Duas vidas e um destino
Por Kayene
Quando duas vidas se encontram, e percebem que por mais que tentem ir contra, seus destinos estão entrelaçados, a única coisa que resta a fazer é apaixonarem-se.... SesRin
Capítulo 1
A infância de Rin
'Mãe e Pai! Eu sempre amarei muito vocês!'
A jovem cujo vestido estava encharcado devido a torrencial chuva, tinha uma sombrinha vermelha que a protegia. Delicadamente depositou um bilhetinho num papel branco e tinta preta em uma lápide de um túmulo.
Era o túmulo onde estavam enterrados os restos de seus pais e naquele dia completara cinco anos desde que houvera aquele fatídico acidente deixando-a órfã. Ela tinha, na época, sete anos e foi morar sob a tutela dos tios por parte materna. Eles eram donos de um restaurante numa cidade do interior do Japão e desde então, ela era uma espécie de empregada da família.
Era uma manhã de domingo e a garota estava voltando para o restaurante. Andava cabisbaixa com o olhar perdido acompanhando o asfalto, em direção ao restaurante mais badalado da cidade.
Chegou na frente do letreiro com o nome do restaurante, Kororo, e levantou a cabeça, soltou um longo suspiro como que para a encorajar entrar no lugar. Abriu a porta e, pelos fundos, entrou, pé ante pé, para que ninguém percebesse que havia saído. Entrou sorrateiramente pela porta e quando fechou.....
'Onde você foi, sua garota ingrata!' Ela se virou, assustada, para se certificar quem havia dito aquilo. 'Depois de tudo que fizemos por você, nem cumprir com suas obrigações direito você cumpre! Inútil!' A mulher gorda, com as duas mãos nas cadeiras, reclamava. Ela andou até a garota em passos pesados e a arrastou pelo braço bruscamente levando-a para a cozinha.
'Senta e faz o que eu mandei! Se não vou ter que bater em você!'
Mostrou um cinto para ela. A menina se contraiu e mordeu o lábio de nervoso. Olhou para a mulher e abriu a boca para dizer alguma coisa, mas antes que ela pudesse se defender Dona Kuni segurou o cinto com a mão direita e chicoteou o rosto delicado da menina.
'Se gritar ou chorar, apanha de novo, sua inútil, não serve pra nada! Antes de uma hora quero todos os peixes limpos. Hoje o dia será corrido!' Dizendo isso virou-se e deixou a chorosa menina sozinha em frente a um amontoado de peixes.
Lágrimas de dor começaram a lhe brotar dos olhos e vagarosamente transformaram-se em um copioso choro que lhe escorria pelo rosto. Agora havia uma pequena cicatriz de queimadura produzida pelo cinto que lhe marcara o rosto. A garota acariciava a pele tentando diminuir sua dor.
'Ai mamãe. Se estivesse viva nunca teria que passar por isso.' Pensava aos prantos.
Deixou-se ficar assim até que as lágrimas secaram. Segurou um dos peixes e olhou para o animal morto entre suas mãos. Fungou. Pegou uma faca afiada e a passou contra as escamas, retirando-as. Enterrou a faca na barriga macia com delicadeza e abriu duas postas e com o dedo infantil retirou os miúdos do peixe, puxando todas as tripas. Depositou a criatura em cima de uma tábua de madeira cortando, em seguida, as barbatanas. Deixou o peixe debaixo da água torrencial para limpa-lo. Os olhos do peixe estavam esbugalhados olhando para ela, que permaneceu encarando o animal morto por alguns segundos como que para criar coragem. Por último, deixou o peixe em cima da tábua e cortou a cabeça fora. Fungou mais uma fez. Ela odiava fazer aquilo, mas se não trabalhasse, não teria como pagar sua escola. Ela deixou a faca de lado e parou um instante para descansar. "Ah! Pai, como queria que estivessem vivos!"
Limpou um a um repetindo todo o processo em cada peixe. Estava quase terminando, restavam somente dois peixes. Aproveitou para limpar as mãos sujas e fedidas. Nesse momento Dona Kuni apareceu na cozinha e olhou ao redor vendo que a garota estava no canto lavando as mãos. Viu que em cima da bancada faltavam mais dois peixes a serem limpos.
'RIN! Sua garota preguiçosa! Já era pra ter terminado de limpar esses peixes!' Ela mostrou a chibata novamente para a garota que se encolheu toda num canto assustada. 'Anda logo! Termina isso ou terei que chamar seu tio pra te dar um jeito!' Ela virou-se e saiu do cômodo.
Rin se aproximou dos dois peixes e sem perder mais tempo decepou a cabeça dos dois de uma só vez com um golpe só.
A vida havia sido má com ela. Havia a deixado sozinha e numa família que a odiava. Por vezes desejava ser um daqueles peixes. Pelo menos eles já estavam mortos e não tinham mais que sentir dor.
'Pronto! Terminei!'
Ela disse indo lavar as mãos novamente. Como era cedo o restaurante ainda estava vazio. Há essa hora Dona Kuni já estaria retornado para começar com os preparativos do restaurante. Ela era a cozinheira, mas vez ou outra Rin a ajudava no preparo dos alimentos.
E assim aconteceu: Dona Kuni a obrigou a ajudar com o restaurante e depois de um dia inteiro de trabalho árduo no final do expediente ela teria que lavar toda a louça suja.
'E deixe tudo um brinco. Do contrário, não receberá o pagamento pelo dia de hoje!'
Ela ficou aterrorizada. Se não recebesse o dinheiro, como pagaria a escola? Pegou uma bucha, um escovão e limpou tudo com toda força. O máximo que conseguiu. "Droga! Amanhã terei prova de matemática! Nem deu tempo de eu estudar hoje!" Pensava enquanto esfregava os pratos com raiva. "Acho que terei de passar a noite em claro! Quando será que isso vai terminar?" Continuava pensando.
Acabando de limpar tudo, retirou-se e foi direto para o chuveiro. Pelo menos em seu quarto, que ficava nos fundos e separado do restaurante havia um banheiro. Graças aos céus os tios não moravam no restaurante como ela morava. Ficava ali tomando conta do lugar de noite e por esses serviços também ganhava uns trocadinhos, já que as leis severas do lugar não permitiam serviço escravo. Assim ao menos ela conseguia sobreviver, do contrário, ela viveria como os camponeses enclausurados e sem as condições mínimas. No fim do mês, conseguia pagar a escola e ainda restava umas gorjetas para ela se alimentar. Tinha que comprar comida também, os tios nunca lhe deram de comer. Está certo que ela arrombava a cozinha de noite, mas isso nunca ninguém percebeu!
Buscava forças dentro de si mesma para conseguir sobreviver nessa família onde tratavam-na duramente. Mas mesmo assim, sua dignidade estava sempre consigo. Mesmo sendo uma criança percebia que aquilo era por um pequeno tempo, precisava agüentar somente até crescer e ser dona do próprio nariz. Era uma criança, mas comportava-se como um adulto. A vida ensinou-lhe desde cedo a ser madura e lidar com dinheiro, a tomar atitudes adultas para sua idade. Foi uma questão de adaptação. Ou isso ou a morte.
Sentou-se no cama e olhou para o despertador que ficava do lado da cama.
'11hs! Droga! Tenho que dar uma última passada na matéria! Preciso dessa bolsa de estudos!'
Levantou-se, com esse pensamento, e se dirigiu para a escrivaninha. Seus planos eram passar toda a noite estudando matemática. Por mais que ela já estivesse por dentro da matéria, tinha que tirar a nota mais alta, precisava da bolsa de estudos. Os tios não sabiam que ela estava quase conseguindo. Em seus planos eles nunca saberiam. Se soubessem, ela iria ter que trabalhar sem ganhar um Ien e assim assumiria uma postura completamente submissa a eles.
Abriu o livro e com um caderno e um lápis anotava e escrevia com força e determinação, fórmulas matemáticas e outras anotações. Bocejou. Balançou a cabeça de um lado para o outro espantando o sono. Levantou-se e caminhou para o banheiro, ligou o chuveiro na água fria, retirou a roupa e entrou com toda a coragem na água gelada dando saltinhos e gritinhos. Enrolou-se na toalha, tremendo de frio e tratou de colocar uma roupa quente.
'Pronto! Agora posso continuar!'
Estudava incansavelmente até que sentiu o sol bater a janela. Levantou-se e foi tomar outro banho já que, nem em pensamento poderia, dormir durante a prova. Depois de tanto sacrifício não poderia deixar que um sono atrasado a atrapalhasse.
Colocou o uniforme. Era uma saia de prega azul marinho com uma blusa de manga cumprida do mesmo tom de azul. Uma pequena gravata preta dava-lhe um ar de graça.
Depositou o material dentro da mochila e colocou nas costas, saiu do quarto fechando a porta.
Caminhava calmamente rumo ao colégio. Chegou aos portões entrando na grande instituição. Dirigiu-se ao segundo andar, sala 204. Entrou e sentou-se na primeira carteira. Havia sido a primeira a chegar. Sendo assim, aproveitou para estudar mais um pouco.
Aos poucos os amigos chegavam um a um e sentavam-se cada qual em sua carteira. Por último a professora entrou e distribuiu as provas.
Rin não sentiu nenhuma dificuldade em responder nada, afinal havia estudado pra valer a noite toda, sem contar nas outras noites que já tinha passado em claro, estudando.
'Terminei!'
Ela disse. Estava com olheiras e seu cansaço era tamanho que a professora se aproximou:
'Está tudo bem, Rin?'
'Sim! Porque?'
'Nada! Parece que está cansada!'
'Ah!..'
"Só gostaria de dormir um pouco! O pior é que ainda vou ter que limpar peixe assim que chegar!" pensava desanimada.
'Tudo bem, professora!'
Após algum tempo a professora virou-se e recolheu as provas uma a uma. O sinal tocou e Rin levantou-se para ir embora. O dia passou ela teve que rezar para não dormir nas aulas seguintes. Saiu da escola por volta das quatro da tarde.
"Acho que eu não devia voltar pra'quele restaurante hoje. Preciso dormir de qualquer maneira." Ela pensava.
Foi então, que ela teve uma idéia brilhante.
"Me escondo em algum lugar e durmo um pouco. Daqui a uma hora volto para o restaurante e digo que me atrasei por causa das provas!"
E assim ela fez. Entrou em um parque e se sentou num banco. Deixou a cabeça pender recostando-a no encosto. Fechou os olhos e em menos de um segundo estava dormindo. Era de dar dó, uma criança sozinha dormindo no banco do parque às quatro horas da tarde.
Passaram-se quatro horas desde que ela havia adormecido. Em seus planos, ela deveria dormir no máximo uma hora, mas estava tão cansada que só acordou quando um garoto de aproximadamente 16 anos, a cutucou:
'Ei, menina! Tá tudo bem com você?'
Rin abriu os olhos com dificuldade e se deparou com um par de olhos dourados fitando-a profundamente bem de perto. Eram lindos. Ela ficou segundos, com a mente vazia, sem ter o que falar só olhando para os olhos do rapaz. Rin piscou algumas vezes para ver se não estava sonhando e tinha um anjo em sua frente.
'Está tudo bem com você?' Ele voltou a perguntar.
'Ah, me desculpe!' Ela se endireitou no banco. 'Acho que peguei no sono.'
'Mas aqui? Nesse banco da praça?'
'É que........ Ah deixa pra lá?'
'É duro! Desconfortável! Porque não dorme na sua casa?'
'Casa?' Aquela palavra bateu na sua cabeça. 'Ai, não! Que horas são?'
'Oito da noite!'
'Eles vão me matar!'
'Ei, menina!' O rapaz a segurou pelo braço não a deixando sair. 'O que está acontecendo?'
'Me deixe ir. Eles vão me matar se me atrasar mais!'
O rapaz soltou o braço dela vendo seus olhos desesperados. Saiu correndo parque afora em direção ao restaurante. "E agora, a desculpa da prova não vai colar! O que eu vou inventar?"
Entrou no restaurante feito uma louca. Antes que pudesse chegar na cozinha, Hiko, seu tio a pegou pelo braço.
'Ei, moleca! Onde estava até essa hora! Ficamos preocupados!'
"Preocupados, até parece!" 'Ai, tá me machucando!'
'Onde estava!' Disse com ódio na voz.
'Acabei dormindo num banco, sem querer! Estava cansada!'
'Sua abusada! Então está querendo que eu acredite que estava num banco de alguma praça dormindo! Queria era fugir do serviço!'
'Não é isso!'
'Cale a boca que não te perguntei nada!'
Deu-lhe um tapa dolorido e saiu arrastando a garota, porta adentro. Jogou-a numa mesa dos fundos da casa.
'Agora vai ver no que dá em sumir desse jeito!'
Retirou o cinto que prendia as calças e segurou, com uma das mãos, os dois pés da garota que se remexia e gritava como desesperada. Bateu na sola dos pés dela com a outra sem dó nem piedade. Os gritos da menina eram ouvidos pela vizinhança e quanto mais ela gritava mais ele batia.
'Agora vai pra cozinha limpar os peixes e só me saia de lá assim que tiver terminado. Outra coisa, se alguém souber disso, estará na rua da amargura. Anda logo. Depressa!' Gritou.
Fazia movimentos com a mão para ela andar rápido. Rin mancava e chorava sentindo muita dor. Entrou na cozinha soluçando. Dona Kuni nem ousou dizer uma palavra. Por mais que fosse contra Rin estar ali, desta vez tinha que admitir; o marido a maltratou de verdade.
Sentou-se e ainda aos prantos segurou o peixe para limpa-lo. Tinha uns dez peixes porque Dona Kuni já havia limpado os outros. Ela executou todo o processo de descamar, limpar as vísceras e de retirar a cabeça. Tudo isso aos prantos. Dona Kuni, não disse uma palavra por isso.
'Ter- terminei' Soluçando
'Vai pro seu quarto se lavar! Não preciso mais de você! Pode ir dormir. Deve estar cansada.'
'O-Obrigada!' Disse fungado.
Levantou-se mancando e se dirigiu vagarosamente para o quarto. Entrou e deixou o corpo descansar no chuveiro, e permitiu que as lágrimas lhe saíssem dos olhos copiosamente. Chorava sem parar deixando que as lágrimas afogassem sua tristeza.
Saiu do banho e deitou-se na cama. Olhou para o teto desejando que sua vida fosse outra, que seus pais estivessem vivos e que não precisasse trabalhar para pagar sua escola.
Lembrou do garoto de olhos dourados. "Nunca vi ninguém com os olhos daquela cor!" Ficou assim até pegar no sono!
O -------- O -------- CONNTIINUA ---------- O ---------- O
