Disclaimer: Todos os personagens são propriedade de Hiroaki Samura, e não queremos tirar nenhum lucro com essa história...é só diversão mesmo!
- E não há spoilers nesse capítulo...apenas referências aos mangás já que foram lançados aqui no Brasil...
OBS.: Música de inspiração p/ o capítulo: Pagan Poetry, da Bjork.
CAPÍTULO 1 - FUGAS E RECOMPENSAS
Ela mexeu-se mais uma vez sob a água quente; olhou para o teto e suspirou. Sim, seria uma longa noite...
Pensou em tudo que vivera nos últimos dias: bancara a agente secreta, a ninja espiã, com risco de ser levada para algum tipo de interrogatório. Elaborara o plano mais maluco que poderia – invadir uma fortaleza cheia de soldados preparados, apenas com uma amiga, uns trunfos e sua intuição. Sim, intuição que ela levara a sério, e estava muito agradecida por isso.
Rin gemeu ao esfregar seu braço; seu tronco inteiro estava doendo, quantas vezes ela havia deslocado o ombro mesmo? Perdeu a conta. Sorte que a Doua estava lá, acompanhando-a. Rin sorriu ao pensar na baixinha invocada. Era uma boa companheira, leal, apesar de ser...da Itto-ryu.
"Uma pena...aprendi a a gostar dela e do Isaku..." – pensava a garota. E a Doua ainda admirava o Anotsu! Blergh! Anotsu Kagehisa, seu inimigo mortal. Que ela tivera a chance de matar e não o fez. Tudo pela honra. Do adiantaria matar um homem que já era praticamente um moribundo?
Respirou fundo. O vapor do ofurô a relaxava – apesar das dores – e ela alcançou o vidro de óleo medicinal que Gyiti trouxera do dojo da Mutenichi-ryu para ela...a pedido da Hyakurin, lógico! Riu ao pensar na loira. Era o mais próximo que tinha de uma amiga, coisa que não tinha há muitos anos, desde que... perdera seus pais, sua paz, sua infância.
Espalhou o óleo sobre os músculos injuriados do braço; doía, mas ela iria aguentar essa. Começou a massagear. E a se lembrar do desfecho de seu plano mirabolante...
O Castelo de Edo estava quase todo em chamas, devido a mais uma explosão que ela teve que causar com seu novo golpe dos "Vermes em Chamas Mortais"; tudo isso porque Manji estava fraco demais para lutar – já havia dado cabo de vários guardas, Yamada Asaemon e seu discípulo Benki, e seu corpo já estava debilitado há muito tempo – ele dissera a ela que ficava dopado a maior parte do tempo em que vivera naquela cela. Não conseguia imaginar Manji assim, ele que sempre estava em movimento, enérgico, em seu estado normal.
Isaku teve de carregá-lo por todo o caminho que seguiram, até que encontraram Hyakurin e Gyiti em um local mais afastado do Castelo. Ele tinha a mesma expressão séria de sempre, ela estava sorridente e brincalhona, dizendo que realmente ela, Rin, havia colocado a casa abaixo. Antes de ir embora, Rin ainda olhara para trás: tudo que viu foi caos, prisioneiros fugindo, mulheres gritando, crianças chorando. Esperava sinceramente que tudo voltasse ao normal nas vidas daquelas famílias que foram prejudicadas pelas idéias loucas daquele homem...
Habaki Kagimura. Ele havia dito que ela, como companheira de um homem imortal, não poderia ser uma mulher comum. Mulher. Até há um tempo atrás, sentira-se sempre como uma garotinha, apesar de sua idade, 16 anos. A essa idade as garotas já tem seus corpos de certo modo bem desenvolvidos, e geralmente já estão sendo preparadas para casar, para assumir um lar e criar seus filhos; será que ela teria essa oportunidade?
Não havia sido preparada para nada disso, e desconhecia muito dos mistérios e sutilezas de ser uma mulher. Era uma garota estabanada, impulsiva e crédula...embora nos últimos tempos, com as experiências que vivera, muita coisa havia mudado. Sentia-se mais madura, mais consciente de seu corpo e suas habilidades, e estava sendo menos impulsiva - o que não significava que as medidas que tomasse fossem um pouco...drásticas, de vez em quando.
Pensou em Manji; sorriu. Ela o amava, sim, tinha certeza absoluta que o amava, com aquela inocência bonita que tem o primeiro amor. Preocupava-se com ele e seu bem-estar, queria a atenção dele e sua aprovação, e no momento sabia que poderia ter apenas proteção e amor fraternal, vindos da parte dele.
- Pelo menos ele parou de me chamar de pirralha! – exclamou. Era verdade, fazia tempo que ele não a chamava assim, mas passara a chamá-la de "mulher". Deu um suspiro; sim, ela queria ser a mulher dele... lembrou-se do beijo que dera nele enquanto ele dormia, antes de toda a confusão começar. Lembrou-se da textura dos lábios dele, da respiração calma em seu rosto, afinal, ele estava dormindo – caso contrário, nem teria se atrevido a fazer o que fez.
Levantou-se da banheira, resignada. Não havia o que ser feito nesse ponto. Alcançou a toalha e passou a secar-se; penteou os cabelos, e os trançou como de costume. Arriscou uma olhada no espelho da parede. Nesse sentido, era bom estar refugiada em uma casa de banho...
Após abandonarem a região do Castelo de Edo, seguiram todos para a casa de banho que servia como quartel-general da Mugai-ryu; no princípio, Manji não queria ir para lá, afinal não confiava naquele pessoal, eles haviam o levado direto para a boca do inimigo, mas Hyakurin assegurou a eles que seria o único lugar onde Habaki não os encontraria, pois ele era o superior da Mugai-ryu. Com isso, a raiva de Manji voltou, e ele tentou estrangular Hyakurin – mas foi impedido por Gyiti, e por ela, Rin, embora ela mesma estivesse bastante intrigada com os rumos que as coisas levaram, ao final das contas.
Ao chegar na casa de banho, Hyakurin e Gyiti revelaram tudo sobre a Mugai-ryu e sua ligação com o bakufu e Habaki Kagimura. Rin sentiu-se um pouco enojada, na hora, mas Hyakurin começou a chorar:
- Nós não tinhamos escolha, ou era aceitar a oferta, ou seríamos mortos...foi assim com todos nós...era uma chance de recomeçar, sem liberdade, mas...era uma esperança, e eu queria viver...acho que nunca havia vivido antes... – e, com um olhar triste, Hyakurin contou sua história, e Rin resolveu não julgá-la, afinal, fora uma mulher muito, muito sofrida.
Depois, todos passaram a se acomodar. Ficou pensando em quando poderia voltar para o dojo de seus pais, sua casa. Vestiu o yukata de algodão branco, leve. Pegou um vidro com um preparado à base de ervas para os hematomas em suas costas; iria precisar de ajuda com isso...
- Ei, Hyakurin! Doua! – gritou, da porta. Sem resposta. Resolveu gritar mais alto, dessa vez. Logo ouviu passos em sua direção, e Manji estava diante da sua porta, limpo, com um yukata para dormir.
- Desse jeito, mulher, você vai acabar acordando a casa toda...o que houve? – perguntou ele, de modo brusco.
- Ah...não é nada, Manji...só queria que alguém viesse me ajudar com os hematomas nas minhas costas. Eu não vou conseguir passar o remédio sozinha...
- A Hyakurin e o careca foram comprar comida, e ver se a barra está limpa para nós. A baixinha e o grandão estão dormindo há um bom tempo, acho que não vão acordar tão cedo.
- Hum...tudo bem...eu me viro aqui. – Rin ia fechar a porta, quando Manji a segurou. Ela olhou para ele, com um olhar questionador, ele estava de cabeça baixa, pensando. De repente, ele disse:
- Eu ajudo você. Afinal, você apanhou enquanto tentava me resgatar, não foi?
Ela ruborizou. Como ele sabia que as marcas eram de pancadas? Ele deveria saber, claro, ele fora soldado. Outro pensamento surgiu por sua mente: teria que se expor para ele...
- Ma-Manji, acho que dá para esperar a Hyakurin chegar...sabe como é...você precisa descansar e...
- Vamos, mulher, não seja idiota. Deixe-me ajudá-la, você sabe que não farei nada de mal para você, não sabe?
Ela sabia. De certo modo, era bom saber que ele a respeitava, mas de outro modo, queria que ele a desejasse. Que a achasse bonita, atraente aos olhos dele. Mas que droga.
- Tu-Tudo bem então, entre...
Ele entrou e fechou a porta, ela ajoelhou-se no chão e entregou a ele o vidro com o remédio, ele ficou olhando para o frasco intensamente.
- Que eu faço com isso, Rin?
- Vo-Você tem que passar nas minhas costas...nas feridas, para que cicatrizem logo e parem de doer...
- Certo, vire-se, e...abaixe um pouco o seu yukata.
Ela virou-se, e tremendo, alcançou o nó que prendia a roupa em seu lugar, e o desatou; vagarosamente, foi deslizando as mangas do yukata pelos braços, até que suas costas estivessem expostas, e segurou o tecido na parte da frente de seu corpo, para que ele não visse nada.
Manji apenas olhou para ela, para cada movimento; surpreendeu-se com a intensidade de seu olhar ao assisti-la despindo suas costas, olhou para a pele machucada e ponderou. Aquela garota chegara ao limite de ser espancada para resgatá-lo, estava toda quebrada, e tudo porque queria estar com ele, vê-lo bem. Nunca alguém se importara com ele desse modo...
Pegou o frasco, abriu-o e cheirou o conteúdo. Depois, colocou um pouco nas mãos, e espalhou pelas costas dela. Ela tinha a pele macia, e pelas marcas que foram deixadas, era uma pele também bem delicada. Aproveitou para fazer uma massagem que a ajudaria a suportar a dor no tronco, que ele sentira nela pela rigidez e tensão de seus músculos.
- Manji... - ela suspirou, de olhos fechados. Aquilo era tão bom. Não apenas a sensação de alívio que ela sentia em relação às dores, mas também a sensação dos dedos dele sobre a pele dela. A cada toque, ela sentia uma sensação de leveza incrível, e um calor em seu sangue. Queria beijá-lo de novo. Mas nunca faria isso, nunca pediria isso, não queria que ele risse da cara dela ou lhe desse um tapa, como na primeira vez em que se encontraram. Ficaria quieta, não faria nada...fugiria de seus sentimentos e de si mesma...
- Pronto, Rin, está feito. – ele quase sussurou. A verdade é que Manji estava deslumbrado com a sensação da pele dela, e a súbita consciência que estava tendo do corpo dela. Ele havia percebido que ela não era mais uma menina, mas assim era demais. Lembrou-se do dia em que ele estava dormindo após o almoço, como de costume, e sentira-a chamando-o; ele resolveu fingir que não era com ele para ver se ela ia embora...e qual não foi sua surpresa ao sentir que ela o beijava, em um modo que apenas esposas beijavam os seus maridos, em momentos mais íntimos?
Ela abriu os olhos, desapontada. É que estava tão bom...ela levantou-se para ajeitar sua roupa, permanecendo de costas para ele. Lutava para vestir e arrumar as mangas sem soltar o tecido na frente, quando ele levantou-se subitamente e subiu as mangas para ela, deixando apenas seus ombros expostos.
- O-Obrigada, Manji... – disse, abaixando o rosto para esconder seu rubor. Mas levaria um susto ao ouvi-lo dizer, de modo sussurado, bem próximo de sua nuca...
- Eu é que devo agradecer por tudo que você fez, posso lhe dar sua recompensa agora???
Recompensa? Oh! Ela engoliu em seco. Será que ele estava acordado naquele dia? Deixou-se virar passivamente por ele, ainda segurando a frente de seu yukata. Ele tocou em seus ombros de leve, ajeitando a roupa, e foi se aproximando devagar do rosto dela...
- Ei! Rin! Cheguei com a comida! Você está bem aí dentro? – gritou uma voz conhecida.
Rin não queria acreditar. Mas que droga. Olhou para Manji, que colocou a mão na testa.
- Sim, Hyakurin, está tudo bem! Daqui a pouco eu saio!
- Ótimo! Vou acordar os outros enquanto o Gyiti procura o Manji...que deu nele para sair na situação em que vocês estão??? Até mais!
Ela olhou novamente para ele, que apenas suspirou, e ao passar por ela, deu um rápido beijo em sua bochecha.
- Eis sua recompensa – ele disse – espero que se contente com isso.
Com isso, saiu pelo corredor, deixando uma Rin atônita e com a mão sobre a bochecha para trás.
