Um – Força de Coesão

Apenas uma semana depois de chegar á casa dos tios, em Little Winging, Harry já estava se despedindo. Levava, dessa vez, o malão ainda mais pesado do que nunca, e seu pequeno quarto, que agora era minúsculo para ele caber, ficou completamente vazio. Hedwig havia voado antes dele. Sua gaiola vazia estava jogada no lixo. Não ia precisar mais dela, agora a coruja não precisaria mais ficar presa. Desceu as escadas fazendo barulho ao arrastar o malão e encontrou os tios e o primo na sala.

- Bem. – ele disse ao encará-los – Estou indo embora. E, como podem imaginar, é para sempre. Não vou voltar mais, estou levando todas as minhas coisas. Vocês estão livres de mim, finalmente.

Houve silêncio. Vernon ainda o olhava com o mesmo olhar de sempre. Dudley estava inexpressivo e com a boca um tanto aberta olhando para Harry. Petunia respirava pesadamente, como se segurasse algo que queria dizer.

- Eu não vou só porque eu quero isso desde que tinha dez anos. – Harry continuou – Estou indo para proteger vocês. Como eu já disse antes, Voldemort, o bruxo que matou os meus pais está vivo e quer me matar. Ele não hesitaria em procurar por vocês para saber onde eu estou antes de ir para a escola. Por isso é melhor que eu vá agora. Vocês terão proteção até que tudo acabe, mas não vão ao menos notar. – e com um último aceno de cabeça, finalizou – Obrigado por tudo. Adeus.

Quando se aproximou da porta, arrastando o malão, Dudley o alcançou.

- Harry. Te vejo por aí?

Harry levou um segundo para assimilar – Ah... Claro, Dudley.

- Ok... Bem... Acaba com eles, ok?

Harry sorriu, estupefato – Ok. Pode deixar.

Do lado de fora, um carro o aguardava. Assim que saiu na calçada, as portas se abriram e os pais de Hermione desceram dos bancos da frente, e ela própria do banco de trás.

- Oi, Harry! – disse Hermione, abraçando-o – Você se lembra dos meus pais.

- Claro! – ele disse e os cumprimentou – Muito obrigado pela carona.

- Não por isso. – respondeu o Sr. Granger – É um prazer ajudar o amigo do qual Hermione tanto fala. Hermione – virou-se para ela – ,onde você disse que seu namorado está nos esperando, mesmo?

O sr. Granger ajudou Harry a colocar o malão no porta-malas do carro e todos voltaram a embarcar. Ronald os esperaria em Londres, no Caldeirão Furado. Ainda era muito cedo e havia as férias inteiras pela frente, mas os pais de Hermione faziam questão de conhecer o namorado da filha. Ronald e Ginny foram para o Diagon Alley para encontrá-los e passar o dia juntos. Harry voltaria, depois, com os Weasley para A Toca e Hermione passaria mais algum tempo das férias com os pais.

Ronald estava mais arrumado do que o normal, tinha o cabelo mais curto e penteado, e esperava com as mãos nos bolsos e balançando-se no lugar. Ginny estava sentada ali perto, muito mais tranquila.

- Calma, Ron. – ela disse para o irmão – Você já os conhece, não por que está tão nervoso.

- Quando eu os conheci eu era só amigo da Hermione. Agora eles são meus sogros!

- Eles já gostam de você, relaxa.

- Fácil pra você falar, você não tem sogros pra... – e parou – Cara, que coisa horrível eu acabei de falar. Desculpe.

- É, foi horrível. Ah, olha, eles chegaram!

A porta do bar se abria e Hermione entrou á frente, seguida pelos pais e, por último, por Harry. Hermione passou os olhos pelo bar e viu Ronald indo em sua direção. Ao chegar á frente dela quase a beijou, mas parou no caminho, confuso e deu-lhe um beijo bem no alto da cabeça. Hermione riu e o apresentou para os pais. O Sr. Granger apertou sua mão e lhe deu tapas nas costas e a sra. Granger sorriu ao da-lo um leve abraço. Harry cumprimentou Ronald e puxou Ginny de volta para a mesa, onde a beijou apaixonadamente.

- Que saudade, meu amor!

- Saudades também… Está tudo certo, não é? Vai ficar na Toca?

- Sim, tudo certo por mim, mas não sei, Ginny... São quase dois meses, não quero me meter ou tirar vantagem da hospitalidade dos seus pais. Talvez eu fique aqui no Tom por um tempo.

- Eles não se importam. Eles te adoram, e a minha mãe já está toda feliz por saber que você vai. Já tem até uma cama pra você. No quarto do Ron, claro.

Harry riu, um pouco envergonhado – É claro. Mas de qualquer forma eu vou falar com eles, não quero dar trabalho.

- Ah, Harry! – Ginny riu – Pode parar. Você dá menos trabalho do que qualquer um de nós.

O grupo almoçou em um restaurante do Diagon Alley, tomou sorvete de sobremesa no Florean Fortescue e, no final da tarde, despediram-se. Hermione voltou pra casa de carro com os pais e Harry foi com Ronald e Ginny, através da Rede do Flu, para A Toca.

Ao primeiro passo na casa, Harry notou uma grande diferença. Havia móveis novos na sala, a casa toda parecia mais arrumada e cheirosa. A Sra. Weasley os recebeu na porta de entrada com um vestido novo e parecia menos desarrumada com a correria de manter a casa limpa e todos os filhos bem cuidados. Mais tarde, Ginny explicou que Fred e George, com o sucesso da sua loja em Hogsmeade, vinham mandando presentes para a casa e os pais. O Sr. Weasley se incomodara no começo, sabendo que era ele o responsável por cuidar de tudo, mas acostumou-se quando os gêmeos disseram que depois de tanto trabalho e dedicação pela família, ele merecia alguns presentes.

Molly recebeu Harry com ainda mais carinho do que sempre. Disse que estava muito feliz por ele agora ser seu genro, além de amigo dos filhos, e cochichou para ele, sem que Ginny ouvisse, que ficaria muito feliz se ele um dia viesse a fazer parte da família oficialmente. Harry corou e não respondeu. Achou cedo demais dizer que ele não se imaginava entrando em outra família que não os Weasley.

Ronald o ajudou a carregar o malão e as bolsas até o último andar da Toca, onde ficava seu quarto. Havia uma cama extra, que não era a velha cama de armar onde Harry sempre dormia, e sim uma cama nova e confortável, assim como a de Ronald. O quarto ficou um pouco apertado com as bagagens e dois rapazes crescidos, mas Harry estava mais feliz do que em qualquer momento em que tivera um quarto só para ele na casa dos Dursley.

Na manhã do dia 21 de agosto, um trem da via Undertrains parou na estação London. Depois de pelo menos cinco paradas desde a estação Ádvena, Rafaela desembarcou, puxando uma imensa mala de rodinhas e carregando três bolsas penduradas nos ombros. Caminhou até a calçada. Estava cansada da viagem, porém sorridente. Era uma rua estreita e completamente vazia, a não ser por um casal de bruxos que acabara de desaparatar. Com a varinha escondida dentro da manga do casaco, estendeu o braço e, imediatamente, um estalo alto soou e ela deu alguns passos para trás. À sua frente havia aparecido um enorme ônibus roxo de três andares. O condutor apareceu a porta e se apresentou. Perguntou o nome de Rafaela e a ajudou a carregar as malas para dentro.

- Para onde, Srta. Salles?

- Leaky Cauldron, por favor.

Minutos depois ela desembarcou na calçada movimentada do centro de Londres, onde via a fachada em tinta preta e uma placa quase caída que indicada que havia chegado. Enjoada com o balanço e velocidade do Knight Bus, entrou no bar, que todas as pessoas que passavam pela calçada pareciam não enxergar. Pediu um quarto da hospedaria que ficava em cima do bar e Tom, o dono, pediu para que ela aguardasse enquanto este era preparado. Sentou-se e pediu uma caneca de chocolate com conhaque. Minutos depois, Tom a ajudou com as malas e a conduziu até um quarto. Apesar da aparência velha e suja que o bar tinha, o quarto era mais aparentável do que ela esperara. O banheiro era limpo e tinha uma antiga banheira de louça e pés dourados.

Tomou um banho rápido, vestiu roupas limpas e saiu novamente, atravessando o bar e indo para o Diagon Alley. Sentiu-se quase como em Ádvena, com a diferença da vestimenta das pessoas, que em sua cidade era muito mais parecida com a de trouxas. Sabia exatamente onde queria ir, e não foi difícil encontrar a loja. Havia dezenas de gaiolas com os mais diferentes animais na fachada e, do lado de dentro, o barulho era indescritível e não dava pra saber de qual animal vinha cada um. Havia uma área apenas com corujas, e ela passou muitos minutos lá, olhando uma por uma, examinando algumas mais de perto. Porém, quando colocou os olhos numa gaiola bem perto do teto, onde havia uma enorme coruja completamente preta, pediu imediatamente que o vendedor o descesse de lá. Quando a coruja acordou, deu-lhe um pio alto. Rafaela abriu a gaiola e ele saiu de lá, subindo no topo da grade. Rafaela a tocou e sentiu a receptividade na hora.

- Olá! Quer ir embora comigo?

A coruja piou e deu uma bicada de leve em sua mão.

- Acho que isso é um sim. – disse o vendedor

Com a coruja de volta dentro da gaiola, Rafaela voltou sorridente para seu quarto no Leaky Cauldron.

- Vamos ficar aqui por alguns dias, então você vai comigo pra Hogwarts.

Colocou a gaiola sobre a escrivaninha que havia encostada na parede e a abriu. A coruja novamente empoleirou-se sobre ela. Rafaela se sentou com pergaminho e pena à sua frente e ficou parada por bastante tempo olhando para a folha em branco. Depois começou a escrever um bilhete e o leu, amassando e jogando no chão em seguida. Depois de repetir o mesmo procedimento diversas vezes, decidiu que o mais breve era o melhor:

"Estou no quarto número 12 do Leaky Cauldron.

Londres é linda.

Ps – essa é a minha nova coruja, o nome dele é Panther."

- Panther. Acho que combina com você. – disse ela para a coruja – Pode mandar esse bilhete por mim, por favor? Quando voltar vai encontrar um presentinho pra você. – a coruja pegou o bilhete no bico e balançou as penas, parecendo contente – Por favor, leve para Remus Lupin. Eu não sei onde ele está, mas ele me disse que as corujas saberiam encontrá-lo.

Sem mais, a coruja abriu suas grandes asas e voou pela janela aberta. Tentando não pensar que cometera uma grande loucura, Rafaela voltou para as ruas do povoado. Era horário de almoço e ela não sentiu muita vontade de almoçar no bar da hospedaria. Pelas ruas, encontrou um ou dois conhecidos de Hogwarts, com quem conversou por breves minutos, e sentou-se para comer no segundo andar de uma cafeteria. Ficou pensando em quando Panther encontraria o lugar onde Remus estava, e como ele receberia aquele bilhete. Não havia assinado, com medo de que qualquer um o lesse, mas tinha a certeza de que ele saberia de quem era. Só não conseguia imaginar a reação dele, se ele a visitaria. Provavelmente iria ignorar, já que dessa vez ela não vinha tendo problemas de insônia e pesadelos, e a próxima vez que o veria seria no jantar de inicio de ano em Hogwarts, onde ele estaria sentado á mesa dos professores, muito longe dela, e nunca mais tocaria no assunto.

Quando voltava na direção da hospedaria, ouviu duas vozes em uníssono:

- Rafaela!

Virou-se e viu Fred e George indo sorridentes até ela.

- Oi, gente! – ela sorriu – O que estão fazendo aqui?

- Comprando alguns materiais e indo pra loja. – respondeu Fred

- Você? – perguntou George

- Estou no Leaky Cauldron, hospedada lá até o dia do embarque. Largaram a loja sozinha?

- Não, nosso gerente está lá, e temos vendedores também. – disse George

- Por que não escreveu pra gente? Se soubéssemos que você vinha podíamos encontrar um lugar melhor pra você ficar. Tem uma pousada boa em Hogsmeade. – disse Fred

- Ou você podia ficar com a gente. Harry já está lá em casa desde junho e a Hermione também vai pra lá essa semana. – completou George

- Ah, obrigada, mas eu não poderia. Seria gente demais na mesma casa.

- Como se nós não estivéssemos acostumados com isso. – disseram juntos

Rafaela riu – Eu sei, mas eu não sou... Vocês sabem, tão íntima quanto Harry e Hermione... Além disso – disse antes que eles respondessem – eu prefiro estar aqui. Obrigada por oferecerem.

- Ah, já sei. – disse Fred

- Você veio encontrar alguém. – concluiu George

Rafaela não conseguiu evitar de ficar um pouco vermelha – Não! Por que acham isso?

- Você corou! – riu Fred

- Vai, conta quem é! – cutucou George

- Ninguém! Vai, gente, não é ninguém.

Eles a cutucaram mais e, vendo que ela realmente não contaria, reafirmaram o convite para que ela fosse á toca e, caso realmente não fosse, que todos se encontrariam no Diagon Alley alguns dias depois, quando fossem fazer as compras para o ano seguinte.

Rafaela voltou para seu quarto e viu que Phanter não havia voltado. Sentiu seus ânimos diminuírem novamente e se deitou para descansar. Estava exausta da viagem. Quando abriu novamente os olhos, o quarto estava escuro e a rua lá fora bem mais silenciosa. Ouviu uma batida na janela que ficava bem ao lado da cama. Panther a olhava através do vidro e entrou assim que Rafaela abriu uma fresta. Voou direto para o alto de sua gaiola, sem entregar nada à ela.

- Vejo que o encontrou… Ele não mandou nada, não é?

Panther balançou as penas e a continuou encarando.

- Ok.. Eu imaginei. – disse levantando-se da cama – Tenho um presente de boas vindas pra você.

Acendeu as lamparinas que haviam nas paredes do quarto com o breve aceno de varinha, tirou uma caixa pequena debaixo da cama e a abriu. Um pequeno camundongo correu para fora. Sem hesitar, Panther abriu as asas e voou em sua direção, capturando-o em segundos, e voltou para a gaiola. Uma leve batida à porta a distraiu de um certo nojo ao ver a coruja começando a devorar sua refeição. Imaginando que fosse Tom reclamando do barulho que ela fizera, abriu a porta. Perdeu a fala e a reação imediatamente.

Remus estava parado ali. Muito diferente de sempre que ela o vira, ele vestia jeans, sapato e uma camisa cinza-chumbo dobrada até os cotovelos, os cabelos menos penteados do que sempre. Havia se livrado do bigode, o que o deixara com a aparência mais jovem. Ficaram parados como estavam, olhando-se. Rafaela sentiu todas as palavras fugirem de seu cérebro. Conseguiu, com esforço, abrir espaço segurando a porta. Remus deu um passo para dentro e a fechou. Abriu os braços e puxou Rafaela levemente para perto de si. Ela sentiu-se sumir em um abraço longo, forte e caloroso. Sentia o coração acelerado e não sabia dizer se ela o dela ou de Remus.

- Eu achei que estava ficando louca. – ela disse em um sussurro

- Você está. Eu estou. Isso é loucura. – ele sussurrou de volta, mas não a soltou

Rafaela quis dizer muitas coisas, mas ao mesmo tempo queria apenas ficar ali, naquele abraço, sem dizer nada. Remus fez um carinho em sua nuca e cheirou seus cabelos. Então, sem que Rafaela pudesse esperar, ele a empurrou de leve, soltando-se, e deu alguns passos para longe. Parou de costas para ela, a mão na cabeça. Rafaela ficou olhando para ele, entendendo exatamente o que estava pensando.

- Se você acha que isso é complicado demais… - ela disse – Eu vou entender.

Ele levou alguns segundos para responder – Isso é muito complicado.

Rafaela sentiu-se murchar como uma flor sem água. Foi até o sofá que ficava ao pé da cama e soltou-se, olhando para baixo.

- Eu sei. Eu nunca pensei que era simples… Não sei como pude achar que isso daria certo.

Em silêncio, Remus foi até o sofá e sentou-se ao seu lado, encarando a parede a sua frente.

- Então não era só a minha imaginação, era? – ele perguntou

- Não. Não era sua imaginação. – Rafaela respondeu sem se mover

- Desde quando...? – ele perguntou sem concluir a frase

- Não tenho certeza... Talvez… Desde o trem

Ele a olhou – Desde o trem?

- É. Eu nem sabia o que era, tinha tanta coisa acontecendo… Mas hoje eu sei que naquele dia, naquela cabine com todos os outros… Foi lá que eu senti.

Um pouco chocado, Remus não disse nada e voltou a olhar para a frente.

- Você? – ela perguntou

- Desde a noite da sua detenção.

- Eu não pensei que isso fosse possível. Você sabia o que estava acontecendo comigo o tempo todo, como você conseguiu...

- Eu vi além disso. Eu via quem você realmente era.

Rafaela o olhou sentindo a garganta apertada.

- E agora? Agora que nós sabemos que não era só imaginação?

Remus deitou a cabeça no encosto do sofá levanto as mãos à testa – Eu não sei! Isso é loucura, não pode acontecer! – e a olhou, desencostando-se novamente – Rafaela, você é minha aluna! Eu sou professor em Hogwarts, isso não podia estar acontecendo!

Rafaela baixou a cabeça e voltou a olhar para a frente.

- Tudo o que aconteceu, as conversas de madrugada, minha visita ao seu quarto… Não devia ter acontecido.

- Achei que eu fosse mais do que apenas uma aluna.

- Você é. Se não fosse, por que eu estaria aqui? Você é diferente de qualquer outra garota da sua idade. Depois de tudo o que você passou, ainda querer voltar e lutar ainda mais uma vez se for preciso, isso só pode mostrar o quão diferente e especial você é.

- Então! – ela disse mais alto, olhando para ele – Se eu sou tudo isso, o fato de ser uma aluna não devia ficar no caminho!

- Mas fica! Fica no caminho, você não vê? Professor e aluna, isso é um tabu enorme, é um problema. Eu posso ser demitido, você pode ser expulsa.

- E quem disse que alguém precisa saber disso?

Remus se calou. Lembrou-se de tantas coisas que já fizera escondido dentro do castelo, coisas que apenas os amigos mais próximos sabiam, ou em algum casos, nem mesmo eles. Sempre fora bom em esconder segredos.

- Eu tive uma longa experiência em esconder um segredo do castelo todo no ano passado, se você não se lembra. – Rafaela completou, com amargura

Remus hesitou e voltou a encostar-se olhando para longe. Os dois ficaram assim, olhando em direções opostas durante minutos, os pensamentos rodeando a cabeça. Rafaela estava arrependida de ter sequer tentado o que tentara. Já achava que devia ter ficado no Brasil e voltado apenas no dia do embarque, engolir os sentimentos e jamais deixar que Remus ou qualquer outra pessoa soubesse o que sentia, além de se afastar dele também como o amigo que ela fora pelos últimos meses. Sentiu as lágrimas chegarem, odiando-se naquele momento, envergonhada e arrependida de tentar colocar o homem de quem tanto gostava em situações difíceis perante todos. Prendeu as lágrimas e as engoliu, não deixando que Remus percebesse

- Então acho que eu... Devo ir embora. – Remus disse, com a voz triste – Por mais difícil que isso seja... Eu só vim para deixarmos isso claro.

Ele se levantou lentamente, como se estivesse lutando para fazer aquilo. Caminhou até a porta e, antes que a abrisse, Rafaela se levantou.

- Por favor, não vá.

Remus a olhou e jogou toda a cautela para o alto. Voltou em sua direção a passos largos e a abraçou pela cintura, quase levantando-a do chão, e a beijou. Rafaela se pendurou em seus ombros, deixando-se ser apaixonadamente beijada. Remus a segurou firmemente pela nuca e pela cintura, como se tivesse medo que ela escapasse dos seus braços. Ela não queria escapar. Sonhara com aquele momento por muitas vezes e agora finalmente estava ali, envolta nos braços dele, sentindo sua boca e sua língua a envolvendo. Depois vários minutos de um beijo longo, profundo e apaixonado, olharam-se ainda bem de perto.

– Eu não quero tirar minhas mãos de você. – ele disse em um sussurro

- Eu não quero que tire.

- Você tem certeza disso? – ele perguntou – Se eu te beijar de novo não vou mais parar até termos terminado.

Em resposta, Rafaela abriu sua boca e se envolveu na dele novamente. Remus aceitou seu apaixonado beijo e a levantou nos braços. Levou-a de volta até o sofá e a sentou, ajoelhando-se à sua frente, suas bocas ainda envolvidas. Remus sentiu Rafaela completamente entregue em seus braços. O que começaram ali, terminaram na cama, horas depois, corpos envolvidos em suores e êxtase. O quarto estava um pouco mais escuro depois de duas das lamparinas terem se apagado. Panther estava dentro de sua gaiola, adormecido com a cabeça debaixo de uma das asas. Remus e Rafaela continuavam acordados debaixo das cobertas, ela deitada sobre seu peito nu. Pareciam não querer dormir para que o tempo não passasse.

- Bem, professor. – Rafaela disse – Oficialmente, você acabou que quebrar algumas centenas de regras da escola.

- Eu? – ele perguntou olhando pra ela – Você quer dizer que nós quebramos!

Os dois riram e se abraçaram mais apertado, entrelaçando suas pernas.

- E então… Está preparada para ter um lobisomem por perto?

- Ah, estou! – ela respondeu na hora, sorrindo – Eu não sei se você tem noção disso, mas é uma situação muito sexy!

Remus riu – Sexy? Como isso pode ser sexy?

- É! Você tem esse lado de lobo que, eu acabei de ver, não aparece só na lua cheia!

Eles riram e Remus ficou um pouco corado.

- Mas isso é sério, Rafa. – ele disse em seguida – Não é nada simples, de maneira nenhuma, pode ser um grande problema.

- Eu não acho. Já pensei nisso antes. Você já viveu a vida inteira e nunca feriu ninguém, acho que outra pessoa também pode viver com isso, não é?

- Você não tem medo?

- Medo de você? Eu já disse que não.

Ele sorriu de leve e a deu um beijo na testa.

- Além disso, não sei se você sabe, eu sou ótima em poções, e eu posso aprender a fazer a Wolfsbane rapidinho.

- Ótimo. Aí você chega no Snape e diz "olha, você não precisa mais fazer a Wolfsbane pro professor Lupin. Eu que vou fazer, ok?"

Rafaela riu – É, acho que não seria boa ideia.

Minutos depois, Rafaela adormeceu no braços de Remus. Ele continuou acordado por algum tempo, olhando para ela e fazendo carinho, sentindo-se mais em paz do que nunca. Começou a pensar na sua vida e no ano que estava por vir. Rafaela havia voltado para Hogwarts para estar presente na luta. Ela era de idade, podia fazer aquela escolha. Lembrava-se de tê-la visto sofrendo no ano anterior e do quanto aquilo doera nele. Sabia que coisas muito parecidas podiam acontecer novamente. Sentiu medo e orgulho ao mesmo tempo. Rafaela era corajosa e queria fazer o que era certo. Era impossível imaginar alguém mais certo para ele. Lembrou-se que Tonks também era assim, mas com ela acontecera simplesmente uma amizade muito forte, que ele levaria para sempre. Para estar junto, como ele agora estava com Rafaela, só podia ser com ela. Abraçou-a apertado enquanto ela dormia. Sabia que o relacionamento dos dois teria que ser em segredo, mas não se importava. Agora que a tivera nos braços, não a deixaria partir. Pensou em Dumbledore e no quanto devia a ele, e na confiança que ele depositara em Remus. Sentiu-se mal por isso, sabendo que teria que esconder dele um fato tão importante. Desejou que, depois de tudo, mesmo sem saber o que seria "tudo", ele o compreendesse.

O final de agosto chegou mais rápido do que qualquer um desejava. Harry tivera as melhores férias de sua vida com os Weasley. Sentia-se, se fosse possível, ainda mais bem-vindo do que sempre fora, por ser namorado de Ginny. Tinha os mesmos trabalhos de todos os irmãos para ajudar na Toca, mas também divertia-se nos jantares no jardim, nos passeios pelos imensos gramados à luz da lua com Ginny, e dessa vez incluído, sem discussões, nas conversas da respeito da Ordem da Fênix. Hermione havia chegado à Toca cerca de dois dias antes. Ronald foi esperá-la do lado de fora e levaram quase uma hora para entrar novamente. Ela ficou hospedada no quarto de Ginny. A Srta. Weasley podia ser uma ótima mãe e uma senhora muito agradável, mas dentro de sua casa as coisas aconteciam de acordo com as suas regras, e deixar adolescentes dormirem juntos não fazia parte delas. Os dois casais, Harry e Ginny, Ronald e Hermione, passavam todas as madrugadas acordados até tarde na sala no térreo da casa, conversando como jovens comuns sem maiores preocupações na vida. Geralmente nos finais de tarde, quando Arthur Weasley voltava do trabalho trazendo notícias, é que todos se lembravam das realidades atuais.

- Charity Burbage. – disse o sr. Weasley ao se sentar cansado em sua poltrona – É oficialmente a primeira vítima.

- Professor Burbage? – perguntou Hermione – De Estudo dos Trouxas?

- Ela mesma. – respondeu Arthur – Desapareceu de sua casa em Bristol a alguns dias, e seu corpo foi finalmente encontrado. Não foi noticiado, mas todos sabemos obra de quem isso foi.

Houve um silêncio nervoso na sala.

- Dumbledore já está procurando por alguém para substituí-la, mas está sendo difícil encontrar. Ensinar Estudos dos Trouxas é como colocar no jornal que os apoia, e se tornar um alvo para vocês-sabem-quem.

- Então começou. – disse Harry – Ele demorou, mas agora começou.

- Sim, Harry. – respondeu Arthur – Quando a notícia da morte da professora Burbage sair, o medo das pessoas vai aumentar. Sabemos que as coisas crescem aos poucos... Mas ainda temos uma grande vantagem. Snape ainda tem a confiança dele, segundo ele, até mais do que antes, depois do que houve no último semestre. Além disso, sabemos quais são os principais nomes na lista dele.

Harry riu, ironicamente – Não o meu.

Ronald também riu – Nenhum de nós, é obvio.

- Muito bem. – disse a sra. Weasley – Vão pra cama, todos vocês. Precisamos partir cedo para Diagon Alley. Andem, vão, vão!

Na manhã seguinte, ainda sonolentos depois de um café da manhã tomado rapidamente, cada um entrou na lareira, usando o Pó de Flu, e chegaram à Diagon Alley. Molly Weasley designou para onde cada um deles deveria ir, para que não houvesse bagunça. Harry e Ronald iriam com ela para as lojas de livros para ajudá-la com o peso dos materiais. Hermione e Ginny deveriam ir à papelaria para comprar novos pergaminhos e penas para todos.

- Você notou? – perguntou Hermione – As pessoas estão tão sérias... Normalmente esses dias antes do embarque são tão animados!

- Notei. – concordou Ginny – Acho que a notícia sobre a professor Burbage já deve ter saído. – e com uma pausa, exclamou – Olha, o professor Lupin!

Remus caminhava em direção a elas e pareceu tê-las visto na mesma hora.

- Bom dia, senhoritas! – ele sorriu

- Bom dia, professor. – disse Hermione

- Como sempre deixando as compras para o último minuto.

- Claro – sorriu Ginny – Como sempre!

- Verei vocês em Hogwarts amanhã. Dessa vez não chegarei de trem.

- Você soube? – perguntou Hermione – Sobre a professora...

- Sim, sim, eu soube. Tem sido muito falado, vocês sabem… Na Ordem.

- Claro… – disse Hermione – Espero que fique tudo bem.

- Todos esperamos, Hermione. Agora se me dão licença, preciso ir. Vejo vocês amanhã.

As duas viram o professor se distanciar e se entreolharam.

- O que foi essa formalidade toda? – perguntou Ginny – Ele costuma ficar à vontade com a gente...

- É, foi estranho... Ele deve estar preocupado, e também acabou de perder uma colega de trabalho.

- Seus amigos já estão por aqui. – Remus disse ao entrar no quarto de Rafaela

Ela estava diante do espelho, se arrumando para sair.

- Imaginei... – ela disse virando-se para ele – Eu também preciso ir.

- E eu também.

Eles se abraçaram no meio do quarto.

- Não se preocupe, minha querida. – Remus sussurrou – Sabemos que as coisas não serão fáceis, mas vamos dar um jeito.

- Eu tenho medo, Remus... Eu sinto como se, mesmo sabendo que as coisas vão ser mais fáceis nesse ano, agora que eu sou apenas eu, as coisas serão muito mais difíceis do lado de fora do castelo, enquanto estamos lá. Já começou, a professora foi morta, meia dúzia de outras pessoas desaparecidas …

- Vai ser mais difícil. – disse Remus, olhando para ela – E você sabia disso quando decidiu voltar, não sabia?

- Eu sabia. Mesmo com medo, eu quero estar aqui. – e tocou o rosto de Remus – Agora ainda mais.

- Estaremos juntos. Eu prometo.

Beijaram-se como se fosse uma despedida. Não sabiam quando poderiam estar juntos e fazer aquilo novamente. Tudo o que estava por vir era uma incógnita.

- Vou pro Alley comprar as minhas coisas.

- Não estarei mais aqui quando você voltar. Nos vemos amanhã, no castelo.

Rafaela pegou sua bolsa e saiu do quarto sem olhar para trás. Remus respirou fundo, pegou seu casaco, acenou um tchau para Panther e desaparatou.

- Soube das notícias, Potter?

- Ah, não... – disse Harry desanimado ao ouvir aquela voz conhecida – Você não me deixa em paz nem fora da escola, Malfoy? – disse ao se virar

Estavam do lado de fora na Floreios e Borrões carregando pesadas sacolas de livros, enquanto a Sra. Weasley ficara do lado de dentro aguardando na fila do caixa.

- Te ajudando a lembrar da realidade. Acho que soube, certo?

- Eu leio os jornais, Malfoy, é claro que eu soube.

- Boas notícias, não é? Não ter mais aquela material ridícula na escola.

- A morte de uma pessoa é boa notícia? Interessante que você declare assim sua posição, Malfoy

- Minha posição sempre foi clara.

- Pra mim, desde o primeiro ano, sua posição foi clara. Vamos ver diante da escola toda e da sociedade toda. Vai em frente, continue contando pra todo mundo..

- Você sabe que o Ministério e os Aurores estão caçando gente como você, não sabe? – completou Ronald

- O Ministério é uma piada, assim como qualquer um que trabalhe pra eles. – disse Malfoy para Ronald – Pessoas como você também estão sendo caladas, e eu acho que você devia ter muito mais receio do que eu.

- Vamos esperar pra ver, Malfoy.

- É, Potter. – Malfoy disse e sorriu – Vamos esperar pra ver.

Ele saiu para o meio da multidão na rua.

- Eu ainda não consigo acreditar que o segredo que a Rafaela sabe dele não é que ele estava se esfregando com algum cara. – disse Ronald, olhando-o se afastar – Esse jeito afetado dele não me engana mais.

Harry riu, mas não pôde deixar de imaginar que Malfoy sabia de algo que ainda não viera á tona. Era algo muito possível, dada a família de onde vinha e os contatos. Resolveu deixar passar. Muito estava por vir naquele ano, e não seira Malfoy o mais importante dos problemas.

Hermione e Ginny saíam da papelaria quando foram surpreendidas por uma feliz Rafaela que corria até elas. Felizes, as três se abraçaram.

- Que bom ver vocês! – disse Rafaela – Onde estão os meninos?

- Estão com a minha mãe comprando os livros. – respondeu Ginny

- Você parece muito feliz, Rafa! – disse Hermione, sorrindo

- Está chegando agora do Brasil?

- Não! Vocês não sabiam? Estou aqui há uns dez dias já.

- Como saberíamos?

- Encontrei Fred e George aqui, alguns dias atrás. Achei que eles tivessem contado.

- Não contaram. – respondeu Ginny – Mas não entendi por que você está aqui a esse tempo todo.

- Bem, porque… Bem… – ela pensou e olhou de Ginny para Hermione – Quero contar uma coisa pra vocês, meninas.

- Ai, não! – disse Ginny – Não começa com aqueles segredos de novo!

Rafaela riu – nada nem remotamente ligado àquilo! É mais… Pessoal.

As três foram até a sorveteria e se sentaram. Esperaram uma garçonete pegar seus pedidos e se afastar. Hermione e Ginny a olhavam curiosas.

- Então...? – disse Hermione

- Certo. Eu vou contar agora pra vocês porque eu gosto muito de vocês e não quero mais guardar nenhum segredo, era horrível demais esconder algo tão grande de vocês no passado, e eu não quero isso nunca mais. Esse é tipo um segredo pessoal, diferente do que aquele foi, e mesmo que vocês me julguem pelo que eu vou contar, eu prefiro que vocês saibam agora e por mim, logo no começo. – Rafaela disse em um fôlego só

Hermione riu de leve – Você pode respirar também, se quiser.

Ginny a olhava se sobrancelhas erguidas – E isso acabou com a curiosidade, lógico.

- Desculpem! – ela respondeu rindo – Estou meio nervosa. É assim... É o seguinte. Bem, é… É o seguinte... O seguinte é esse...

- Ok, qual é o seguinte? – perguntou Ginny

- É… Estou aqui a alguns dias, como já falei... E ah… Não estou sozinha.

- E… Está com quem? – perguntou Hermione

- Com... Okay, deixa eu contar a história primeiro pra vocês não me julgarem muito, pode ser?

- Sim, desde que seja logo! – disse Ginny, ansiosa

- Ano passado, mesmo com aquela merda toda acontecendo comigo, eu conheci uma pessoa que vocês também conhecem. Eu escondi tudo, amarguei o sentimento, mas a coisa começou a crescer, e eu gostava cada vez mais dele... E me apaixonei.

- Se você está falando sobre o meu irmão, não sei por que tanto mistério! – disse Ginny

- Não... Não é sobre o Goerge que estou falando.

- Então você gostava de alguém quando transou com o George?

- Sim! Mas só por que eu não poderia nunca imaginar algo de verdade acontecendo entre... Bem, esse cara e eu, e eu só queria fugir de tudo, entendem... Foi muito legal ter aquele lance com o George, mas não era nada parecido com o que eu estava sentindo. Bem... Então aquela merda toda e os feitiços acabaram, e eu comecei a ter ainda mais contato com ele, ele se tornou um grande amigo, ele se importava tanto comigo, e então eu já estava completamente apaixonada. E não era só por que eu estava sozinha e assustada, era de verdade. Soube que ele estaria em Londres nas férias, então eu fui pro Brasil, fiz tudo o que tinha que fazer, fui finalmente emancipada, agora sou legalmente responsável pelas minhas próprias atitudes, vendi meu apartamento e, dez dias atrás, vim pra Londres.

- Espera. – disse Hermione – Você foi emancipada?

- Sim. Minha tia me ajudou, arrumamos todos os papéis, e agora sou independente, maior de idade não apenas na magia, mas também na lei. Sou adulta, gente!

- Adulta com direito de beber e sair do castelo quando quiser? – perguntou Ginny e olhou para Hermione – Isso vai dar merda.

Rafaela riu.

- E vendeu seu apartamento em São Paulo? – perguntou Hermione

- Vendi. Não tinha muita certeza era da família há anos e eu cresci lá, sabe, mas percebi que ficar apegada a ele não traria minha mãe de volta nem nada. Todas as memórias que estavam lá estão também na minha mente e coração, então eu não preciso de parede para tê-los pra sempre. Além disso, eu precisava de dinheiro, então eu juntei o dinheiro da venda com alguma coisa que a minha mãe tinha me deixado, e estou segura até ajeitar a vida depois da escola

- Entendo… - disse Hermione – Bom, continua.

- Sim, então. Eu vim pra Londres. Fiquei em um quarto no Leaky Cauldron, desci pro Alley, comprei uma coruja… Ah, vocês precisam vê-lo, ele é lindo! Enorme, inteiro preto, e os olhos…

- Lindo, agora conta! – disse Ginny

- Eu escrevi um recado e mandei pra… Bom, pra ele.

- Ah, pelas barbas de Merlin, fala quem é ele! – exclamou Ginny

- Ok... Ai, meu Deus... – Rafaela disse e se abaixou na mesa para ficar mais próxima das amigas, que também se abaixaram, e sussurrou – Remus Lupin.

As três voltaram para a posição certa. Rafaela ficou olhando ansiosa para elas. Ginny tinha a expressão espantada de quem quase ria, e Hermione franzira as sobrancelhas com estranheza.

- Rafaela, como assim? Lupin é professor e você é aluna, isso não é loucura?

- Eu sei que é loucura. E ele também sabe.

- Então ele recebe a nota e veio te encontrar? – perguntou Ginny animada, mas ainda em voz baixa

- Sim! – sorriu Rafaela – E aí... Bom, aí nós passamos os últimos dias juntos no meu quarto de hotel.

- Juntos! – exclamou Ginny, batendo palmas rapidamente – Juntos, juntos?

Rafaela riu – É, juntos, juntos!

- Ah, não, não, não, isso é muito errado, Rafaela! – disse Hermione

- Não fala assim, Mione, você ouviu quando ela disse que gosta de verdade dele. – defendeu Ginny

- Não, Ginny. – disse Rafaela com calma – Ela tá certa. De certo ponto de vista, isso está mesmo muito, muito errado. Ele tem dezenove anos a mais que eu. Ele é professor em Hogwarts. Ele é um lobisomem. Ok, podemos pontuar tudo o que é errado nisso. Mas Hermione... – Rafaela disse olhando diretamente para a amiga – Essa é a coisa mais certa e perfeita que já aconteceu em toda a minha vida. E na dele.

- Mas é tão complicado!

- Eu que o diga! Vocês namoram os caras que amam e não precisam esconder isso de ninguém, não precisam ficar olhando sobre seus ombros o tempo todo. Ele e eu vamos ter que fingir que nada está acontecendo se não quisermos um zilhão de complicações. Eu sei disso, okay? Ninguém sabe disso melhor do que nós dois.

Hermione se calou e Ginny sorriu – Conta mais! Como assim? Vocês estão realmente juntos?

Rafaela sorriu – Estamos! – Ginny comemorou em silêncio – E eu estou tão apaixonada!

- Ai, Rafa... – disse Hermione – É claro que eu posso entender isso, eu também sou apaixonada pelo meu namorado... E lógico, é o Lupin, não é simplesmente um professor. Se fosse o Snape eu ia mandar te internar!

As três riram alto.

- É verdade, é completamente compreensível. Bem bonitão, o Lupin. – disse Ginny

- Não é? – sorriu Rafaela – Bom, era isso. Ninguém o viu entrar ou sair do meu quarto, nós não fomos pegos e ninguém sabe disso. Ah, e ele sabia que eu queria contar pra vocês. Eu disse que confiava em vocês e ele disse que confia em mim e em vocês também.

- Claro que você pode confiar na gente. – disse Hermione

- Você também vai contar pros meninos? – Ginny

- Não sei... O que vocês acham?

- Não conte. – as duas responderam juntas

- Tá bom! – ela respondeu rindo – Mas por quê?

- Olha, eu amo o Ron, mas ele vai achar isso engraçado e vai ficando fazendo piadinhas, e é fácil demais alguém ouvir. – disse Hermione

- E se você contar pro Harry, teria que contar pro Ron também, porque quando ele descobrir que Harry sabia e ele não, vai ficar todo ofendido. – completou Ginny

- Entendi. Ok, então é nosso segredo.

- Pode confiar na gente. E quer saber? Agora que você contou – disse Ginny – não sei como não vimos isso antes. Vocês combinam muito!