O ar é gelado, eu posso sentir. Estou sobre uma poça de água, e ela está penetrando minhas roupas e molhando meu corpo, posso sentir isso também. Tento me mover, mas não consigo, estou me sentindo fraca e essa sensação me consome.
Estou tremendo, eu sei, mas Tom está parado a alguns metros de mim, de costas com a varinha em punho e os braços cruzados sobre o peito. Ele parece pensar em alguma coisa. Talvez ele não queira me ver assim, mas não o culpo. Não sou mais a menina linda com cabelos vermelhos da qual ele sente orgulho. Não sou digna do seu olhar. Eu não o culpo.
— Tom – chamo seu nome. Ele não diz nada, apenas se vira lentamente para me encarar. Seu olhar é uma incógnita. — Porque estou aqui, deitada no chão e com frio? – pergunto tentando fazer minha voz não falhar.
Tom caminha em minha direção vagarosamente, e na medida em que ele se aproxima me sinto pequena.
— Está com frio, Ginny? – ele pergunta de maneira solene.
— Sim.
— Não se preocupe, isso acabará logo – ele diz silenciosamente. —, mas precisamos fazer uma coisa antes.
— Que coisa, Tom? – pergunto.
Tom sorri, mas é um sorriso seco, sem mostrar os dentes. Ele se ajoelha ao meu lado e toca meu rosto e depois meu cabelo. Seu toque é tão frio quanto a água que encharca minhas roupas. Talvez ele esteja sentindo frio também.
— Você confia em mim, não confia, Ginny? – ele pergunta.
Ergo minha mão em direção a seu rosto, mas estou tão fraca que mal consigo toca-lo. Meus dedos roçam na pele fria de sua bochecha, e eu sou consumida pelo êxtase do contato. Perco a capacidade de respirar por um momento sentindo a ar deixar meus pulmões.
— Eu confio em você, Tom – pronuncio as palavras com dificuldade.
Tom desvia os olhos para longe e novamente ele parece imerso em pensamentos, ou talvez não queira me olhar como antes. E novamente não posso culpa-lo, estou feia e fraca e Tom continua lindo.
— E tão bom poder vê-lo e toca-lo. Você é tão bonito! – minha voz falha e lágrimas ardem em meus olhos, me causando dor.
Sinto meus olhos úmidos e me dou conta de que estou chorando. Soluço e Tom se volta para mim, tão lentamente que sinto seu olhar me cortar em pedaços.
— Você não devia chorar – ele murmura seco.
— Porque eu tenho fogo nos olhos, não é, Tom? – digo. — E as lágrimas podem... Apaga-lo. Eu me lembro da vez em que você me disse isso quando eu te contei sobre o sangue, a cobra e os lugares escuros. Você disse que nada daquilo era real.
— Isso mesmo, Ginny, eram apenas pesadelos – Tom sorri de novo, o mesmo sorriso seco. E eu só desejo que ele sorria de verdade, porque mesmo que eu não conheça esse seu sorriso, sei que ele fica mais lindo quando o faz.
— Mas os pesadelos pareciam tão reais, como... Agora – digo hesitante.
— Ora, parece real porque você está em um pesadelo – Tom parece aborrecido, seu olhar se torna duro.
— E porque você está em meu sonho, Tom? Você nunca esteve em meus sonhos antes.
— Porque eu desejei ver você, Ginny – ele me prende com seu olhar. — Você não queria me ver também?
— Claro que sim, Tom – digo rápido, as palavras saem atropeladas. — Mas...
— Mas...?
Sinto um nó se formando em minha garganta.
— Mas eu queria abraça-lo uma vez.
— E você irá minha querida. Confie em mim – Tom percorre os dedos por meu pescoço, seu toque é cuidadoso, quase mecânico. — Mas como eu disse: Você precisa fazer uma coisa para mim primeiro. Posso confiar em você, Ginny? – Tom me sussurra brincando com meu cabelo. — Você irá fazer tudo o que eu mandar?
Eu meneio minha cabeça positivamente enquanto meus lábios se curvam em um sorriso.
— Eu irei fazer tudo o que você mandar, Tom.
— Quero que feche seus olhos – ele diz se curvando para beijar minha testa. — E então quando você os abrir, não estará mais em um lugar frio. Estará com seus amigos.
— Verei Harry Potter novamente? – pergunto me sentindo animada.
— É isso o que quer, não é? Mas para isso acontecer, você tem que fechar os olhos.
Ele toca meus lábios com o polegar e sussurra:
— Feche-os, Ginny.
Obedeço, e sem nenhum aviso, Tom encosta seus lábios nos meus e eu os abro tão vagarosamente quanto minhas forças permitem, sentindo toda sua doçura. E eu estou estranhamente mais fraca, como se o beijo estivessem roubando o resquício de minha vitalidade.
Tom se afasta por um momento me encarando com olhos azuis, e pela primeira vez vejo algo brilhante e escuro em suas órbitas. Tento dizer alguma coisa, perguntar o que há de errado comigo, mas as palavras ficam presas em minha garganta e eu as engulo.
Ergo minha mão para tocar seus lábios, para senti-lo mais uma vez. Eu preciso disso, porque sei que estou... Morrendo. Não sei como, eu simplesmente sei.
Tom segura meus olhos com os seus um pouco mais, tragando-me com sua escuridão fascinante. Sinto que estou me desfazendo aos poucos, me perdendo em Tom. Então algo grita alto em desespero em meu subconsciente "Você está desaparecendo, você está morrendo, Ginny!".
Mas eu não me importo, a morte é tão linda vista daqui!
