Disclaimer - Os personagens de Saint Seiya não me pertencem.

O som suave do vento e das pessoas conversando à sua volta era decididamente relaxante. Havia ficado tanto tempo como um eremita que se esquecera do quão interessante pode ser fingir ser uma pessoa normal por um tempo.

Shaka olhou para fora da janela do avião, observando as nuvens abaixo dele, como um macio colchão de bolas de algodão. Tentava entender como a sua vida havia passado de uma luta atrás da outra e da necessidade de estar eternamente atento e concentrado, para uma vida de qualquer jovem de 25 anos. Aliás, pelo menos do quão 'normal' a vida de um Cavaleiro de Ouro e 'homem mais próximo de Deus' podia chegar. Após 18 anos de uma posição de tanto trabalho e tanta responsabilidade no Santuário, a calmaria dos últimos tempos quase lhe causava uma crise existencial.

Ou será que não queria admitir que ESTIVESSE em uma crise existencial? Afinal de contas, era muito mais fácil viver como um Buda em uma situação como a que viveu todos esses anos do que em uma situação aonde não tivesse nenhum problema com o qual focar toda a sua energia e pensamento. Somente agora percebia que não tinha tido infância, nem nunca havia vivido realmente como o homem que era. Tinha chegado a pensar que não era mais um homem. E a realização de que nunca havia deixado de o ser acertou Shaka como uma rasteira. Como dizia Buda, mesmo?

"Uma vez encarnado, não se pode escapar de viver as experiências."

E por isso mesmo agora estava em um avião. Porque não podia escapar de suas funções como Cavaleiro de Atenas e muito menos do pedido da Deusa para que levasse pessoalmente uma entrega dela para o Templo de Ártemis.

Ele precisava admitir para si mesmo. Não entendia muito sobre esses Deuses, pois nunca havia, honestamente, se interessado muito por isso, no que ia além da sua função de proteger Atena. Ou será que sempre falava que não se interessava por medo de ficar confuso ou perder sua determinação? Afinal de contas, se realmente não se importasse, porque teria passado esses anos todos protegendo o Santuário? Porque teria se disposto a morrer por Atena, mais de uma vez, descido aos Infernos, lutado além de todo o poder que acreditava ter?

Quando o avião começou a descer e atravessou as nuvens, Shaka conseguiu ver o templo se erguendo branco, se destacando do verde muito claro da grama e os tons mais escuros dos bosques próximos, a cidade mais à frente. Tudo tão diferente do que era na Índia. E ao mesmo tempo, com a mesma sensação... emanavam a mesma energia que impunha respeito.

Com uma ponta de preocupação, Shaka pensou se iria ser bem recebido pelos habitantes do Templo.

N.A – Bom, só para uma explicação rápida do título, Absinto é uma planta que era dedicada à Deusa Ártemis na antiguidade. Achei legal pelo fato de ser também daí que eles tiram a bebida absinto. Então, é um trocadilho de algo sagrado e, ao mesmo tempo, inebriante.

Espero ter tempo de completar essa história. :D Comentem!