Os homens pensam que possuem uma mente,
mas é a mente que os possui.

Há pessoas que amam o poder,
e outras que tem o poder de amar.

Bob Marley

Prólogo

Anos antes...

No fim do ano em que Bella mudou da Califórnia para Seattle o pai de Bella decidiu fazer uma festa de confraternização de fim de ano da empresa e convidou os funcionários representantes dos escritórios juntamente com suas famílias. Seu objetivo era, além de manter o intercâmbio entre os funcionários das filiais, fazer com que os filhos se divertissem e conhecessem mais pessoas, já que era o primeiro ano na nova cidade.

Coincidentemente, a confraternização caiu exatamente no dia do aniversário de sua filha Bella. Já passavam das onze da manhã quando ela deixou suas irmãs com amigos no parque e distanciou-se para caminhar um pouco na área verde do clube reservado para o evento. Ela queria ficar só. Sentia um pouco de saudade de sua mãe, já que ela raramente aparecia.

Bella passeava despreocupada pelo jardim, inspirando o cheiro suave da manhã, quando notou um garoto isolado em um banquinho sob uma macieira cheia de maçãs verdes, com as mãos abraçando as pernas sobre o banco, enquanto olhava para o chão. Tinha a pele translúcida, cabelo penteado de lado cor louro escuro. Parecia um quadro etéreo, pensou enquanto o observava. Bonito e com um jeitinho triste, deduziu com o cenho franzido. Talvez fosse muito tímido.

Bom, ela não era inibida, pelo contrário, sempre foi motivos de reclamações de professores por conversar demais durante as aulas. Além disso, por ter sido sempre muito próxima a Emmett, seu irmão, não tinha problemas em ficar perto de meninos. Ela os entendia e se relacionava muito bem desde criança.

Pensando assim, resolveu se aproximar.

Oi. — Cumprimentou-o despreocupada e sentou-se na ponta do banquinho de cimento.

Ele olhou-a de canto de olho, somente para seus pés, inspirou profundamente, internamente irritado pela invasão de espaço, entretanto, relutantemente respondeu: Oi.

Ele não queria estar ali. Estava aborrecido porque seus irmãos foram para casa da avó em Phoenix, restando a ele a obrigação de vir. Revoltava-o estar no mesmo lugar queaquele homem. Ainda que tentasse esquecer tudo, a mágoa era imensa pelo sentimento de proteção a mãe. Não entendia a consideração de sua mãe porele, senhor Cullen. Odiava tudo que pertencia aele. Odiava aquela festa, aquele lugar, aquele tipo de pessoas. Queria ficar bem longe para ver se o dia passava mais rápido.

No entanto, aquela menina estava lá, impondo contato.

Não está gostando da festa? — Bella arqueou a sobrancelha interessada, observando o semblante hostil.

Odeio festa. Não gosto de muita gente reunida. — Resmungou, rezando para que a garota intrometida caísse fora.

Nunca tinha conhecido alguém que não gostasse de festa. — Comentou despreocupada, ignorando a resposta ríspida, olhando nesse tempo as árvores à frente.

Pois é, eu não gosto.

E do que você gosta? — Insistiu, não se importando que ele não estivesse interessado. Ela queria fazê-lo ficar melhor, por isso insistiu.

Ele fechou os olhos e suspirou. Nunca tinha enfrentado uma situação parecida. As meninas não costumavam forçar amizade, uma vez que ele não oportunizava amenidades, mesmo assim, resolveu responder.

Gosto de ler e de músicas clássicas. — Respondeu e finalmente subiu o olhar dos pés da garota ao rosto. Ela usava um short jeans curto e um maiô florido, de amarrar no pescoço. Assustou-se ao notar o quanto a garota abelhuda era bonita, com longos cabelos castanhos, olhos grandes com âmbar, boca pequena e rosada.

Bella segurou o olhar nele, admirando-o também enquanto analisava suas linhas perfeitas. Ele era lindo, admitiu para si, notando só então seus olhos verdes claros. Ambos se encararam uns segundos, com um estranho e potente fascínio, depois desviaram o olhar, embaraçados.

Por que você não gosta de festa? — Ela tentou de novo com o interrogatório.

Mesmo com a guarda mais baixa, Edward não iria deixar de ser sincero ao expor o que pensava. Ele odiava quando sua mãe fazia isso com ele, obrigava-o a se socializar, ir onde não queria estar. Era algo insuportável para ele esse tipo de festa, principalmente por ser tímido e não conhecer os esnobes perdulários e metidos, como os tachava.

Porque é um local onde as pessoas fingem que se gostam, fingem que são iguais, comem e bebem juntas, fingindo ser amigos, quando na verdade não é assim. — Fitou suas mãos. — Então eu prefiro não viver na ilusão. Só vim porque minha mãe me obrigou. — Olhou para o chão, depois respirou fundo. —Seu pai ou sua mãe trabalha na Cullens?

Meu pai. Minha mãe não mora com a gente. Eles se separaram assim que eu nasci. — Respondeu simplesmente. —Mas eu sinto falta dela. — Adicionou com nostalgia.

Edward viu sinceridade na espontaneidade da garota, relaxou as costas no banco e resolveu falar de si. —Eu queria passar mais tempo com a minha mãe. Queria que ela ficasse mais em casa conosco, mas ela não tem muito tempo. Esse emprego suga sua vida. — Apontou para o centro da propriedade.

Bella notou a revolta no tom e se sentiu impelida a mostrar o seu lado. —Há quase treze anos não temos uma mãe presente. Desde então, cuidamos uns dos outros lá em casa. Tínhamos babá, mas não é a mesma coisa... — Suspirou. Edward não deixou de notar sua frustração e sentiu pela garota. Bella continuou. —Ela não nasceu para o lar. — Sorriu compassiva. —Acho que ela não queria ter casado. É profissional de balé. Gosta de viajar, de ser livre.

O canto dos lábios dele levantou levemente divertido com a explicação longa e desnecessária dela, achando interessante que em tão pouco tempo já soubesse tanto de uma desconhecida.

Você tem irmãos? — A menina perguntou interessada em manter o diálogo, já que percebia que ele não tinha iniciativa. Mas ela queria vê-lo melhor, queria ter a oportunidade de mostrar que alguém podia ser feliz ainda que não se encaixasse nos padrões comuns de felicidade.

Sim. Dois. — Respondeu num tom monótono.

Lá em casa somos quatro, uma escadinha em idade. Um homem e três mulheres. — Explicou sorridente, recebendo um olhar de canto de Edward. —Qual a sua idade? — Bella perguntou incapaz de deixar o silêncio ampliar. Hiperativa como era, sentia-se incomodada com o silêncio.

Faço quinze semana que vem. — Ele já sorria tímido com o tanto que ela conversava, ainda que ele não tivesse o mínimo interesse em continuar. Queria saber quando o surto de curiosidade iria acabar.

Fico admirada por um menino com quinze anos já ter uma imagem pessimista do mundo. — Seu comentário saiu mais como uma acusação, mas ela não podia evitar. Era sincera demais para deixar sua observação passar.

Por um instante, Edward pensou no que Bella disse, condenando-se pela impressão que passou inicialmente, logo resolveu mudar sua imagem. —Hoje estou um pouco chateado, só isso. — Explicou e olhou para o horizonte, pensativo. —Você não sabe o quanto a vida, o mundo, tudo é injusto. — Suspirou triste.

Então me fala. — Pediu decidida. —Quero saber por que você acha que a vida é tão injusta com você. — Insistiu, secretamente contente por tê-lo feito quebrar sua proteção.

Ele olhou-a meio incrédulo. Não acreditava que ela realmente quisesse ouvir. No entanto, coagido pelo seu olhar expectativo, impeliu-se a falar.

Acho que a vida é injusta por ter disparidades sociais, por ter pobres e ricos. Muitos têm tanto e outros não têm nada. Pior, os que têm muito usam ou massacram os que têm pouco. — Expôs pesaroso. —Hoje mesmo, uma festa onde têm ricos e pobres misturados, patrão e funcionários fingindo serem amigos. Mas é tudo uma mentira. — Disse entre dentes. —Ninguém aqui é amigo. Trata-se de uma classe suprimindo outra.

Bella assustou-se com a premissa comunista do garoto. Ele era tão novo para ter esse tipo de pensamento. E mesmo que ele pensasse realmente assim, essa revolta que ela captou não iria ajudar em nada.

Mas em que isso te afeta? Por que isso importa tanto? — Quis saber, intrigada.

Ele suspirou e abaixou o olhar, um pouco embaraçado por ter se exposto tão apaixonadamente. —Não sei dizer. — Admitiu desanimado. —Só que eu não consigo parar de pensar isso... Talvez eu seja muito idealista. Talvez eu quisesse que o sistema, o mundo fosse diferente. — Gesticulou com desilusão, movendo as mãos no ar.

Ele falava coisas sem sentido para Bella. Para ela, eles eram muito novos e não deviam preocupar-se com esse tipo de assunto. Ela nunca experimentou o diferente. Não sabia o que os menos favorecidos necessitavam, por isso não o entendia.

Qual o seu nome? — Ela perguntou, mudando bruscamente de assunto. O tema anterior ficou um pouco pesado para sua mente adolescente.

Edward. — Ele sorriu tímido e se virou para olhá-la. De novo, avaliou o seu rosto, notando agora o brilho em seus olhos cor de ouro. Não entendia porque aquela garota interessante resolveu interrogá-lo. Mesmo assim, não iria deixá-la no vácuo. Portanto, fez o próximo comentário. —Conversamos uns quinze minutos e nem sabíamos os nomes um do outro... — Sugeriu desajeitado, esperando que Bella entendesse e dissesse seu nome. Como ela não o fez, ele finalmente perguntou. —E o seu nome, qual é? — Era tudo tão novo para ele esse tipo de aproximação que não sabia como se comportar.

Bella olhou-o com os olhos analíticos antes de responder. O sorriso encantador dele a vontade de tocar seu rosto para ver se era de verdade. Parecia um anjo sob os raios do sol.

Bella. — Respondeu distraída, depois adicionou sorridente. —Hoje é meu aniversário sabia? — Comentou animada.

Parabéns. — Ele sorriu amistoso. —Quantos anos? — Perguntou e avaliou sutilmente seu corpo. Parecia uma criança, pensou. Ainda que sua conversa não fosse tão infantil.

Treze... — Deu um sorriso orgulhoso. —E sabe que eu tenho direito a pedidos, né? — Piscou brincalhona. Ele olhou-a atento, achando-a graciosa. —Mesmo que tenha acabado de te conhecer, quero um presente. — Disse com um risinho de canto, tratando-o como amigo de tempos.

O que quer? — Ele perguntou surpreso com a leveza com que ela sugeriu.

Que você sorria o resto da festa. — Disse simplesmente, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Para Edward não era. Depois ela acrescentou, sincera. —Eu fico triste de ver alguém pra baixo no dia do meu aniversário. Sorria e divirta-se. — Abriu a mão e apontou para o pátio onde estava o centro de diversões.

Mas eu não conheço ninguém aqui. — Argumentou retraído. Uma desculpa para seu isolamento. —Como vou me divertir? — Não se sentia à vontade, mesmo que aquela garota simpática o induzisse com sua obstinação a querer experimentar o diferente.

Vou ficar perto de você. — Bella levantou excitada do banco, dando pulinhos animada. —Depois vou te apresentar a algumas amigas e você vai acabar se soltando. — Avisou, colocou-se na frente dele e lhe ofereceu sua mão.

Tá, tudo bem... — Ele fez uma careta e ignorou a mão de Bella. Depois levantou e passou a mão na bermuda, espanando. —Já que é um pedido de aniversário. — Comentou mais para convencer a si.

Então vamos! — Bella chamou dois decibéis acima, pegou em seu braço e o puxou despreocupada rumo aos brinquedos. De início, ele se sentiu invadido com a mão da garota em seu braço, depois deu de ombros e aceitou. Ela devia ser assim com todo mundo, pensou.

Eles foram a vários brinquedos. Quando trocavam, pegavam pipoca, algodão doce, maçã do amor, espetinho de churrasco, lanches típicos de festa em parque. Crescia entre os dois uma genuína amizade adolescente. Quem os observava, imaginava pelos sorrisos de Bella que eram amigos de infância. Logo, em meio à diversão, facilmente deu duas da tarde.

Narrado por Bella

Era inegável a satisfação que sentia por ter quebrado os muros do meu novo amigo. Mesmo que ele fosse bem na dele, parecia estar gostando da festa. Após brincarmos no parque, perguntei se ele estava de sunga por baixo da bermuda e chamei-o para ir à piscina coberta e aquecida. Lá, brincamos de tempo embaixo d água, jogamos água um no outro e, quando cansamos, procurei Alice para pegar minha bolsa de acessórios.

Quem é? — Ela apontou Edward indiscretamente com o olhar, enquanto eu me secava.

Conheci hoje, o nome dele é Edward.

Lindinho. — Comentou, avaliando-o.

Vou casar com ele. — Brinquei e penteei meu cabelo. Ele observava a piscina de costas para nós, encostado à grade. —Encontrei meu príncipe encantado. — Completei.

Sorrimos conspiradoras, eu lembrei que ele precisava se secar e fui até ele com a toalha.

Vem, vou te apresentar para minha irmã e minhas amigas. — Peguei em sua mão e o levei quase a força. Eu os apresentei, ele as cumprimentou com um aceno, sorriu para todas, depois ficou calado.

Alice ainda arriscou: —Você tem irmãos?

Sim, mas eles conseguiram escapar para casa da minha avó em tempo. — Disse com descaso e agitou o cabelo liso, secando.

Não está gostando da festa? — Alice juntou as sobrancelhas, curiosa. Provavelmente estivesse achando-o esquisito, assim como eu achei horas atrás.

Nunca fui muito fã de festa. — Explicou, a seguir olhou em minha direção. —Mas hoje estou gostando. — Sorriu para mim e, por um instante, pensei, presunçosa, que poderia ser eu o motivo da mudança.

Depois de uns segundos silenciosos lá, vi que não ia mais rolar nenhum assunto, puxei-o de lá e voltamos para o jardim. Sentamo-nos no chão e, no mesmo instante, lembrei que podia ficar com ele só mais uma hora porque em breve minha banda iria tocar. Portanto, iniciei um novo assunto.

Você tem namorada ou coisa assim? — Comecei a arrancar graminhas do chão. Ele também.

Não. — Respondeu com os olhos desviados de mim. —Nunca namorei.

Está gostando de alguém? — Era um tema típico de alguém da minha idade, então ele não iria estranhar minha curiosidade.

Não. — Pareceu embaraçado. —Já tive aquelas quedinhas de adolescente, mas como vê, não sou muito de conversar. — Sorriu tímido. —Além disso, tenho outros planos para vida. Penso que tudo tem seu tempo. — Defendeu convicto.

Interessante... — Sorri de seu idealismo. —Mas você já beijou. — Não era uma pergunta, e eu, particularmente, não entendi meu repentino interesse.

Sim. — Respondeu acanhado, e a resposta não me convenceu.

Com que idade foi seu primeiro beijo? — Quis saber com um biquinho zombeteiro no lábio. Ele parecia muito tímido para tomar qualquer iniciativa, inclusive à de beijar alguém.

Hum... Tá, tudo bem. Odeio mentira. Eu nunca beijei. — Admitiu constrangido e abraçou os joelhos, sem jeito.

Involuntariamente, comecei a rir do modo que ele confessou.

Eu não acho estranho. — Eu disse complacente. —Tenho amigos que com quinze anos que nunca beijaram. Não tenha vergonha disso. É legal até! Os adolescentes hoje em dia começam tudo muito cedo, não se dão tempo para curtir as amizades e a vida. —Comentei tentando parecer uma menina cabeça.

É, mas eu nunca beijei porque nunca passei mais de cinco minutos perto de uma menina para esses fins. — Deu de ombros. —Como eu não fico puxando assunto, elas nem ficam perto de mim.

Eu fiquei feliz com o fato dele estar se abrindo comigo.

Então vou te confessar uma coisa. Talvez alivie para você. —Inclinei como se fosse contar um segredo. —Eu também nunca beijei. — Sussurrei depois sorri. —Mas não foi por timidez, eu não sou uma menina tímida. Foi porque nunca tive vontade. Nunca encontrei alguém que eu quisesse ficar assim. Quase sempre sou a amiga confidente dos meninos, o que impede de rolar algum clima, entende? Além disso, sou bem decidida, só vou beijar quando eu fizer quinze anos. — Disse convictamente.

Ele olhou os meus olhos, bem-humorado.

Você é legal. Não pensei que encontraria meninas assim nesse tipo de festa. — Disse, e percebi seu olhar em minha boca. —Além disso, você é bem bonita. — Elogiou com um sorriso de canto, então desviou os olhos timidamente para o chão. —O dia que você resolver ficar com alguém, até lá já vou ter dezessete, quem sabe eu já tenha experiências, aí você me coloca na sua lista. — Ele tentava ser descontraído, mas era nítido que estava envergonhado. Sinceramente eu não acreditei que ele tivesse evoluído tanto em um dia. De menino retraído e zangado, passou a me flertar abertamente.

Por segundos, perguntei-me como tínhamos entrado nesse assunto. No entanto, após ver o quanto ele estava embaraçado, resolvi cortar o clima e falar alguma coisa engraçada.

Olha, vou te avisar, é uma lista muito grande. Nela está o Taylor Lautner, Zac Efron, Chris Evans. — Respondi entre sorrisos, enquanto com os olhos cerrados, fingia pensar uma lista imaginária. Ele também sorriu. —Mas eu tenho uma solução. — Dei uma piscada brincalhona. Ele arqueou uma sobrancelha interessado. —Eles, eu não conheci ainda... — Eu não conseguia para de rir. —Mas você pode reservar sua vaga começando a namorar comigo hoje e a gente só dá o primeiro beijo quando eu fizer quinze anos. Gosta da idéia? — Brinquei, e, instantaneamente ele ficou sério, me avaliando.

Hmmm, já vi que você gosta de brincar. — Torceu os lábios.

Não, eu tô falando sério! — Insisti sorrindo, observando o sol dentro dos seus olhos, que separava o verde claro em diversas pigmentações, com algumas rajadas douradas e azuis. —E para provar que eu estou falando sério, vou te dar um selinho. Posso? — Movi-me um pouco sobre meu joelho, só fingindo que ia me aproximar, me divertindo com seu jeitinho cauteloso. Ele não sorriu.

Resolvi ir em frente. Eu estava bem descontraída e um selinho não custava nada, afinal, ele era muito lindinho. Cheguei mais perto dele, e ele não se movimentou. Eu estava sorrindo, e ele sério e apreensivo.

Ah qual é? Só um ploc e esse nervosismo todo!

Ele realmente era muito acanhado e certamente não acreditava que eu teria coragem de lhe dar um selinho. Parecia a cena do lobo mau atacando a chapeuzinho. Nesse caso, o lobo mau era eu. Mesmo assim me aproximei, e ele continuou quieto, olhando para o chão. Aff, quanta timidez!

Surpreendentemente, quando senti sua respiração descompassada, as coisas saíram da normalidade. A brincadeira inicial, aos poucos, não fez mais sentido com ele sério daquele jeito. Além disso, estar perto dele mexeu comigo além do que eu contava. Pude sentir o nervosismo crescer em minha pulsação acelerada. Meu estômago foi atravessado por um frio. Então eu soube pela primeira vez o que uma menina sente por um menino.

Fechei meus olhos, segurei seu cabelo na nuca e aproximei nossos rostos, encostando parte da bochecha e nariz ao seu rosto, curtindo, por um instante, correntes elétricas percorrerem a pele. De repente, eu experimentava sensações maravilhosas só de sentir sua respiração, o perfume que brotava do seu pescoço. Era um aroma de perfume infantil. Cheiro de suavidade, não fragrância de perfume masculino. Suave igual ele.

Como se estivesse em uma bolha, peguei o seu rosto com as duas mãos e olhei por uns segundos para cada detalhe dos seus traços. Eram perfeitos. Olhos puxados no canto interno. Nariz fino. Lábios rosados e levemente cheios. Queixo quadrado.

Eu sabia que não precisava de toda aquela avaliação para dar um selinho, mas uma atração estranha me compelia a tocá-lo. Não conseguia sair dali, e ele continuava imóvel, expirando e inspirando descompassadamente.

Por fim, encostei meus lábios vagarosamente nos dele e obriguei-me a afastar. Ele piscou várias vezes como se estivesse acordando, depois sorriu de canto.

Isso foi... interessante. — Comentou tímido, com a voz baixa, depois levou o indicador aos lábios, provavelmente sentindo o gosto do gloss de maçã verde.

Agradeci mentalmente o fato de ter sido ele a fazer o primeiro comentário. Eu estava inexplicavelmente nervosa.

Foi só uma amostra do que pode ser. — Tentei parecer casual. —Dá para me esperar até eu completar quinze anos? — Perguntei risonha de novo, tentando descontrair.

Eu posso te esperar. E você? Vai me esperar? — Ele perguntou sério, com os olhos intensos em mim. Ele não parecia estar levando na brincadeira.

Nessa hora a voz do meu pai eclodiu no ambiente, e mesmo de onde estávamos dava para ouvir nitidamente.

Boa tarde a todos os nossos amigos, funcionários e famílias de funcionários.

Quero agradecer a presença de vocês no nosso evento de confraternização de fim de ano. Hoje é um dia muito especial para nossa empresa por estarmos nos conhecendo mais um pouquinho. Também é um dia especial para mim, pois é aniversário de minha filha.

Dentro de meia hora vai haver uma apresentação da banda dos meus filhos. Peço que vocês fiquem porque iremos fazer sorteios de prêmios para todos os funcionários.

Por favor, se reúnam aqui perto do palco para em meia hora a banda Cullens tocar.

Obrigado!

Olha que coincidência, a filha do Sr. Cullen faz aniversário no mesmo dia que você. — Comentou com severa ironia.

A filha do Sr. Cullen... — Comecei.

BELLA! — Alice gritou, interrompendo o que eu ia dizer e aproximou-se. —Tem meia-hora que estamos te procurando! Vamos! — Pegou no meu braço e puxou.

Olha só, tenho que ir, daqui a pouco nos falamos. — Disse ao ser arrastada pela pequena irritante.

Tudo bem, não vou embora agora. Minha mãe ainda tem que cumprir papel. — Sorriu.

Eram seis da tarde quando subimos no palco vestidos com a camiseta da banda. O bom de nos apresentarmos naquela festa era que a maioria dos presentes eram funcionários e amigos, e mesmo que as pessoas não gostassem, com certeza iriam nos aplaudir, afinal, éramos os filhos do chefe.

Mais uma vez, meu pai chamou o público disperso e nos apresentou: Com vocês, a banda The Cullens, Emmett Cullen, Bella Cullen, Alice Cullen e a participação especial de Mike Newton, filho do Sr. Newton, amigo da família e sócio nas Organizações Cullens de Notícias.

Como eu era a única que não tinha problemas de timidez, fiquei responsável por cumprimentar o público.

Boa tarde, gente. É a primeira vez que nos apresentamos para um público grande assim. Esperamos que curtam. — Sorri.

As pessoas aplaudiram. Continuei: Então, cantando solo Alice. No violão elétrico Emmett. — Quando eu falava, cada um dava uma palhinha com o instrumento, o que despertava gritos e palmas de todos os presentes. —Na batera Mike e no teclado eu, Bella.

Começamos com uma da Shanaya Twain, depois cantamos Roxette, Maryan, Bon Jovi, U2.

Enquanto cantávamos, olhei todos os lados, procurando ver onde estava Edward. Encontrei-o, e ele me olhava sério, de longe. Eu sorri para ele, mas ele não sorriu de volta. Aquilo me incomodou, porém eu não podia descer do palco.

Continuamos tocando e as pessoas pareciam gostar. Tocamos rock dos anos sessenta, setenta, oitenta, e com uma hora e meia de músicas, gritos e dança, estávamos exaustos. Agradeci pelo apoio, e eles gritavam pedindo mais. Todavia, o repertório tinha acabado. Após a apresentação, meu pai assumiu o microfone e pediu que as pessoas cantassem parabéns. Nessa hora, olhei de novo na direção de Edward, e ele pareceu chateado. Por que será? Será porque eu não avisei que era filha de um homem rico, filha do chefe da mãe dele?

Quando desci do palco, muita gente me dava parabéns pelo aniversário e pela banda. Mas o que eu queria mesmo era ir em direção ao local onde ele estava. Demorei uns minutos para conseguir chegar lá e, ao chegar, ele não estava mais. Encontrei-o no jardim, no mesmo banco onde o encontrei pela manhã.

Aproximei-me com ar de felicidade, eufórica pela sensação de ter cantado.

E aí? Gostou? — Perguntei sorrindo, para ver se ele sorria de volta.

Vocês tocam muito bem. O show foi muito bom. — Respondeu monótono, sem ao menos levantar o olhar. Fiquei confusa.

Você nem me deu um abraço de parabéns. — Comentei sugestivamente, com um olhar arteiro. Queria que ele voltasse ao normal.

Ele me olhou uns segundos, calado, com um olhar tão frio que me gelava por dentro.

Bella, você não precisa dos meus parabéns. Você tem tudo. Você tem muitos amigos, platéia. — Comentou baixo, depois olhou desgostoso para mim. —Eu sei que eu não significo nada para você, então por que você está aqui?

Porque nós somos amigos e, além disso, agora nós somos namorados. — Comentei brincalhona. Mesmo sabendo que não era verdade, queria descontrair.

Não, não somos. — Respondeu com a mesma acidez de hoje pela manhã. —Não quero ser diversão para ninguém. Você deve ser cheia de garotos iludidos te esperando com essa mesma história, e eu não vou ser mais um.

Abri a boca em choque, sem entender o motivo de sua nova hostilidade. —Por que você está falando assim comigo? — Questionei. —O que eu fiz?

Você existe! — Respondeu entre dentes.

Eu não estou entendendo. — Meu queixo tremeu. Não conseguia raciocinar sua mudança.

O silêncio imperou por segundos, enquanto isso ele enfiava as mãos freneticamente no cabelo.

Bella, por que você não me avisou que era filha dele? — Acusou em um sussurro.

O quê? Eu não preciso me apresentar para as pessoas assim 'Oi, sou filha do Sr. Cullen'. — Estendi a mão no ar teatralmente. —Qual é?! Sou uma pessoa normal! Você acha que eu arrumaria amigos verdadeiros se já me apresentasse assim? — Perguntei irritada.

Ele ficou calado um tempo, para depois dizer baixinho: Desculpe. — Mudou a expressão. —Você não tem culpa de ser quem é. — Explicou brando. —Mas eu não quero ser seu amigo, e, por favor... — Olhou-me suplicante. —... não quero mais conversar.

Olhei-o pasma, desacreditada com o que aconteceu.

Então tá. A gente se vê por aí. — Despedi e saí lentamente.

Nunca ninguém tinha me tratado assim, pensei desalentada. Sou popular na escola, sempre faço novos amigos. O que será que fiz? Inconformada, olhei para trás, e ele continuava me olhando. Parecia pesaroso. Dei um tchau tímido com a mão, mas ele não respondeu.

Ao chegar em casa, ficamos todos muito eufóricos ao assistir a gravação da nossa apresentação. Quando ia me recolher ao meu quarto, Mike, meu melhor amigo, me parou, segurando minha mão.

Quem era o menino que você estava conversando no jardim hoje?

Filho de alguma funcionária. — Dei de ombros, sem interesse em prolongar.

Hmmm. — Pareceu aliviado. —Bella, você foi perfeita hoje. Dá aqui um abraço. Parabéns! — Abraçou-me, um abraço bem aconchegante.

Sempre pensei que se fôssemos mais velhos, ele seria meu namorado, já que passávamos tanto tempo juntos, desde a escola, até as horas que ensaiávamos no estúdio. As pessoas sempre dizem, onde Bella está, Mike está atrás. Hoje, inexplicavelmente foi diferente. A única vez que vi Mike, ele estava perto de minha irmã mais velha, Jéssica.

Tchau, amigo. — Soltei-o do abraço. —Vou dormir. — Dei um beijo no seu rosto e fui para o meu quarto.

Passei horas pensando naquele dia. Como foi longo. Tantas coisas aconteceram. Queria ter conhecido um pouco mais de Edward. Ele era tão enigmático e tão lindo ao mesmo tempo. Mas ele não queria ser meu amigo! Nem falou onde morava ou o telefone... Sequer sei quem é sua mãe. Ou qual filial ela trabalha.

Continua...