It Comes In Waves
Não percebeu rapidamente. Na realidade, diriam que tinha demorado tempo demais. Mas certas coisas não são simples, elas são mais complicadas do que parecem. Estar perto demais dificulta ver o óbvio, deixa todos meio cegos. Pansy estava perto demais para perceber.
Então, foi tudo bastante devagar.
Primeiro a percepção de que ele estava sempre por perto, sempre confiável. Demorou anos só para notar neste detalhe óbvio. Blaise era uma rocha, segurando-a sempre que preciso, sempre presente, olhos e ouvidos para seus comentários, maldades e reclamações. Ele estava lá.
Depois, entender que eram amigos. Poderia ter parecido óbvio, já que estavam sempre por perto, mas ela fora criada para confiar em poucos, muito poucos. Demorou para conseguir aceitar essa verdade simples: eram mais do que colegas de casa, ela realmente poderia contar com ele. Eram amigos. E ele a protegeria, se precisasse, e seguraria sua mão conforme ela era escoltada para fora da escola como uma traidora e um perigo.
Por muito tempo achou que era isso, que era tudo, tinha finalmente entendido. Tempo demais, para ele, que sonhava além das confidencias capazes de torturar, além dos convites e brincadeiras que nunca eram nada além de implicâncias sem real valor. Mas, no fundo, enchendo-se lenta e vagarosamente, como uma onda, estava algo muito além disto.
Quando veio, claro, foi arrebatador. Não havia mais chão sob seus pés, não havia mais ar em seus pulmões, não havia mais certeza. Tudo era uma confusão, uma avalanche de sentimentos, como se estivesse prestes a se afogar em uma noite sem fim. Não uma noite ruim, escura ou desolada, mas uma noite estrelada e quente, na qual os braços dele a rodearam enquanto as bocas se encontravam pela primeira vez.
E, tão certo quanto a sensação de que todo um novo mundo se abria, foi a retração. Pansy temeu todas aquelas sensações, e riu, descartou, brincou e fingiu que não era nada. Nem para si mesma poderia admitir o que realmente sentia, a batida acelerada de seu coração. Escondia, retraindo-se, e até mesmo fingiu que nunca tinham sido realmente amigos – apenas colegas, como tantos anos atrás.
Mas ondas não acabam: a água simplesmente volta, preparando-se para um novo ataque. A onda é paciente, ela pode esperar, centenas de anos se preciso, até conseguir vencer. No final, a água sempre vence. Ela cria os contornos do mundo, através dos milênios, e foi assim também com os sentimentos deles.
Aos poucos, o deboche se transformou em angústia, e a angústia em dúvida. Da dúvida veio a aceitação, e da aceitação a necessidade. Do desespero, veio à confissão e dela, finalmente, a arrebentação. Lábios e olhos, dedos e braços, entrelaçados em um rugido de sensações a tanto tempo presas, capazes de destruir absolutamente qualquer barreira que tivesse tentado construir.
Quando passou, não foi para o vazio de quem duvida: foi para a calmaria de quem finalmente alcançou a praia, que já até duvidava que fosse um dia encontrar. E, nos braços um do outro, eles caminharam para longe da incerteza do mar, para a terra firme.
