Estavam na segunda carruagem do comboio, a plataforma 93/4 estava repleta de novos estudantes prontos a embarcar na mais mágica viajem das suas vidas.

Sukie Chang e Lise Crawford, duas alunas do segundo ano, esperavam ansiosamente que ninguém desconhecido entrasse na sua carruagem. Conversavam sobre as expectativas para o novo ano quando a porta da carruagem se abriu mostrando a face de um casal de jovens de mãos dadas. A rapariga com um monte de livros escolares pendurados no braço esquerdo, curvou-se para cumprimentar as duas raparigas largando a mão do rapaz que a acompanhava, era alto e os seus olhos azuis reluziam como pérolas.

Ainda o casal de jovens se estava a sentar quando quatro outros alunos entraram na carruagem enchendo-a, o que para Sukie e Lise era um alívio. Eram três rapazes acompanhados de Cho Chang, prima de Sukie. Sentaram-se todos animados por se voltarem a ver, haviam passado todas as férias do verão sem se encontrarem e tinham bastante conversa para pôr em dia.

– Ainda não sei como aguentei tanto tempo naquela casa… Bah, se eu pudesse acho que ficava a viver em Hogwarts no verão, sempre era melhor estar sozinho em Hogwarts do que me sentir sozinho em casa dos meus tios. – reclamava um dos rapazes, portador de uma cicatriz em forma de raio na testa.

– Vejo que nada mudou, eu também não tive grandes férias, os meus pais puseram-me de castigo por ter chumbado o ano, dizem que "nada justifica chumbar um ano, nada!" – queixou-se um rapaz de capa preta e amarela.

– Vocês só se sabem queixar, além de que às vezes nem pensam! Olha tu Harry foste um bocado burro, podias perfeitamente ter vindo de férias para minha casa, não me venhas cá dizer que precisas de convite. Tu Cedric, olha para o ano estuda mais, porque sinceramente não passaste porque não quiseste. Além disso se vocês tivessem um pai como o meu que só lhe falta mesmo não me deixar ir da sala à casa de banho, aí queixavam-se com razão. Este verão pedi-lhe para ir ficar a casa de uns primos meus, nem isso deixou, deve estar com medo que eles me violem…

– Será que fui o único a quem as férias correram bem? Quer dizer, acho que não fui o único, não é? – e dito isto beijou suavemente os lábios de Hermione.

– Pois é… Vocês foram passar férias à Roménia não foi? Eu também lá estive, fui visitar o meu irmão Charlie, e divertiram-se? – perguntou um rapaz ruivo.

– Divertimos pois, estivemos no Castelo de Bran, e passeamos os dois, foi deveras romântico. – respondeu Hermione acariciando a face do namorado.

– E tu? – perguntou o rapaz ruivo a Sukie que permanecia calada.

– Eu Ron? Eu estive em casa com os meus pais…

– Ah muito obrigado pela consideração.

– Ups, esqueci-me, tive uma semana na casa da minha prima, mas de resto estive com os meus pais.

– Pois, já era de prever. – implicou Ron.

Estavam a conversar nostalgicamente sobre o verão quando um estrondo ressoou da carruagem adjacente, os amigos espreitaram mas a única coisa que viram foi fumo. Quando o fumo acalmou, o rosto de um aluno do segundo ano surgiu dentre ele, Draco Malfoy, era loiro e não era simpático nem o tentava ser, vivia à custa da humilhação alheia, e daquela vez não lhes parecia diferente.

– Mas o que é que tu queres? Já rebentaste com a porta, estás feliz? – reclamava um jovem de cabelos curtos de aspecto revoltado.

– Deixa-o Josh, nós estamos bem… – acalmava-o um outro rapaz, mais forte e com o cabelo escuro um pouco mais despenteado.

– Deixa Nereus, eu sei lidar com o meu primo.

– Deixem-se disso… – pedia assustada uma rapariga de cabelos curtos e negros.

– Olhem a donzela parece-me assustada. – retorquia Draco. – Flipendo.

Josh foi lançado violentamente contra o fundo da carruagem. A rapariga acudiu-o metendo-se atrás suportando com o peso, por pouco não saíram os dois pela janela agora estilhaçada.

– Mas tu estás te a passar ou quê? – perguntou Nereus tirando cautelosamente a varinha das calças. – Densaugeo.

Os dentes de Draco começaram a crescer, Nereus nunca tinha experimentado aquele feitiço, havia lido sobre ele em livros mas não passava disso, ver que os seus estudos tinham resultado deixavam-no extremamente orgulhoso de si próprio.

Finite Incantatem – proferiu Draco com dificuldade devido aos enormes dentes de coelho que enchiam a sua boca.

O feitiço desapareceu, Draco riu maliciosamente deixando Nereus bastante nervoso, "Como é que no meio de tanta gente ainda ninguém dos anos mais velhos interferiu? Será que têm medo dele, será que é perigoso?", pensava angustiosamente.

Imobilus – pronunciou o rapaz loiro.

Nereus sentiu-se estacar, tentou mexer-se para agarrar na varinha mas não conseguia mexer-se de maneira nenhuma.

– Então menino espertinho do primeiro ano? Como pensas safar-te desta?

Nereus não sabia mesmo como se safar daquela, ainda por cima tinha deixado a sua amiga Iz completamente desprotegida, Josh continuava estendido e agora ele paralisado.

– E agora vai a menina pequenina indefesa sair daqui a bem ou a mal?

– Mas porque é que temos que sair daqui? Esta carruagem estava vazia. – sussurrou Iz.

– Bem já vi que sais a mal… Petrificus To…

Expelliarmus.

Malfoy é reflectido para trás embatendo nos seus dois cangaceiros, Crabbe e Goyle, deixando toda a ala do comboio boquiaberta, à porta, Iz conseguia ver o vulto de uma rapariga que empunhava uma varinha em riste. "Quem seria aquela feiticeira apenas do primeiro ano, que tinha tido o discernimento de atacar um dos mais importantes Slytherins da escola?"