Disclaimer: Saint Seiya pertence ao Masami Kurumada e empresas associadas. Essa fanfic não possuiu fiz lucrativos, apenas deseja divertir os fãs do anime. Todos os personagens originais me pertencem. Essa é minha primeira fanfic publicada. Espero que gostem.

Beijos, Luna

PS: capítulo corrigido anos depois.


O Segredo Das Internas

Sinopse: Jim descobre seus poderes e decide tornar-se interna do Santuário de Atena, que pretende formar novos cavaleiros e amazonas. Será que os cavaleiros de ouro conseguirão treinar novas amazonas em tempos de paz? Os acontecimentos se passam após a Guerra Santa e a batalha contra Artemis... (personagem principal - Shaka de Virgem)

Capítulo 1 - Da Cama Quebrada ao Santuário

Jim possuía uma vida normal até que estranhos fenômenos começaram a acontecer. Ela morava sozinha já há algum tempo, e apesar de se sentir solitária às vezes, gostava de viver só.

Depois de terminar a faculdade se mudou para a capital de São Paulo para procurar emprego. Não tinha uma vida social excelente, mas dava para se divertir de vez em quando. Gostava realmente de ficar em casa, assistindo a um bom filme, comendo pipocas, jogando ou lendo. E foi justamente em casa que os episódios começaram e se tornar frequentes.

Às vezes, quando acordava de manhã, os objetos do seu quarto estavam fora do lugar que tinha posto. As luzes da casa acendiam e apagavam sozinhas quando ela se aproximava. Mas o mais estranho eram as portas: elas se abriam para ela como se uma mão invisível as tivesse aberto cuidadosamente. E sem falar que quando caminhava tinha a sensação de que seus pés saiam do chão, como se estivesse flutuando e andando ao mesmo tempo.

No começo achou que era impressão, imaginação, ou que estava ficando louca. Depois de fazer algumas experiências, teve certeza existência de seus poderes. E logo se apavorou com a nova realidade. Não podia contar a ninguém, achando que a julgariam louca com certeza. Ou pior, podiam a chamar de bruxa, de feiticeira, sabe-se lá o que podiam fazer! De modo que resolveu esconder seus "dons". Ia esperar quietinha até que eles sumissem ou quem sabe se parasse de tentar usá-los, eles acabariam a bateria como seu MP4 que usava para escutar seu rock pesado, e ela voltaria ao normal.

Foi então que o episódio mais estranho aconteceu. Estava dormindo no meio da bagunça de seu quarto, sonhando que estava voando em campo aberto. A sensação era maravilhosa, sentia o vento nos seus cabelos e o geladinho que provocava em seu corpo enquanto voava sobre a copa das esparsas árvores. Durou pouco o sonho, mas se sentiu muito bem, não tinha mais dúvidas, nem medos, nem angústias. Era só ela, o vento, a imensidão e a velocidade. Não era como se tivesse asas, era como se fosse o super-homem, mas sem capa e uniforme vermelho e azul. Era um pássaro em meio às nuvens brancas gozando da mais sublime liberdade...

Quando acordou estava a mais de 2 metros do chão. Sentiu o cheiro da tinta do teto de sua casa e caiu como uma jaca madura, quebrando a cama num estrondo horroroso. O susto logo deu lugar ao medo, e depois veio o terror. Estava realmente flutuando. E agora, tinha uma cama quebrada para concertar.

Depois de uns 20 minutos de coração acelerado, se acalmou. Levantou, arrumou do jeito que podia a cama e ajeitou o colchão colocando o travesseiro na posição habitual. Formulou as próximas ações em sua mente: primeiro arrumar essa bagunça, depois descer e comprar uma nova cama. Mas naquele momento achou melhor descansar mais um pouco do susto. Sentou-se no sofá e disse para si mesma:

– Quem sabe eu devesse dormir e esquecer toda essa loucura.

Mas não conseguiu dormir.

Ainda aflita foi ligar seu computador para checar seus e-mails. No meio dos anúncios e correntes inúteis de seus amigos havia um que com a seguinte inscrição no campo de remetente: "Fundação Kido". A mensagem dizia:

"Santuário na Grécia abre seleções para novos internos aspirantes a cavaleiros e amazonas. Oferecemos oportunidade de intercambio com outros países e culturas. Os interessados devem preencher o formulário de admissão e anexar a certidão de nascimento junto com foto recente."

E a mensagem terminava com uma foto linda das ruínas gregas com o por do sol ao fundo. Depois de ler a curta mensagem, pensou um pouco a respeito: "Deve ser interessante, viajar, intercambio com outras culturas...". Clicou no link do formulário e encontrou uma pagina com 10 outras paginas de formulário para preencher. E as perguntas eram as mais variadas e estranhas possíveis.

Iam de características físicas a gostos musicais. Haviam perguntas relativas ao histórico médico, aptidões artísticas, trabalhos manuais, nome do pai, da mãe, dos avós, país de origem dos pais, dos avós e nível de instrução. Havia perguntas sobre Filosofia, História, Geografia, Direito, Lógica, Matemática, Física, Química, Medicina, Literatura, Mitologia e outras disciplinas.

O mais estranho foram as perguntas finais do formulário. "Você acredita que a humanidade pode estar exposta a perigos desconhecidos? Você acredita na existência de fenômenos sem explicação lógica ou científica? Já teve a oportunidade de vivenciar tais fenômenos?". Eram perguntas de cunho metafísico e nada convencionais, com certeza era algum tipo de teste.

Respondeu sim para essas 3 últimas. Foi sincera, afinal os últimos acontecimentos de sua vida não tinham explicação mesmo. Pensou que era só um formulário idiota, nada que pudesse por em risco o seu segredo. Segundos depois de clicar no botão de enviar formulário, chegou uma nova mensagem. "Parabéns seu currículo foi aceito pela Fundação Kido! Compareça..." e lá estavam o endereço, data e hora que ela tinha que comparecer. "Nossa que rapidez heim!", pensou.

Como a data era próxima, tratou logo de fazer as malas. O que tinha a perder? A fundação era séria, já tinha ouvido falar de ações sociais encabeçadas pelos Kido, com certeza seria uma boa experiência. Não havia nada que a prendesse no Brasil. Era livre, vacinada, desimpedida e maior de idade. Se caso não gostasse, ou alguma coisa desse errado voltaria. Não era boba, sabia reconhecer uma enrascada quando via uma. E alguma coisa lhe dizia que aquilo era uma boa coisa.

No dia e local marcado, um homem careca veio receber os convidados e conduziu todo mundo para dentro de um navio de cruzeiro ancorado no porto. Eram mais ou menos umas 20 pessoas que também receberam o e-mail com o formulário de admissão. Eram pessoas de todos os cantos do país.

A Fundação promoveu palestras durante a viagem explicando sobre a missão social da Fundação Kido, a vida do patriarca fundador do império e o legado deixado para sua neta Saori. Era tudo muito chato, Jim acabou dormindo no meio de algumas palestras. Noutras se distraia rabiscando desenhos em seu bloquinho, sem prestar muita atenção à fala do careca que se apresentou com orgulho como "Tatsume, assistente pessoal da senhorita Kido".

Ficou olhando perdida para os desenhos que tinha feito e para a caneta em cima do bloco. Moveu os olhos em direção aos slides e notou que a caneta se movimentou junto na mesma direção deles, pondo-se de pé sobre o bloco. Concentrou-se na caneta e a fez ir para o lado oposto sem tocar nela. Repetiu essa ação umas 3 vezes achando divertida a flutuação do objeto na sua frente.

De repetente, se deu conta de que estava no meio de muita gente. Endireitou-se na cadeira assustada e segurou a caneta com as duas mãos a colocando no colo escondo-a entre as pernas. Depois de um tempo, olhou para os lados e relaxou, ninguém havia notado o seu showzinho particular, todos prestavam atenção à palestra e não nela, felizmente. Quando se voltou para a projeção notou um rapaz loiro de cabelos até os ombros a observando. Ele estava sentado perto do palco. Pareceu notar o espanto da moça e deu um sorriso para ela.

Jim corou e baixou a cabeça timidamente. Depois veio a queda: "será que ele me viu fazendo aquilo?" Uma onda de terror percorreu a sua espinha. "Se ele viu, o que vai fazer? Droga! Como pude ser tão estúpida, fazendo isso em público!", se alto repreendeu. Mal sabia ela que o rapaz loiro era Hyoga de Cisne havia notado a sua presença naquele navio desde o primeiro o dia.

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Horas depois, desembarcou numa região deserta próxima as ruínas gregas. Não entendeu o porquê de só ela ter sido convidada a descer, mas acatou. Tatsume havia lhe informado de que o senhor Hyoga a estaria esperando no local.

Não havia o que temer, afinal ela poderia sair voando dali se quisesse, pensou rindo sozinha da situação. O fato é que estava triste, provavelmente havia sido eliminada da seleção ou coisa do tipo. "Bem, pelo menos eu vou conhecer as ruínas gregas, já que estou aqui né..."

– Olá, seja bem vinda ao Santuário de Atena! - disse uma voz rouca tirando-a de seus devaneios.

Era o mesmo rapaz loiro do auditório que lhe dava as boas vindas. Jim ficou parada por um momento observando o ser sorridente que estava a sua frente. Era alto, tinha lindos olhos azuis com longos cílios. Parecia ter uns 20 anos, usava uma camiseta azul a ataduras da mesma cor nos braços.

– É você que é o Hyoga? - disse por fim.

– Isso mesmo. Vou levá-la para a área de recrutamento de aprendizes. Quer que eu leve a sua mochila, parece pesada... - perguntou o jovem com educação.

Ela entregou sem cerimônia, pois estava mesmo pesada. E foram andando em direção as ruínas. Jim quebrou o silêncio:

– Como assim recrutamento, eu não fui eliminada? Pensei que tinha sido já que me mandaram descer do navio e...

– Não, não, pelo contrario, você foi a única escolhida. Os outros foram fazer um passeio turístico por Atenas e depois voltarão para casa. - disse o rapaz mantendo o sorriso amistoso.

– Ah que legal! – animou-se Jim. - Fica longe esse tal de Santuário de Atena?

– Mais ou menos. Só temos que passar pelo portal e logo estaremos lá, Jim...

– Ei como sabe o meu nome, se eu não disse? - ela perguntou parando de andar.

– Eu vi na sua ficha. - Hyoga respondeu sorrindo mais uma vez. - Chegamos ao portal de acesso ao Santuário. Segure firme em mim, vai sentir um solavanco.

– Portal de acesso? E que lance é esse de solavanco... - foi falando enquanto segurava o braço do jovem galego.

No segundo seguinte sentiu um forte puxão e uma luz intensa ofuscou rapidamente seus olhos a forçando a fechar os olhos. Quando pode reabri-los percebeu que não estava mais na praia onde desembarcou. Estava num lugar totalmente diferente, cheio de pedras para todo lado, formando ruínas. Mas a frente havia uma enorme arena parecida com um coliseu também em ruínas. Pessoas caminhando de cá para lá vestidas como na Grécia antiga tornavam mais estranha aquela paisagem.

A súbita mudança de ambiente assustou Jim, que se sentiu atordoada num primeiro momento. Ela sentia uma estranha sensação naquele local, como se o conhecesse, era tudo muito familiar. Correu para alcançar Hyoga que já caminhava mais a frente:

– O que foi tudo isso heim? Como chegamos aqui? Que lugar é este?

– Este é o Santuário, lugar onde vivem os cavaleiros de Atena. Assusta um pouco no começo a passagem pelo portal, mas não se preocupe, é normal. Deixa eu te explicar brevemente, o santuário fica escondido aos olhos dos seres humanos comuns. Os únicos que podem entrar aqui são pessoas dotadas de certas habilidades. Para chegar aqui atravessamos um portal dimensional. Ainda continuamos na Terra, só que devidamente ocultos pela barreira formada pelo cosmo da Deusa Atena.

– Mas como isso é possível? – Jim estava incrédula, havia ouvido uma porção de palavras loucas, cavaleiros, cosmo, deusa Atena? O que era tudo aquilo afinal?

– È perfeitamente possível, do mesmo jeito que você pode mover objetos com a sua mente... - disse o loiro olhando profundamente para ela. –Como eu dizia, você foi recrutada para o programa de internos do Santuário. Primeiramente, vamos avaliar seu cosmo e suas possíveis habilidades. Depois você será mandada para a amazona responsável pelo treinamento dos internos do primeiro ano. Ela vai te explicar tudo com mais detalhes. Seu nome é Shina de Cobra, guarde esse nome, Jim.

– Você viu! – espantou-se a jovem arregalando os olhos. - Eu não queria fazer aquilo, ou melhor, não sei como aquilo rolou, e...

– Não se preocupe, aqui você será treinada e poderá usar seus poderes na frente de outras pessoas sem problemas. – interrompeu Hyoga com tranquilidade. – O seu dom é muito especial, tenho certeza que será uma poderosa amazona protetora da Terra. Sua cosmo energia é muito evidente, eu pude sentir desde o primeiro dia.

– Quer dizer que você é como eu? Pode fazer aquelas coisas também.

– Na verdade as minhas habilidades são bem diferentes, mas o princípio é o mesmo. – respondeu Hyoga à perplexa Jim. - Está vendo aquela fila de jovens? Vá até lá e espere pelo avaliador de internos.

Hyoga lhe entregou a mochila e se despediu lhe desejando boa sorte.

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A fila tinha umas 30 pessoas, entre homens e mulheres. Todas na mesma situação que ela. Haviam recebido o e-mail, tomado o navio e sido levados para lá para serem avaliadas. Jim logo ficou impaciente. As informações ainda sambavam em sua mente, e a curiosidade estava a mil.

Finalmente encontraria explicação para o surgimento daquela coisa que a fazia mover coisas com a mente. Já estava mais animada, pelo menos não era uma mutante ou um ser de outro planeta. Amimava-lhe também o fato de existirem pessoas como ela. Sentia-se segura naquele lugar, sentia coisas boas vindo daquela terra, daquelas ruínas, daquelas pessoas. A região como um todo, era meio mágica e ela sentia isso de uma maneira intensa e misteriosa.

Colocou a mochila no chão e se sentou imitando os outros que aguardavam no gramado. Ao seu lado estava uma garota que aparentava ter sua idade. Estava sentada em cima da mochila rosa com as pernas cruzadas. Parecia bastante impaciente. Mexia nos exóticos cabelos cor de rosa a todo instante. Era muito bonita. A pinta abaixo do olho esquerdo lhe dava um ar de patricinha. Além de bonita era delicada também. A pele muito branca contrastava com seu vestido florido escuro.

– Ai, essa poeira desse lugar vai destruir os meus cabelos, affe!. - reclamou a jovem de cabelo rosado entortando o nariz.

– Pois é, esse lugar é meio rústico, né? E essa tal de Shina de Cobra, como será que ela é?

- Não sei e nem quero saber, aliás nem sei por que estou aqui, já que fui recrutada pelo meu mestre no meu país há uma semana. Mas eles resolveram que eu devia falar com essa Shina do mesmo jeito. Espero que o meu mestre me tire daqui logo.

– Quem é o seu mestre?

– É o cavaleiro de ouro de Peixes, Afrodite, o mais belo entre todos os seres humanos. Ele mesmo me recrutou para ser sua discípula. Só que não me deixaram passar pelas 12 casas sem ser avaliada pela responsável dos internos, Shina de Cobra. Que atraso!

– Hum... – fez Jim respondeu calmamente. Ficou com vontade de rir quando ela falou "o mais belo entre todos os seres humanos", mas se conteve. O jeito de falar daquela jovem era elegante, ao mesmo tempo engraçado. – De onde você é? E como se chama? – perguntou.

– Me chamo Lucy e vim da Suíça.

– Prazer Lucy, meu nome é Jim e sou do Brasil.

– Igualmente.

A amazona Shina de Cobra apareceu acompanhada de 2 cavaleiros. Ela andou em direção aos presentes que a aguardavam e fez sinal com a mão para que se levantassem. Começou a falar com tom de voz firme:

– Muito bem internos, como podem ver, vocês estão no Santuário da Deusa Atena. Eu sou a amazona responsável pelos internos do primeiro ano, me chamo Shina de Cobra. Primeiramente devo informá-los que vocês aqui são SÓ internos, não tem direito a nada, são a ralé, a base da cadeia alimentar. Devem obediência cega a mim e a todos os outros cavaleiros que por sinal são superiores a vocês. Até um soldado raso tem mais moral do que vocês. Só serão alguma coisa quando ganharem suas respectivas armaduras, isto é, se não morrerem durante o primeiro ano ou na primeira semana de treinamento. Aqui vocês aprenderão a lutar e a controlar os seus cosmos para proteger a Terra das forças do mal. Eu e os outros cavaleiros passaremos as instruções básicas durante esse primeiro ano. Após esse período, vocês serão encaminhados para um mestre individual, mas isso só com o meu aval e o de Marin, a líder das amazonas do Santuário.

A fala da amazona deixou Jim bastante preocupada. Pelo visto a vida não seria nada fácil ali. A mulher falava como se quisesse intimidar meio mundo. Após as primeiras instruções o grupo se dirigiu ao alojamento dos internos, acompanhados por um soldado que se disse subordinado a Shina. O homem mandou que deixassem a bagagem no alojamento e se dirigissem para a arena de treinamentos em meia hora, para serem avaliados numa luta.

A arena era enorme. Era como um anfiteatro antigo e muito destruído, mas ainda conservava os lugares endereçados a platéia. O lugar estava lotado. Nas primeiras filas soldados gesticulando e falando alto uns com os outros. Mais afastado, havia um pequeno grupo de cavaleiros, 12 que só observavam de longe. Atrás desses estavam 2 pessoas, um homem alto, vestido num manto branco e elmo dourado. Ao seu lado estava uma jovem de longos lilases. Ela olhava com curiosidade para o pequeno grupo que entrava na arena e era apresentado pela amazona de Cobra como sendo os novos internos do santuário.

– Bem, agora vamos testar o cosmo de vocês. – começou Shina. - Vamos ver do que vocês são capazes. Venha escolher seu oponente, Ichi de Hydra.

O cavaleiro de cabelos prateados entrou na arena. Era muito feio e mal encarado. Os espectadores começaram a fazer barulho nesse momento.

– Eu escolho o ruivo da esquerda mestra Shina. - e apontou para o homem corpulento que se encontrava na ponta esquerda da fila.

– Péssima escolha cavaleiro, eu sou faixa preta em karatê. – disse o ruivo e logo se pôs na frente do cavaleiro de Hydra em posição de luta.

– Dê o seu melhor, interno. - foi o que o cavaleiro disse, enquanto Shina olhava tudo com um sorriso maligno no rosto.

Logo o cavaleiro elevou o seu cosmo e começou a se mover na frente do homem. Os movimentos eram rápidos, suas mãos subiam e desciam como se fossem uma serpente prestes a atacar sua presa. Jim teve um arrepio vendo esta cena. Teve medo pela primeira vez desde que chegou aquele lugar, e principalmente, temeu pelo interno ruivo que parecia não notar o perigo iminente.

Foi quando sentiu que era observada. Alguns dentre os 12 que estavam nas arquibancadas superiores a encaravam. Um deles tinha os cabelos lilases, ao seu lado estava outro da mesma altura só que loiro vestindo algo parecido com um traze de monge budista. Ainda havia um homem de longos cabelos ruivos. Perto dele estava um homem forte de cabelos loiros que segurava o queixo. Este cochichou algo no ouvido do ruivo que respondeu sem mudar a expressão.

Voltou-se para a luta quando sentiu uma forte sensação de perigo. Nesse momento, o cavaleiro de Hydra saltou sobre o interno sem dar chance de defesa. Garras saíram de suas luvas e cravaram-se no pescoço do pobre homem que gritou e caiu no chão se contorcendo de dor. A luta não tinha durado nem dois minutos. Seu queixo caiu. Então era aquilo que esperava por ela naquele santuário? Logo seu coração começou a bater como louco e sentiu uma vontade animal de fugir da arena.

– Esse vai dar trabalho para aprender alguma coisa, mas pelo menos teve coragem, momentânea, mas teve coragem. - disse Shina enquanto chamava soldados para levarem o rapaz para ser tratado antes que morresse com o veneno do Hydra. – Escolha seu próximo oponente Hydra. E desta vez, seja mais rápido, eu não tenho o dia todo.

– Eu escolho a mocinha de cabelo escuro que está no meio Shina. Venha enfrentar Ichi de Hydra, prometo ser cuidadoso com você, queridinha.

Jim caminhou quase sem sentir o chão sob seus pés, tamanho o medo que sentia. Parou na frente do cavaleiro e respirou fundo. "Acho que chegou a minha hora", pensou. Foi quando sentiu de novo os olhares da comuna do alto. Agora todos os 12 olhavam para ela fixamente, como se esperasse uma reação dela, mas qual? O que ela podia fazer além de sair correndo e gritando por São Jorge? O homem de túnica branca e a jovem com o báculo também a olhavam. "Todo mundo super interessado em ver a minha humilhação, que ótimo", pensou e bufou em seguida.

Hydra começou a se mover novamente como uma serpente. Deu um passo em direção a ela que deu 2 para trás com medo. Tropeçou numa pedra e caiu sentada no chão. Sentiu tanto medo que cobriu o rosto com as mãos, já sabendo que também seria golpeada. De repente, silêncio generalizado.

Jim abriu os olhos e viu o punho do cavaleiro parado a poucos centímetros do seu rosto. Afastou as mãos da cabeça e ficou olhando assustada para a cena, parecia que o cavaleiro não conseguia avançar mais do que aquilo. Colocou as mãos no chão para se levantar quando outro fato inesperado aconteceu. Ichi voou vários metros como se tivesse sido atropelado por uma jamanta. Caiu no meio dos soldados na arquibancada.

Todos na arena ficaram assombrados.

####

Minutos depois, nos vestiários da arena...

– Eu estou encrencada? – perguntou Jim mais uma vez ao homem de cabelos lilases e pintas nos lugares das sobrancelhas que estava sentado na sua frente.

– Não, não está. Como eu disse para você, não há o que temer. Aquilo aconteceu por conta da telecinese que você possui. E por sinal, muito poderosa. Foi você que fez aquilo, mesmo sem querer. Você apenas se defendeu. Ficou com medo e seu cosmo reagiu, apenas isso. – disse o homem com muita tranquilidade.

– Hum... O tal Ichi está bem?

– Ah, não se preocupe com ele. É um cavaleiro de bronze, já está acostumado. – Mu respondeu lhe dando um sorriso simpático. - Você não fez nada de errado. Telecinese sem treinamento é assim mesmo, mas você pega rápido o jeito. Parece ser incontrolável, mas não é, só precisa de treinamento adequado.

Mu e Jim tiveram longa conversa depois do incidente na arena. Ele explicou sobre seu poder, a telecinese. Sobre o cosmo, sobre os cavaleiros de Atena, os cavaleiros de bronze, de prata e de outro, sobre a deusa que reencarnou no corpo de Saori Kido, sobre o santuário e as inúmeras batalhas que já tinham travado protegendo a Terra. Jim escutou tudo atentamente, sentiu interesse logo de cara por aquele universo de deuses e guerras mitológicas. Era tudo fascinante.

No fundo da sala estavam o grande mestre Shion e Shina debatendo acaloradamente:

– Isso é um absurdo, Grande Mestre Shion! Só porque essa menina manifestou por acaso um cosmo poderoso tem que receber tratamento especial? Já basta a queridinha de Afrodite, que mal chegou e já está recebendo regalias!

– Shina, você sabe muito bem que Atena incentivou os cavaleiros de ouro a procurarem discípulos. Você quer mesmo desobedecer às ordens de Atena amazona?

– Não é isso Grande Mestre. Eu só acho que é muito cedo para essas meninas viverem nas 12 casas. E também tem o fato que é injusto para com os outros internos que não terão tratamento diferenciado.

– Veja bem Shina – disse o grande mestre colocando a mão no ombro da amazona e conduzindo ela para onde estavam Mu e Jim. - Não é que elas estejam recebendo tratamento especial. O fato é que elas são diferentes dos outros internos, realmente. Afrodite se afeiçoou a jovem Lucy e Jim precisa de treinamento urgente para sua telecinese atualmente perigosa, coisa que ela não terá na vila das amazonas.

– Se me permitir, mestre Shion, eu posso ministrar o treinamento para Jim. Kiki ficará feliz em ter uma companheira de aulas. – prontificou-se Mú.

– Ainda acho que é cedo para tomar estas decisões. Ambas ainda têm muito que aprender antes de receber o treinamento de um cavaleiro de ouro. – dito isso, Shina fuzilou Jim com o olhar.

– Vamos levar o caso até Atena. Afrodite já fez muito estardalhaço por conta de sua pupila não ter que passar pela avaliação. O que Atena decidir está decidido. E isso vale para as duas.

Foi a solução encontrada pelo Grande Mestre Shion.

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E no templo de Atena...

– Isso é um absurdo, Atena! A minha discípula não deve se misturar com esses internos horríveis. Ela é muito superior a eles, e é linda como eu. É especial e muito poderosa, se querem saber. Ela deve ficar comigo na minha casa onde será devidamente treianda por mim. – esbravejou Afrodite na frente de Atena que segurava o seu báculo como uma terrível expressão de tédio.

– Acalme-se Afrodite. – disse Atena. - Ninguém disse que ela não ficaria no seu templo. Apenas foi determinado que ela conhecesse os outros internos, para socializar, fazer amizade...

– Eu estou de total acordo que a discípula de Afrodite fique nas 12 casas e me ofereço para treiná-la quando o Peixes estiver fora em missão. – disse Mascara da Morte ajoelhado logo atrás de Afrodite. – Já que não me foi permitido ter discípulos, fico feliz em ajudar no treinamento dos alunos dos meus companheiros.

– Não lhe foi permitido, Mascara, por motivos óbvios. Do jeito que você é, acabaria torturando o coitado em menos de uma semana. – disse Afrodite para o cavaleiro de Câncer.

- Em fim, fico feliz que esteja disposto a ajudar no treinamento dos internos. – disse Atena antes de Máscara responder a alfinetada do companheiro.

Nesse momento entram Shion, Shina, Mu e Jim, vindos da arena. Atena se levanta de seu trono com um largo sorriso quando vê Shion se aproximando.

– Vejo que já se ocupa das reivindicações de Afrodite, minha deusa. – disse Shion se posicionando ao lado de Atena.

– Não vejo problemas em Lucy ficar com Afrodite na décima segunda casa. Ele parece ter se identificado muito com ela...

– Se a senhora assim decide, também não vejo problemas. Pode ir buscar a sua interna Afrodite.

Depois que Shion disse isso, Afrodite fez uma reverência para Atena e o grande mestre e deixou a sala sendo seguido por Mascara. Câncer ainda olhou Jim de cima a baixo quando passou por ela. Mu não gostou nada do olhar do cavaleiro em cima da jovem e encarou Mascara até ele sumir pelas escadas.

Shina nesse momento pensou que a patricinha estava no lugar certo afinal. Junto de Afrodite, que parecia sua versão masculina. Voltou-se para Atena e Shion dizendo:

– Atena, esta é a jovem que derrubou o cavaleiro de Hydra na arena. Seu nome é Jim. Apresente-se para a deusa menina! - disse Shina empurrando Jim com o cotovelo "com toda a delicadeza".

Atena a recebeu de braços abertos.

– Você foi uma surpresa sabia? - disse Atena se levantando e abraçando Jim com carinho. – Seja bem vinda a meu santuário.

– Obrigada... Atena. Eu não tive intenção de fazer aquilo sabe... - disse a jovem totalmente sem jeito depois da demonstração de carinho vinda da deusa.

– Atena, depois do ocorrido, acho que Jim deveria receber treinamento de um cavaleiro de ouro. Está claro que sua telecinese é muito poderosa. Ela pode ter problemas se ficar na vila das amazonas sem o treinamento devido. - disse Mu se curvando perante a deusa.

– Mu está certo minha deusa. Eu lembro o trabalho que Mu me deu quando era pequeno e não sabia controlar a sua telecinese. – argumentou Shion. – A jovem Jim deve receber treinamento para controlar sua telecinese o quanto antes, ou pode ficar perigo para as pessoas que estão a sua volta e até para ela mesma.

– Eu posso imaginar mestre Shion, eu posso imaginar. - disse a deusa disfarçando sua preocupação.

– Eu sugiro que para o bem de todos, Jim seja treinada na casa de Áries com o Mú. – determinou Shion.

– Mas e o Kiki? – se intrometeu Shina. - Mú já tem um discípulo no momento. Kiki precisa de dedicação exclusiva, até por que ninguém aturaria aquela peste solta pelo Santuário sem mestre olhando. Sob a supervisão do Mú ele já apronta, imagina sem!

– Não fale assim do menino Shina. Ele é levado às vezes, mas é um bom garoto. - disse Mú com toda educação.

– Shina tem razão Mu. – disse Atena. - O Kiki vale por um time de discípulos. Ele deixa as servas do meu templo possessas de raiva quando vem aqui. Ele precisa mais de você do que a Jim. – voltou-se para o patriarca e perguntou: - Quem além do Mu, quem pode ensinar telecinese mestre Shion?

– Bom, senhorita, tem o...

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– Eu minha deusa? Tem certeza que deseja que eu tenha uma discípula? Não seria melhor ela ficar na vila das amazonas...

– Não Shaka, não seria, ou você acha que não é capaz de treinar uma discípula?

– É claro que sou capaz! Mas acho que ela não se adaptaria a rotina e...

– Pois está decidido. Jim se muda para a sua casa hoje mesmo. Mais alguma pergunta cavaleiro?

– Não minha deusa. - disse o resignado cavaleiro de Virgem.

– Ótimo! Vou mandar chamar sua interna. – Atena se levantou de seu trono batendo animadas palminhas.

Atendendo o pedido da deusa, soldados trouxeram a nova pupila de Shaka para a sala do mestre.

– Mandou me chamar, senhora? - disse Jim ao parar em frente a deusa.

– Sim querida. Este é o seu mestre, Shaka de Virgem. Você vai receber o treinamento diretamente dele. Agora podem ir, no caminho vocês vão se conhecendo melhor.

Foi muito estranha a apresentação de seu mestre. Jim o achou mais parecido com um monge do que com um cavaleiro. O homem tinha uma expressão serena e os olhos fechados. Ela o reconheceu como um dos expectadores da arena. Ele estava junto de Mu na parte alta. O ariano era bem mais receptivo. Seu mestre apenas disse: "venha comigo" e saíram do templo de Atena.

Depois que os dois saíram de seu templo, Atena se jogou no em seu trono exausta. Mas estava satisfeita. Sim, tudo havia sido idéia dela. A invenção do programa de internato no santuário para novos guerreiros e os e-mails para pessoas determinadas nos quatro cantos do mundo.

O Santuário precisava de novos defensores. As guerras depenaram o exercito de Atena. Muitos guerreiros também desertaram com medo de morrer nas batalhas contra os deuses. O Santuário precisava de cavaleiros de prata e de bronze, e também de amazonas, principalmente de amazonas.

As únicas restantes no santuário eram Shina, Marin, Gisty e June. Todas ocupando cargos importantes. Eram mulheres muito dedicadas, mas minoria. E era desejo de Atena que a força feminina crescesse na sua tropa de elite. Sua fundação havia mandando os e-mails para homens também, mas tinha preferência no crescimento do número de amazonas. O motivo principal disso era a solidão de seus amados cavaleiros.

Atena sabia que não era nada fácil servi-la. Os treinos exaustivos, as guerras contra os deuses, principalmente a última quando os cavaleiros de ouro morreram e tiveram suas almas aprisionadas naquela horrível pedra amaldiçoada; haviam deixado marcas profundas nos corações daqueles bravos guerreiros.

Atena sabia disso. Com muito custo conseguiu libertar os cavaleiros de ouro da prisão imposta pelos deuses. Ressuscitou todos eles para que pudessem gozar de uma vida normal, agora que estavam finalmente em paz. E isso ela faria de tudo para proporcionar aos seus amados cavaleiros. Queria que fossem felizes e que encontrassem o amor verdadeiro. Por que não?

Os cavaleiros de ouro apesar de belos eram reclusos, eram poucos os que gostavam de sair do santuário a procura de diversão além do portal dimensional. É claro que ela sabia da existência do grupo dos baladeiros, mas fazia vista grossa. Desde que fosse com responsabilidade, é claro, podiam se divertir.

Eles passaram a vida treinando e lutando pela Terra, mereciam alguma distração de vez em quando. Sabia também da farra que alguns cavaleiros faziam com as servas do santuário e isso não lhe agradava. Não queria que seu reino fosse conhecido como o reino da libertinagem frente aos outros deuses. "Eles pensam que eu não sei o que se passa dentro destes muros", pensou a deusa enrolando uma mecha de cabelo lilás. "Não sou tão ingênua quanto pareço."

Naquele dia, particularmente, julgava ter feito uma boa escolha. Tinha um pressentimento que Shaka se daria muito bem com Jim. Dentre todos os 12, o cavaleiro de Virgem era o mais fechado. Shaka passava os dias meditando, mesmo não estando sob ameaça de guerra.

Ela se preocupava com ele. Não queria que ele ficasse a vida toda sozinho.

– Jim é linda, tenho certeza que o Shaka vai perceber isso mais cedo ou mais tarde. – disse Atena para si mesma.

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Casa de Virgem...

Um servo havia trazido a mochila da pupila de Shaka do alojamento dos internos para o sexto templo. Antes Shaka já havia mostrado o quarto a Jim:

– Este é seu quarto, se acomode como achar melhor. - foram as únicas palavras ditas por ele.

Logo depois ele saiu do quarto afim de retomar suas meditações. Jim também não falou nada depois que saíram do templo de Atena. Estava exausta. Tudo o que ela queria era tomar um banho e dormir. Achou bom o seu quarto ter suíte. Sentou-se na cama de solteiro e se pôs a observar o ambiente.

Era um quarto relativamente grande. Nas paredes haviam desenhos budistas, um tapete com a imagem do Buda pintado cobria o chão, havia uma janela, um grande armário de madeira e um abajur em cima de um criado mudo. Era tudo muito simples, mas limpo.

Por toda a casa, ela sentiu um forte cheiro de incenso. E haviam imagens douradas do Buda por toda parte. Exausta, deitou na cama e segundos depois estava dormindo profundamente.

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A noite, Mú apareceu na casa de Virgem para conversar e tomar chá com o dono.

– Atena é tão mandona às vezes Mu...

– Não reclama Shaka. Eu conversei com sua discípula nos vestiários da arena de treinamento. Ela é uma moça inteligente, sabe se expressar e é linda também. Você não achou?

– É? Nem percebi. Não queria treinar um discípulo agora, e ainda mais uma 'interna'. Nunca treinei uma garota antes. Acho que não vai dar certo.

– Por que diz isso Shaka? Está com medo dela?

– Não Mu de Áries, eu só achei ela estranha. Não consegui ouvir seus pensamentos...

– Eu também não. Mas não deve ser nada de mais.

– E ainda parece tão preguiçosa... – reclamou Shaka. - Ela não faz idéia do privilégio que é ser treinada por mim, o homem mais próximo de Deus...

– Sei. Vou voltar para a minha casa Shaka. Kiki está lá sozinho e ainda tenho armaduras para consertar. Depois nos falamos.