"Que exagero! Não sei pra que tanto escandalo por causa de uma simples gripe."-gritava uma mãe do lado de fora.

Bom... até uma semana atrás eu pensava assim, agora nem tanto.

Estou no hospital, com a "simples gripe" que já matou milhares de pessoas. Não tenho certeza se irei sobreviver. De qualquer jeito, não faria muita falta... meus pais morreram ano passado, e eu não tenho mais família. O último parente que eu tinha vivo morreu com essa "simples gripe" há quatro dias; a irmã da minha tia.

Sim, eu sinto falta dela... mas... já que eu também irei morrer, acho que é melhor assim, já que ninguém precisará sofrer com a minha ida. Aliás, com quem eu ficaria, se melhorasse? Talvez com algum amigo da minha 'antiga' família... de qualquer jeito, morrer seria mais fácil...

Apesar disso, gostaria de ter alguém aqui me alegrando e me apoiando dizendo que eu vou ficar boa... ficar sozinho não é muito agradável...

-Olá, Marina. - disse, um homem loiro, com pele extremamente 'branca' - Sou seu novo médico.

-Ah.. - foi a única coisa que eu consegui dizer. Pensar era mais fácil e menos cansativo do que falar.

-Devem ter avisado a você que eu viria. - ele disse, com um sorriso.

-Sim, avisaram. - eu disse, num sussurro.

Ele fez os exames de rotina.

-Já volto, ok? Tente não se desgastar.

Ele saiu de meu quarto, e quando a enfermeira apareceu, ele parou-a na porta e perguntou:

-Onde está o responsável dela? - ele perguntou.

-Não lhe contaram? Todos eles já morreram; a tia, a única que estava viva, morreu a quatro dias também com a gripe.

-Coitada...

-Sim, é realmente trágico.

-E então, como está sentindo? - a enfermeira perguntou.

-O mesmo de sempre. - eu sussurrei.

-Você se importaria de nos deixar a sós um segundo? - perguntou o médico.

-Sem problema. Qualquer coisa me chamem, ok? - ela disse, saindo.

Ele puxou a cadeira onde minha mãe deveria estar e se sentou perto de mim.

-Soube sobre a sua família... - ele disse - E quero que você saiba que pode contar comigo para qualquer coisa... pense em mim como o seu.. segundo pai... - ele sorriu.

-Obrigada. - eu sorri.

-Esqueci de falar, meu nome é Carlisle Cullen.

Eu sorri.

Desde quando minha tia partiu ninguém se importou comigo tanto quanto ele.

O telefone dele então tocou.

-Ah, você me dá licença durante um segundo? - ele disse, olhando o número.

Eu balancei a cabeça.

Ele andou até a porta e saiu.

Voltei a ficar sozinha... já estava até me acostumando. Será que quando eu morrer vou reencontrar todos aqueles que eu sentia falta?

Resolvi assistir um pouco de TV, era uma das únicas coisas que eu conseguia fazer sem cansar, outra coisa era ler.

Estava no início de 'Quatro Amigas e um Jeans Viajante 2', eu já havia visto o 1 com minha mãe, e havia gostado muito.

O filme me prendeu e as duas horas se passaram rapidamente.

Até que Carlisle apareceu na porta.

-Marina? - ele disse, com um sorriso.

-Sim? - eu disse, um pouco mais alto que um sussurro.

-Eu acho que ficar sozinho não é muito divertido, então, trouxe a minha filha para lhe fazer companhia.

Uma garota, adolescente, não muito alta, de cabelo curto e castanho e extremamente bonita apareceu na porta.

-Oi, Marina! - ela disse, com um sorriso - Sou Alice.

-Não seria meio... arriscado ela ficar aqui? Poderia pegar a gripe. - eu disse.

-Não se preocupe... Alice é... praticamente imune... não fica doente há muito tempo.

-É... não pense nisso. - ela disse, sentando-se na cadeira perto de mim - Vamos nos divertir.

-OK, obrigada. - eu disse.

-De nada. - Carlisle disse, e saiu da sala.

-E então, o que quer fazer? - ela perguntou.

-Não tenho muitas opções. - eu disse, baixo.

-É claro... mas... podemos sempre achar uma coisa divertida para fazermos... hmm... - ela olhou em volta - Quer pintar as unhas?

-Adoraria. - eu sorri.

Essa era uma das coisas que eu fazia com minha tia, e com minha mãe.

Alice abriu sua bolsa e de lá tirou sete cores diferentes de esmalte.

-Nossa! - eu disse.

-Sempre estou preparada. - ela sorriu - Qual você quer?

-Esse daqui. - eu apontei.

Divertimo-nos muito. Depois que terminamos, conversamos, assistimos filmes...

Alice era muito legal... com certeza a melhor irmã que alguém poderia ter... Será que alguém tinha essa sorte?

-Alice... - eu comecei.

-Diga. - ela sorriu.

-Você tem algum irmão?

-Sim, tenho cinco.

-Cinco? - nossa... como existiam pessoas sortudas nesse mundo.

-Sim... Edward, Emmett, Jasper, Rosalie e Bella. Todos somos adotados. - ela disse.

Agora fazia mais sentido... Carlisle era realmente jovem demais para ter uma filha adolescente.

-Nossa... eles tem muita sorte de ter uma irmã tão legal. - eu disse.

-Você tinha irmãos?

-Tinha uma irmã... mais nova... que morreu junto com meus pais.

-Ah... eu sinto muito.

-Eu sei que eles estão em um lugar melhor. O lugar para onde eu vou em breve.

-Como? Você acha que vai morrer? - ela exclamou.

-Acho... não tenho tantas esperanças... além do mais, com quem eu ficaria se sobrevivesse? Não tenho ninguém.

Alice me abraçou. Nossa, ela estava fria.

-Você não pode pensar assim. Você não vai morrer!

Pensei durante um segundo na possibilidade de não morrer... como eu queria que meus pais estivessem aqui... Uma saudade repentina me atingiu.

-Alice... - eu disse, com uma voz meio trêmula - Você sente falta da sua família?

-Não me lembro muito deles... já faz muito tempo que estou com Carlisle... mas é claro que sinto saudades...

-O que aconteceu?

-Bom... eu... mudei... é uma longa história... e... bom, não podia ficar com meus pais... nem com a minha irmã... então, Carlisle me encontrou e me adotou.

-Você... mudou? - eu perguntei - Não entendi.

-Eu... mudei... é o que você precisa saber... Seria arriscado ficar com eles...

Ainda não havia entendido... mas...

O resto do dia passou rapidamente.

-Olha a hora, - disse Alice, olhando o relógio - está na hora de você dormir.

-Não... não estou com sono...

-Sim, você está... e dormir vai ajudá-la a se recuperar mais rápido.

-Não quero dormir... toda vez que eu fecho os olhos eu perco alguém ou alguma coisa... não vou deixar isso acontecer desta vez.

-Não vai acontecer. - ela disse, comovida - Estarei aqui quando você acordar.

-Promete?

-Prometo. - ela sorriu.

Apagou as luzes e segurou a minha mão até eu dormir.

Mas eu demorei muito tempo para acordar... mesmo sonhando eu estava ciente de que alguma coisa estava errada comigo.

Por mais que tentava não conseguia acordar; o que estava acontecendo?

Depois de um tempo, mesmo sem conseguir abrir os olhos ou me mexer, comecei a ouvir coisas.

"Carlisle?" uma voz perguntou, parecia a de Alice.

"Ela piorou, muito. Não tenho certeza se ela vai..."

"Nem pense nisso!" ela interrompeu. "Prometi a ela que nada aconteceria quando ela dormisse... Você não entende o tanto que ela precisa acordar!"

"Alice... não posso fazer nada agora... é só esperar"

Ouvi Alice arrastar a cadeira até bem perto de onde eu estava sentada, e pude sentir quando sua mão gelada pegou a minha. Depois disso, apaguei novamente.

Será que eu morri?

Tentava procurar algum sinal que me provaria o contrário... mas... nada.

Sim... acho que sim.

"Pai? Mãe?" me ouvi falar.

De repente senti que meus olhos estava fechados e tentei abri-los.

Eles estavam mais pesados do que de costume, mas, com muito esforço, consegui.

A imagem estava embassada, mas foi ganhando foco a medida que eu piscava.

Encontrei Alice e Carlisle olhando diretamente para mim.

-Marina? - ela perguntou, baixo.

Tentei falar, mas não consegui, só o que saiu foi um sussurro leve.

-Oi. O que está acontecendo comigo?

-Seu estado está muito instável. - Carlisle disse.

-Alice, não te disse que isso iria acontecer? - disse, em outro sussuro.

-Não vai acontecer. - ela disse, como se estivesse chorando, e me abraçou.

-Tente não se desgastar... vou fazer uns exames. - Carlisle disse.

Os exames foram feitos e, quando Carlisle saiu da sala, me esforcei para manter meus olhos abertos, por Alice.

-Alice... - eu sussurrei, enquanto ainda lutava contra meus olhos - quero que você saiba que você me divertiu de um jeito que não me divertia a muito tempo... E caso alguma coisa aconteça e eu não acordar mais, quero que você saiba que você foi como uma irmã para mim nesses dois dias... E eu gostaria muito de ter mais tempo para passar com você.
Ela sorriu.
-Se você pudesse escolher.... ficaria comigo? Mesmo que tivesse que passar por algumas coisas para isso? -ela perguntou.
-Claro... - eu sorri, levemente.
Não consegui controlar meus olhos durante muito tempo... e logo depois caí na inconsciência.