10 Coisas Que Eu Odeio Em Voc
Arashi Kaminari


O dia estava ensolarado. Mais do que o de costume naquela época do ano. Apesar disso, a brisa continuava fresca e suave como na noite passada.

Aumentou o volume do toca-disco e deixou-se levar pela música. Tamborilou os dedos no volante, enquanto esperava o sinal lhe permitir passagem.

Percebeu, então, um som alto com uma música totalmente dispensável, logo seguida pela aproximação de um carro. Voltou-se em direção ao automóvel e fitou friamente as quatro garotas que estavam nele. Todas paralisaram no mesmo instante, voltando-se para frente, continuando o caminho quando o sinal ficou verde.

Assim que estacionou seu carro, caminhou para a entrada e avistou um panfleto colado numa das paredes do colégio. Andou até ele e arrancou-o com um só puxão, jogando-o em seguida na lata de lixo mais próxima.

– – – – –

Há semanas tentava terminar seu romance, mas seus deveres para com o colégio não permitiam a finalização. Encontrava-se sentada em sua sala, atrás de uma placa onde se lia "Srta. Perky: Orientação". Estalou os dedos e massageou o próprio pescoço, antes de continuar.

"... e enquanto as mãos dele deslizavam por suas coxas alvas, ela podia sentir seu enorme membro pulsando de desejo."

Ouviu nós de dedos contra o batente da porta e parou com o que estava a fazer, fechando o laptop. Sorriu e chamou o novo aluno, convidando-o a sentar-se; enquanto punha-se de pé.

– Nove colégios em dez anos. Filhote do exército?

– É...Sim, o meu pai...

– É o bastante! – acomodou-se numa das pontas da mesa e prosseguiu – Párdua não será diferente dos seus outros colégios. – sem mesmo olhar, apontou para o vidro da janela onde haviam acabado de atirar fezes de passarinho – É cheio de sujeitinhos desprezíveis com merda na cabeça.

– Desculpe, mas estou na sala certa?

– Não mais. Tenho um bando de delinqüentes para atender e um romance para acabar. Fora! Fora!

Levantou-se apressadamente, recolhendo seu material; trombando com um corpo maior na porta. Voltou seu olhar ao homem a sua frente, mas não conseguiu mantê-lo. O que o incomodava, não era a sua feição de mau, mas sim seus olhos tão profundos e distantes. Deixou o local rapidamente.

Franziu as sobrancelhas após a saída do garoto loiro. Deveria ser um aluno novo, assustado com os boatos que deveriam correr no colégio sobre sua pessoa. Sabia que sua fama não era das melhores.

– Estamos tornando suas visitas em um ritual semanal, senhor Verona.

– Só assim podemos ter esses momentos juntos. – proferiu sorrindo, continuando – Quer que eu diminua a luz?

– Muito engraçado! Eu soube da sua exposição na lanchonete, garoto canguru.

– Brincadeira. Era uma salsicha.

– Você acha que é só isso? – indagou com um tom malicioso, olhando por cima dos óculos, o corpo bem definido de Heero, que fez uma cara cômica ao perceber a malícia da orientadora – Mantenha dentro da bolsa, está bom? Fora!

Retirou-se, depois de ajeitar a mochila em seu ombro. Esperou a saída de Heero e correu até seu laptop. Apagou umas palavras e pôs outras em seu lugar.

"... e enquanto as mãos dele deslizavam por suas coxas alvas, ela podia sentir sua enorme salsicha pulsando de desejo."

– – – – –

Estava no corredor esperando o aluno que seria seu guia. Aquele colégio só tinha pessoas com parafusos a menos, pelo o que havia percebido. Olhou a sua volta mais uma vez e soltou um suspiro.

– Oi! Você deve ser o novo aluno. Prazer, meu nome é Wufei.

– O meu é Quatre. Desculpe perguntar, mas você não é do audiovisual, ou é?

Não, não sou. Pensou que eu iriam te mandar um daqueles idiotas, não?

– Wufei, onde devo colocar isso? – indagou um rapaz com um carrinho onde se lia na etiqueta "audiovisual".

– Wufei!? Alguém me chamou?

Acompanhou o jovem de ascendência chinesa, sem entender os últimos acontecimentos. A cada momento tinha mais razão ao classificar aquele colégio de hospício.

– Tem os caras da onda. Um aviso: a menos que eles falem com você, não dirija a palavra a eles.

– Espera aí! Isso é uma regra sua ou deles? – indagou, achando seu guia um cara muito louco.

– Veja só! Oi cara!

– Vai se ferrar! – respondeu um dos rapazes do grupo, com seu cabelo impecavelmente penteado para trás com ajuda de gel.

– Viu só!?


Por Arashi Kaminari, 14 de setembro de 2004.