LET ME IN

1. Nova vida

A pequena estação da cidade não costumava receber muitos viajantes, foi o que aquele jovem italiano reparou ao desembarcar do trem. Era uma cidade pequena e, para o rapaz que havia crescido em Nápoles, parecia bem entediante. Não que fosse uma escolha dele se mudar para uma cidade pequena no interior da Suécia, mas seus pais haviam morrido e ele fora mandado para viver com um primo. Um primo que ele mal conhecia, mas que era seu único parente vivo que conseguiram encontrar. O rapaz olhou em volta, procurando por alguém, mas…

Como posso procurar por alguém que nunca vi na vida?

Felizmente, ele não precisou pensar em como faria para encontrar o primo, pois ouviu alguém chamando seu nome.

- Ângelo?

O italiano se virou para ver quem o chamara e viu um homem acompanhado de um garoto que parecia ser da sua idade. Imaginou há quanto tempo não ouvia alguém o chamando pelo nome em uma ocasião informal, já que era mais conhecido por seu apelido que ganhara na escola. Pelo visto, aqueles eram seus parentes distantes. Foi até eles, carregando sua mala.

- Sou eu. E vocês são…?

O homem o cumprimentou e pegou sua bagagem.

- Eu sou Shion, primo de sua mãe. Deixe-me ajudá-lo com isso.

Ângelo aceitou a ajuda, estava cansado de carregar aquela mala pesada. Shion continuou:

- Este é meu irmão, Mu. Acho que vocês têm a mesma idade.

Mu sorriu, cumprimentando o primo, que sorriu de volta. Os três seguiram ate a saída da estação, onde pegaram um taxi até um pequeno condomínio. Quatro prédios baixos, de dois ou três andares, em volta de uma pracinha com um playground simples, com dois balanços e um gira-gira. Tudo, assim como o resto da cidade, estava coberto de neve.

- Aqui neva o ano inteiro? – Perguntou Ângelo, meio desanimado.

- Não. – Disse Mu. – Não temos neve no verão. – E riu. – Parece que vai ter que se acostumar com o frio.

- Parece que vou passar um bom tempo dentro de casa. – O italiano disse, mais desanimado ainda.

Sentia falta do calor da Itália, da cidade grande, com muitas pessoas na rua. Ali não parecia o tipo de lugar em que ele teria alguma diversão.

O taxi parou na entrada do condomínio e Shion pagou a corrida antes de descer e pegar a mala de Ângelo, que desceu logo depois de Mu.

- Moramos no segundo andar do prédio 2. – Mu apontou para uma das janelas. - Venha, vamos lhe mostrar a casa.

Ele seguiu os outros dois até a entrada do prédio 2, mas antes de entrarem, alguém chamou por Shion. Dois homens, idênticos, se aproximaram.

- Olá Shion.

- Olá Saga, Kanon. Acabei de buscar meu primo na estação, vai morar comigo a partir de agora.

Um deles riu.

- Arranjou mais um pra cuidar, é?

O outro, sério, cumprimentou o italiano.

- Não se importe com meu irmão. Eu sou Saga, moro no prédio da frente, o 4. Se precisar de alguma coisa, é só falar.

- Obrigado.

Enquanto isso, Kanon se virou para Shion.

- Viu o que saiu no jornal de hoje? Aconteceu de novo, dessa vez aqui perto.

- E não há nenhuma pista?

- Assim como das outras vezes, nenhum rastro.

Shion percebeu que Mu e Ângelo escutavam com interesse e mandou-os para o apartamento.

- Mu, mostre ao seu primo onde ele vai dormir. Eu vou subir daqui a pouco.

Mu saiu a contragosto, junto com o primo. Chegaram ao apartamento 201 e entraram.

- Não sei por que o Shion não me deixa participar do assunto. É como se eu não tivesse 17 anos.

- Você tem 17?

- Sim, por quê?

- Achei que fosse menos. Eu também tenho 17. Acho que vamos estudar juntos.

O jovem loiro ficou aborrecido por aparentar uma idade menor, mas se animou ao pensar que teria um companheiro de sala. Mostrou o apartamento, que não era muito grande, para Ângelo. Tinha três quartos pequenos, um banheiro, cozinha e sala. Mu mostrou um dos quartos.

- Esse é o seu quarto, Ângelo.

- Máscara da Morte.

- Como? – Ele olhou sem entender.

- Meu apelido. Estou mais acostumado a ser chamado assim, ou de Mask. Quem me chamava de Ângelo eram meus professores ou alguém me dando bronca.

- Certo… Mask. – Disse Mu, rindo. – Meu quarto é o do lado e o quarto do Shion fica do outro lado do corredor. Se precisar de qualquer coisa, é só falar com a gente.

- Ok.

Máscara colocou a mala no meio do quarto e começou a tirar as coisas para passar para o armário quando se lembrou de algo.

- Mu!

O garoto loiro logo apareceu na porta.

- Fala.

- Você sabe do que o Shion e aqueles gêmeos estava falando agora há pouco?

- Sei. Espera aí que eu vou te mostrar.

Ele vai até o quarto e volta com uma caixa de sapatos.

- Meu irmão não sabe que eu fico guardando isso, mas eu gosto de mistérios e isso é um verdadeiro mistério.

Dentro da caixa havia vários recortes de jornal e as notícias eram quase todas as mesmas: assassinatos com as mesmas características e nenhum suspeito encontrado. A mais recente era do jornal daquele dia. Máscara da Morte olhava as notícias, interessado.

Parece que esse lugar não é tão tedioso como eu pensei.

- E não tem nenhuma pista? – Ele perguntou, sem tirar os olhos dos jornais.

- Nada. O criminoso só ataca pessoas sozinhas, por isso ninguém sabe como ele é.

- Hmm.

Ele ficou um bom tempo olhando os recortes de jornal e Mu foi terminar um trabalho de escola. Mais tarde, Shion os chamou para jantar.

- Vai ter um longo dia amanhã, Mask. – Disse Shion, depois do jantar. – Acho melhor você ir descansar.

- Ok. Boa noite.

Mu disse o mesmo antes de ir para seu quarto. Mask arrumou a cama e foi fechar as cortinas quando viu alguém sentado em um dos balanços. Uma menina vestindo um casaco cinza, parecia olhar para o chão e balançava levemente. Os longos e ondulados cabelos loiros reluziam, mesmo de noite. O garoto reparou que ela estava descalça, mesmo pisando na neve. Ela olhou na direção da janela e ele logo se abaixou. Não queria ser visto espiando. Quando olhou novamente, ela não estava mais lá.

Droga.

Ele fechou as cortinas e apagou a luz antes de se deitar. Até dormir, ficou pensando naquela menina, se perguntando se a veria de novo e por que ela estava sem sapatos.

No dia seguinte, acordou cedo, pois Shion ia levá-lo até a escola de Mu para fazer sua matrícula. A escola não ficava longe e Mu costumava ir à pé, mas já que o irmão mais velho ia até lá, ele aproveitou a carona. Mask notou que o primo estava um pouco nervoso, mas achou melhor perguntar depois, quando estivessem sozinhos, e não disse nada.

Na escola, depois de resolvidas as questões de transferência e documentos, Mask foi levado até sua sala, que era a mesma de Mu. A professora, Hilda, apresentou-o para a classe.

- Este é Ângelo Vettra, o novo colega de vocês. Ele chegou da Itália há pouco tempo, então sejam gentis para que ele se acostume. – Ela se virou, sorrindo, para Mask. – Se quiser dizer alguma coisa, pode dizer.

- Não, obrigado.

- Certo, pode se sentar ali, ao lado do Mu. Assim você se sente mais à vontade.

Ele se sentou no lugar indicado por ela e, quando teve uma chance, logo comentou com Mu.

- Essa professora é bem simpática, não?

- Sim, é uma das que mais gosto. – Ele respondeu. – Sem contar que literatura é minha matéria favorita e… Ai!

Alguém acertara uma bolinha de papel bem na cabeça de Mu. Os dois olharam para trás e viram quatro garotos que riam disfarçadamente no fundo da sala. Um deles, que tinha os cabelos tingidos de rosa, cochichou alguma coisa para o ruivo ao seu lado e eles voltaram a rir.

- Quem são aqueles ali? – Mask perguntou.

- Ninguém. Só uns garotos que enchem o saco de vez em quando.

Máscara da Morte não foi com a cara deles. Olhou para trás mais uma vez e viu que o garoto de cabelos rosa ainda o encarava. Voltou a olhar para a frente, agora com toda a certeza de que não tinha ido com a cara deles.

No final da aula, os dois primos estavam indo pegar suas coisas nos escaninhos quando tiveram o caminho barrado pelos quatro garotos do fundão. O de cabelo rosa, que parecia ser o lider deles, se aproximou.

- Quem é esse, Muzinho? Seu novo namorado?

Os outros começaram a rir. Mask viu que Mu parecia encolhido contra a parede, evitando olhar para os garotos. De repente, o garoto que provocara Mu foi empurrado contra a parede com a mão de Mask em seu pescoço. Os outros olharam assustados, mas quando fizeram menção de se aproximar, o lider fez sinal para que não chegassem perto.

- Fez bem, engraçadinho. – Disse Mask, ameaçador. – É melhor não chegarem perto do meu primo de novo, ou vão descobrir por que na Itália eu era conhecido como Máscara da Morte.

Ele soltou o garoto, que saiu correndo junto com os outros. Depois, se virou para Mu.

- Não é de hoje que eles te intimidam, não é?

Mu afirmou, triste.

- É assim desde que eu tinha 14 anos. Io, o de cabelo rosa, nunca foi com a minha cara e eu nunca soube o motivo. Os outros, Alberich, Isaak e Shido, fazem o que ele manda.

- Mas você não contou isso para o seu irmão?

- Já, mas não adiantou muito. Atualmente ele nem sabe que isso ainda acontece.

Mask suspirou, desanimado.

- Certo. Mas quero ver eles se meterem comigo agora. Já sinto falta de uma boa briga, como fazia de vez em quando em Nápoles.

Mu olhou assustado, o que fez o outro rir. Pegaram suas coisas e foram para casa.

Quando estavam entrando no condomínio, Mask olhou para os balanços e se lembrou da noite anterior.

- Ei, Mu.

- Sim?

- Por acaso tem alguma garota loira que mora aqui?

- Garota loira?

- É. Ela tem cabelos compridos e ondulados. Eu a vi ontem à noite, aqui nos balanços.

Mu pensou um pouco antes de responder.

- Acho que tem sim, mas nunca me encontrei com ela. Só a vi da janela, como você. Pelo que sei, ela é filha de um espanhol que vive no apartamento ao lado do nosso. Eu o vejo de vez em quando, mas nunca me encontrei pessoalmente com a garota.

Mask olhou para a janela que ficava ao lado da do seu quarto e reparou que os vidros tinham vários pedaços de papelão colados, como se bloqueassem a entrada de luz.

Então ela é real. Misteriosa, mas isso a deixa mais atraente. Acho que vou dar uma volta por aqui depois do jantar.

Pensando isso, Mask seguiu Mu para o apartamento.

oOoOo

N/A: Olá. Faz muito tempo que não escrevo uma fic de CDZ, mas acho que não perdi o jeito. Espero que o primeiro capítulo tenha ficado bom. Opiniões, sugestões, são todas aceitas.

Sobre o título, a fic é só baseada nesse filme, eu mudei um bocado de coisa. Ficou esse título porque eu não achei nenhum melhor.

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