À UM PASSO DA EXECUÇÃO
Arashi Kaminari
Capítulo 1
Lia um livro, enquanto aproveitava o belo dia deitado no chão do jardim. Descansou o livro em seu peito e fitou o céu. Azul, como nunca havia reparado antes. Hipnotizado por ele, moveu-se somente quando os raios solares ofuscaram sua visão. Piscou por alguns instantes, antes de sentar-se e esfregar os olhos com os dedos. Assim que o local tornou-se nítido novamente, observou dois passarinhos darem alguns passos no chão perto de seus pés. Em seguida, levantaram vôo ao perceberem a movimentação do jovem. Passou a mão pelo cabelo, deixando o livro de lado.
- Novamente aqui? Sabe que Peter não gosta quando fica entre elas.
Voltou-se a voz que acabara de repreendê-lo. Encontrou o rosto gentil da irmã Helen esperando por uma réplica. Sorriu, enquanto tomava o livro em sua mão e caminhava em direção a mulher.
- Eu sei, mas não estou fazendo mal algum. – disse o jovem, movendo os braços mostrando as flores.
- Tudo bem. – disse com uma feição compreensiva, fazendo um gesto com a mão – Depois você se entende com ele.
- A senhora não veio até aqui apenas me repreender, não é?
- Não, não. Eu vim perguntar se você gostaria de me acompanhar até a prisão?
- Vai me dizer que algum serial killer quer a redenção de seus pecados?
- Não seja debochado! – repreendeu-o novamente, voltando a andar pelo local – Todos têm direito a redenção. Basta abrir o coração a Deus.
- Eu sei. – disse o jovem, seguindo-a pelo jardim – Só acho um pouco injusto. Um homem que peca a vida inteira tem os mesmos direitos de um que seguiu os mandamentos.
- "Deus escreve certo por linhas tortas", meu filho. – ensinou-o, com a bíblia de encontro ao peito – Na verdade, o seu tio tomaria conta desse caso, mas ele está de viagem. Talvez só chegue a tempo da execução.
- Então quer dizer que nós seremos os seus confidentes? – indagou chocado, parando onde estava.
- Isso mesmo, – confirmou a irmã, parando e voltando-se ao jovem – mas diferentes desses, somos apenas intermediários de...
- Deus com o pecador e do pecador com Deus. – disseram juntos.
- Que bom! Vejo que não andou dormindo o tempo todo. – brincou a irmã, tomando seu caminho mais uma vez.
- Ah, irmã!
oOo
Pegaram um ônibus até o presídio. Sentado ao lado da janela, o jovem via a paisagem se modificar cada vez mais. Quanto mais próximo do local, mais tristeza via pelo vidro. As pessoas andando com medo, as crianças tristes, os cachorros sarnentos e os mendigos imundos. As casas com má construção e o piche do asfalto já comido. Um ambiente nem um pouco agradável.
Assim que chegaram a prisão, foram levados a uma sala para serem vistoriados. O jovem logo percebeu os olhares de alguns policiais sobre seu ser, mas fingiu nada ter notado. Em seguida, caminharam até uma outra sala e acomodaram-se, esperando a chegada do preso.
Por trás do vidro que os separava de uma outra sala, uma porta abriu e um homem algemado foi empurrado para dentro dela. Um policial soltou-o e apontou para uma cadeira perto do vidro. Assim que fechou a porta, o homem andou até a cadeira e sentou-se, observando bem as duas pessoas que estavam sentadas do outro lado.
Uma mulher de meia-idade vestida como uma beata e um jovem com vestimentas parecidas com a de um padre. Prendeu seu olhar ao belo jovem a sua frente. Os lábios bem desenhados, com o nariz afilado e os olhos de uma cor ímpar... Nunca havia se deparado com olhos tão lindos... Com toda a certeza, Trowa se encantaria com o jovem. Seu amigo tinha uma tara por garotos com cara de anjo.
- Bom dia, senhor Yuy. – começou a irmã, tentando desviar a atenção do homem do seu jovem acompanhante – Sou a irmã Helen e este é Duo, um seminarista. – apresentou-os com um gentil sorriso, mas obteve as pernas cruzadas em cima do balcão como resposta do prisioneiro – Bom, estamos aqui para sermos seus amigos. Queremos que confie em nós. Tudo o que disser estará entre Deus, Duo, você e eu. Quer dizer algo? – tentou a irmã, percebendo que o homem olhava atenta, porém não diretamente o jovem seminarista – Senhor Yuy?
Conseguiu toda a atenção do homem para si. Distinguia apenas ódio em seus olhos azuis cobalto. Já havia se deparado com tais tipos de olhares em outras ocasiões, mas o dele era de uma forma diferente dos outros. Não sabia se conseguiria fazê-lo redimir-se antes de sua morte. Seu olhar de alguma forma era como uma barreira. Não permitia a visão do ser em seu interior.
Passaram minutos apenas olhando um para o outro, enquanto a irmã tentava de todas as formas fazê-lo conversar ou apenas dizer alguma coisa sobre o que estava pensando deles estarem ali. Mas nenhum pio sequer. Duo, por outro lado, já estava esgotando sua paciência. O homem estava realmente o enervando e nem ao menos mostrava sinais de incomodo por ficar minutos sem dizer nada em frente a dois desconhecidos que haviam ido visit�-lo.
- Ele não irá falar. – disse Duo, cortando o silêncio que envolvia a sala.
- Paciência é uma virtude, Duo. Assim como a confiança. O senhor Yuy falará quando sentir-se a vontade. Não é mesmo?
Yuy fingiu não Ter escutado o que a mulher havia acabado de perguntar. Continuou na mesma posição, ainda mantendo os pés sobre o balcão. A face sem expressão alguma e olhos observando atentamente cada movimento dos dois desconhecidos.
Balançou a cabeça diante da indiferença do homem a sua frente. Queria ele mesmo poder matar tal homem, mas segurou seu ímpeto. Inspirou e controlou sua raiva para não demonstr�-la, dizendo com a voz mais fria o possível:
- Se não deseja ajuda, não nos faça perder tempo. Muitas outras pessoas desejam o perdão e você está tomando o tempo deles.
O homem, enfim, movimentou-se. Virou o pescoço na direção de Duo e fitou-o bem nos olhos. Em seguida, abaixou as pernas e levantou-se. Bateu duas vezes com os nós dos dedos na porta, antes de um policial aparecer e prender seus punhos nas algemas novamente.
oOo
- Deve aprender a esperar. – começou a irmã, repreendendo o jovem seminarista pela quarta vez no dia.
- Eu aprendi. Só não quero perder minha vida com alguém deseja perder a própria.
- Às vezes, as pessoas desejam algo que elas mesmo não têm consciência. Precisam de tempo.
- Tempo é algo que aquele cara não tem pelo o que eu ouvi. Dentro de uma semana ele morrer�, com ou sem perdão divino.
- Mas você ainda tem tempo... – disse a irmã, ainda caminhando ao lado do jovem.
- Para quê? – indagou confuso, parando em frente a igreja.
- De decidir se o caminho que está percorrendo é o que você quer ou procurar outro que o satisfaça espiritualmente.
- Irmã... eu... – perdeu as palavras frente a resposta da mulher. Realmente estava confuso quanto ao caminho que deveria seguir, mas esforçava-se para não demonstrar a ninguém a sua dúvida – Qual foi o crime desse homem? – mudou de assunto.
- Importa, criança? – indagou a mulher, entrando na igreja.
- Importa, que dizer, não. Na danação todos são iguais. – segui-a.
- Lembra-se do caso Winner? Ele foi o agressor da jovem.
- O quê?
Por Arashi Kaminari, 18 de fevereiro de 2005.
Nota da Autora: Pelo o que eu andei sabendo, o ff . net está cheio de palhaçada e uma delas é trocar os sinais de pontuação. Por isso, peço que me perdoem pelo transtorno. Culpem o site.
