- Evans e Black, Potter e Diggory e... Hm, essa vai ser interessante. Lupin e Carnevale. – o professor anunciou. – Vamos! Todos se juntem conforme eu falei.

Todos os alunos começaram a trocar de lugar. Remus lançou um sorriso de canto para a nova parceira de DCAT. Ela retribui o sorriso e voltou a atenção para o professor.

- No terceiro ano os senhores aprenderam sobre as criaturas das trevas. Este ano foi descoberto um novo feitiço contra lobisomens, portanto, todos os alunos do terceiro ano para cima estão aprendendo esse feitiço novo. – Lupin suspirou, já vendo o "interesse" do professor – Na ultima pagina do livro vão encontrar o novo feitiço. Treinem o feitiço com o seu parceiro, se a ponta do nariz dele ficar azul, significa que funcionou. Nos lobisomens, é obvio, o efeito é outro, mas leiam sobre isso no livro. Cada dupla em um canto, vou corrigir o relatório da semana passada de vocês, e como dever dessa semana, uma revisão completa sobre lobisomens de um metro. Comecem.

O professor sentou em sua mesa e começou a ler os deveres, atento a ultima dupla. Lupin e Carnevale foram pro canto mais distanciado da sala, por razões obvias, pelo menos pra Remus. Lily Evans e Sirius Black discutiam próximo a eles, mas não era perigo. Sirius cuidaria pra moça não ver nada.

A garota encarou o parceiro com um sorriso de canto nos lábios.

- Parece que mesmo depois de 7 anos você ainda não se lembrou de mim, não é Remus? – ela disse, se encostando na parede, olhando para o cadarço de seu all star, ainda sorrido tímida.

Remus riu, trocando o peso dos pés.

- Como? – ele disse, cético, olhando pra ela.

Ela o olhou nos olhos, ainda sorrindo de canto, e foi até sua bolsa. Pegou um pequeno espelho de maquiagem de mármore, ou pelo menos era o que parecia ser. Ela foi até atrás de uma estante de livros, onde nem mesmo o professor podia vê-los, e por curiosidade, Lupin a seguiu.

- Vamos ver se isso refresca sua memória.

Ela abriu o espelho, que não verdade não era um espelho, e continha água dentro. Uma água escura, que parecia feita de fumaça. A garota levou a varinha até a têmpora esquerda, onde, ao tirar o cabelo, Remus pôde ver uma pequena cicatriz. Um cortinho superficial, provavelmente feito em um tombo. Ele riu internamente ao lembrar da quantidade de cortes iguais a esse ele tinha espalhado pelo corpo inteiro. Ela retirou devagar a varinha, e da ponta da varinha, o garoto podia ver um fiapinho de fumaça prateada sair.

Remus observou-a com cuidado, maravilhado com o que ela estava fazendo. Aquilo, com certeza era uma Penseira. Em miniatura! Quando a fumaça caiu na água, ele pôde ver o pensamento clarear.

Na imagem, duas crianças brincavam num gira-gira em um parquinho abandonado, no meio de uma pracinha aberta, com algumas casas em volta. Os dois revezavam em que girava, não paravam de rir nunca. A garotinha segurava uma pequena coruja de pelúcia no braço, preta como carvão. Os dois riam sem parar, exibindo janelinhas recém adquiridas.

"- Filha, vem lanchar!" – uma voz chamou de uma das casas, uma casa verde claro.

"- Mãe, eu to brincando com o Remmy!" – a garotinha gritou, olhando para o amigo.

"- Vai!" – o menino sussurrou, levantando do brinquedo.

"- Não, espera!" – ela o segurou pelo casaco, atenta à mãe.

"- Chama ele pra vim lanchar também ué! Tem bolo de chocolate."

Os dois sorriram juntos, e correram em disparada para a casa da garota, estomago roncando.

A imagem foi escurecendo, e Remus sorriu com a lembrança. O gira-gira velho, a Praça das Carambolas, a casinha verde, o bolo de chocolate, o casaco de aviador. O fiapo de fumaça voltou graciosamente para a têmpora da moça. Ela fechou a pequena penseira e com um agito da varinha fez uma coruja negra e remendada de pelúcia aparecer e desaparecer novamente.

Remus riu sonoramente e abraçou a garota com força, a levantando do chão. Ela o abraçou de volta, rindo junto, tirando o sorrisinho do canto e o abrindo largamente.

- Meu Deus, Bobby, quanto tempo.

- Nem tanto tempo sabe... Eu te vi ontem, e antes de ontem, e antes de antes de ontem, e antes...

- Ah, você entendeu! – Remus a soltou, ainda sorrindo para a amiga – Por que você nunca falou comigo antes?

- Ah... Sei lá... Na verdade eu só te reconheci no terceiro ano, tipo, eu não lembrava o seu sobrenome, e esses dois anos que passaram, sei lá... eu nunca tive oportunidade de falar a sós com você, você tava sempre rodeado de amigos... E também que eu queria ver se você ia lembrar.

- Ah, você tinha que ter falado comigo sua louca! Caraca, quanto tempo... – ele disse, passando a mão no cabelo e verificando se aquele pequeno "reencontro" havia chamado muita atenção.

- Pois é, desde aquele dia que você sumiu sem mais nem menos, sem nem se despedir... – o sorriso dela se apagou, e ela cruzou os braços de forma acusatória.

- Ah... É... Me descupe por aquilo. Ham, meus... Er... Meus Pais quiseram se mudar e... Foi de uma hora pra outra que eles decidiram. E eu não tive tempo de me despedir de ninguém da vila.

- De ninguém da vila... Há, eu era sua única amiga! – ela disse, esboçando um sorriso por causa da clara mentira que ele havia acabado de contar, mas não ia insistir. Uma hora ele ia contar a verdade – E você era o meu único... Eu fiquei detonada quando eu fui até o parque e o meu melhor amigo havia sumido.

- Me desculpe Bobby, de verdade... – ele colocou a mão no braço dela.

- Não tem importância agora... – ela riu sem graça – Ham, pra onde você foi?

- Eu fui para uma casinha no meio do nada... Meus pais acharam mais seguro viver onde os bruxos das trevas não pudessem me encontrar... E você? Como está sua mãe?

O rosto dela escureceu por completo, e ela olhou para baixo. Ficou em silencio por um momento, e Remus não entendeu.

- Ela... Ela morreu Remmy – ela disse, fazendo-o se sentir péssimo.

- Jesus, Bobby, eu sinto muito – ele disse, pálido, e abraçou a amiga com cuidado.

Eles ficaram daquele jeito, e novamente, Remus verificou se ninguém estava assistindo. Ele a soltou com carinho.

- Vamos mudar de assunto ok? Talvez outro dia a gente volte a conversar sobre isso e... – ela disse, fracamente.

- Sobre isso o que senhorita? – o professor surgiu do nada ao lado deles, a fazendo pular de susto – Pelo que eu saiba, a aula era pra praticar feitiços, e não para conversar.

- Desculpe, professor. – os dois disseram juntos.

O professor bufou e voltou para a sua mesa. Remus sacou a varinha e se posicionou na frente dela, de um jeito que o professor pudesse ver, mas se certificou que ninguém mais visse.

- Se importa se eu começar? – ele perguntou.

- Ah... Não, claro. – ela disse, sem muita certeza.

Ela respirou fundo quanto ele apontou a varinha para ela e disse "Lunardius". Ele se surpreendeu quando o nariz dela não ficou azul, e ela fez uma cara de horror e colocou a mão na cabeça. Ele nem viu direito quando ela ergueu a varinha rápido e repetiu o mesmo procedimento.

Ele fez uma careta, e pareceu preste a vomitar. Bobby abriu bem os olhos e se apoiou na mesa, ainda com a mão na cabeça. Ele não agüentou e correu até a mesa do professor, que tinha visto tudo e apenas ergueu a mão. Remus correu o mais rápido que pôde até a enfermaria, sentindo que a qualquer momento ia perder os sentidos.

Bobby ficou lá parada, no mesmo lugar que estava antes de Lupin sair que nem um louco. Sentiu a visão dobrar, e a dor de cabeça cruciante. Todas suas juntas estalaram ao mesmo tempo, e ela não conseguiu se segurar direito. Ela tentou focar a visão, mas falhou.

Cambaleou até a mesa do professor, sem firmeza nenhuma, tentando agir naturalmente, mesmo sabendo que parecia um pingüim.

- Pro... Pro... Prof... Ala... Hosp... Dor... Ahh – ela murmurou, sem conseguir falar.

- Pode ir você também. – ele disse, sem tirar o olho do dever que corrigia.

Ela pegou suas coisas e se arrastou pelas paredes até a ala hospitalar, parecendo um zumbi. Levou 20 minutos para descer os andares e quando chegou lá, Remus já parecia bem, e estava saindo.

- O que aconteceu com você? – ele disse, assustado, assim que viu ela virando o corredor, com o tronco caído pro lado da parede, e as pernas se movimentando em um ângulo esquisito. Seu rosto estava branco, e os olhos exibiam olheiras destacadas. Sua testa brilhava de suor. Pegou-a pelo braço e a ajudou a chegar na maca que estava há dois minutos antes.

Madame Giácomo, a enfermeira gordinha, tomou o lugar do garoto assim que os viu.

- Vá meu querido, eu cuido dela, ela vai ficar bem. Agora sai.

Remus saiu de lá encabulado.

Será que a culpa era dele?

Não havia mais ninguém que havia sido afetado pelo feitiço a não ser eles dois. E ela era perfeitamente normal, ele sabia o cheiro de um lobisomem. A única explicação plausível era que, o fato de o feitiço ter sido lançado por um lobisomem, provavelmente fez o feitiço funcionar em uma humana.

Droga, ele tinha acabado de "reencontrá-la" e já tinha tirado a pressão dela. Deu um tapa na própria testa e se dirigiu ao Salão Principal, já que faltavam apenas 3 minutos para o almoço.

Os alunos começaram a sentar na mesa da Grifinória, e Remus ficou atento às garotas que entravam no salão, esperando por Bobby.

Será que ele devia contar tudo para ela? Eles eram amigos antes mesmo de ele se tornar um lobisomem. Ela sabia que ele não era um monstro, certo? E ainda não conseguia acreditar que já estava estudando a 4 anos e 2 meses com ela e nunca havia notado-a. Ela estava diferente... Os cabelos, que sempre ficavam em duas marias-chiquinhas, estavam soltos, e bem mais compridos, presos apenas por uma pequena presilha, que tirava o cabelo de seu rosto. Antes, quando eles tinham 8 anos, ela era ligeiramente mais alta que ele, hoje, ele era uma cabeça mais alto. Ela usava maquiagem, os olhos com delineador preto.

Ela estava mais bonita. É claro, todos ficam mais bonitos com todos os dentes na boca, sem janelas. Os olhos continuavam os mesmos. Cor de âmbar, e sempre mudavam de cor conforme a luz. E jeito de sorrir também.

- Hogwarts para Remus Lupin? Você está ai? – Sirius disse, o chacoalhando, quebrando seu raciocínio.

- Ah, me desculpe, eu estava distraído... O que disse?

- Que você tava distraído eu percebi. E comendo que nem um louco também. – Sirius disse ao seu lado, fazendo James, que estava sentado na frente dos dois, rir. – Eu perguntei quem era a garota.

- Que garota? – Remus perguntou, garfando um pedaço de torta.

- Que garota... Você ta lento hoje hein? Aquela ali – Sirius segurou a cabeça dele e apontou para uma garota que comia 4 tortinhas de abóbora de uma vez, ao mesmo tempo.

- Não sei, não é aquela Diggory? Irmã do Amus?

- Não essa, jumento, a que acabou de sentar do lado da Diggory, que ta se servindo, que você ficou de abracinho na aula de DCAT – Sirius cutucou seu ombro, o provocando.

- Ah, é uma menina que era minha melhor amiga no vilarejo que eu morava antes de... Vocês sabem. Chama Bobby.

- Bobby? Pensei que Robert era nome de homem.

- Depois eu que sou o jumento. É Roberta, os pais dela nasceram na Itália. Roberta Carnevale.

- Ah... Saquei. Você gosta dela.

- Não, ela era minha melhor amiga e eu estava com saudades, por isso abracei ela. Ela é super legal – ele disse, num tom casual forçado.

- Você gosta dela – James afirmou.

- Para, gente.

- Olha a gargantilha dela... O pingente é uma lua... Que engraçado – James disse.

Remus virou o pescoço tão rápido que doeu. Nããão. Não podia ser. Ela estava usando a gargantilha que ele tinha deixado pra ela antes de partir!

- Que foi? – Sirius disse, observando o olhar pasmo do amigo.

- Eu dei esse negocio pra ela quando a gente tinha 8 anos, antes de ir para minha casa isolada... Já era pra ter estragado.

- Vish Moony, você gosta dela e ela gosta de você – James provocou.

- É serio, já perdeu a graça. – Remus disse, sério.

- Vamo lá falar com ela? – Sirius perguntou para James.

- Bora – ele se levantou.

- Não gente - é serio - gente - BAH! – Remus se levantou também.

Os três andaram até a ponta da mesa da Grifinória. Sirius sentou no lugar que antes Victoria Diggory sentava, e James sentou do outro lado dela. Ela parou de comer e soltou o garfo e a faca, olhando de um para o outro, que a espremiam levemente. Não percebeu quando Remus sentou à sua frente.

- Pois não? – ela perguntou.

- Sirius Black, muito prazer.

- James Potter.

- Eu sei o nome de vocês, quero saber o motivo da agradável presença dos senhores – ela ironizou.

Os dois se olharam, e Remus riu, fazendo a garota o notar.

- Ah, olá Remus – ela pegou o garfo e a faca de volta e continuou comendo sua torta, com um pouco de dificuldade – Ei, parem de me esmagar, faz favor.

- Desculpe pelos dois. Você está melhor? – ele disse, preocupado.

- Muito melhor, não se preocupe. A Madame Giacomo disse que eu fiquei assim por não ter tomado café hoje de manha... Acordei muito tarde... Er, e você? Que que aconteceu? Você estava bem pior que eu.

Remus olhou para os dois amigos, sem saída. Ele devia ter adivinhado que ela ia querer saber o que tinha acontecido, e devia já ter arrumado uma desculpa. Ele tinha decidido não contar, afinal, ela era uma pessoa normal apesar de tudo... Era melhor não arriscar. A ultima coisa que queria naquele momento era que sua melhor amiga de infância, que tinha acabado de "reencontrar", parasse de falar com ele.

- Ah... é... é... Bem... Eu... – ele gaguejou sob o olhar acusatório dela.

- Fomos nós. A gente lançou um feitiço pra tentar embaraçar o Remus na sua frente, mas não deu muito certo, e provavelmente sem-querer atingiu você também. Desculpem-nos, os dois – James disse.

Remus suspirou aliviado. Ah, como amava os amigos que tinha.

- Não tem problema. Eu ainda não entendi por que vocês quiseram sentar aqui. Sabe, eu sei o quanto sou popular – ela disse, sarcasticamente, se servindo de mais torta, que estava acabando.

Os três se olharam, surpresos com a reação dela.

- Eles me perguntaram quem é você, eu disse, e eles vieram aqui. Boa a pergunta a sua.

- Ah, eu vim só pra conhecer a primeira namorada do Remus – Sirius disse, piscando para James.

Ela deixou os talheres caírem no prato de novo, e encarou o garoto à frente.

- Você, caham, você disse que eu fui a sua primeira namorada? – ela engasgou.

- Não! – ele disse, exasperado.

- Disse sim – James disse, rindo.

- Não falei nada! Bobby, é serio, se eu fosse você eu ignorava esses dois. Eles só sabem falar merda.

- Eu acredito em você... Ãh, te vejo depois, Rem.

Com isso, ela pegou sua bolsa e saiu, andando a passos largos para a sala comunal da Grifinória.

- HMMMMMM... "Te vejo depois Rem!" – James começou, com uma voz de menina.

- Aí tem coisa...

- Calem a boca, mó mancada de vocês.

- Ah, você devia agradecer. Falando a verdade, o que aconteceu com ela? – James perguntou, se abaixando um pouco.

- Na aula, eu lancei o feitiço contra lobisomens primeiro, depois ela lançou. Eu passei mal e, eu acho, pelo fato do meu problema, afetou ela também. – Remus respondeu, se abaixando também.

- Esquisito. Coitada. – Sirius disse.

- Pois é. Tudo pronto pra amanhã à noite?

- Sim. Talvez, o fato de amanha ser o primeiro dia da lua cheia tenha contribuído para o que aconteceu com Bobby. – James indagou.

- Talvez. – Remus disse, chateado, olhando para o lugar onde ela havia saído.