Scorpius acordou com a mãe batendo na porta, e por um pequeno momento amaldiçoou-a, resmungando, não se lembrando do por que estava sendo acordado tão cedo, mas sua mente começou a se lembrar, e aquilo foi como uma grande adrenalina.
– Acorda! Precisamos sair de casa dez horas em ponto, senão você perde a sua carona para Hogwarts! – Scorpius agora movido por uma ansiedade muito grande, levantou depressa e tropeçou nas pontas da coberta, batendo seu pé na cama e caindo logo em seguida – Droga! – Xingando, ele se levantou e se sentou na cama, massageando o calcanhar, que já estava ficando vermelho.
Scorpius era um garoto muito bonito, seus cabelos loiros faziam jus aos seus olhos azuis penetrantes. Ele era muito alto para a idade, e herdara a pele clara do pai, assim como a voz arrastada. Tinha muitas qualidades, umas quais nunca apareceram em nenhum Malfoy, como também tinha a arrogância e a frieza que era característica de seu pai. Esperara ansiosamente pelo dia em que ingressaria em Hogwarts, e o tempo passara tão depressa que, parado no meio do quarto, massageando o calcanhar, pensava em como ele pudera esquecer-se deste dia.
Scorpius se trocou rapidamente, e aproveitou para pegar seu malão e a gaiola da sua coruja, Athena, que estava vazia, com a intenção de deixar no carro, para poupar mais uma viagem ao quarto. Só que se deteve quando já estava na escada, descendo em direção à cozinha. Escutara uma conversa entre os pais no quarto ao lado, e quando seu nome foi mencionado, uma curiosidade borbulhou no seu peito, ele precisava saber sobre o que estavam falando.
– Temos tempo ainda Draco, dá para colocar o Scorpius em Dumstrang! O navio parte depois de amanhã! Eu já mandei uma carta para o professor Krum! – o garoto ouviu um suspiro de exasperação - Astoria! Ele não vai para Dumstrang! Nós já havíamos falado sobre isto, não se lembra? Hogwarts vai receber o nosso filho muito melhor do que Dumstrang receberia!
– Draco, eu estou com medo! Dentro de Hogwarts há aqueles desgraçados dos Potter e dos Weasley. Wanessa contou para mim que o filho mais velho de Harry Potter está sendo igual o pai, e um pouco pior, e eu não quero colocar meu filho no meio disto, como você foi colocado pelo seu pai! Em Dumstrang ele terá uma vida muito melhor, e Krum vai fazer com que isto aconteça. Se Scorpius for para Hogwarts, sonserina não será boa o suficiente para ele.
– E quem disse que o Scorpius vai entrar para a sonserina? Ao contrário de meu pai, eu estou dando a ele a liberdade de escolher em que caminho ele vai trilhar. Eu não ficarei feliz se ele for para outra casa, mas se ele for o que eu posso fazer? Ele é meu filho!
– Quando havíamos prometido um ao outro que mudaríamos, não era disto que eu estava falando. Sonserina vai ser e sempre será nossa casa.
– Não quero que ele entre para outras casas, eu já disse, mas se é o desejo dele e nós não sabemos? Vamos o recriminar por causa disto? Eu quero que ele seja feliz, diferente de mim em sua idade. Meu pai me pressionava sempre, e eu não tinha escolha. Eu não gosto de Potter, muito menos de Weasley, mas não podemos esquecer que ele me salvou duas vezes, eu devo minha vida a ele. Se o filho de Potter é deste jeito, Scorpius vai retribuir com a mesma moeda.
– Depois não diga que eu não o avisei, Draco.
O garoto escutou passos e presumiu que a mãe estava saindo do quarto. Desceu a escada correndo e se sentou à mesa, no momento em que a mãe terminava de descer. – Já está aqui?
Scorpius enfiou uma torrada cortada ao meio na boca, para fazer que estava comendo. – Aham! – Astoria foi em direção à geladeira e abriu. – Já trouxe tudo para baixo? Eu abri a gaiola da sua coruja e deixei-a dar uma passeada antes de irmos! Depois de comer, vá até o carro colocar suas coisas.
Scorpius balançou a cabeça, concordando, e com alguma dificuldade conseguiu engolir a torrada. – Mãe, você avisou Rômulo de que eu iria ficar com ele no Expresso? – A mulher acabava de fechar a geladeira com uma garrafa de cerveja amanteigada nas mãos. - Avisei. - Astoria colocou a garrafa na mesa e pegou três copos, dando um para o filho.
– Eu quero que você tenha cuidado! Não ande com sangues-ruins, você entendeu? Eles são umas pragas que deveriam ser exterminadas. E fique longe dos Potter e dos Weasley, eles são a pior escória do mundo bruxo.
– Tudo bem mãe - Scorpius despejou o liquido da garrafa até a metade do copo e bebeu um gole – Você já disse isto mil vezes! Eu já até decorei – Scorpius fez uma voz falseta – "Ande apenas com os alunos da sonserina, não seja legal com ninguém de outras casas. Continue o legado de nossa família em Hogwarts".
Astoria ia falar algo, mas escutou passos no corredor, então colocou o dedo indicador na boca e olhou para Scorpius. – Não diga nada do que falamos aqui para seu pai. E nunca se esqueça do que vou falar, este é o lema da família: Uma vez Malfoy, sempre Malfoy!
– Certo – Scorpius disse isto e revirou os olhos. Astoria Greengrass era uma mulher formidável, tinha tudo aos seus pés, mas estava estupefata com a decisão de Draco sobre Scorpius. Não conseguia colocar na cabeça a ideia de Scorpius ser amigo de trouxas, ou até dos antigos inimigos de escola. Para ela, se o filho não fizesse parte de sua antiga casa, um sentimento de fracasso a destruiria.
Draco chegou à cozinha e se aproximou do filho, bagunçando os cabelos lisos e loiros do garoto. – Como foi sua noite? Dormiu bem? – Passando as mãos pelos cabelos, ajeitando o que seu pai bagunçara, olhou para ele, tentando decifrar o porquê de ele estar sendo tão legal com ele. - Sim pai, e você? – Bem também, apenas pensando que eu vou ficar quase um ano sem ver meu filho! – Draco falou e fez uma careta, em seguida para irritar o loiro, bagunçando mais uma vez o seus cabelos.
– Eu acabei de arrumar meu cabelo! Para de desarrumar! E outra, é só um ano, por ai, não vai ser a vida inteira!- disse Scorpius, tentando escapar das mãos do pai. – agora você me ofendeu! – Draco cutucou o garoto. – No natal você vai vir para casa, não se esqueça.
Astoria terminou de comer uma torrada e mandou um olhar para Draco, que Scorpius não conseguiu identificar. – Draco, deixe o menino ir colocar as coisas no carro! – Por um momento o pai ficou fitando a esposa confuso, até que lembrou-se de algo e fez uma expressão de entendimento. – Verdade, Scorpius vá ajeitar suas coisas! Quanto mais cedo, melhor!
Scorpius ainda achando estranho o jeito dos pais concordou e foi pegar o malão que deixara na sala, junto da gaiola que agora estava ocupada. – Athena! Como foi o passeio? – Ele passou a mão na cabeça da coruja, que a recebeu com uma bicada carinhosa. Athena era uma coruja strix huhula, era inteiramente preta e pequena. Era muito carinhosa com o dono, mas quando estava brava, nem Scorpius conseguia acalmá-la.
Scorpius com pouca dificuldade levou o malão e a gaiola para a garagem, mas não conseguiu abrir o porta-malas do carro, uma Mercedes 300SL, pois estava trancado. Então foi até a porta da frente e a abriu com a intenção de pegar a chave, mas parou, em choque. Havia uma vassoura deitada nos bancos da frente, seu cabo era inteiramente de ouro e na ponta havia um nome, FastFire.
– Gostou do presente? - Scorpius olhou para trás e deu de cara com os pais, sorrindo. Desconfiado, ainda não entendia tudo aquilo, mesmo que seu coraçãozinho palpitava furiosamente. – É para mim? – A mãe deu risada e abraçou o filho. Um ato um tanto curioso, já que Astoria sempre fora uma mãe um tanto austera. – Claro! É para você! Depois que ficamos sabendo que a diretora McGonagall liberou para os alunos do primeiro ano o teste de Quadribol, encomendamos logo que saiu nos Estados Unidos. Eu quero que tome cuidado com ela, não deixe qualquer um colocar a mão. Entendeu?
Scorpius olhou para a vassoura com os olhos brilhando de excitação e se desvencilhou do abraço da mãe. – Uau! – Ainda não acreditando, passou a mão lentamente pelo nome FastFire. O pai interrompeu aquele momento com um tom de urgência. – Agora não podemos nos atrasar mais! É exatamente – Draco olhou para seu relógio de bolso – 10h03min. Temos de nos apressar!
Entraram no carro e quando Scorpius menos esperava já estavam no estacionamento da estação de King-Cross. O garoto a viagem inteira estava com a mente longe. Primeiro a conversa que entreouvira sobre ele. Por que Astoria estava com medo que o filho entrasse em Hogwarts? E o pai? Qual o motivo? Eles sabiam de algo. Não era por causa dos seus antigos rivais. E depois, sua mãe sendo carinhosa, ele ganhando uma vassoura... Não que ele nunca tivesse ganhado nada. Ao contrário, ele tinha tudo. Mas o jeito em que tudo acontecera, era muito questionável.
Desceram do carro e foram em direção à coluna que separava a plataforma nove com a dez. Estava lotado e ninguém estava prestando atenção na família de cabelos loiros com um menino segurando um malão e a mulher a gaiola da coruja. Se tivessem prestando mais atenção, veriam que a mulher e o menino foram em direção à coluna distraidamente e desapareceram, o homem indo logo atrás.
Scorpius atravessou a barreira com os olhos fechados, e só os abriu quando sentiu sua mãe dar um pequeno tapa em suas costas. Estava na plataforma nove três quartos. Havia uma névoa densa no lugar, e até Scorpius acostumar sua visão ele foi conduzido pelo pai, que o levou até o trem mais famoso para os bruxos, o Expresso de Hogwarts. Um trem vermelho, que soltava de tempos em tempos aquela fumaça densa. A plataforma estava cheia de bruxos e bruxas, e o ambiente era repleto de risadinhas, reencontros, e até choros, de calouros que já estavam sofrendo de antecedência.
Astoria deu uma bolsinha de couro para Scorpius, que o guardou no bolso da calça jeans que usava. – Aí tem duzentos galeões, guarde-a bem. Não gaste com bobeira e tome cuidado com sua vassoura. – novamente a mãe o surpreendeu, dando um beijo em seu rosto. O loiro foi puxado pelo pai, para um canto.
– Scorpius Hyperion Malfoy, escolha bem seus amigos. Eles vão ser sua companhia pelo resto dos seus anos escolares. - Draco olhou para o lado e se retesou – Potter! – Ele acenou para Harry Potter, que estava junto de um homem de cabelo ruivo, que olhava curioso para Scorpius, e quando percebeu estar sendo observado pelo menino mudou dessa expressão para antipatia. – Se aproxime deles o máximo que conseguir. Às vezes eu me arrependo de ter escolhido o caminho que escolhi, mas você tem opções, o que eu não tinha na minha época. Mas lembre-se em sempre estar em constante vigilância. Sofremos traições de quem menos esperamos. – Draco levantou os olhos percebendo uma agitação. - Entre logo no trem, para achar um compartimento só seu e do Rômulo! O trem já está se preparando para sair.
Scorpius pegou seu malão e a gaiola e rapidamente entrou no trem. Pegou um compartimento vazio e se aproximou da janela, procurando seus pais com os olhos. – Tome cuidado! – Escutou a voz da mãe e olhou para uma mulher um tanto agitada e nervosa. Decididamente tinha algo de errado. Ao lado Draco gritou tentando fazer sua voz sobressair mais alta do que o apito do trem. – Lembre-se: Uma vez Malfoy, sempre Malfoy! Tenha orgulho de ser um! E seja um bom sonserino!
Acenando para seus pais, sentiu o trem começando a se movimentar, lentamente no inicio, mas depois rapidamente e o garoto viu Draco e Astoria desapareceram à medida que o trem avançava. Suspirou e sentou-se no banco vazio. Onde estaria Rômulo?
