N/A: Bom, aí vamos nós...
Primeiro de tudo, obrigada ao Luke, que me passou a Blue, da Utada Hikaru 3 Sem tê-la ouvido, nunca teria tido a idéia pra essa songfic minúscula ;-; Obrigada mesmo! :) Essa música é viciante e contagiante, então recomendo que ouçam enquanto lêem a fic, sim? Eu não coloquei a tradução da letra porque achei que ficaria feio, mas no vagalume tem, e deve ter em mais lugares...
Essa fic é pra ser uma continuação do "The End of Evangelion", o segundo filme da série (desconsiderando os Rebuild, claro). Ou seja, se você não viu o filme, pense bem, porque tem spoilers.
Bom, acho que é isso.
Disclaimer: Ikari Shinji, Sohryu Asuka Langley, Tokyo-3, EVA's e etc são da GAINAX. Eu só inventei essa songfic minúscula.
BLUE
Minareta machi, minareta hito
Subete ga saikin marude tooi kuni no dekigoto
A pessoa e a cidade visível
Tudo era recente para os acontecimentos do país distante
Ela viu a maré de faces ali, em meio à multidão que se afobava para perto de si. Foi tudo tão rápido que nem teve tempo de se explicar para si mesma.
Sentia as pessoas fluindo em seu corpo e, tal qual um rio violento destroça suas margens aos poucos, assim estas destroçavam suas esperanças.
Mou ichi do kanjitai ne, kurayami no naka de
kibou ga orinasu Azayaka na ongaku
Gostaria de sentir mais uma vez em meio a escuridão
A esperança que tece o brilho da música
Olhou para os lados, à procura de algo que pudesse lhe explicar o que acontecera, mas nada parecia fazer sentido. Do nada, todos os rostos desapareceram, e somente um ser restou ali, único e inseparável dela: Shinji Ikari.
Olhou absorta em sua própria população mental. Eram tantos anseios que lhe percorriam a alma que mal podia se conter.
Donna ni tsurai toki tte sae
Utau no wa naze? (Saane)
Rennai nante shitaku nai
Hanarete ku no wa naze? (Darling, Darling, ah)
Até nesse momento doloroso
Por que canta? (Bem..!)
Não quero amar
Por que está se distanciando? (Querido, Querido, ah)
O garoto se aproximou dela, em estado de choque. Sentia o pavor da perda de todos ao seu redor, a agonia de se deparar com o mar de sangue que os banhava, a imagem de seus semelhantes esvaindo, tudo... Tudo se fora, e ele só pensou em mantê-la ali, para si.
Num gesto de medo eminente, Shinji enforcava Asuka com ambas as mãos, implorando mentalmente que esta ficasse ali.
"Não me deixe, não me deixe!", uma voz cantarolava sadicamente dentro de si, como último pedido.
Zenzen nani mo kikoenai
Sabaku no yoake ga mabuta ni utsuru
Zenzen namida koborenai
BLUE ni natte mita dake
Não ouço nada
O amanhecer do deserto se refletia nos olhos
As lágrimas que nunca caem
Só de olhar se tornavam azuis
A garota o olhava com desdém, desprezando toda aquela demonstração infantil de desespero que o garoto fazia questão de lhe delegar e, querendo cessá-la, aquietou as mãos dele.
Este se confortou com a constatação que a ruiva continuaria ali. Olhou indiferente para a paisagem caótica que havia fundado na Terra, após o turbilhão de emoções e pesadelos que passara dentro de seu EVA. Não sabia o que faria, nem como o faria.
"AAAAAH!", ele gritava sem parar, a raiva esvaindo o pouco consolo que ganhara com a presença de Asuka ali.
Começou, então, a chorar, desejando nunca ter nascido, ou já ter morrido.
Asuka Langley Sohryu observava-o cautelosamente, sem comoção com a cena do garoto gritando e chutando poças de sangue.
Onna no ko ni umareta kedo
Watashi no ichiban niau no wa ko no iro
Apesar de ter nascido como uma mulher
O que combina mais comigo é essa cor
Em seguida, ela levantou-se, deixando-se guiar por uma força maior do que um mero instinto maternal, ou mesmo coleguismo. Era algo maior do que jamais lhe ofereceriam e, assim, Asuka agarrou-o por trás, as mãos fixas em seu peito.
Uma expressão sóbria no semblante colegial, a garota calou os últimos urros de Shinji, recostando sua cabeça sobre o ombro do garoto.
"Acabou", ela disse.
Mou nani mo kanjinai ze Sonna toshigoro ne
Doukeshi no aware Mawari dasu shoumei
Não sinto mais nada! Essa idade!
A iluminação cercava a tristeza do mentiroso
Shinji cerrou os punhos, o coquetel de sentimentos adversos preenchendo todo seu ser. O vazio que o acometia com a visão de uma humanidade que esvaiu da existência terrena o sufocava aos poucos, fazendo-o contrair todos os seus músculos.
"Por quê?", ele questionava sem parar, aumentando o tom de voz a cada vez que insistia em sua dúvida.
Asuka afastou-o bruscamente, olhando-o com reprovação. Era um ser lamentável, ela sabia, e teria de aprender a lidar com isso, todavia, assim também ele deveria crescer.
"Tolo".
Konna ni samui yoru ni sae
Utau no wa dare? (Dare?)
Genkouyoushi 5,6 mai
BLUE no inku no shirabe
Até nessa noite fria
Quem cantaria? (Quem...!)
5, 6 folhas do manuscrito e do formulário
A procura pela tinta azul
Uma melodia melancólica inebriou os dois, naquele mundo flutuante que se tornara não só Tokyo-3, mas toda a Terra, e ambos trocaram um olhar cúmplice de frustração, desejo e desprezo. Era a tormenta que perturbava a qualquer adolescente normal, e não deixaria de tumultuar a mente dos dois, mesmo que sozinhos.
Buscando conforto um noutro, os dois trataram de se tocar de forma animalesca, ainda sem se beijarem.
Ele ia adentrando a tempestade safira que os olhos dela lampejavam, e esta afundava na densa negritude injetada que o garoto emanava. Eram dois animais sobreviventes com o único propósito de perpetuar sua raça, e nada poderiam fazer a respeito disso.
Mou ichi do shinjitai ne Uramikko nashi de
Osokarehayakare hikari wa todoku ze
Quero acreditar mais uma vez! Mesmo que ódio não venha
Cedo ou tarde a luz alcançaria
Corpos unidos, Shinji tocou a face de Asuka, numa mescla de compaixão pela dor que esta sofrera e de fúria juvenil. A garota, por sua vez, retribuiu o gesto com o olhar vago e desiludido que o garoto já vira, mas em outros olhos. Mesmo assim, não era hora de pensar em perdas. Ele tinha aquela carne fresca em seus braços, junto ao instinto que o contaminava como um todo.
Ela, por sua vez, sentia o pânico imaturo do garoto, afoito em coibir quaisquer sentimentos que pudessem fazê-lo retomar o que uma vez fora – um covarde. Assim, aproximou-o bruscamente de seu rosto, desferindo o beijo mais pornográfico que pode, despindo o garoto de todo e qualquer receio que este ainda sentia.
Donna ni tsurai toki tte sae
Ikiru no wa naze? (Saane)
Eikou nante hoshiku nai
Futsuu ga ichiban dane
Até nesse momento doloroso
Por que viveria? (Bem...)
Não quero honra
O usual é o primeiro, não é?
Shinji deixou-se domar por toda uma cadeia de sensações ferozes e, sem pudor algum, tratou de conter os tremores inseguros de suas mãos para, assim, livrar Asuka de todo o seu plug suit.
Sem preocupar-se com o fato de estar nua em meio ao que um dia fora uma rua, a garota fez questão de acariciar o jovem de forma provocante, ao passo que também lhe tirava as vestes.
Sem mais nem menos, ambos se encararam por um breve momento, vislumbrando seu estado natural: a nudez.
Shinji corou por um instante, voltando a frear toda a sua sede carnal e tentando recobrar o senso racional. Já a ruiva, esta lançara um olhar incrédulo para ele, deixando um leve ar de asco transpassar seu semblante orgulhoso. Num impulso que lhe era habitual, meteu a mão na cara do moleque. Este, dando continuidade à tradição, tocou a vermelhidão resultante do tapa e retrucou o olhar incrédulo da garota, seguido pela aura de pessimismo que sempre o contagiava.
"Me desculpe...", ouviu-se Shinji sussurrar.
Ela empurrou-o de forma que este não teve como se conter, e acabou por cair seco no chão, perdido no que parecia ser um devaneio doentio.
Asuka sorriu, observando sua presa.
Darling, Darling, ah... Questions make me blue
Darling, Darling, ah... Tell me something good
Mou ichi do kanjisasete waza yori no HAATO de
Querido, Querido, ah...
Perguntas me entristecem
Querido, querido, ah...
Diga-me algo de bom
Me faça sentir de novo na arte do que no coração
Cega pelo desejo, Asuka começou a arranhar as costas do garoto, que soltava pequenos grunhidos de prazer, acompanhados pelo cenho franzido, característico de quem passara a vida se contendo em tudo o que fizera. Assim, sorriu maliciosa, umedecendo os lábios que uma vez tocaram os dele, para agora concentrá-los em todo o espaço virgem que tinha entre a nuca e a curva do pescoço de Shinji, que não pareceu se recusar a receber aquilo.
Nada de dúvidas quanto ao seu futuro, desilusões quanto a seu passado ou frustrações presentes. Nada daquilo poderia perturbá-los, agora que eram os pintores de seu próprio quadro, livres para esculpir a própria arte em toda a humanidade, que se resumia aos dois.
Não seriam criticados nem pressionados por ninguém, muito menos censurados por seus caóticos tumores emocionais. Não, nada daquilo voltaria a atordoá-los, pelo menos enquanto estivessem vivos na realidade que teceram para eles mesmos.
E foi assim que entrelaçaram seus corpos mais forte, gemendo sem temer a possibilidade de serem interceptados em seu ritual pagão.
Donna ni nagai yoru tte sae
Akeru hazu yo ne (Saane)
Mou nan nenn mae no hanashi dai?
Torawareta mama dane (Darling Darling ah)
Até numa noite longa
Amanheceria? (Bem...)
Já é uma conversa de quanto tempo?
Foi pego, não é? (Querido, Querido, ah)
O Sol dourado que se erguia ao horizonte banhou seus corpos com uma luz escarlate que, juntamente à tez pálida que possuía, produzira um espetáculo de sombras rubras nos cabelos ruivos de Asuka e em todas as suas curvas, ao passo que o sincronismo dos dois se intensificava.
Eles eram puro suor e desejo, e aquilo lhes pareciam tão certo...
Zenzen nani mo kikoenai
Kohakuiro no nami ni fune ga ukabu
Gensou nante idakanai
Kasunde mienai e
Não ouço nada
A onda negra faz o barco flutuar
Não concederia agonia
Borrando isso, não podia ver
De repente, tudo em volta se tornou um simples borrão, envolto num turbilhão de pensamentos suprimidos e sentimentos contidos. Eles trocavam suas últimas carícias sexuais quando chegaram ao clímax juntos, desprendendo-se rapidamente.
Cada qual deitado de costas, os dois ficaram a observar o andar das nuvens no céu, e estas pareciam descrever a conturbação interior que bombeavam em seus corações.
A pintura que elaboraram voltara a ser uma tela branca, e não faziam idéia de como preenchê-la.
"Que merda".
"...Me-"
"Pare com isso".
Anta ni nani ga wakarundai?
Kamau no wa naze? (Saane)
Mou renai nante shitaku nai
Hanarete ku no wa naze? (Darling Darling ah)
O que você entende?
Por que se importa? (Bem...)
Não quero mais amar
Por que está se distanciando? (Querido, Querido, ah)
Ela se voltou para ele, um olhar maternal atípico estampado em seu rosto. Acariciou-lhe psicologicamente com um sorriso sincero e amplo, e desatou a sentar-se, apoiando os cotovelos nos joelhos.
Shinji observava a ruiva contemplativa que tinha a sua frente, se perguntando o que estaria procurando no horizonte tão distante. Passou, então, a vislumbrá-lo junto a ela, na esperança de encontrar algo que valesse a pena em estarem exilados de sua própria espécie, sem ter para quem correr ou pedir auxílio.
Asuka, porém, só pensava em como resistiria àquela existência dopada e deturpada sem que o delírio de seus dias antigos, ou mesmo a débil crença de acordar de um pesadelo, minassem sua pessoa.
O garoto pegou a mão desta, trêmulo. Apertou-a com toda a força que pôde reunir, agora tentando se redimir da vez que quase a enforcou, há poucos minutos. A certeza do perdão surgiu com a indiferença que a ruiva demonstrou para com o gesto.
Zenzen nani mo kikoenai
Sabaku no yoake ga mabuta ni utsuru
Zenzen namida koborenai
BLUE ni natte mita dake
Não ouço nada
O amanhecer do deserto se refletia nos olhos
As lágrimas que nunca caem
Só de olhar se tornavam azuis
Desvencilhando-se, depois de alguns minutos, da mão de Shinji, Asuka pôs-se de pé. Os cabelos esvoaçam levemente, cobrindo-lhe a determinação que transbordava de seus orbes azuis, agora tingidos com o mais fino bordô que o nascer do Sol pôde conferir-lhe. Olhou para o garoto, que continuava parcialmente deitado, exausto em todos os sentidos, e saiu a caminhar lentamente para frente, as mãos cobrindo-lhe o coração angustiado que tinha dentro de si.
Aos poucos, deixou-se tocar por lágrimas repentinas em suas maçãs brancas, libertando-se da armadura rígida que usara para aprisionar suas emoções por tanto tempo. Sentiu o toque das mãos do garoto em seus ombros.
Este estava peculiarmente radiante, convicto da trajetória errônea que tomaria para viver a partir daquele momento. Não haveria mais o que sofrer, o que remoer, o que aturar... Não haveria mais dor.
Deixou-se deslizar para o lado da ruiva e, numa vontade de viver nunca antes vista por ele próprio, voltou-se para ela, proferindo aliviado as palavras:
"É... Acabou".
