Summary/Resumo: Quando Sydney e Nigel chegam ao Havaí para colaborarem com a equipe Five-0 no resgate de algumas relíquias roubadas, ninguém esperava que uma missão tão simples pudesse levá-los a revelações inacreditáveis. Encontros passados e antigas promessas são revelados, mostrando ao SEAL teimoso que seu amor se chama Danny Williams.

Categoria: Crossover; Relic Hunter & Hawaii Five-0; Sydgel; McDanno; sobrenatural; romance; angst.

Advertências: slash; homossexualidade.

Pedido da Cris: H50 X RH - No Havaí, há uma série de roubos, e o 5-0 tem que colaborar com uma famosa arqueóloga para encontrar as relíquias roubadas (ela e seu assistente). Talvez a relíquia os conduza a um passado (pode ser em forma de viagem no tempo ou simplesmente descobrindo fatos na investigação) em que Danny e Steve descubram que se pertencem desde sempre...

N.A. 1: Um presente simples, feito com muito carinho para a minha diva yvarlcris, que sempre consegue inspirar o melhor com as suas fics tão perfeitas. Você será sempre o meu exemplo, minha autora preferida de McDanno! Amo demais os dois casais (Sydgel e Mcdanno) e tive muita dificuldade em escolher o par protagonista; dessa forma, os dois o serão muahahahaaaah! A história está, por conseguinte, dividida em duas fases: 1- o quadro, 2 - o crucifixo. Provavelmente seremos as duas únicas a gostarem desta mistura de universos, Cris, mas fazeroquê! I Love Youuuu!

Nota sobre este Crossover: Inseri uma personagem original neste crossover, a curadora Doutora Christine Newell. Ela é a viúva de Alistair Newell, que foi o mentor da professora de História e caçadora de relíquias Sydney Fox, no seriado Relic Hunter.


O quadro e o crucifixo (T – PG13)

"O quadro„

[choque de universos]

No aeroporto de Boston, os professores de História Sydney Fox e Nigel Bailey aguardavam o momento do embarque. Estavam de pé, ao lado um do outro. A mulher, uma arqueóloga renomada, segurava as passagens para Honolulu entre as mãos enquanto o homem, seu colega e antigo assistente de ensino, folheava um dos periódicos que acabara de comprar da pequena banca de revistas. A morena de ares exóticos interessou-se vagamente no artigo do jornal que o inglês estava lendo, que mencionava algo sobre roubos de obras de arte: peças de valores variados haviam desaparecido, todas da Idade Média, na maioria relacionadas à Inquisição. Um caso de polícia, Sydney sabia, mas o último roubo fora o que trouxera os dois arqueólogos para esta viagem: O quadro que foi levado era muito especial a uma mentora da professora Fox, que passara anos apreciando a obra no museu onde era curadora.

Já que o crime acabara sendo para a amiga da professora como um ataque pessoal, a doutora Newell contatou Sydney (molestou com chantagens emocionais) para que ela auxiliasse com o resgate, pois as autoridades continuavam perdendo a pintura de vista.

― Sydney! Querida! – a voz de uma figura familiar logo adiante cortou os pensamentos da caçadora de relíquias, criando uma expressão de quase-pânico no rosto da arqueóloga. Conforme a pessoa vinha se aproximando, Nigel estranhou que sua colega olhasse ao redor algumas vezes como se pretendesse esconder-se sorrateiramente atrás da banca de revistas do aeroporto. O inglês prestou atenção na estranha que se aproximava: uma mulher em seus cinquenta anos, e uma roupa esvoaçante, caminhava até os dois colegas agitando os braços e os cabelos claros e curtos, mostrando um sorriso quase maior que seu próprio rosto rechonchudo e simpático. A loira, cuja roupa resumia-se a uma mistura alegre e pouco coerente de cores, puxou Sydney de onde a morena estava (já quase às costas do inglês) resgatando-a para um forte abraço, daqueles que só os bons e velhos amigos (com sobras de braços) compartilham. ― Quantos anos se passaram, e você continua tão linda! Não mudou praticamente nada, minha pupila! Oh, eu sei como Alistair deve estar orgulhoso!

O professor Bailey ergueu uma sobrancelha sutilmente, e a estranha afrouxou o abraço, dando um pouco mais de espaço para a morena. ― É bom vê-la também, Chris – a arqueóloga respondeu com um sorriso confrangido que acentuou ainda mais a curiosidade reluzente nos olhos do colega inglês.

Chris, como Sydney a chamara, afastou-se e estudou a morena com ternura: ― Mal posso acreditar que está aqui! – e esganou-a novamente em mais um fofo abraço. ― Eu andei sonhando com você nos últimos tempos – comentou com o lado do rosto colado no da morena. ― Não pode ser apenas coincidência que roubaram o meu quadro e nós nos reencontramos. Esse é um momento perfeito para acertar dois coelhos: recuperar a minha relíquia, que é a epítome do amor, e ainda me certificar de que você está feliz e bem encaminhada! – balançou as sobrancelhas em direção ao inglês.

Nigel estava entretido demais tentando identificar até onde aquela velha amiga conseguiria elevar o grau de aflição nos olhos da professora. E a aflição (parte agonia) estava tão clara no rosto da arqueóloga quanto a felicidade nas palavras da loira.

― Não há necessidade pra tanto, Chris... – a morena comentou evitando encarar o colega ao livrar-se do abraço.

― Ah, agora que temos esta chance, não irei mais abandoná-la até que você acerte sua vida e eu finalmente encontre o meu quadro! – a mulher mais baixa virou-se e deu leves tapinhas no ombro inglês, arreganhando ainda mais os dentes: ― Eu espero que sejam muito felizes, e que tenham muitos filhos e... – ela foi interrompida:

― Na-não... não, nós apenas trabalhamos juntos – o inglês começou a se explicar, agitando as mãos, mas Sydney não lhe deixou tempo para mais conversa.

― Eu sei que estava preocupada, Chris, mas eu e Nigel formamos uma ótima equipe. Assim que encontrarmos o quadro, nós entraremos em contato. Certo! Você confirmou que eu estou bem, agora teremos que ir, estão nos chamando – e ela começou a se afastar, pretendendo arrastar Nigel para a fila, mas não conseguiu: alguma coisa segurava o homem.

Era a loira: ― Eu sei como deve ser difícil lidar com a teimosia da minha menina, somente um homem de muito valor conseguiria acompanhá-la por tanto tempo, professor Bailey – a loirinha segurava a mão direita do inglês enquanto falava. ― É um prazer conhecê-lo.

― O prazer é meu, doutora Newell – o professor havia concluído que aquela só poderia ser a pessoa que havia passado os últimos dias ligando incessantemente para o escritório na faculdade assegurando-se que Sydney realmente procuraria o quadro roubado na última semana: a curadora e amiga de longa data Christine Newell.

Ela deu uma risadinha, como quem acabara de receber um galanteio: ― Ora, me chame de Chris, por favor.

Sydney não desperdiçou o segundo em que o colega fora liberado do aperto de mão: ― Foi bom vê-la, Chris, mas já fizeram a última chamada de nosso voo e teremos que ir. Manteremos contato. Até logo! – e a morena puxou Nigel para a fila do embarque, abanando para a amiga alegre e colorida que deixara para trás. Sem demora, a professora retirou a passagem da mão do assistente e entregou-a para a funcionária que fiscalizava a fila. Em seguida, praticamente empurrou o professor para que embarcassem no avião, sem deixar de conferir a cada segundo se não estavam sendo seguidos.


Enquanto isso, na terra natal da caçadora (mais conhecida como Havaí):

― Quanto tempo mais?...

Daniel Williams esfregou os olhos cansadamente e voltou a observar a imagem em preto e branco da tela à sua frente, que permanecia inalterável. Estava escuro dentro da pequena casamata, e o fato de já estarem há horas aguardando a aparição dos suspeitos naquele mato havia influenciado terrivelmente o humor do loiro, que apanhou o aparelho de rádio da pequena bancada:

― Se eu soubesse quando eles apareceriam, não estaria sentado aqui há cinco horas – Chin Ho Kelly e Kono Kalakaua, que também estavam conectados à conversa, balançaram as cabeças enquanto ouviam o detetive Williams se irritar mais a cada palavra: ― Você não quis esperar pela ajuda dos especialistas, preferiu seguir seu instinto aracnídeo e nos arrastou até aqui, nesse mato. Por. Cinco. Horas. As quais eu deveria estar passando com Grace, muito obrigado. Eu deveria estar assistindo à Hannah Montana, ou à Barbie, ou a qualquer outra abominação feita especialmente para torturar a mente miserável e desgastada de um pai, mas eu estou aqui, trancado neste cubículo sufocante, úmido e fedorento observando dez quilômetros de selva através de uma tela de dez polegadas! Então, respondendo à sua pergunta: NÃO, STEVE, EU NÃO SEI QUANTO TEMPO MAIS!

Os dois primos policiais se entreolharam no esconderijo perto da casamata, que os mantinha ocultos entre as folhagens largas e espessas do vale onde faziam aquela tocaia. Steven McGarrett havia obviamente feito a pergunta de maneira retórica, e os dois havaianos sorriram simpatizando com a maneira como o comandante de fragata tentou responder ao seu parceiro pelo rádio: ― Danny, nós viemos antes por que não dependemos de acadêmicos para realizar esta operação. Sabemos que o encontro será aqui, Kamekona assegurou isso. Quando os consultores do governador chegarem, já teremos recuperado a obra de arte roubada. Os traficantes só estão demorando um pouco mais que o previsto...

― "Um pouco mais que o previsto", ele diz – o loiro interrompeu. – Eles estão demorando BEM mais que o previsto, Steve, MUITO mais que o previsto, acho até que nem se pode mais chamar de "previsto"! Não há nada nesta selva além de abacaxis! Por que eu estou sacrificando o meu final de semana pra ficar aqui olhando as plantas germinarem?! Por que você simplesmente não imobilizou, torturou ou atirou nos suspeitos como faz normalmente em vez de nos trazer pra cá? O que há de errado com você?!

― Mas é você quem sempre me diz pra não agir assim!

― Não quando está em jogo o meu tempo livre com Grace! Nesse caso, você pode fazer o que quiser, pode explodir as coisas, pode até ligar para os seus amigos do exército...

― Marinha! – Steven corrigiu no meio da sentença.

―... que seja, ligue pra eles e peça que usem um dos canhões a laser de algum dos satélites secretos do governo e devastem essa selva, acabem com os traficantes, assim eu poderei buscar a minha filha e assistir à última sessão de desenhos fingindo que aguento mais duas horas sentado olhando um programa que eu não quero!

― OK... Kono, substitua Danny, vamos aguardar por mais uma hora e, se nada acontecer, iremos embora – foi a resposta diplomática do marinheiro chefe da equipe.

― Obrigado – o loiro respondeu faticamente e largou o rádio. A policial abandonou o seu posto próximo de Chin, sorrindo, e seguiu para a casamata.

O fuzileiro naval voltou a observar de seu esconderijo a vegetação do enorme vale, que parecia continuar inóspita e intocada. Já havia passado da hora para os traficantes se reunirem, o que poderia tê-los atrasado tanto?


De volta ao aeroporto:

― O que... foi... aquilo? – Nigel olhava para a amiga, sentado na poltrona ao lado de Sydney dentro da aeronave. Um burburinho pairava no ar, e pessoas ocupavam os corredores, já que a maioria dos passageiros ainda estava embarcando; soava a última chamada para aquele voo, e a morena parecia ter conseguido livrar-se da saudosa amiga de longa data. O inglês encarou mais ainda a professora, que tinha uma expressão indecifrável enquanto olhava pela janela à sua esquerda, de braços cruzados.

― Esqueça o que aconteceu, Nigel – sua voz soou neutra. Forçosamente neutra. O inglês estreitou a vista, com aquela expressão que Sydney já conhecia, aquela que ele usava quando descobria ou estava prestes a descobrir alguma coisa constrangedora sobre a colega. E ela revirou os olhos. Virou-se: ― Tudo bem. É simples, e só vou explicar uma vez: Christine Newell era a esposa de Alistair. Ela foi minha professora durante a faculdade, e trabalhamos na mesma universidade por alguns anos logo depois que me formei. Ela foi minha mentora depois que Alistair morreu. Tive muito apoio dela no início da carreira, foi ela quem pediu que ajudássemos no resgate desse quadro. É isso.

Nigel piscou algumas vezes e assentiu com a cabeça: ― Oh... então ela te conheceu nos tempos da faculdade... – a morena continuou em silêncio, e o inglês considerou: ― Foi por isso que tentou escapar, ela parece ser muito falante, e deve ter muitas histórias pra contar... – o canto do olho foi suficiente para Sydney lançar aquele olhar. Nigel suspirou e cruzou os braços: ― Não se preocupe, você já afugentou... CHRISTINE ESTÁ NO AVIÃO! – o inglês disse encarando as pessoas do corredor que acabavam de entrar na aeronave. Sydney viu-se confusa entre tentar confirmar o que Nigel dissera ou esconder-se atrás do encosto da poltrona da frente. Optou pela segunda alternativa.

― Nigel! Sydney! Parece que vamos juntos para o Havaí! – a voz falou alta, alegre, causando calafrios à morena. O inglês sorriu de volta para a loira enquanto ela se aproximava. Christine continuou: ― Será uma ótima viagem, poderei conhecer melhor o professor Nigel – sorriu largamente e sentou-se exatamente na poltrona que Sydney tentara infantilmente usar como escudo um segundo antes. A morena fitou a amiga recostar a poltrona até quase o máximo: ― Eu também irei ajudar no resgate do quadro, Sydney – piscou para a morena.

A caçadora suspirou e trocou uma olhadela com Nigel, considerando se poderia tentar nocautear um dos dois para evitar que eles conversassem sobre o que ela sabia que eles iriam conversar: seus tempos de faculdade.


De volta à terra natal da caçadora:

Steven fechou os olhos e conteve o suspiro enquanto sentia nitidamente, fisicamente, o olhar de seu amigo por entre as ramas das macegas que os encobriam: Danny estava escondido trinta metros a leste, ao lado de Chin, mas a presença do policial havaiano não era notada, apenas aqueles dois olhos azuis do detetive, fuzilando o marinheiro.

― Chefe, se não tiver cuidado, Danny vai atirar em você – foi a voz de Kono, que os três homens ouviram pelo rádio.

― Sua dedo-duro! Como espera que eu o acerte sem o elemento surpresa? – Danny reclamou. Kono riu, e Chin fez força para conter o riso, só que o loiro percebeu: ― Eu não sei por que está achando graça. Estamos aqui à toa, perdendo tempo precioso, você não deveria estar com a sua esposa?

Chin balançou a cabeça: ― Malia está cobrindo o plantão, hoje. Nos veremos apenas à noite.

O loiro ergueu as sobrancelhas: ― E o que vai fazer se Steve decidir que devemos ficar aqui até amanhã, amigo?

McGarrett, que ouvia a conversa pelo rádio, manteve os olhos fixos adiante, fingindo não estar percebendo o que agora eram dois olhares acusadores na sua direção.


Voltando ao avião:

Nigel cruzou os braços, aconchegado no escoro de sua poltrona ouvindo mais uma história que a curadora Newell havia desatado a contar:

― E então Syd desafiou qualquer um da turma a saber mais sobre História do que ela, quem perdesse teria que escolher entre ser seu parceiro no treino de jiu-jítsu por uma semana, ou nadar nu na piscina da universidade. Pobre John, se ele soubesse que estaria tão frio naquele dia... – a caçadora de relíquias pigarreou e trocou olhadelas com a amiga loira.

Nigel soube que ali havia mais do que estava sendo contado, mas antes de ter a oportunidade de perguntar por detalhes, viu a expressão da colega desafiando-o a pedir pela conclusão da história. O inglês engoliu em seco: ― Syd... gosta de desafios – disse, apenas.

Christine sorriu com orgulho para a pupila por sobre o encosto da poltrona do avião, que não parecia suficientemente grande para suportar a mulher e suas bagagens de mão. Não havia ninguém sentado ao lado dela, simplesmente porque o espaço havia sido ocupado por bolsas e pastas e guloseimas do serviço de bordo: ― Sim. Ela sempre adorou a adrenalina. Se tivesse conhecido a avó dela, teria ouvido muitas histórias...

― Talvez seja melhor aproveitarmos a viagem para descansar ou estaremos acabados quando chegarmos à ilha – Sydney tentou terminar a conversa.

A loira descartou o pedido da arqueóloga: ― Bobagem, o papo está tão bom – abriu outra embalagem de doces e continuou escorada na poltrona. ― Mas eu me preocupo um pouco, sabe? Sydney tem tendência a não conseguir sossegar ou manter relacionamentos por muito tempo, e não só os amorosos – Nigel espiou a amiga de esguelha, Christine continuou: ― Ela tem dificuldade de continuar o contato com as pessoas que vai conhecendo por aí.

― Seria ótimo se vocês parassem de falar de mim como se eu não estivesse aqui – a professora resmungou e puxou a pasta que estava enfiada na sua bolsa de couro, com dados do quadro e das demais relíquias roubadas.

― Então converse mais, está muito quieta – Christine disse. ― Temos bastante tempo para relembrar os velhos tempos.

Nigel sorriu de forma simpática, e a morena levantou a pasta de arquivo que segurava para camuflar o rosto, decidindo tentar fazer de conta que não era sobre ela que Christine começava novamente a falar. Mas isso foi impossível, já que a loira continuou trazendo à tona fatos de sua juventude que ela preferiria manter apenas lá: no passado; como, por exemplo, a sua primeira caçada, quando ficou trancada em uma gruta com Waine, e foram encontrados lutando pela última das cinco jujubas trinta e seis horas depois, sem roupas. É claro que Christine deveria ter mencionado que o calor lá dentro era insuportável, e os dois tiveram que se espremer perto da nascente gotejante para não se desidratarem, e que além das jujubas, só tinham uma pequena barra de cereais. Uma mera questão de sobrevivência; assim como todas as outras situações semelhantes que estavam sendo mencionadas por Christine. Os artefatos e seus resgates sempre foram a prioridade!

Mais e mais detalhes surgiam sobre as aventuras de Sydney, e a arqueóloga tentava fundir-se com a poltrona. Rezou que o tal Five-0, encarregado do caso nas ilhas, fosse mesmo competente como diziam, assim, poderiam terminar mais cedo e ela conseguiria escapar das lembranças e histórias da amiga.


Ainda na tocaia:

McGarrett permaneceu olhando pela mira de seu rifle, ainda empoleirado no seu local de vigília. ― E então, Steven – ouviu a voz de seu colega detetive pelo rádio, que falou seu nome de maneira arremedada. ― Sabemos que está tendo sua diversão aí, todo camuflado, com essa arma perigosa e essas granadas ao seu redor, mas a hora já passou.

O marinheiro apertou os lábios e respondeu: ― Eu sei, Danny.

― Que bom. Então desça daí com uma de suas piruetas e vamos embora. Ainda tenho alguns minutos pra apanhar Grace e comer sorvete.

― São traficantes, Danny. Não podemos abandonar a tocaia por uma porção de sobremesa.

― Eles só traficam sucata da Idade Média, e não é uma sobremesa qualquer: é sorvete de flocos, com Grace, no meu fim de semana! Não desmereça os gostos de alguém só porque eles não têm abacaxi em cima!

― Meninos, parem com a discussão, estão falando muito alto – Kono avisou pelo rádio.

― Mas vocês dois não concordam? Ninguém apareceu este tempo todo, a hora extra que Steve pediu já se passou e não temos ideia se o local da troca será realmente neste mato! – o loiro exclamou.

Chin e Kono ficaram em silêncio.

― A probabilidade é muito grande, e sabemos que o encontro ainda não aconteceu. Teremos que esperar mais um pouco – o chefe do grupo declarou.

― Háh! Eu sabia! Eu sabia que você faria tudo pra não descer daí!

― O chefe tem razão, Danny, vamos esperar só mais um pouco – a voz pacificadora de Kono soou no rádio.

― Mais um pouco? Você não tinha um encontro com os seus amigos do surf? Sabe que se concordarmos agora, Steve pode continuar aqui a noite toda, e também a manhã? – houve uma pausa após a reclamação do detetive, e a voz da policial, hesitante:

― N-não. Não vai demorar tanto assim... – a havaiana comentou, incerta. Ninguém respondeu nada.

E desta vez, Steven McGarrett sentiu os três olhares o fuzilarem.


No aeroporto de Honolulu:

As horas de viagem e as perguntas incessantes de Christine sobre os planos de Sydney para seu casamento, seus filhos e o resgate de "seu" quadro, que haviam sucedido a sessão de histórias constrangedoras sobre o passado da professora, chegaram ao fim quando os três desembarcaram no aeroporto da ilha.

A loira avistou sua maleta passar pela esteira com o resto da bagagem dos outros passageiros. Os dois colegas se assombraram com o tamanho da mala que a mulher trouxera; foi difícil colocá-la sobre o carrinho, Sydney e Nigel tiveram que ajudar.

― Foi bom te rever, Chris, nos veremos quando devolvermos o quatro – a morena declarou, puxando Nigel sutilmente pela manga, para que escapassem da amiga antes de ela ter que...

― Espere, Sydney! Precisamos manter o contato enquanto estivermos aqui, se não eu não poderei ajudar. Para qual hotel vocês estão indo?

Nigel viu a colega espiar o portão de saída, como se quisesse correr para lá. O inglês sussurrou, divertido: ― Não é tão ruim, Syd, apenas dê o nome a ela. Ou prefere que eu dê o meu telefone? – a morena estreitou os olhos, e o soltou. Caminhou rapidamente em direção à amiga, e as duas trocaram algumas palavras. Elas voltaram para o lado do professor:

― Vamos ficar no mesmo hotel! – a loira exclamou excitadamente.

...

Na recepção, Sydney tocou a sineta para chamar a atenção do atendente, que estava de costas para o balcão. O havaiano virou-se, e Christine assumiu antes que a caçadora pudesse falar:

― Aloha, querido. Temos reservas para Sydney Fox e Christine Newell.

O rapaz confirmou os dados no computador e entregou os cartões por sobre o balcão: ― Três quartos para os senhores. Aloha, tenham uma boa estadia.

Christine escorou-se no balcão: ― Sabe, querido, estamos passando por um momento muito especial, e seria ótimo se pudéssemos fazer uma pequena modificação nas reservas.

Sydney iria questionar, mas a loira piscou para ela, assegurando que sabia o que estava fazendo. Continuou: ― É claro que eu pagarei pela diferença, mas seria ótimo se você pudesse trocar dois dos quartos por uma suíte maior que esteja vaga.

― Chris! – a morena repreendeu a amiga, que chiou e sorriu novamente para o recepcionista:

― E então, querido? Eu quero aproveitar ao máximo esta ilha fabulosa, será um sonho se puder desfrutar a suíte com minha colega – e passou o braço por sobre o ombro de Sydney.

O rapaz não deu muita importância ao discurso da loira depois que ela mencionara que pagaria a diferença, apenas pediu o cartão de crédito. Cinco minutos depois, os três subiam no elevador com duas chaves: uma para um quarto de solteiro e outra para uma luxuosa acomodação com vista para a praia.

― Eu sempre quis experimentar o serviço de quarto deste hotel, será maravilhoso dividirmos a suíte, querida, será como nas excursões da faculdade! Nigel também pode vir se quiser.

O inglês sorriu, segurando o cartão para seu quarto, que ficava dois andares abaixo da suíte das mulheres: ― Obrigado, mas deixarei vocês à vontade. Divirtam-se – ajeitou a mochila nas costas e desceu do elevador.

― Nigel, vamos apenas largar as malas e começar o trabalho imediatamente! – a morena declarou ao lado da curadora.

― Que felicidade! – a voz de Christine ressoou antes que a porta automática se fechasse.


No meio do mato:

Chin ajeitou-se melhor no esconderijo ao lado do loiro e voltou a ficar quieto, aguardando qualquer sinal. Já fazia horas que o havaiano não ouvia as elaboradas reclamações do detetive Williams; e ele não culpava o colega, esta operação havia arruinado seu dia com Grace. Só que depois que o horário da visita houvera acabado, o loiro permanecera mudo, apenas parado ali, observando o chefe. Chin permaneceu em silêncio e considerou o que era aquilo no olhar do colega; não era apenas raiva, parecia mais com...

A voz do comandante ocupou o rádio: ― Atenção! Eu vejo movimento!

Um vulto passou pelas folhagens, rápido e silencioso. Kono mal conseguiu captar o movimento na pequena tela dentro da casamata. Steven saltou de onde se escondia e correu em direção ao suspeito, que parecia estar sozinho. Danny e Chin correram logo atrás do comandante.

O traficante tinha destreza entre as árvores. Não foi fácil, e McGarrett quase perdeu o suspeito de vista. Kono avisou pelo rádio sobre outro foco de movimento mais a oeste, e Chin tomou aquela direção ao mesmo tempo em que Steven lançou-se sobre o vulto adiante, imobilizando-o após os dois rolarem duas vezes sobre a grama mais rala daquela área.

Danny encerrou a corrida retomando o fôlego, mas quedou-se de boca aberta por um par de segundos ao ver o suspeito, que tinha longos cabelos castanhos, livrar-se de Steven arremessando a arma do comandante para longe e assumir a vantagem em um movimento fluído e preciso que mantinha o moreno com os joelhos no chão enquanto ela – sim, era uma mulher – torcia-lhe o antebraço contra as costas e garantia o restante da imobilização com as cinco unhas longas esganando a traqueia do SEAL.

― Uau... – escapou antes que Danny pudesse evitar. O loiro desculpou-se para a expressão de indignação no rosto de Steven, que não podia falar nada naquele momento, mas estava fazendo um ótimo trabalho com o olhar de frustração que dizia "aponte a droga da arma, seu idiota!" ― Ok, foi impressionante, acabei de confirmar que existem outros ninjas por aí além de Steve, mas eu terei que pedir que a senhorita solte esse homem treinado pelo Exército, ou eu terei que atirar.

O engatilhar de uma pistola fez o rosto de Danny perder a cor instantaneamente. O detetive espiou de soslaio às suas costas, vendo o cano da arma que era de Steven apontado agora para sua cabeça. ― Solte a arma – uma voz grave, com sotaque inglês, pediu de maneira firme, porém não tão alta. O loiro suspirou e viu Steven dizer com as sobrancelhas: "Bem-feito!" e claramente o que poderia ser "Não é Exército, é Marinha!"

Danny levantou as mãos, exalando o ar, mas no momento em que iria soltar a arma, ouviu a voz de Kono exclamando logo atrás:

― Mas o que está acontecendo aqui?! – os quatro observaram a policial em um sobressalto. Kono encarava os dois colegas do Five-0 rendidos por uma mulher havaiana muito atraente e o que parecia ser um universitário vestindo roupas cáqui, que era uma gracinha.

Danny levantou o canto da boca, olhando entre as duas mulheres, e riu com interesse: ― Eu estou com uma dúvida: Por acaso eles colocam algo no leite de coco que dão a vocês quando crianças? Ela acabou com Steve antes mesmo de ele alcançar as granadas!

Kono apertou os lábios ao ver o rosto do SEAL; tentou conter sua admiração e divertimento, sem nunca apontar sua arma para o sujeito vestindo cáquis, franzino em comparação aos outros dois homens, o qual, por sinal, ainda rendia Danny.

― Parece que já se conheceram... – a policial disse. Os quatro, que ainda não haviam se movido, estranharam. ― Professores, somos o Five-0. Detetive, Comandante, esses dois são Sydney Fox e Nigel Bailey, os arqueólogos que vieram colaborar com a investigação a pedido do governador – e levantou as sobrancelhas, mantendo implícita a parte do discurso que dizia "se tivessem lido os arquivos que eu preparei, saberiam disso".

As pessoas em questão se entreolharam, Sydney observou o distintivo preso no canto do colete de Danny e soltou o moreno, Nigel abaixou a pistola.

McGarrett respirou algumas vezes, e levantou-se: ― Professora Fox... – começou, depois de pigarrear e alisar a garganta. A mulher afastou os cabelos do rosto e assentiu enquanto Steven oferecia-lhe a mão direita. Só que ao invés de cumprimentá-la, ele segurou seu pulso alcançando o par de algemas no cinto. ― Está presa por atrapalhar uma ação policial e... – fingiu que não viu Danny e Kono estreitarem os olhos ― ...e por atacar um oficial.

― E como eu poderia saber? Você simplesmente correu atrás de mim pelo mato! – Sydney reclamou, sem lutar enquanto ele a algemava. Kono ergueu as mãos e afastou-se, fazendo um sinal para Danny e balançando a cabeça antes de embrenhar-se novamente entre as folhagens para alcançar seu primo Chin que houvera seguido sozinho na outra direção.

― Syd tem razão. Vocês não se identificaram em nenhum momento, sequer houve voz de prisão. Não pode prendê-la por tentar se defender! – o outro arqueólogo, Nigel, clamou de pé ao lado de Danny.

O comandante observou a arma ainda em posse do inglês meio magricela, que era pouca coisa mais alto que o loiro. Fechou ainda mais a carranca. Bailey percebeu que ainda segurava a pistola e estendeu a mão, acuado, devolvendo-lhe a arma. O comandante guardou-a no coldre e entregou a Danny a mulher algemada:

― Fiche-os, Danno. Os dois.

O loiro suspirou.

― Isso é absurdo! – o professor Bailey retrucou, em um tom ainda mais carregado de sotaque.

― O que está fazendo é desnecessário – Sydney comentou calmamente em direção a Steven, que contatava os outros pelo rádio. ― Viemos aqui para ajudar, e não havia ninguém na sede quando chegamos. Não poderíamos ficar parados e deixar os traficantes negociarem e fugirem novamente... O que devem estar fazendo neste momento enquanto você está aí preocupado demais com seu orgulho ferido.

Nigel arregalou os olhos, e Danny assoviou com uma careta ao ouvir o comentário, os dois aguardaram a reação do SEAL, com expectativa. McGarrett virou-se para a professora: ― Tem o direito de permanecer calada. O que disser será usado contra você no tribunal. Você tem direito a um advogado... – e ele seguiria citando os direitos da criminosa, não fosse a voz de Kono pedindo apoio pelo comunicador.

Os quatro: Steven, Danny, Sydney e Nigel, atravessaram o restante da floresta em direção oeste, mas receberam outras informações de Kono pelo comunicador e tiveram que seguir para a saída, alguns minutos depois. Steven avançou rapidamente até o local onde estavam os dois primos, perto dos carros, seguido por Danny e o casal de professores algemado. Os acadêmicos os acompanhavam obedientemente.

O moreno chutou o tronco de um dos arbustos ao receber a informação de que os traficantes haviam escapado de Kono e Chin. Steven limpou o suor do rosto com as mãos e praguejou. A missão havia fracassado, e não havia o que fazer senão voltar para a sede do Five-0 e tentar reavaliar as possibilidades, e também entregar o relatório nada satisfatório para um governador sem senso de humor.

Os dois primos foram os primeiros a seguirem caminho, Chin dirigindo o carro alugado pelos professores.

McGarrett e a professora Fox entreolhavam-se com indignação enquanto ele indicava que ela e o colega se sentassem no banco de trás do camaro, ainda algemados. Danny deu as costas para todos, vendo que o único que parecia calmo era o professor Bailey, que na verdade estava um pouco pálido. Prosseguiu até o volante do veículo: ― Vamos sair logo daqui.

Steven não reclamou as chaves e acomodou-se no lado do carona, ainda bufando vez e outra. ― Como sabiam que a negociação seria aqui? – perguntou assim que o carro entrou em movimento.

A professora afastou os olhos do amigo ao seu lado, que permanecia quieto apertando os pulsos como se as algemas fossem incômodas demais. Respondeu ao marinheiro: ― Tenho meus contatos nessa área.

― Então você mantém contato com traficantes de obras de arte – o comandante concluiu.

― Sim. Com os que já estão presos, e também com colecionadores. Já resgatamos inúmeras relíquias.

Steven sorriu com o canto da boca: ― Eu também tenho minhas fontes. Funciona quando a operação que levou horas de trabalho não é interrompida por acadêmicos tentando bancar Indiana Jones.

― Está falando da operação que atrapalhou o nosso resgate? Deveria ter aguardado pelos experts, como havia sido programado.

McGarrett, indignado, retrucou da mesma forma. Ele e a mulher continuaram rosnando durante a viagem, um para o outro, algo entre as linhas de"a culpa é sua". Pareciam duas crianças.

― Não acredito que perdi meu dia de folga com Grace pra isso – Williams reclamou do volante, desanimado.

― E eu estou perdendo as minhas férias – Nigel queixou-se, respirando fundo enquanto olhava pela janela do carro.

Os dois suspiraram de forma compassiva.

continua...


N.A. 2: Tenho outra fic em andamento: S.I.M.

Meus dedinhos estão a mil com os próximos capítulos, estou ansiosa para postá-los, mas acontece que acabei me envolvendo nestas duas outras histórias (Gehennae e esta aqui), que estão completas, e o tempo andou escasso, sorry.

Àquele que se aventurar neste crossover, obrigada pela leitura, a qual espero seja divertida apesar de a fic ter um leve tom de angst.

Beijokassssssssssssss!