.:Disclaimers:. Tem um monte. Prometo que assim que a fic terminar eu coloco um enorme. Por enquanto, basta saber que Rurouni Kenshin não me pertence. O que, diga-se de passagem, é bastante óbvio.
.:Nota da Autora:. Peço sinceras desculpas, mas talvez a redação deste primeiro capítulo esteja meio descuidada. O original desta fic é em inglês. Prometo fazer uma revisão nela ainda esta semana e, assim que possível, corrigir alguns erros e coisas estranhas que tenham aparecido na redação. Prometo tamb^m que o segundo capítulo vai sair mais bem-cuidadinho (embora eu tenha de traduzi-lo do mesmo jeito, mesmo que demore um pouquinho). Agora, vamos à fic.
versão em português
I-
Ano de 1969. Era fim de março e a primavera já tocava sua melodia na pequena cidade. Tudo corria normalmente, como deveria sempre correr num lugar tão pacato: o templo, as casas, o colégio, as lojas, o mercado, a floresta... Tudo, exceto pelo cochicho das velhas senhoras sobre os hippies que viviam junto às árvores. Mas mesmo este fato já se tornara parte da rotina.
Em seu quarto no andar de cima da casa, Kaoru fechou a porta e as cortinas, deixando apenas o quebra-sol aberto para que a luz pudesse entrar. Era um daqueles dias em que ela desejava desesperadamente dançar, e para tal sacou de seu disco favorito, "A Hard Day's Night", dos Beatles. Colocou-o na vitrola, posicionou a agulha cuidadosamente sobre ele e moveu-se para o lado, dançando de acordo com o som alto da primeira música, o cabelo movendo-se de um lado para o outro eu seu rabo-de-cavalo. Estivera entediada.
"Uau... Acho que eu podia dançar assim para sempre!" pensou, cantando bem alto a letra que sabia de cor. "Se pelo menos eu não precisasse ir a essa bobagem de ceia na casa da Yumi..."
"Kaoru!" uma voz masculina ecoou do andar de baixo, mal sendo ouvida pela jovem. "Pare de bater com os pés! O que você está fazendo aí em cima?"
"Tô treinando pro show dos Beatles!" ela respondeu sem paciência.
"Aqueles cabeludos drogados pararam de fazer shows em 1966, graças a Deus!" a voz gritou de volta.
Kaoru parou junto à vitrola e segurou a agulha, produzindo um som muito peculiar e desanimador. "Mou! Seu estraga-prazeres!" ela esbravejou, apertando os punhos.
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Nas bordas da floresta, nas cercanias da cidade, via-se uma trilha que levava a uma larga clareira, onde a comunidade hippie se instalara alguns anos antes. Aos cidadãos mais velhos não agradava esta idéia, o que só causava muita especulação sobre aqueles habitantes clandestinos, sobre seu modo de vida e sobre o motivo de estarem ali. Os homens acreditavam que eram vagabundos; as mulheres achavam que era criminosos, meretrizes e drogados; os jovens consideravam-nos ídolos por quebrarem as regras e seguirem seus próprios desejos.
À margem do rio, Kenshin lavava roupa. Ali estava ele ajoelhado, pensando em sua vida, nos os pássaros, em tudo o que deixara para trás, no que ele teria para o jantar. Estava perdido em suas divagações quando uma voz manhosa veio do meio das árvores. "Ken-saaaaaaaaaaan!". Kenshin pulou de susto, virando a cabeça para ver Megumi se aproximando logo em segida.
"Megumi-dono! A senhorita assustou este servo...", Kenshin sorriu.
"Ahwn, desculpe, Ken-san... Não era minha intenção..."
"Então, o que houve?"
"Bem, preciso de um favor seu..."
"Hm, se este servo puder ajudar..."
"Você certamente pode! Você se importaria de me fazer companhia esta noite?"
"Oro?!" ele arregalou os olhos.
"Quero dizer, preciso comprar algumas coisas na mercearia e não queria ir sozinha à cidade! Todo mundo me olha de um jeito esquisito lá fora... Queria que você me fizesse companhia... E me protegesse também! O sol já está se pondo, quem sabe o que pensam de uma mulher da comunidade andando sozinha à noite pelas ruas da cidade."
"Hm, de acordo, então..." ele disse, levando a mão para trás de sua cabeça. "Mas este servo teme que isso não vá adiantar muito..."
"De qualquer modo me sinto mais segura... Pelo menos não me sentirei um espécime único... Afinal, você se incomoda de vir comigo??"
"Não, Megumi-dono! Este servo irá acompanhá-la, de gozaru yo." ele sorriu ternamente.
"Ah! Obrigada, Ken-san!" ela abraçou-o, fazendo um grande estardalhaço, levantando-se e puxando-o pelo pulso logo em seguida. "Vamos!"
"Ah, espere! As roupas! Megumi-dono, este servo precisa pegar as roupas!"
"Ow, corta essa, Ken-san! Não é hora de ficar pensando em lavar roupa!"
"Espere! Este servo já as estava lavando!" ele gritou, tentando em vão se libertar das mãos da moça e pegar as roupas que estava lavando quando ela chegou. Ele ainda pode ver, um tanto quanto desapontado, a roupa de um de seus companheiros ser levada pela correnteza.
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Guiando uma Harley-Davidson preta displiscentemente na auto-estrada, um homem foi visto seguindo os carros que transportavam o equipamento de uma banda de rock. Usava um jeans rasgado, uma camiseta branca (pelo menos era a cor que ela deveria ter), uma camisa preta com um kanji branco pintado das costas e uma faixa vermelha. Amarrados firmemente na garupa com uma corda, estavam uma mochila e um violão.
Ninguém ouvia-o por causa da alta velocidade, que tornava o som inaudível, mas Sanosuke cantarolava uma múca para si mesmo. Fora composta por um amigo seu que tinha uma banda (na sua opinião, eles jamais seriam reconhecidos, apesar de sua boa música). O refrão dizia mais ou menos "We were born, born to be wild... Born to be wi-i-i-i-ild..." e era exatamente como ele se via, alguém que não estava destinado a serum médico exemplar ou um professor respeitável, mas sim um caçador de emoções. E ali estava ele, caçando emoção e seguindo uma de suas bandas favoritas pelo país -The Doors. Tudo de que precisava estava ali: algumas mudas de roupa, seu violão, seu corpo, seu charme e suas habilidades. Com isto ele se virava bem o suficiente.
"Bicho, tô com fome... Assim que eles pararem vou procurar algum lugar pra comer... tomara que eu consiga criar uma conta num desses drive-throughs e eu não vou ter que pagar em dinheiro vivo na hora... Especialmente porque eu não tenho nenhum dinheiro..." pensou enquanto cantava. "Bem, se a pessoa atrás do balcão for um brotinho, vai ser mamão-com-açúcar..." ele deixou escapar uma risadinha, sozinho sobre sua companheira de metal.
"Born to be wi-i-i-i-ild..." cantou alto, voltando sua atenção para o arrebol vermelho-sangue. Era uma vista incrível daquela auto-estrada. Eis que, de repente, algo chamou sua atenção: havia duas pessoas viajando no teto do carro da banda!
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"Hm, odeio o teto...", Yahiko reclamava, sentado no alto do carro. Misao acertou-o no alto da cabeça, fazendo-o morder-se de raiva. "Ai! Por que diacho você fez isso?"
"Pára de rabugice, seu boboca." Misao tentava equilibrar-se. "A gente já esteve em situações piores. Lembra quando fomos debaixo daquele caminhão? AQUILO sim foi desconfortável."
"Nem me lembre disso.", o garoto sacudiu a cabeça, expulsando a imagem daquela experiência. "Mas eu ainda prefiro o porta-malas."
"Tá, mas nada é perfeito, não é? O que importa onde nos estamos viajando se estamos indo com o The Doors?"
"The Doors, The Doors, The Dooooooooors!!!" uma Misao-chibi e um Yahiko-chibi comemoraram histericamente. De volta à forma normal, a garota riu.
"É verdade! O porta-malas é confortável, a gente pode dormir, mas não é tão emocionante! Sem falar do vento. Tá ficando bem quente!"
"É, tá..." ele sorriu, logo ganhando uma expressão tristonha.
"O que foi agora? Não acha divertido?"
"É, com certeza é... Mas... Bem... quando vamos parar?"
Misao suspirou, estufando o peito e declarando em seguida. "Bom, eu não pretendo. Mas você pode, quando quiser." Então ela viu a cara triste de Yahiko. "Ow, qual é, bicho! O que é que temos além disso? Só o que temos é coragem e fôlego pra nos divertirmos! Quer perder isso também?"
Yahiko meneou a cabeça, sorrindo reanimado. "Você tá certa! A gente tá sozinho, a gente faz o que a gente acha bom pra gente. Às vezes é dificil, mas tudo tem um preço, né? A gente vive de um jeito pelo qual um monte de gente daria o pescoço só pra experimentar. Não, não tenho do que reclamar."
Misao sorriu e bagunçou os cabelos de seu companheiro. Esta conversa a fez sentir um pouco a falta de sua outra vida: seu quarto, sua cidade, e até algumas vezes, seus pais. Mas a conclusão de Yahiko a fez pensar melhor. "Bom, já faz dois anos desde que eu fugi de casa... Meus pais provavelmente nem lembram de mim... E acho que estou melhor agora do que quando eu estava com eles... É, Misao. Você desenha seru próprio caminho. Pode ser errado ou difícil, mas é seu." Com isto ela virou-se para o lado, ainda em silêncio, e olhou o arrebol. "Yahiko, olha como o céu tá vermelho hoje!" ela apontou para lugar-nenhum no rubror e disse alto.
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Kaoru usava um vestido azul, até os joelhos e sem mangas, amarrado à esquerda de seu pescoço com um nó, deixando cair duas tiras da seda. Tentando equilibrar-se sobre seus saltos, ela apenas desejava suas pantalonas, sua blusa confortável e sua habitual falta de sapatos. Ou pelo menos um vestido que não a fizesse parecer tão ridícula, uma vez que seu pai fazia questão de que ela usasse um vestido. Mas ele jamais permitiria que ela escolhesse suas próprias roupas, especialmente para uma ocasião tão importante como aquela. Desde que sua mãe morrera, alguns anos antes, ele estava sempre pedindo conselhos às mães das amigas da filha em como ela deveria se vestir. Uma bobagem, em sua opinião.
"Bobagem. Não preciso que ninguém me diga como eu devo me vestir...", ela pensava em silêncio, engolindo o choro. "Por que ele não pode me aceitar como eu sou? Tenho o meu estilo e nada a esconder... Mas ele insiste em me fazer parecer uma boneca de porcelana..."
E olhando friamente para o chão ela ia, o pai acompanhando-a de perto, apresentando-a para seus amigos e para pessoas que ele mal conhecia. A mesma frase que ela ouvia muitas vezes em uma mesma noite. "Sua filha é adorável, mestre Kamyia!". Às vezes ela queria gritar que não era adorável, que não era uma boneca ou um bichinho. Mas o respeito que tinha por seu pai afastava os pensamentos de transformarem-se em voz em sua garganta.
A anfitriã, Yumi, estava extática. Por três anos ela assumira um compromisso com Aoshi Shinomori, um jovem advogado bem-sucedido, que estava fazendo mestrado naquela época. Era o melhor partido da cidade, o tipo de rapaz que qualquer família escolheria para casar-se com as jovens. E agora seu relacionamento tornava-se oficial para a sociedade. Ela parecia feliz em seu vestido cor de champanhe, mas no fundo estava preocupada. Correndo o olhar pelo grande salão ela não via seu noivo. Como um relâmpago, ela correu para a sala de estudos, e lá estava ele, debruçado sobre um enorme livro, lendo e tomando notas numa folha de papel. A jovem fechou a porta e apoiou-se contra ela.
"Koishii... Está todo mundo lá. Vamos, é nossa festa de noivado... Não é normal que fiquemos aqui trancados feito caraóis."
"Irei logo.", ele respondeu friamente, sem desviar-se de seu livro.
"Está certo. Não demore muito, papai quer brindar...", ela sorriu satisfeita e aproximou-se da cadeira do noivo, ajoelhando-se ao seu lado e segurando sua mão. Ele virou seus frios olhos azuis para ela. "Amo você, koishii.", ela sussurrou. Ele beijou sua mão sem nada dizer, logo tornando para seu livro. Yumi ficou contrariada. "Diga."
"Dizer o quê?"
"Diga que me ama."
"Ora, Yumi... Isso é tão infantil..."
"Você não me ama?!"
"Você sabe...", ele disse, finalmente encarando a noiva nos olhos.
"Então diga! Eu só quero ouvir!"
"Certo...", ele suspirou. "Também amo você."
Ela sorriu e beijou a ponta de seus lábios. Virou-se e saiu da sala, deixando o noivo ali, de volta à sua literatura.
De volta ao salão, Yumi esbarrou com Kaoru e fez um grande estardalhaço, puxando-a para um canto para que pudessem conversar.
"Então, Kaoru-chan? Como vão as coisas? Você está tão linda!"
"Ahw, está tudo bem. Mas nada de novo. Além do que, eu odeio estas roupas..."
"Que bobagem! Você está ótima! Mas me conte, já arrumou um namorado?"
"Hm, na verdade não."
"Como assim?!", Yumi parecia realmente surpresa. "Por quê? Você já tem dezessete anos! Qual o problema? O mestre Kamyia não gosta dos rapazes?"
"Bem, é só que eu não estou apaixonada por ninguém, no momento..."
"Kaoru! Isso é só uma questão de tempo! Você não precisa necessariamente estar apaixonada pra ter um compromisso!"
"Quer dizer que você não está apaixonada pelo Aoshi?" Kaoru franziu a testa, estarrecida.
"Ainda não, eu acho... Bem, eu achei que estivesse, mas talvez não esteja..."
"Bem, Yumi... Acho que quando a gente realmente se apaixona, a gente não tem dúvidas. Fica óbvio pra gente."
"Pode ser. Mas eu não tenho pressa! Vamos nos casar, teremos nossas vidas inteiras pra passar juntos e nos apaixonarmos." Ela sorriu maliciosamente, olhando de um lado para o outro e aproximando-se de Kaoru. "Hoje, enquanto eu me preparava, minha mãe me explicou coisas... er... algumas coisas que uma mulher casada deve saber..."
"Quer dizer, ela te falou sobre sexo?"
"É...", Yumi corou. "Minha mãe falou de um jeito tão diferente das aulas de biologia, me deu uns conselhor pra eu conseguir... agradá-lo... Fez parecer tão... íntimo... E bom também! Acho que vamos nos apaixonar quando fizermos daquele jeito..."
Mas antes que Kaoru pudesse perguntar, inconformada, como ela poderia fazer sexo com alguém com quem ela não tivesse nenhuma intimidade, por quem não sentisse nada, o pai de Yumi chamou-a para que pudessem brindar e o mestre Kamyia aproximou-se da filha. Ela observava a jovem que corria para junto do advogado, pegando a taça de champanhe que ele lhe estendia. À medida em que o orgulhoso pai da noiva fazia seu discurso, mestre Kamyia cochichava para Kaoru, iniciando uma conversa em voz baixa. "Veja, minha Kaoru... Suas amigas estão se casando... estão assumindo compromissos, noivando, crescendo... Tornando-se adultas."
"Ainda tenho dezessete anos, Otousan....", ela disse, tão baixo quanto ele.
"Mas já é hora de pensar no futuro. Você não pode ficar dentro do seu quarto para sempre."
"Já pensei no meu futuro. Vou para a universidade ano que vem, vou estudar bastante e me tornar professora."
"Um bom pensamento. Mas você não poderia pensar sobre isso mais para frente?"
"É o que eu quero para a minha vida. O resto acontece quando tiver de acontecer."
"É verdade... Mas as coisas não são tão fáceis assim..."
"Bem, devo dizer que as coisas não são tão difíceis, Otousan."
"Minha pequenina, já conversamos sobre isso antes. Não nos levou a nada. Você sabe que precisa pensar em ter uma família, em ter filhos, cuidar de uma casa, ser uma boa esposa..."
"E eu? Não devo pensar sobre mim?"
"Tudo isso ignifica pensar em você."
"E se eu quiser ser livre? E se eu quiser viver minha própria vida, Otousan?", ela disse, ficando nervosa.
"Idéias idiotas, Kaoru. Vai ficar sozinha para sempre?"
"Ainda não me decidi... Se eu optar por isso..."
"Pare com essa conversa estúpida. E desista desta idéia maluca de ficar só, sem filhos, sem marido... Isso é pra gente irresponsável."
Kaoru ficou com um nó na garganta. Tudo o que ela queria estava preso ali, bloqueado por sua raiva e seu respeito. Queria sair intempestivamente, mas seu pai discretamente segurou-a com força, fazendo-a ficar, até que o pai de Yumi tivesse terminado o discurso e o brinde. Só então ela teve a oportunidade de escapar à francesa e tomar um pouco de ar.
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Kenshin e Megumi andavam pelas ruas vazias, entre as luzes da cidade. A jovem envolveu seu braço no de Kenshin, mesmo sendo ele muito mais baixo que ela, o que forçava-a a se abaixar um pouco.
"Que estranho..." Kenshin disse. "Não há ninguém nas ruas... Pelo menos alguns casais costumam passear por aqui à noite, mas hoje não há ninguém."
"É melhor assim, Ken-san. Ninguém pra apontar a gente e dizer 'olha, dois maconheiros!'. Nenhuma mãe abraçando as crianças, como se fôssemos lobos e elas tivessem que proteger os filhos de nós... Prefiro assim." Neste momento eles deram um passo para o lado para atravessar a rua, larga e mal-iluminada.
De repente, eles ouviram um rosnar alto, o som de um motor. Num piscar de olhos, Megumi sentiu algo zunir atrás de si, atirando-a no chão. Então o ruído parou. Um homem, vestido num jeas e numa camisa preta, veio do lugar onde o som parara.
"Desculpe, jovem...", ele disse, levantando Megumi do chão. "Sou Sanosuke, sou de fora, não sabia que ia ter gente na rua e--"
"Seu idiota!" ela gritou raivosa. "Você podia ter me matado com essa coisa! Que tipo de louco você é? Dirigindo uma lambreta tão rápido em plena cidade!"
"Opa... Calma lá! Isoo aqui não é lambreta, é uma genuína Harley-Davidson! Você tá bem, não se machucou, como eu tô vendo e eu já me desculpei."
"Por sorte eu não me machuquei, seu lunático!"
"Ei, já chega de ofensa, não?"
"Pare de ser irônico! Eu podia ter me machucado, tenho o direito de reclamar! É você quem está errado, não eu!"
"Uh, Megumi-dono..." Kenshin tentou. "Vamos embora, o rapaz já se desculpou e--"
"Você não consegue ao menos prestar atenção a onde você dirige esse troço?" Megumi continuou discutindo, sem dar importância ao aviso de Kenshin.
"Oi! Você se irrita fácil, mulher-raposa!", Sanosuke debochou.
"De que você me chamou, seu crista-de-galo?", ela franziu a testa, ameaçando o homem com o corpo.
Kenshin escapou rapidamente. Conhecia bem Megumi, era óbvio que ela passaria a noite toda discutindo com o forasteiro. O rapaz não parecia perigoso, apesar do modo tempestuoso como se apresentou e Megumi sabia muito bem como se virar sozinha. Seria pior se ficasse ali, com seus olhos esbugalhados e indo de um lado para outro sem saber o que dizer. Por isso ele os deixou e foi dar uma volta pela cidade.
"Já faz muito tempo que este servo não vem para este lado da cidade..." ele pensou enquanto vagava entretidamente, fitando o céu negro salpicado de estrelas. "Andar assim faz este servo lembrar o tempo em que andarilhava pelo país... Mas um dia este servo partirá de novo... Este servo bem sabe..."
Kenshin passou por pontes, bulevares, becos, apenas flertando com as luzes tétricas da cidade, até que ouviu um choro, um soluço abafado. Seguindo o som, ele chegou a uma praça e encontrou uma jovem num vestido de seda azul sentada na grama, afogando-se em lágrimas. Ele se aproximou e preguntou ternamente. "Senhorita? A senhorita está bem?"
A jovem levantou a cabeça e encarou o ruivo com seus olhos verde-escuros, afirmando com a cabeça. Ela tentou enxugar uma lágrima de seu olho esquerdo, mas muitas outras vieram depois e ela chorou copiosamente, tornando evidente que sua resposta não era verdadeira. Ela curvou-se para frente e apoiou a cabeça nos joelhos, escondendo o rosto do olhar violeta do homem. Kenshin sentou-se ao seu lado e pôs a mão em seu ombro.
"Etsá tudo bem... Fique calma...", ele afagou suas costas de leve, fazendo-a encará-lo novamente. "Há algo que este servo possa fazer para ajudá-la?"
"Eu... Eu acho que não...", ela aspirou, ajeitando seu cabelo bagunçado.
Kenshin enxugou uma lágrima que ainda estava no rosto da garota. "Qual é o seu nome?"
"Kaoru Kamyia..."
"Ah, então a senhorita é Kaoru Kamyia, mestre do estilo Kamyia Kasshin com apenas dezessete anos... Este servo ouviu falar sobre a senhorita..."
"Você... ouviu??"
"Sim, a senhorita tornou-se mestre com apenas quatorze anos, de gozaru ka?"
"Na verdade... Eu tinha quinze..." ela pareceu um pouco mais animada. "Mas como você sabe tudo isso sobre mim?"
"Este servo vive por aí, este servo escutou muita coisa enquanto vagava pelo país; embora este servo não venha para fora há vários meses."
"Como é?" a jovem franziu a testa, sorrindo ligeiramente de curiosidade.
"Bem, este servo vive na comunidade hippie, na floresta. Sessha wa rurouni." Ele sorriu ternamente, um sorriso largo e sincero que se derramava sobre o rosto do úmido da menina. Ela olhou seu rosto e pode ver dentro de seus olhos violeta que ele não estava sendo falso. Depois de alguns minutos de uma incômoda falta de som, ele falou de novo. "Então? A senhorita está melhor agora?"
"Mais ou menos..." ela suspirou desanimada e jogou a cabeça para frente.
"Bem, sobre o que a senhorita está chateada?"
"Vida."
"Hm, não diga isso, senhorita! Talevz as coisas não saiam exatamente como esperamos que elas saiam em algum momento, mas isto não é motivo para reclamar da vida! Viver é uma dádiva que não deve ser tirada por nada, de gozaru yo."
Kaoru não disse nada, a cabeça ainda baixa. Então, depois de alguns momentos, ela levantou os olhos e fixou-os nos do ruivo. "Eu gostaria... digo, eu quero ser livre."
"Hm... Tudo de que a senhorita precisa é querer."
"Não é tão fácil..." ela balançou a cabeça, virando-se para o lado oposto ao de Kenshin.
"Este servo deve dizer que as coisas não são tão difíceis."
Kaoru levantou a cabeça surpresa com a resposta -sua própria! "Que coincidência... Não é possível!" De algum modo, ela gostou daquele homem estranho desde que ele se aproximara, exatamente por ser estranho, mas naquele momento ele realmente impressionou-a. Percebendo sua expressão atônita, Kenshin acreditou que fosse um sinal de coragem naquela menina frágil e tristonha.
"Kenshin Himura." o homem curvou-se, estendendo sua mão para a jovem.
"Kaoru Kamyia." ela ensaiou um sorriso tímido, curvando-se e apertando a mão de Kenshin.
"Este servo sabe! A senhorita já havia dito a este servo, Kaoru-dono!"
"Aw!", ela enterrou o rosto nas mãos, envergonhada. "Como sou boba!"
"Tudo bem, Kaoru-dono!", ele riu. "Esqueça. Então, onde a senhorita mora? Este servo quer dizer, onde este servo pode encontrá-la?"
"Oh-oh... Preferia que você não me encontrasse... Quero dizer, não agradaria nadinha ao meu pai esbarrar com você... Ele odeia toda essa coisa de liberdade e hippies e rurouni e-- "
"Ah, este servo entende. A senhorita quer dizer que seu pai iria detestar este servo."
"Sim..." ela concordou tristemente, mas logo caiu numa tentativa desesperada de consertar a situação. "Quero dizer, não! Quero dizer, sim e não! Quero dizer... awh! Esquece. Desculpe!"
"Este servo entende, Kaoru-dono! De qualquer modo, se quiser falar com este servo a senhorita sabe onde encontrá-lo. pode vir quando quer que precise conversar."
"Bom... As pessoas da comunidade não... ficam... chateadas? Quero dizer..."
"Certamente não! Se a senhorita quiser, pode vir amanhã. Este servo ficará feliz em apresentá-la às pessoas da comunidade, especialmente à Megumi-dono..." Kenshin arregalou os olhos repentinamente. "Oh-oh! Este servo esqueceu a Megumi-dono discutindo com aquele homem! Este servo precisa ir agora!" ele disse, levantando-se apressado. "Venha amanhã se puder!" ele ainda pode gritar da esquina, deixando uma Kaoru revigorada e sorridente sentada no chão.
Uma voz rouca veio de trás da jovem, assim que Kenshin sedapareceu. "Kamyia-san?". Ela virou a cabeça para ver Aoshi aproximando-se. "Kamyia-san, seu pai a estava procurando. Onde esteve?"
Ela levantou-se e bateu a grama de seu vestido. "Eu... Eu vim para fora... para tomar um pouco de ar... Eu fiquei tonta, então achei que um pouco de ar fresco me faria bem."
"Hm... Entendo... Vamos voltar então." Ele disse, voltando-se para trás e seguindo para a casa de Yumi. Kaoru seguiu-o. Por algum tempo eles nada disseram, até que Aoshi murmurou discretamente. "Seus olhos estão inchados."
"E-Estão?" ela gaguejou. "Uh, é por causa do... do ar! Está muito frio, então meus olhos ressecaram e... e eles incharam..."
"Claro. E eu nasci com vinte e seis anos. Jamais passei pelos dezessete..." Ele comentou irônico, a voz impassível. Nada mais foi dito. Ele apenas tirou um lenço do bolso e estendeu-o para Kaoru. Contudo, algo caiu no chão quando ele o fez, sem que ele se apercebesse disto.
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"Ô, Misao, por que a gente simplesmente não fica perto do pessoal da banda? Tô cansado, quero dormir!" Yahiko gemeu, seguindo sua companheira pela rua. Ela corria rápido à sua frente, enquanto o garoto mal agüentava seu corpo sobre as pernas e não conseguia acompanhar o ritmo da menina.
"Eles levantam acampamento amanhã, na hora do almoço! A gente tem que bordejar antes disso! Se a gente dormir agora, não vai conhecer o lugar." Ela gritou por sobre os ombros, uns duzentos metros à frente.
"Podemos fazer isso amanhã, quando acordarmos!"
"Ha! Nós dois sabemos que você não vai acordar a tempo!", ela riu, dobrando uma esquina e indo para outra rua.
Yahiko acelerou o passo, tentando seguí-la mais de perto. "Ei! Eu consigo sim, vou provar!". Quando ele dobrou a esquina que Misao dobrara antes, ele a viu abaixada no chão, escrutando um pedaço de papel. A uma certa distância dela, ele parou. "Que é isso, Misao?"
"Parece um cartão pessoal." Ela disse, olhando-o dos dois lados. A garota apertou os olhos, tentando ver o que estava escrito mesmo no escuro da noite. Ela leu em voz alto. " 'Aoshi Shinomori - Advogado.' Também tem um número de telefone aqui." Virando o cartão, ela viu sua face posterior. Deveria estar em branco, mas havia uma inscrição a tinta, numa caligrafia tipicamente feminina. " 'Aishiteru. Yumi'... Hm, interessante!"
"Ow, qual é, Misao! O que tem de tão interessante numa carta de amor?"
"Hm... Não sei... Mas vou guardar isso de qualquer modo." Ela disse, levantando-se e pondo o cartão na mochila. "Tô sentindo que isso será útil..."
"Ha, suas demonstrações de intuição de novo... Confio mais nas suas kunai do que no seu bom senso ou na sua intuição." o garoto disse, ajeitando a mochila nas costas. Ele sentiu, porém, um coque forte, ainda que pequeno, que o deixou tonto.
"O que há de errado com as minhas kunai?!" Misao, muito irritada, deu-lhe um coque.
Eles continuaram discutindo ao longo da rua, até que viram um homem e uma mulher se encarando, discutindo. Misao se escondeu atrás de uma árvore e Yahiko, percebendo sua intenção, abaixou-se e se deixou encobrir por um hidrante. A garota observava a cena com atenção: o homem parecia mau, forte, com uma faixa vermelha em volta de sua cabeça e de seu cabelo bagunçado, uma camisa preta com um kanji pintado nas costas. Significava "mau". A mulher parecia frágil, em sua saia longa e sua blusa sem mangas, descalça. "Esse cabeludo vai molestar a moça!", Misao pensou, chamando a atenção de Yahiko logo depois.
"Pst! Yahiko!", ela sussurou. "Temos que fazer alguma coisa! Tá com a sua shinai aí?"
"M-hm." Yahiko afirmou com a cabeça.
"Então vamos fazer o seguinte: vou me esgueirar até aquele lado e, quando eu te der um sinal, a gente ataca o cara junto, OK?"
Novamente Yahiko concordou silenciosamente. Misao foi na ponta dos pés, de poste em poste, de árvore em árvore, evitando ser vista. Ela olhava vacilante, de seu companheiro para o homem, para a mulher, e de novo para seu companheiro.
Eles discutiam inflamadamente. A mulher estava descontrolada e logo o homem também estaria. Ele aproximou-se ameaçadoramente dela. Neste exato momento, Misao olhou para Yahiko em sinal e ambos pularam de seus esconderijos para atacar o falso estuprador. "Kansatsu Tobikunai!" Mas, antes que eles pudessem ver que fora um erro, a mulher socou violentamente a cabeça do homem e foi embora calmamente, gritando para trás. "Baka!". O homem ficou ali, segurando sua cabeça. Misao e Yahiko não tiveram tempo de parar (a primeira já havia atirado suas armas e este último estava no ar de seu pulo, pronto para acertar o homem): os dois atacaram-no diretamente, juntos, fazendo-o cair no chão.
"Oi! Que diabo é isso?" o homem ululou, esfregando o alto de sua cabeça, lugar onde ambos -a mulher e Yahiko- haviam-no acertado. "Vocês por acaso são de alguma organização de proteção às raposas?"
"Quê?", Yahiko franziu a testa, balançando os ombros.
"Fica quieto, Yahiko!", Misao disse, correndo para o lado de Sanosuke's para recolher suas kunai. "Desculpe, companheiro. A gente pensou que você fosse estuprar a moça..."
"Estuprar ela?!" ele disse em agudo. "Era mais fácil ela me matar do que eu estuprar ela... Ai, a mocinha é forte..." ele esfregou o lugar onde ela o tinha acertado, olhando raivosamente para a dupla de jovens. "E, por Geddy, vocês também..."
"Eh, ehe..." Misao ficou sem jeito. "Hm... tem algo que a gente possa fazer pra ajudar?"
"Bem... Tô com fome. E preciso dormir."
"Ha, tá perdendo tempo, mora?" Yahiko disse, atirando-se no chão. "A gente não é daqui, e também estamos procurando comida e cama. Além do quê, também tô morto."
"Eh?" Sanosuke riu. "E o que crianças como vocês estão fazendo fora de casa a essa hora?"
"Quem você chamou de crianças?" Yahiko pulou antre o homem e sua companheira, fuzilando-o com o olhar. Misao empurrou a cabeça do garoto para baixo e continuou falando.
"Seguindo o The Doors, é claro!" ela respondeu. "E não somos crianças."
"Como eu... Hm, então vocês são roadies?"
"Prefiro dizer que somos 'seguidores'. Não somos apenas puxa-sacos."
"Que seja... Então, tô vendo que não podem fazer nada por mim... Pode me dizer pelo menos onde tem uma estalagem por aqui?"
"Hm... Realmente não sei...", Misao coçou a cabeça.
"Ei, Eu vi uma naquela rua de onde a gente veio!" Yahiko gritou, levantando-se de novo. "Tem uma casa toda acesa, de onde tá vindo uma música -acho que é uma festa. Bem, ao lado tem uma estalagem. Tem uma placa grande nela, onde está escrito 'Akabeko'."
"'Kay, bicho." Sanosuke levantou-se e montou sua moto. "Obrigado pela informação. Sou Sanosuke Sagara, me procurem se precisarem de alguma coisa. Vocês são...?"
"Somos Misao e Yahiko." a garota respondeu. "Obrigada, Sagara-kun. Tome cuidado."
"Eu tô bem: o perigo são vocês." ele deu uma piscadela, sumindo na escuridão em seu cavalo de metal. Com as mãos na cintura, Misao olhava o homem, enquanto Yahiko se aproximava dela.
"Ele parece legal." o garoto afirmou.
Misao olhou para Yahiko e mentalmente comparou-o a Sanosuke. "M-hm... Mas não ouse ficar igual a ele!", ela riu-se.
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.:Eu de Novo:. Esse é só o primeiro capítulo. A história meeesmo ainda está por vir. Só uns esclarecimentos: 1- não estranhem, o Sano fala meio erado mesmo; 2- por toda a fic estão espalhados pedacinhos de músicas -como eu ja disse, discriminarei todos no big-disclaimer; 3- pra quem não entendeu lhufas da expressão "por Geddy" eu explico: em inglês, tem-se aquela mania de substituir a palavra "God" (=Deus) em expressões do dia-a-dia por outras começadas com "g"; na versão em inglês, a expressão era "for Geddy's sake", numa referência ao Geddy Lee, baixista e vocalista do Rush.
A atualização dessa fic não vai ser assídua como a de "Try to Get Along Without Kaoru", mas não pretendo deixar vãos muito grandes. Aliás, só pretendo alualizar se os eventuais leitores quiserem. Então, quer ler mais?
