Absolutamente ninguém sabia do envolvimento de Kaoru com Kenshin. Todos ainda acreditavam que ambos continuavam num desconhecimento sabido do sentimento de um pelo outro. Kenshin até ria, internamente, quando algum de seus amigos, principalmente Tae-san, tentava fazer com que ele se declarasse à Kaoru (coisa que ele já havia feito à muito..... e de forma melhor, impossível).

Os dias eram longos e de certa forma até tediosos.... mas as noites..... As noites eram curtas como segundos, como os suspiros de prazer de Kaoru, quando ele a tinha. Kenshin sentia o sangue arder cada vez que lembrava quão quente, úmido e perfeitamente encaixável era o corpo de dela no seu. Não eram raros os outros o pegarem vagueango, totalmente imerso naqueles deliciosos pensamentos. Mas como ele sempre foi reservado, ninguém estranhava muito. Só Kaoru podia ver através de seus olhos. O sorriso malicioso nos lábios dele, o olhar turvo. Isso a fazia esperar mais ansiosamente por suas visitas noturnas.

Todas as noites a sequência se repetia: Kenshin esperava até não se poder ouvir nem o barulho do vento nas folhas. Então levantava-se, e corria silenciosamente para o quarto dela. "Ao menos me tornar invisível foi uma das poucas coisas que meus dias como hitokiri me deixaram – pensava sorrindo – ainda estou em forma."

Algumas noites ele a encontrara cochilando. Isso o deixava ainda mais excitado. Acordá-la com mordiscadas em seus seios, ou até melhor, penetrando-a sem aviso. Kaoru gostava disso, e principalmente, ela o amava. Kenshin agora se controlava para usar o dono no dia a dia. Os dois concordaram que nada deveria ser contado aos outros, até pelo menos eles se decidirem o que era melhor no futuro. O presente é que importava. Aliás, os dois sabiam como era valioso o presente. Tantas foram as batalhas em que o futuro se tornava obscuro, impossível de ser alcançado. Já o presente deveria ser vivido intensamente, de preferência mergulhado em prazeres e murmúrios.

Kenshin havia mudado. Ele se tornara mais alegre (e ao mesmo tempo mais prudente), mais tranquilo, como se nada pudesse atrapalhar aqueles últimos 4 meses. Nada apagava a memória dos gemidos contidos dela, sussurrando o nome dele. E ele o dela. Enchendo-a todos os dias com aquilo que ele tinha de mais precioso.

Depois, na manhã seguinte, era como se nada acontecera. Ele pegava a roupa suja, lavava, secava. Ela treinava, dava aulas, brigava com Yahiko. E quando ninguém via, os dois se atracavam em beijos intermináveis, escondidos, se divertindo com essa brincadeira de gato e rato. Trocavam olhares o dia todo, se provocavam. Tudo se tornara mais interessante. Especialmente quando Kenshin simulava uma entrada acidental na sala de banho. Tinham poucos segundos, era só o que ele precisava. Depois ela batia nele, gritava e fingia que estava brava. E a noite curava seus machucados.

Kenshin, o que teremos para o jantar? – perguntou entrando na cozinha naquele mesmo dia. Yahiko estava sentado, conversando com Kenshin. Sano chegaria em breve com Megumi. A raposa pedira que ele a ajudasse a trazer alguns mantimentos que ela comprara para o Dojo, afinal de contas ela sabia que as finanças não iam lá muito bem. Já a clínica tinha sempre pacientes, então não custava repartir um pouco daquela prosperidade com todos.

Nikujaga, Kaoru-dono. Em breve será servido. – Ele disse olhando para ela, fixamente, sensualmente.

Logo em seguida Megumi e Sano chegaram no Dojo. Todos então sentaram-se à mesa. O cozido foi servido. Kenshin havia cozinhado porções generosas para todos, graças ao ótimo negócio que conseguira no mercado central.

Ah!!! Carne de boi!!! Faz tanto tempo que a gente não come carne!! Kenshin está muito bom!!! – Yahiko dizia, em sua gula habitual, com a boca cheia de batatas.

Yahiko! Mastigue antes de falar! – Kaoru repetia, mais parecia uma reza, todas as refeições era a mesma coisa.

Busu! Olha quem fala! Você está comendo até mais que o Sano!!!

Jo-chan, tenho que concordar com o moleque. Hoje você parece faminta.

É que eu treinei muito! – ela dizia encabulada – Kenshin, faça alguma coisa!!!Yahiko, pare de comer tudo, deixe um pouco mais para mim.

O jantar terminou, Kenshin retirou a louça com a ajuda de Kaoru.

Hoje você estava mesmo com fome, hein Kaoru? Tome cuidado senão vai engordar. Não que eu me importe, mas seu corpo é perfeito do jeito que está. – Kenshin sussurou, comendo-a com os olhos.

Oras! Isso não é uma coisa que se deva dizer para uma mulher!

De longe Megumi observava os dois. Algo estava diferente, ela só não sabia o que. Achou estranho Kaoru sentir tanta fome.

Kaoru, venha cá. – disse Megumi.

O que foi Megumi?

Vamos ao outro quarto, quero te examinar.

Dem-m-m-m-mo.....

Vamos.

Examinar. Kenshin quase deixou a louça cair. Quase. A palavra congelou seus movimentos. Agora ele estava preocupado, será que Megumi sabia de algo? Nervoso, o suor gelado escorria por suas costas.

Está tudo bem, Kenshin?

Sim, Sano. Tudo bem. Só a água que está um pouco gelada.

Tire a roupa, Kaoru. Quero te examinar.

Mas por quê, Megumi? Eu me sinto tão bem.

É só para tirar uma dúvida, Kaoru. Tenho notado você muito sonolenta estes dias. Quero ver se você está doente ou não.

Mas...

Sem mas..... vamos, tire a roupa, vai ser rápido.

Achando que se recusasse mais um pouco Megumi poderia desconfiar de algo, Kaoru obedeceu a ordem. Nua, deitou-se no futon, enquanto as mãos rápidas da Raposa percorriam seu ventre e seios.

Como eu desconfiava – a doutora pensou. - Pode se vestir.

Algo errado?

Não, você está muito bem. Mas por via das dúvidas, quero que descanse mais e que coma bem. Daqui a um mês eu te examino de novo, para ver se você se sente melhor. Vista-se. Daqui a pouco Kenshin vai servir a sobremesa que eu trouxe.

Kaoru, quieta, vestiu-se.

Depois as duas saíram em direcão a mesa. Kenshin, nervoso, não parava de olhar para a porta. Só se acalmou quando viu Kaoru chegar. Pegou o zenzai e serviu.

Obrigado pela sobremesa, Megumi-dono! – disse tentando aparentar calma e descontração.

Kenshin tentou evitar ao máximo olhar para Kaoru. Ela também. Megumi observava os dois, cada movimento, cada olhar. "Só pode ser.... – pensava – Tem que ser...."

Mais tarde todos se dirigiram ao pátio. Sentaram, tomaram sakê, riram... alguns verdadeiramente, outros, para disfarçar a ansiosidade. Nunca a noite foi tão longa. Nunca Kenshin desejara que todos desaparecessem daquela forma.

Enfim todos foram embora. Megumi saiu pensativa. Nem se importou com as provocações de Sanosuke.

Yahiko estava mais acordado do que nunca. Toda aquela conversa, as piadas, o sakê o deixaram elétrico. Isso dava ainda mais desespero em Kenshin e Kaoru, que queriam conversar o quanto antes sobre o ocorrido.

Yahiko, vá buscar água para mim, por favor.- Kenshin disse.

Mas a essa hora da noite?

Sim, quero tomar banho, por favor.

Mas você já tomou banho....

Me sinto suado depois de cozinhar. Por favor. – Kenshin disse, sorrindo, mas irritado com a insistência do garoto. Normalmente ele era paciente com Yahiko, mas essa não era uma situacão normal.

Yahiko, reclamando, se retirou do pátio. O poço ficava ao fundo do Dojo.

Kaoru, o que aconteceu?!!!!

Não aconteceu nada, Kenshin.... acalme-se.

Mas por quê ela queria te examinar?

Não sei, não entendi direito essa situação.... ela me pediu para tirar a roupa, me examinou em 2 minutos e depois disse apenas para que eu dormisse mais, e comesse bem. Não deve ser nada sério, Kenshin. Senão ela haveria de ter me contado. Megumi não é mulher de meias palavras.

Você acha que ela desconfia de algo?

Acho que não. Ao menos ela não comentou nada comigo.

Acho melhor nos controlarmos. Ela é esperta, de agora por diante não podemos dar na vista dela.

KENSHIN, SEU BANHO ESTÁ PRONTO!!!! – Yahiko gritou ao fundo.

Obrigado, Yahiko. Já estou indo.

YAHIKO, VÁ PARA CAMA! AMANHÃ VAMOS TREINAR PESADO!!!

O menino, meio sonolento, obedeceu a sensei. Foi para o quarto. Kenshin sequer entrou na sala de banho. Depois, de madrugada, foi se encontrar com Kaoru. Não havia clima para nada. Os dois estavam preocupados. Decidiram ficar apenas juntos, quietos.