Bed, Wife.
A paixão passa, a incerteza passa junto. Aos poucos, vai-se descobrindo as delícias de ter certeza do que se sente. Aquela dor, confusa e perdida, vai embora. A tensão absurda a cada toque, também se vai. Deixa de ser uma necessidade louca: passa a ser comum, confortável, simplesmente certo.
Pansy nunca tinha achado que pertencesse a algum lugar, mas nos braços de Blaise ela estava em casa. Não precisava mentir ou se esconder, não precisava fingir ou se defender. Ele a conhecera desde criança, e sempre vira por trás das suas tentativas de interpretar outra pessoa que não quem realmente era. Ele era seu porto seguro, e passado o tempo em que tais coisas eram melosas e a incerteza ainda limitava suas palavras, ela confessou isso a ele.
O negro riu, mas não havia sua ironia comum na risada. Era carinhoso, e abrindo os braços, aconchegou-a em seu peito. Deitada, ali, na noite silenciosa, ela se sentia protegida de tudo. Não tinha medo dos terrores que abatiam a maioria das pessoas: ela era seu próprio fantasma. Sentindo a respiração leve dele, mal podia imaginar porque a solidão tanto a assustava.
Ele a amava, total e completamente. Ele via suas imperfeições e as aceitava. Ele queria que ela melhorasse, mas nunca a pressionava. Ele tinha paciência, e muitas vezes sabia confortar em silêncio quando todas as palavras pareceriam vazias.
Não que fosse perfeito. Era teimoso, arrogante e até inflexível, mas ela sempre soubera disso – na realidade, ela também era assim. Ás vezes, gerava brigas, que nunca demoravam muito a ser resolvidas. Sem grandes declarações, apenas um certo olhar, um leve toque, uma pequena diferença no tom.
"Vem pra cama". Não era preciso dizer muito mais. E quando se deitavam, os corpos pareciam correr para aproximarem-se, apoiando-se um no outro, moldando-se um ao outro de forma que seus gênios não fariam. As costas apoiadas no peito, o rosto escondido no pescoço, os braços passando pela cintura, as pernas entrelaçadas e no sono todo o estresse se acabava.
Não precisaram dizer nada a ninguém: aos poucos, todos perceberam que apenas se completavam e se entendiam. Eram firmes, e enquanto outros casamentos se abalavam, eles apenas seguiam sua rotina suave. "Vem pra cama", e o mundo inteiro desaparecia.
Talvez porque tivessem demorado muito, talvez porque a paixão já tivesse se consumido quando realmente ficaram juntos, talvez porque tivessem relutado em perceber e aceitar, enquanto tantos outros tinham casado apaixonados, no auge do sentimento, sem pensar muito no que viria depois. Eles tinham pensado, e por isso mesmo, tinham demorado a arriscar a amizade pelo passo seguinte. A paixão acabava, e isso eles já sabiam muito antes de ficarem juntos – não eram mais adolescentes. Ou talvez porque todos tivessem se preocupado em logo ter filhos, sem aprenderem a viver um com o outro primeiro, sem saber viver um com o outro depois.
Quando chegaram à meia-idade todos comentavam sobre a durabilidade do casal: Blaise e Pansy tinham casado por amor. E enquanto outros brigavam, eles se aninhavam para dormir.
