Muito Além da Razão
"Quando isso começou?"
"Eu não sei, hoje? Não foi nada planejado."
"Issoé evidente. Você nunca planeja nada. Sempre como se a vida fosse uma festa e..."
"E isso nunca te incomodou antes."
"Você não estava fazendo idiotices antes."
"Honestamente, você fala como se algum dia tivesse aprovado uma única escolha minha quando se trata de namorados."
Ela mordeu o lábio, achando que tinha falado demais. Ele a encarou, descrente, sabendo que era a mais pura verdade e que ele jamais admitiria isso.
"Convenhamos, Potter é ir longe demais."
"Eu não te vi falar desse jeito sobre Draco e Weasley."
"É diferente..."
Ela sacudiu a cabeça, raivosa.
"Por que ele é homem? Por que eu deveria me comportar? Você é tão machista, Blaise..."
Ele sacudiu a cabeça e revirou os olhos.
"Não tem nadaa ver com isso..."
"Não? Então tem a ver com o que?"
Ele fez um gesto exasperado com as mãos e respondeu:
"Você não gosta dele. Você não saberia de quem você realmente gosta mesmo que estivesse encarando-o de frente. Você se engana, Pansy..."
Ela riu, negando com a cabeça.
"Não, eu não gosto dele. Mas é divertido. E isso é suficiente pra mim. Não pense que eu acho que estou em um conto de fadas e se ele acreditar nisso... Bom, isso é problema dele e daquela cabeça grifinória, não é?"
Blaise a encarou, sem ter como argumentar. Nada do que poderia falar teria algum sentido e possivelmente brigar só a jogaria mais ainda nos braços dele. Tudo que ele não queria pensar era em Potter com os braços em torno dela, a boca contra a dela, o cabelo em seu pescoço, nada, nada daquilo era uma visão desejada.
Mas Pansy estava se divertindo, e ele não poderia forçá-la a abrir os olhos, por mais que doesse nele a cada instante. Os dois eram excelentes em fingir que não sentiam absolutamente nada, em terem relacionamentos blasé. Havia momentos, como aquele, em que a constante negação os levava a pontos muito perigosos, em que a tentação poderia ser demais, ou a paixão calada maior do que a racionalidade.
Precisaria espera, como vinha fazendo há tanto tempo. Ela colocou as mãos na cintura afinada pela roupa, o cabelo negro balançando junto com sua cabeça enquanto ria de sua preocupação como se ela nada fosse. As bochechas coradas sob a maquiagem e os lábios entreabertos em um convite que ele não podia aceitar porque não cederia enquanto ela não cedesse, em um eterno cabo de guerra que no qual ninguém ganhava e ambos perdiam.
Blaise riu de volta, balançando a cabeça em uma concordância forçada, fingida, contra seu melhor julgamento. Ela tocou-o no braço de leve e por um momento simples o olhar deles foi tão intenso, tão além de seus jogos, que ele falhou em sua resolução, entregando-se aos sentimentos.
"Problema dele, realmente" falou.
E, lentamente, abaixou-se para beijá-la pela primeira de muitas vezes que se seguiriam naquela noite cheia de impulsos irracionais por parte de ambos.
