Nota¹: Deixo aqui meus agradecimentos a J.K.R. pela criação de HP. Longas foram as horas com o rosto mergulhado sob os parágrafos mais cativantes que já li. Informo também, que, com exceção dos claros personagens que fizeram os sete livros brilhantes, nascidos da mente de J.K.R., há alguns personagens de minha imaginação que peço vênia para acrescentar ao maravilhoso mundo de Harry Potter.

Nota²: Esta história se passa sete anos após a queda de Voldemort. Minha intenção é preencher o vazio entre "A FALHA NO PLANO" e "DEZENOVE ANOS DEPOIS", mas seguindo a linha original que J.K.R. nos deixou.

Prólogo

A lama já começava a cobrir a bota de viagem do homem encapuzado que deslizava agilmente pelas ruas de Godric's Hollow na calada da noite. O único som àquela madrugada era produzido pelos pingos da chuva forte. Os animais de rua estavam todos escondidos embaixo de marquises e os habitantes da cidade dormindo em suas camas confortáveis, com a exceção de alguns trouxas que costumavam perder os sentidos sentados no sofá diante da televisão, ou de bruxos, ao lado da Rádio Bruxa ligada sobre a cômoda ao lado.

O vulto que era o homem encapuzado passou diante de um memorial de guerra, que à sua aproximação tornou-se uma estátua de uma pequena família que há muito não morava mais ali. Por um momento ele parou para contemplar a estátua. Não... não valia a pena perder tempo ali, era o que pensava.

Agora ele estava diante do portão de uma casa. A proteção mágica ao redor dela chegava a ser ridícula. Como alguém poderia dormir à noite sabendo que estava tão mal protegido? O portão foi risível de abrir. Não havia nada que alertasse a sua presença quando cruzou os jardins floridos. Porém, ele tinha certeza que haveria algum alarme mágico na porta e nas janelas. Dessa vez, seus encantamentos demoraram um pouco mais para desativar aquela proteção. Mas um minuto depois, a porta finalmente se abriu e o único barulho produzido foi o rangido que fez.

Por sorte, ele já estivera ali antes, pouco depois daquela família ter se mudado para aquela casa e se lembrava bem de onde ficava o quarto. Teria que subir as escadas produzindo o mínimo de silêncio possível. No andar de cima, mais uma vez um mínimo rangido ao abrir a porta do quarto e ali estava ele. A esposa não precisaria morrer, mas ele sabia que após cumprir o que tinha que cumprir ela iria acordar.

Apontou a varinha finalmente para o bruxo, indefeso, deitado na cama e murmurou.

- Avada Kedavra.

Um jarro de luz verde atingiu o corpo do bruxo. A esposa ao lado acordara como ele havia previsto e gritara. Gritara alto o suficiente para acordar a maioria dos vizinhos. Teria que agir rápido agora.

- Estupefaça. – Murmurou, agora apontando para a esposa. Ela caiu novamente inconsciente na cama, porém ainda viva.

Neste momento o bruxo encapuzado atravessou o quarto, com um movimento de varinha fez a janela se abrir e pulou. Usou um feitiço amortecedor em si mesmo e pousou com leveza no chão. Ele havia deixado o portão da casa aberto. Quando finalmente desaparatou pôde ver várias luzes se acendendo nas casas vizinhas e algumas pessoas espiando pela janela para saber o que estava acontecendo. Ninguém teria o visto. Pelo menos não seu rosto. Estava a salvo.

Capítulo I – Os anos que se seguiram

Sábado a noite era sempre o dia mais divertido para se visitar Hogsmead, especialmente um dos pubs locais, o Cabeça de Javali. Era sim um bar um tanto quanto sujo e escuro, mas os amigos Harry e Gina Potter, Rony e Hermione Weasley, Luna Lovegood e Neville Longbottom adoravam o lugar, especialmente por causa do dono, Aberforth Dumbledore, um não muito simpático senhor, mas com quem eles adoravam estar em companhia.

Realmente há coisas que não se podem fazer juntos sem criar um eterno laço de amizade. Participar de uma batalha contra o finado Lord das Trevas e sobreviver era uma dessas.

- Ei, Abe! – Gritou Gina, chamando o barman. – Traz mais seis garrafas!

Aberforth saiu detrás de seu balcão lentamente com as garrafas nas mãos. Uma expressão estranha no rosto.

- Muito obrigada, tio Abe! – disse Luna, recebendo a sua garrafa.

Aberforth voltou ao balcão resmungando coisas do tipo "gente famosa no meu bar... nada bom pros negócios", deixando os garotos na mesa dando risadinhas.

Realmente, sempre que o grupinho dos seis amigos fazia uma visita, o Cabeça de Javali parecia mais vazio do que de costume. As pessoas geralmente iam ali para não serem reconhecidas e para fazerem negócios que não podiam ser chamados exatamente de legais. Quando dois aurores passaram a frequentar o bar, você pode deduzir que o número deste tipo de negócios reduziu em muito devido ao medo dos negociantes serem pegos em flagrante.

- Não sei do que ele reclama tanto... Nós somos os clientes mais frequentes que ele tem. – comentou Rony, bem baixinho para que o bruxo não o ouvisse, depois, dirigiu-se a ele com a voz mais educada que pode fazer. – Será que poderia nos trazer também umas batatinhas? Obrigado...

- Gente, por favor... sem muita comemoração hoje. – disse Hermione. – Não estou muito bem.

- Ah é... Foi horrível o que aconteceu. Ele era seu chefe, não era? – perguntou Neville. – Quando soubemos hoje ao café da manhã lá em Hogwarts o que havia acontecido, ficamos todos muito chocados. Lembram-se do filho dele?

Harry sentiu o estômago revirar. Sim, lembrava de Cedrico Diggory, como poderia se esquecer?

- Do que é que vocês estão falando? – perguntou Gina. Ela tinha uma expressão de exaustão. – Passei o dia todo treinando, não estou sabendo de nada...

Seu marido foi quem fez questão de lhe contar.

- Amos Diggory, lembra-se dele? Pai do Cedrico. Também estava na Copa Mundial de Quadribol alguns anos atrás quando aquela marca negra apareceu no céu. Foi morto ontem à noite em sua casa, lá em Godric's Hollow.

Harry preferiu omitir o fato de que Amos praticamente o havia responsabilizado por conjurar aquela marca, até então perceber que Harry seria provavelmente a última pessoa que teria feito aquilo.

- Harry e eu estamos no...

- Fala baixo Rony! – murmurou Harry, olhando para os lados para ter certeza de que ninguém estava ouvindo.

- Desculpe, tem razão. – voltou a dizer o amigo Weasley, depois continuou quase em um sussurro. – Nós estamos investigando o caso. Tudo muito suspeito.

- Achamos que tem alguma coisa a ver com aquele assassinato daquele trouxa vendedor de antiguidades em Londres. – continuou Harry.

- Mas o que Amos Diggory teria a ver com um trouxa em Londres? – perguntou Gina.

- Nada. É difícil ligar esses dois assassinatos, a não ser pela forma que foi cometido. A maldição da morte, claro. – respondeu Rony, então seu parceiro de trabalho continuou:

- Mas, principalmente, pelo depoimento de algumas testemunhas. Todas descrevem o mesmo homem encapuzado. Claro que ninguém viu o rosto...

- Que triste para a Sra. Diggory... – disse Luna. – Perdeu o filho enquanto ele ainda cursava a escola, e agora, dez anos depois, perde também o marido...

Os seis ficaram em silêncio por um tempo, pensando no assunto. Harry lembrou-se do torneio Tribruxo, de como Cedrico havia sido nobre com ele. Lembrou-se também do Sr. Diggory após a morte do filho, e de como o agradecera por ter trazido de volta seu corpo.

- Temos que pegar o desgraçado que fez isso. – disse Rony, mais para si do que para os outros. Sua voz e expressão facial demonstrando determinação. Harry sabia por que seu amigo estava agindo assim.

Os dois não quiseram contar para não alarmar os outros amigos, principalmente Hermione, mas desconfiavam que a morte do Sr. Diggory ocorrera devido às mudanças que estavam ocorrendo no Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, afinal ele era o chefe do Departamento. Mudanças estas que começaram quando Hermione foi contratada pelo mesmo departamento. Ambos temiam que ela também pudesse ser um alvo em potencial.

Harry e Rony foram à casa dos Diggory em Godric's Hollow para investigarem a cena do crime esta manhã. A casa estava intacta e a sra. Diggory não fora machucada, apenas estuporada. Claramente o assassino não tinha intenção de causar-lhe mal. O alvo era apenas o seu marido, e ela não precisava morrer junto dele.

Eles também interrogaram os habitantes da vila. A área ao redor da casa dos Diggory era quase toda de casas de bruxos, mas havia um ou outro trouxa que vira por entre a janela aberta de suas casas um vulto desaparecer do nada no ar. Deu uma trabalheira chamar o pessoal da Comissão de Obliviação e a Comissão de Justificativas Dignas de Trouxas.

Quase doze horas depois, após muita investigação e interrogatórios, a noite no Cabeça de Javali acabou como sempre acabava. Luna e Hermione discutindo sobre a existência de estranhas criaturas mágicas, Neville, ligeiramente alterado, retornando ao castelo de Hogwarts e Gina se cansando de ouvir Harry e Rony conversarem sobre Quadribol.

- Passei o dia inteiro levando balaços na nuca! Chega de quadribol por hoje! – dizia ela.

Pagaram a conta e despediram-se de Aberforth. Harry e Gina desaparataram para sua casa em Abrigo do Luar. Construíram a casa quando se casaram há dois anos. Ficava próxima a uma região montanhosa, não muito longe da casa onde agora moravam Rony e Hermione. Fora Gina quem escolhera o nome do lugar. Ela reparou que à noite, a luz da lua entrava pela janela frontal aberta do andar superior de forma a iluminar todo o quarto dos dois.

- Parece que a luz da lua vem aqui para se esconder. – comentou Gina, quando reparou pela primeira vez naquele fenômeno.

Quase sete anos atrás, após a queda de Voldemort, Harry e Rony começaram a trabalhar como Aurores para o Ministério. Sua tarefa principal à época era caçar os Comensais da Morte que conseguiram escapar após a Batalha de Hogwarts. Hoje o trabalho se tornara um pouco mais monótono. A Inglaterra vivia um momento de aversão às Artes das Trevas e a maioria dos trabalhos que Harry e Rony realizavam envolvia caçar bruxos foragidos de outros países que tentavam se esconder por ali, ou trabalhos ainda menores que em outras épocas seriam realizados por um Esquadrão comum de Execução das Leis da Magia.

Enquanto isso, Gina e Hermione retornaram a Hogwarts para terminarem seus estudos. Hermione fora imediatamente aceita para trabalhar no Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas no Ministério da Magia. Já Gina, terminou a escola como Capitã do time de Quadribol da Grifinória sendo também campeã do torneio àquele ano. Fizera então um teste para entrar no time das Harpias de Holyhead e conseguiu um lugar no time de reservas até que, no ano seguinte, passou a integrar a equipe titular, tornando-se a nova estrela do time na posição de artilheira.

- Como foi o treino hoje, afinal? – perguntou Harry a sua esposa, após chegarem a casa. Ele sempre fora feliz com a profissão que escolhera de auror, mas não podia esconder que invejava um pouco a mulher. Se não fosse um auror, definitivamente tentaria se tornar um jogador profissional de Quadribol.

- Muito cansativo. Estamos treinando uma nova jogada que a Gwenog criou. É muito complicada, mas se der certo...

Enquanto ela lhe explicava a jogada nova, Harry pensou que também queria estar participando destes treinos. Sentia saudades de jogar quadribol, mas quando parava pra pensar em seu trabalho no Quartel-General dos Aurores, chegava à conclusão de que não poderia estar fazendo outra coisa. Ser uma auror era uma profissão de extremo risco, muito estressante e exaustiva. Pelo menos o pagamento não era tão ruim.

Além do mais, ser auror trazia a Harry a excitação de caçar bruxos das trevas novamente. Parecia uma constante busca pelas Horcruxes de Voldemort, só que desta vez ele sempre tinha uma casa confortável para a qual retornar.

Muito exaustos, após ambos terem um longo dia de trabalho (mesmo sendo sábado), subiram as escadas que levavam ao andar superior da casa e se jogaram juntos na cama, prontos para dormir.

- Você esqueceu de fechar a janela. – disse Gina, com uma voz meiga, já de olhos fechados, deitada ao lado do marido. Era um belo fenômeno ver o luar entrando pela janela aberta, mas a forte luz da lua cheia daquela noite os atrapalharia a dormir.

- É a sua vez hoje. – disse Harry, sorrindo de volta, mas falando sério.

- Ah Harry... por favor. Fecha lá!

- Tá bem, tá bem... – disse o jovem, levantando-se e indo até a janela para fechá-la.

Foi quando o mais inesperado aconteceu. Uma lontra prateada apareceu no meio do quarto, entre Harry e Gina, diante da cama, e falou, ou melhor, gritou com a voz de Hermione:

- Socorro!