era o suficiente para descrevê-lo: insolência. Era isso que lhe parecia o Cavaleiro de Fênix, desde o momento que ousou desafiá-lo, até mesmo naquele momento enquanto ele andava pelo tapete vermelho e os zombeteiros e ameaçadores olhos azuis não o deixavam.

"Ah, esse garoto irritante não tira os olhos de mim, o que será que ele tanto olha?" – perguntava-se o homem mais próximo de Deus. Estava cansado das inúmeras e infrutíferas discussões com aquele cavaleiro que se sentia o mais sábio e forte dos mortais, porque simplesmente empatou com ele uma luta, sim, empatou e ninguém se atrevesse a dizer-lhe que ele o derrotou, ele nunca o derrotaria.

Shaka estava perdendo a paciência com aquele que chamava de "moleque". As provocações dele o tirava do sério e já não conseguia ficar indiferente, pedia a Buda para que naquele dia ele não tentasse nenhuma gracinha, estava sem nenhum humor para aquilo. Já havia se passado três longos anos desde que se enfrentaram naquela batalha quase mortal, outras batalhas vieram e, mesmo assim, o rapaz insistia em atormentá-lo.

Sempre que aparecia no santuário, fazia questão de provocá-lo até tirá-lo do seu "estado contemplativo", não entendia o prazer que Fênix tinha em vê-lo irritado.

Talvez, isso se devesse a sua alcunha de iluminado, o espírito provocador do garoto gostava de vê-lo sair de sua calma budista e afundar, só podia ser isso! – pensava o discípulo de Buda – Mas resistiria. Pena não poder reduzi-lo a pó, agora os cavaleiros de ouro eram obrigados a conviver com aqueles moleques insuportáveis, dentro do santuário.

Sentou-se ao lado de Mu e Aiolia como de costume e ficaram em silêncio, aguardando o que viria a seguir.

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Silêncio, pois a deusa se levantou, falaria de pé, ninguém entendeu, era época de paz, e por isso, aquela reunião era ainda mais estranha.

— Meus caros cavaleiros... — a voz dela era suave, mas traía certo desconforto e tristeza – Como vocês sabem, há rumores de que forças estranhas voltam a ameaçar a terra...

Não se ouvia nada no salão, silêncio absoluto. Percebeu-se que Milo trocou um olhar com Camus, e Saga e Kanon também. Não podiam acreditar que havia inimigos piores que os já enfrentados, afinal, haviam enfrentado o próprio Hades e saíram vitoriosos, então por que a apreensão de Saori?

— Eu quero deixar claro que sei o valor de todos os meus cavaleiros, porém sei que... — a deusa, que também era uma menina, parecia meio embaraçada e chegou mesmo a ruborizar um pouco antes de continuar:

— Porém, acho que nesse momento temos que ficar concentrados em nossa missão que é proteger o santuário, por isso...

O ar parecia mais pesado em volta deles.

— Terei que tomar algumas medidas urgentes e espero que me compreendam. — falou em fim. — Alguns cavaleiros terão que deixar o santuário temporariamente, para missões... distante de seus... companheiros.

Agora sim, murmúrios e exclamações, todos sabiam que deveria ser realmente algo sério, para levar Saori a uma atitude como aquela.

— Por que Atena? — perguntou Milo, mas, parecia já saber a resposta e não se preocupar muito, as missões eram normais para eles, porém, pensavam que estavam em época de paz, aquilo os intrigavam.

— Não acho que precise dizer por que, Milo, vocês não são bobos, entenderão assim que eu disser quem precisa partir, eu preciso da concentração total de todos vocês, ao menos, por enquanto... — Volveu a jovem.

Era duro para ela ter que separá-los, mas, deveria ser o certo, pensava assim e havia outros locais precisando da ajuda deles, o santuário estava protegido por seu cosmo.

— Partem para locais que saberão mais tarde, os cavaleiros de ouro, Milo, Kanon e Shura.

Mais exclamações baixas, todos tentavam aceitar e não fazer perguntas. Eles eram cavaleiros, e seguiriam sem pestanejar a vontade da deusa.

— Entre os cavaleiros de bronze sairão...

Suspense, Shun se grudou ao braço de Hyoga mesmo sem perceber e seus olhares se encontraram.

— Bem, não temos muitos cavaleiros de bronze aqui, mas, como essa missão é importante, enviarei você Hyoga...

— Não... — murmurou Shun.

— Está tudo bem, Shun, será por pouco tempo.

— E você, Ikki. — Completou a deusa.

Agora todos os olhares se dirigiram ao cavaleiro de fênix, porque todos ali faziam a mesma pergunta que seus olhos faziam a mocinha sentada no trono.

— Eu? — gritou espantado — Mas, espera aí, Saori, por que eu? Eu acabei de chegar!

— Porque sim... — disse a jovem ruborizando.

Ikki estava pasmado, sem entender, tinha acabado de chegar ao santuário, além do mais...

— Porque sim, não é resposta! — Levantou-se e cruzou os braços. Seus olhos passaram mais uma vez pelo indiano e dessa vez percebeu que a testa dele estava franzida, demonstrando preocupação. Isso não era usual, indiferença era o que mais se via em seu semblante.

— Ikki, eu não posso explicar agora, — falou a moça embaraçada e aborrecida por ser desafiada na frente de todos — Mas, é preciso que você parta, uma árdua missão o espera em local que saberá depois e precisarei de você.

— Mas, você só mandou quem tem amante aqui e pelo que saiba, eu não estou comendo ninguém nesse santuário! — gritou irritado.

Silêncio.

Todos os cavaleiros se entreolharam, os escolhidos ruborizaram. Claro que todos sabiam dos relacionamentos, porém, nunca se falou disso tão abertamente e principalmente para a deusa.

— Ikki, controle-se! — reclamou Athena — É minha decisão e não quero questionamentos, apenas obedeça, a reunião está encerrada, vocês partirão em uma semana.

A moça se retirou, juntamente com Dohko que agora era o grande mestre, e o burburinho tomou conta do salão.

No meio disso tudo, Shaka se levantou e "flutuou" para fora do templo, só que agora, sua expressão era um pouco carregada.

Desceu as escadarias e seguiria para casa, se não ouvisse alguém o chamar.

— Shaka! — ele parou; virou-se olhando o inicio da escadaria, vendo o rapaz parado a alguns metros dele.

— Ah, é você, Fênix. — disse indiferente — Hoje não, por favor, se é para vir com mais uma piadinha sobre batalhas, é melhor parar onde está.

O rapaz desceu, chegando mais próximo dele e sentindo seu perfume.

Ficou um tempo o examinando mais de perto: "seria possível uma pele tão branca, tão aveludada? A impressão que dá é que o mais leve toque pode marcá-la, e esses cabelos? Não há nada mais brilhante que esses cabelos".

— Fênix?

— Hum? — Libertou-se dos próprios pensamentos, ruborizando. Estava se comportando como um idiota, como um servo, bestificado na presença de um rei e ele não era servo de ninguém, odiou-se por isso.

— Nada, eu só queria saber sua opinião sobre a decisão de Athena, queria saber a opinião de alguém que não fosse aqueles loucos lá dentro. Pode ficar tranqüilo, hoje não quero guerra. — sorriu provocando.

— E desde quando você tem tanta consideração pelo que eu penso? — perguntou o cavaleiro de virgem na defensiva. Conhecia demais aquela ave encrenqueira para acreditar nas suas palavras.

— Você é muito metido a besta, eu não estou querendo briga dessa vez, só quero saber o que você pensa!

— Eu não tenho opinião. — disse o indiano friamente, verificando que daquela vez, ele dizia a verdade.

— Como não tem opinião? Todos têm opinião! — reclamou o mais jovem, irritado.

— A vontade da deusa deve ser obedecida e não discutida. — tornou o cavaleiro de virgem lhe dando as costas e voltando a andar.

— Ah, você é um metido mesmo! — gritou e o outro parou — Acho que você se acha tão Deus quanto aquela pirralha maluca!

— Você, por várias vezes, já me falou o que pensa a meu respeito, rapaz. E não farei nada para mudar sua opinião... — o virginiano continuava impassível, e o leonino que não gostava de perder de forma alguma uma discussão, nem que para isso, precisasse usar o argumento mais ridículo que tivesse, emendou com essa:

— Por isso que ninguém quer ficar com você! É um arrogante, insuportável e passará a vida inteira sozinho!

Shaka parou de andar com as palavras e o mais jovem sorriu satisfeito; tinha conseguido! tudo bem que o pavio do indiano não fosse tão cumprido, mas daquela vez, foi mais rápido do que pensou.

Ele ficou um tempo de costa sem olhar pra ele, depois se virou.

— O que quer dizer com isso, Fênix?

— Exatamente o que você ouviu.

— Não perderei meu tempo respondendo algo tão ridículo, tenho que me preparar para essa batalha...

— Ah, você se acha tão bom, não é? Não deve se preocupar nem com seus companheiros, nem muito menos com as batalhas, e não me olhe assim, sabe muito bem do que estou falando! — Ikki enfrentava, mas estava desconfortável, não queria começar uma briga com ele, na verdade, queria apenas se aproximar, talvez, a questão sempre fosse essa, talvez por isso, gostasse tanto de provocá-lo.

— Não, eu não sei e sinceramente não perderei meu precioso tempo tentando descobrir. — Shaka percebeu o desconforto dele, mas não facilitaria as coisas.

— Ah... Certo, mantenha a sua pose de santo e esqueça o sofrimento que as atitudes de sua deusa, acarretará aos outros!

- Minha deusa? – Shaka repetiu atônito – O que tenho eu com as atitudes de Athena? Acaso acha que ela me ouviria e mudaria alguma coisa se eu lhe pedisse?

— E você pediria?

— Isso não cabe a mim, Fênix, e não entendo aonde você quer chegar.

— Não quero chegar a lugar nenhum, só queria saber se você se importava, mas vejo que não. – ele se afastaria, mas ouviu a voz do indiano e parou.

— Eu me importo, Ikki. — disse Shaka e o outro cavaleiro estranho, desde quando ele era "Ikki?" – Fico triste que os outros estejam sofrendo, porém, não posso externar esses sentimentos e tenho que fazer a vontade da deusa.

— E por que não? Não somos bonecos dos deuses!

— Somos servidores do santuário e da deusa...

— Eu não sou servo de ninguém! — esbravejou o mais jovem — Eu lhe disse uma vez que não ligo pra deuses, Shaka, acho que você se esqueceu disso!

— Querendo ou não, você serve a uma e acho que já teve provas suficientes de que eles existem e de que nossos destinos estão nas mãos deles.

Ikki sentiu certo pesar na voz do virginiano.

— Você não gostaria que estivesse?

— Todos gostariam de serem donos das próprias vidas; não sou diferente nesse sentido.

— Todos somos donos de nossas próprias vidas, loiro, não importa o que façamos e pra quem lutamos.

O virginiano pareceu ponderar sobre o que ele disse. Balançou a cabeça em negação.

— Gostaria de pensar assim, bem, você tem mais alguma coisa a dizer?

— Não. — Ikki respondeu e passou por ele, descendo a escadaria.

Shaka ficou parado, pensando nas palavras dele. Não entendia por que aquele garoto gostava tanto de desafiá-lo. Sempre que estava no santuário inventava uma forma de chamar sua atenção, sempre questionando tudo, sempre o fazendo pensar mais do que gostava. E o pior era admitir que desde a batalha, ele não saía da sua cabeça.

Antes achava que seu interesse era pelo Cavaleiro, mas agora, em época de paz, o que o atraía tanto a ele?

Voltou para o seu templo, tentando não dar atenção a isso. Não deveria. Fênix era um homem inconstante, hostil, só ficava onde e como queria. Quantas vezes viu seu próprio irmão, magoado por seus desaparecimentos repentinos e seu temperamento explosivo?

Definitivamente não era uma pessoa que as outras fizessem questão de ter por perto, então por que ele...? Não, era melhor não pensar nessa possibilidade, porém, não tinha como esconder de si mesmo que aquele rapaz o intrigava e seduzia com seu jeito provocador. Ele parecia ter prazer em desafiá-lo e isso era ter muito mais coragem que bom senso.

— "Ah, Ikki, o que você quer comigo?" — pensou, enquanto tentava começar uma meditação.

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2º Dia:

Já era final de tarde e os cavaleiros, depois de um árduo dia de treinamento, voltavam para suas casas e alojamentos.

—"Ele não treina, ele mal aparece, será que não precisa treinar? Não, com certeza não, ele é a reencarnação de um iluminado, sua força está no poderoso cosmo e no poder de sua mente, cheio de privilégios, filho de uma mãe." — pensava Ikki chateado, ainda não tinha esquecido a discussão com o loiro, mais uma, uma de tantas.

— "E por que estou pensando tanto nele? Não paro de pensar nele desde a batalha, desde que vi seus olhos azuis, só daquela vez..."

Chegou ao alojamento já escurecido e encontrou Shun e Hyoga numa das camas no maior amasso.

Isso terminou de encher o balde de irritação do leonino e ele transbordou:

— Ah, querem parar com isso, vocês dois! — gritou furioso — Shun, você sabe que esse quarto é nosso!

O rapaz de cabelos esverdeados levantou rápido, empurrando o loiro que caiu da cama com o susto.

— Ikki, me desculpa. — pediu Shun, corando e com medo que o irmão incinerasse seu namorado, tomando instintivamente a frente de Hyoga.

- Merda, Shun! Eu já aceitei isso aí, de vocês! Querer agora, me mostrar o que vocês andam fazendo, também é demais! — gritava Fênix, possesso.

— Desculpa, Ikki... — disse Hyoga calmamente — pode deixar, vamos para outro lugar.

— E você Pato, cala a boca, ou eu nem sei o que faço!

— Tudo bem, irmão, vamos sair daqui... — disse Andrômeda olhando para o chão.

Ikki o olhou por um tempo e depois balançou a cabeça, irritado.

— Sabe de uma, fiquem aí, eu vou procurar onde dormir! — falou em fim derrotado, caminhando para a porta.

— Não, Ikki, espere, volte! — gritou Shun, mas o irmão já havia saído — O que será que deu nele?

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A lua estava alta no céu enquanto ele vagava pelo santuário, não conseguia organizar os pensamentos. Ele que sempre fora tão decidido e seguro, agora estava confuso, mas, também, em quem estava pensando? Shaka de Virgem. Queria entender por que pensava tanto nele.

"Penso sobre tudo em seus olhos, não posso mais negar, penso demais naquele loiro metido..."

Jogou-se no chão, olhando a lua, se sentia culpado por ter gritado com Shun; ele não era responsável por suas frustrações e sabia que o irmão estava triste em se afastar do namorado e do único amigo que possuía ali, afinal, só havia os três de cavaleiros de bronze no santuário naquele momento, por que os outros estavam no Japão a pedido da própria Saori.

Levantou-se, olhando em direção as doze casas. Teria seis dias e aquela noite naquele lugar; não se privaria de receber as respostas que queria, voltaria a falar com o guardião da sexta casa e, quem sabe assim, não conseguisse entender seus sentimentos por ele.

Conseguiu permissão fácil para seguir pelas doze casas zodiacais, até chegar à sexta, só não esperava o que encontrou:

Shaka estava deitado no chão do salão principal e parecia dormir. Vestia uma túnica grega branca que cobria apenas um dos ombros e seus pés estavam descalços. Os cabelos dourados espalhados pelo chão de mármore, a franja afastada revelando a pintinha que possuía na testa; e estava com uma expressão tão doce que era difícil acreditar que aquele anjo ali deitado, fosse o homem arrogante que ele conhecia.

Ikki se ajoelhou ao seu lado, estava encantado, olhou todo o rosto, os lábios rosados, levemente carnudos, e aquela pele tão alva que parecia não ser real; estava hipnotizado. Desceu a mão sob aquele rosto branco, passando o polegar na face perfeita, cuidadosamente.

"Por que sinto isso por você?" Perguntava-se e retiraria a mão, quando um punho forte se fechou sobre seu braço e uma força poderosa o paralisou. Estava preso com a mão ainda no rosto do outro sem conseguir se mexer.

— Ah, é você...— foi a única coisa que ele murmurou ainda de olhos fechados. Frio, indiferente, irritante.

— Eh... me desculpe, eu não queria te acordar... — pediu sem ter nada mais interessante pra falar e nem muito menos convincente; sentindo-se estúpido.

— Sei... — Volveu Virgem — O que faz aqui?

"Muito bem, Ikki, o que você diz agora?" Perguntava-se aflito.

— Já sei, veio pedir desculpas pelas bobagens que falou mais cedo, é isso? Ah, não, veio pedir desculpas pelas bobagens que sempre me diz? — ironizou o loiro com um meio sorriso.

"Desculpa? Que arrogante, eu jamais pediria desculpa, se bem, que isso sim, seria uma bela resposta, por eu estar aqui, tocando no rosto dele".

— Sim, é... você quer me soltar? — Ikki falou, percebendo que ainda estava paralisado.

O indiano o libertou e se levantou rápido, fazendo seus espessos cabelos roçarem no outro cavaleiro que sentiu seu perfume, enquanto observava-o se afastar, olhava sobre tudo as pernas bem torneadas de músculos perfeito, que ele nunca havia visto e agora bailavam sob a túnica curta.

— Então não veio brigar? — perguntou Shaka mantendo o meio sorriso irônico.

— Não, não quero brigar com você essa noite... — Ikki lançou-lhe o sorriso mais sacana do mundo e o loiro ficou sem fala.

Sem ter o que dizer, emendou a primeira coisa que pensou.

— Você quer tomar banho? — perguntou e Fênix o olhou boquiaberto.

— O quê?

— Você está todo sujo, vejo que chegou da arena. Bem, não sei por que vocês gostam tanto desses treinamentos, mas se quiser, pode tomar um banho...

O leonino ficou parado no mesmo local. Tentava entender as palavras do indiano, mas sua mente, sempre tão ligeira, ficou estranhamente débil.

— O banheiro é logo ali. — Continuou Shaka com a mesma indiferença, mas estava perturbado com a declaração do mais jovem, esperava uma provocação; mais uma briga e não aquele tipo de comportamento. Outro tipo de provocação, talvez, bem mais perigosa.

Ikki se levantou de onde estava e seguiu o loiro entrando no quarto espaçoso, onde havia uma imensa cama forrada com um lençol verde e várias almofadas. Não imaginava que o quarto dele fosse daquela forma, organizado sim, mas não tão aconchegante.

— Também precisamos dormir, Fênix, e eu prezo muito uma boa noite de sono. — disse o virginiano parecendo adivinhar os pensamentos dele.

— Eu pensei que todos dormissem, menos você. — provocou — Afinal você é...

Ele se interrompeu e Shaka continuou parado, parecia esperar a conclusão do comentário. Aquilo irritou o leonino que mais uma vez ficou sem saber o que dizer.

— Eu... bem...

— Já vi que andou pensando demais ao meu respeito. — falou o loiro com frieza — Também tenho pensado muito em você, desde aquela nossa luta.

— Tem mesmo? — Espantou-se Ikki, afinal, já havia se passado, bastante tempo e era uma surpresa saber que aquele loiro arrogante pensava nele, nem que fosse como um guerreiro; pois, apesar da dura batalha, até aquele momento, eles nem mesmo haviam conversado, salve, às vezes, em que o provocava com o único intuito de "azucrinar-lhe o juízo".

— Sim. — o indiano disse com naturalidade e demonstrando que não estava disposto a dar mais satisfação.

Pegou uma toalha dentro de um enorme armário e entregou para Ikki que preferiu não conversar mais. Entrou no banheiro fechando a porta.

Shaka se olhou no espelho tocando o rosto.

"Por que ele veio aqui? por que estava me tocando? O que esse garoto quer comigo?"

Indagava-se confuso, vários pensamentos assolando-lhe a mente. Resolveu afastar todos, já que ele estava ali, quem sabe não lhe fizesse companhia? Tinha que admitir que estava solitário, principalmente porque, com o decreto de Athena, os outros cavaleiros preferiam ficar o maior tempo possível com seus amantes.

Talvez, devesse seguir o conselho deles e tentar se socializar mais com os outros cavaleiros, mesmo que fosse com aquele garoto insolente que tanto o perturbava e irritava.

— Shaka! — Ouviu a voz de Ikki. Ele saíra do banheiro enrolado na toalha e olhava-o meio sem jeito.

O cavaleiro de ouro tentou desviar o olhar dele, para que o mais jovem não percebesse o quanto corou, já que isso ficava muito evidente em uma pele tão clara como a sua.

— Desculpe, é que você não me deu as roupas... — Completou, parecendo nem um pouco incomodado em estar de toalha na frente do virginiano, aliás, ele fez questão de se aproximar, e os olhos do indiano passearam pelo peito definido e molhado.

— Eh... só me aguarde um pouco... — pediu embaraçado.

— Certo, só não me faça vestir essas túnicas gregas, por favor, são ridículas, me empresta qualquer coisa, menos elas!

Shaka tentou sorrir, mas estava perturbado demais pra isso, seu rosto estava totalmente corado e o nervosismo deixava suas mãos trêmulas. Nunca ficou tão nervoso na vida.

— Claro. — respondeu, abrindo o armário e pegando uma calça branca, na verdade nem prestava atenção ao que pegava — Então, devo crer que estou ridículo? — a brincadeira era uma tentativa de equilibrar seus pensamentos. Conseguiu, respirou fundo sem que o mais jovem percebesse.

— Não, você está perfeito... — Ikki se ouviu dizer, saiu antes que pudesse evitar e agora sim, ele havia corado — Quero dizer...

— Obrigado. — Virgem o interrompeu com um meio sorriso e jogou a calça pra ele, saindo do quarto. A afirmação conseguindo derrubar todo o equilíbrio recém-conquistado.

O moreno se odiou pelo que havia dito, pegou a peça e só então olhou atônito; era um pijama, um pijama, será que ele...? Não, estava imaginando coisas, só poderia ser.

Vestiu a calça e seguiu o loiro, encontrando-o no salão do templo, dessa vez, ele estava sentado em posição de lótus com o rosto voltado para o céu, mas seus olhos permaneciam fechados.

Fênix ficou sem saber se deveria se sentar também, ou ir embora, Shaka resolveu o impasse batendo com a mão no chão num convite mudo.

— Você já tentou meditar? — perguntou desviando o rosto na direção do garoto.

— Você já tentou se divertir? — Provocou.

— Não. — ele respondeu naturalmente — Não fui criado para diversões.

— Por quê?

— Porque distrações nos afastam do nosso caminho.

— Ah, certo, mas, pelo que vejo esse santuário inteiro está se divertindo menos você.

— Do que exatamente você está falando?

Ikki emudeceu, ou aquele loiro estava se fazendo de bobo ou estava tentando fazê-lo de bobo o que era bem mais irritante.

— Ah, sexo! — Shaka falou depois de um tempo, sem parecer dar grande importância ao assunto. Mas no íntimo, não gostava nada do rumo da conversa.

— É, sexo. — Ikki insistiu, já que ele havia chegado até ali, não ficaria mais com receio de recuar — Você... nunca pensa nisso?

— Não. — respondeu Virgem com naturalidade. Depois saiu da posição em que estava e deitou-se no chão com as mãos cruzadas atrás da cabeça, bem relaxado — Eu não posso pensar em nada disso, aliás, por que estamos falando sobre isso?

— Não sei, talvez, porque a decisão de Athena de afastar alguns cavaleiros do santuário se deva exclusivamente a isso, ou você não percebeu?

— Desculpe, mas, isso não me interessa e não quero falar a esse respeito. — a sua voz saiu mais irritada do que queria, era difícil manter a frieza, mesmo porque, o moreno estava sem camisa, expondo todo o peito deliciosamente trabalhado.

Ikki corou e baixou a cabeça. Melhor seria ir embora antes que falasse mais do que deveria. Sentia que perdeu seu tempo indo ali e odiava fazer papel de idiota.

Seu lado estrategista era facilmente anulado pelo loiro e, muitas vezes, ele se sentia um bobo ao lado dele e isso estava acontecendo novamente.

Levantou-se do chão.

— Shaka, obrigado pelo banho, mas, é melhor eu ir embora.

— Por quê? — indagou o indiano — Você pode ficar aqui hoje, já que veio, não vejo problema nisso, podemos conversar e ter uma noite agradável.

O loiro já não pesava bem o que dizia, só queria que o rapaz ficasse; sua companhia era agradável, embora achasse que isso se devia mais a solidão, do que ao carisma do leonino. E realmente sentia-se sozinho.

O rapaz mirou-o perplexo e levemente irritado o que o deixou mais confuso.

— O... o quê? — Ikki quase caiu sentado novamente — Você está brincando comigo, é isso?

— Brincando com você? — Shaka não entendeu — Por que eu estaria brincando com você, Fênix?

— Você deveria me dizer! — respondeu irritado, cruzando os braços e olhando firme para o homem deitado no chão.

— Eu não sei o que eu deveria dizer, Fênix, – sua voz permaneceu indiferente — Porém, caso ache necessário me explicar alguma coisa, adoraria ouvir.

— Você não é nenhuma criança! — bradou Ikki — Para de querer brincar comigo! Logo vi que seria impossível, como sempre, conversarmos sem uma briga!

— Não entendo por que você está tão irritado — Volveu o cavaleiro de virgem— Eu só queria sua companhia, aqui tem um quarto de hóspede, poderia ficar o quanto quisesse, mas não desejo aborrecê-lo, se deseja mesmo ir, boa noite, eu não preciso mesmo de uma discussão inútil hoje!

Ikki emudeceu, a forma que ele falava não deixava dúvida, aquilo não era uma provocação, ele realmente não se dava conta das próprias palavras.

Não disse mais nada, deitou-se ao lado dele, da mesma forma que ele estava deitado, com as mãos cruzadas atrás da cabeça.

Shaka deixou escapar um sorriso e relaxou mais, olhando o céu através da imensa janela. Ikki suprimiu a irritação que o sorriso lhe causou, mais uma vez, ele saiu vencedor. Só não entendia por que achava que tudo entre eles era uma disputa.

— Você já ouviu falar da lenda de Têmis, Ikki? — perguntou o indiano, parecendo ter esquecido completamente o assunto anterior.

— Não.

— Dizem que Têmis era uma deusa que vivia na terra, mas ficou desgostosa com o comportamento humano e ascendeu aos céus se transformando na constelação de Virgem.

— Deixe-me adivinhar, você quer fazer o mesmo?

— Eu nunca quis tanto ser humano... — respondeu sem se preocupar – Sabia que nós dois temos o mesmo tipo sanguíneo?

— Por Zeus, o que é que isso tem a ver com a história da Deusa? — riu o cavaleiro mais jovem e Shaka, acabou rindo também.

— É, realmente, não tem nada a ver, não sei por que fiz essa observação, de qualquer forma, eu gosto de ter o sangue igual ao de alguém, é como se fizéssemos parte da mesma família, eu nunca tive família e ao mesmo tempo tenho uma família tão grande.

— Você nunca conheceu ninguém da sua família?

— Assim que nasci fui tirado dos meus pais e entregue num templo, eles foram responsável por mim desde então e nunca soube de onde vim, mas isso não me incomoda, a humanidade é minha família, aprendi ágape desde cedo.

— Ágape?

— Ágape é o amor universal — ele explicou — Não o amor paixão, mas o amor que temos sem esperar nada em troca, a caridade.

— Você parece que não gosta da palavra paixão... — provocou o leonino.

— Você tem razão, não gosto.

— Por quê?

— Porque ela nos separa da razão e da paz.

— Nem sempre.

— Sempre. — sorriu o indiano.

— E se você se apaixonasse um dia, loiro, o que faria?

— Atirar-me-ia num poço! — riu com vontade — Eu nasci apenas para ágape.

— Ágape... — repetiu Ikki — É um nome bonito, parece um nome de mulher. Agora, como você sabe que eu tenho o mesmo tipo sanguíneo que o seu?

— A fundação tem todas essas informações.

— E você estava olhando a minha ficha, é isso? — perguntou com malícia.

— Não, a do Shun, acho que vou treiná-lo...

— É, mas o sangue do Shun é diferente do meu.

Shaka emudeceu e depois soltou uma risada constrangida.

— Está bem, eu olhei sua ficha, que mal há nisso?

— Nenhum, só não entendo por que...

— Às vezes, caio numa mortal curiosidade a respeito dos que me cercam.

— Com isso, você afirma que não é um mortal, e que está acima dos outros? — indagou o moreno com ironia.

— De um jeito ou de outro, estou sim. — respondeu o cavaleiro de ouro com a mesma frieza e indiferença.

— Ah, claro! — disse Ikki não escondendo o tom decepcionado da voz, se levantando irritado, nem mesmo ele sabendo por que — Acho que já é hora de ir embora, Poderoso Cavaleiro de ouro de Virgem, acima do bem e do mal!

Shaka se ergueu também, confuso.

— Eu o ofendi com algo que disse? — perguntou o virginiano, reparando na irritação do rapaz — Eu nunca entendo esses seus rompantes de fúria, Fênix!

Ikki o olhou com tanta raiva que Shaka se desarmou e acabou instintivamente dando um passo pra trás.

— Não, Shaka, como um iluminado poderia ofender alguém, não é mesmo?

— Não imagino mesmo como possa ter feito isso. Mas não é necessário muita coisa para irritá-lo, não é mesmo?

— Ah, mais uma vez suas conclusões, você se acha o dono da verdade!

— Eu não me acho o dono de nada, não sou eu a sair por aí, cuspindo minha verdade como absoluta, não me compare com você, garoto! — o rapaz mais uma vez conseguiu irritá-lo.

— Não há como a gente se entender algum dia! — esbravejou o leonino.

— Eu acho mesmo que não! — concordou o virginiano.

— Adeus, Shaka de virgem, passe bem! — ele falou saindo.

— Boa noite, Ikki de Fênix — disse sem se abalar do lugar.

Ikki ainda se voltou, mas ao perceber que ele permanecia no mesmo local, sem demonstrar nenhuma reação, saiu ainda mais zangado.

—"Filho da puta, metido!" — praguejou até chegar ao alojamento

Continua...

Notas Finais: Essa fic é muito antiga, eu escrevi há muuito tempo e agora num novo surto do meu "transtorno bipolar" resolvi postar. Espero que gostem, é totalmente despretensiosa, postada apenas porque não gosto de deixar coisas inacabadas.

Beijos a todos que leram e agradeço de antemão aos reviews deixados.