Cavaleiros do Zodíaco não pertencem a mim. Ou seja, sabe aqueles bonequinhos que você tem em casa? Não, não fui eu que inventei.
As Cinzas do Trono dos Mortos
Foi tudo rápido demais. Num instante, estávamos mandando cavaleiros de bronze e prata em missões de reconhecimento e averiguação.
"No princípio dos tempos, havia apenas o caos".
No instante seguinte, queimavam-se corpos que ainda pareciam se mexer de maneira espásmica no meio das labaredas.
"O Caos criou Tártaro, a escuridão e Eros, o amor. Matéria e Intenção."
O horror começou horas depois, quando as cinzas começaram a se espalhar com os ventos.
"Matéria e Intenção, criaram Gaia. E Gaia criou um mundo onde Tártaro e Eros pudessem se manifestar".
Talvez fosse um germe, ninguém poderia saber com certeza. Mas o fato é que o que parecia um caso isolado, algo terrível e incomum... Logo cruzava oceanos. Uma maré negra de morte, desespero e horror.
"A Ordem surgiu durante o reino de Chronos. O Tempo organizou deuses e mortais, distanciando-os do Caos."
Os mortos levantavam-se do solo.
"E talvez seja a hora de retomar o Caos antigo, não é?"
Eles infestaram tudo, andando a esmo, temendo o sol e destruindo tudo por onde passavam. Crianças foram arrancadas de berços, velhos massacrados pelas ruas enquanto procuravam refúgio. Adultos assistiam impotentes onda após onda de atacantes apodrecidos, derrubando barricadas e arrombando portas com punhos que não conheciam a dor.
"Talvez eu seja necessário, afinal de contas, para cumprir com este desígnio".
Cavaleiros de ouro foram enviados com missões terríveis, tudo para tentar conter a ameaça que pairava sobre o mundo. Athena relutou e relutou, mas logo teve que admitir que por mais poderosos que fossem seus cavaleiros, eles também eram humanos. Eventualmente o horror começaria a infestar seus corações.
"Eu caminhei por horas e dias, meses e anos... Até chegar ao ponto mais profundo do inferno".
A deusa tomou a difícil decisão de incinerar as áreas afetadas. Os cavaleiros de ouro exterminariam as cidades e vilas por onde a praga estivesse se disseminando. Houve discussão e protestos, afinal, para que defender a humanidade se do nada inocentes começariam a pagar com a vida?
- Athena! Com todo o respeito, nós não podemos derramar sangue de inocentes! – bradou um irado cavaleiro de Virgem – Isso vai contra tudo que nós defendemos até hoje!
Mas a visão da face enfurecida e chorosa de Athena os fez entender que isso também não era simples para ela.
- Eu não queria que meus cavaleiros tivessem que fazer isso... Mas eu não sei mais o que fazer... Me desculpem...
- Nos autos do santuário – tentou mestre Mu, antigo cavaleiro de Áries - talvez possam existir registros de calamidades como essa.
- E quando foi que os mortos – questionou Saga, sombrio – jamais andaram livres pelo mundo?
- Apocalipse. – foi o comentário lacônico do cavaleiro de Aquário.
- Que seja o apocalipse, então! – bradou Milo – Eu não vou levantar a mão contra inocentes, mesmo que isso signifique o fim do mundo! Se essa for a alternativa mais racional numa hora como essa, então não somos cavaleiros!
- Não vai ser a primeira vez que inocentes morrem pelas mãos de um cavaleiro de ouro. – comentou Máscara da Morte, com o semblante sério – É uma questão de lógica, Milo. Amputar uma perna gangrenada pode salvar uma vida.
- Ou condená-la a uma cadeira de rodas – comentou Afrodite – De qualquer maneira, é melhor do que nada.
"E lá, eu chamei o Caos antigo."
Shaka, Milo, Kiki de Áries, Aldebarã, Aiolia e Aiolos saíram do santuário naquela noite. Eles não quiseram tomar parte naquela que seria a maior atrocidade jamais cometida pelos cavaleiros de Athena. Aldebarã decidiu voltar a sua terra natal para fazer o que fosse possível pelos sobreviventes.
Kiki resolveu voltar para Jamiel. Talvez fosse apenas uma idéia tola, mas haviam cavaleiros mortos nos penhascos que levavam à residência de Mu, quem sabe houvesse alguma pista por lá. Quando comentou isso, Milo resolveu acompanhá-lo.
Shaka decidiu-se por ir para a Índia, para o seu "segundo santuário". Aiolia sabia que ele tentaria fazer a mesma coisa que fizera vários anos antes, na guerra contra os Titãs: queimar o cosmo ao limite para tentar bloquear o avanço dos mortos. Aiolos resolveu acompanhar os dois.
Eles se despediram, com uma estranha sensação de que jamais se veriam de novo.
"E o Caos veio e eu bradei, como toda a força que me restava:"
- Essas coisas não param de vir!!
- Parece que eles sabem o que estamos fazendo!!
Raios de energia cortavam a noite e cheiro de carne calcinada espalhava-se pelo ar. Estrondo após estrondo, os mortos se aproximavam. Relâmpagos e trovões rasgavam os céus. Cinzas se espalhavam sobre os jardins ao redor do túmulo de Buda.
"O Trono dos Mortos jaz em pedaços. Eu renuncio a Tríplice Divisão do mundo. Que haja Caos sobre a Terra, sobre o mar, dos pilares do solo até os mais altos céus. A Ordem foi quebrada. Os mortos caminham sobre a Terra. Eu renuncio ao Trono dos Mortos".
Kiki e Milo estavam quase chegando ao castelo de Jamiel, embora milhares de cadáveres ainda os perseguissem. A Restrição e a Extinção Estelar pouco ou nada significavam para monstros que não sentiam dor... e que não paravam. Braços continuavam se arrastando tentando segurar as pontas de suas capas ou suas pernas.
O cheiro de morte, o odor de podridão os rodeava como um manto sinistro, mortalha de sombra e desespero.
E foi quando perceberam que já era tarde demais para qualquer esperança. As cinzas já estavam por toda parte. Inclusive sobre eles.
"E o Caos veio a mim".
