A camionete seguia trepidando no chão batido, avançando um mar de plantações à se perder de vista. Algumas delas tinham muitas cabeças de gado. Nenhum outro veículo. Ou casa. Ou pessoas. Era somente ela, o motorista e a vaga lembrança da vida agitada de Nova York. Era seu inferno particular.
ANTES
Nada podia esperar. O tempo ditava as regras para alguém como eu. A distância, em segundos, determinava o over do new. Tudo é questão de estética, aprovação e deslumbramento. É isso que vende, simples assim.
O típico suor nas mãos era o que mais irritava. A tomada de decisão era crucial, pois, determinava o conteúdo e refletia diretamente na repercussão positiva. Algumas vezes, admito, eu falhava miseravelmente na tarefa. Mas sempre haveria outro dia, outro momento. Outra foto.
Mas isso me destruía; um passo em falso poderia arruinar tudo o que eu tinha conquistado até então (e não precisar mais da mesada da Senhora Evans era o prêmio maior). Acompanhar outras garotas desse mundo é inevitável, e por vezes me fazia sentir um lixo humano. Pelo menos até outra postagem de sucesso.
Ninguém acompanha uma instagrammer que não tenha todo dia (até mais vezes por dia), alguma novidade. Uma rotina invejável e impossível, tudo com bastante elegância e eloquência, seguindo o padrão que você escolheu como vitrine para o produto.
Atualmente, com o peito estufado de orgulho, eu ostento um contrato fixo com duas marcas medianas do mercado: uma de maquiagens e outra de roupas de academia. Vez ou outra, surgem convites para publi de marcas realmente conhecidas nacionalmente. O que me faz dar pulos de alegria e ainda rechear a carteira.
Aos 24 anos eu poderia dizer que estava realizada. Terminei há um ano e meio a faculdade de Design (que nunca cheguei a exercer), e na mesma época já engatinhava nessa profissão ainda tão desconhecida e cheia de preconceito, mas com enorme capital de giro.
Claro, tudo começa com A foto. Aquela que você tira despretensiosamente, em um dia que seu cabelo estava de bom humor e o sol estava mais laranja que o normal. Aquela em que os lábios estavam mais rosados e a pele de seda. Aquela que você estava usando o colar de 15 anos da sua avó, de esmeraldas, sem perceber...
E, então, ela sai fora da curva. No primeiro momento você estranha o intervalo mínimo dos likes. Depois, se apavora com a quantidade de comentários (até mesmo daquela vizinha que sempre torceu o nariz). Posteriormente, em menos de 24 horas, você encara aquela pacata foto com algumas centenas de curtidas e nem ao menos se reconhece.
Mas, o mais impressionante é de onde elas vem: das pessoas de sempre, daquelas que você achou que nem ao menos te seguiam e de novos seguidores. Sim, novos seguidores.
O resto é história.
E gastos com roupas. Com acessórios. Com sapatos. Com um celular novo. Com a matrícula da droga da academia. Com as comidas nojentas daquela dieta da moda.
Querendo ou não, é um estilo de vida estressante, sempre sentindo-se pressionada em inovar, passar positividade, alegria, disposição e entretenimento. As pessoas não querem ver a sua vida como a delas. Elas querem algo que as inspirem e as façam sonhar com um mundo totalmente fora da realidade... E quando elas acham que podem, acabam por comprar aquele relógio da fotografia pela bagatela de quinhentos dólares.
E é exatamente esse o meu dom.
N/a: Olá! Então, ocorreu um surto meu essa madrugada e eu tive que postar para ver se a ideia é tão absurda assim, hehe. Espero que gostem... Até porque a insegurança vem depois de cinco anos sem escrever (eeita!).
Só queria esclarecer o porquê da história se passar nos EUA: maior precisão em escrever sobre a fazenda que vai se passar a maior parte do enredo. A Dakota do Norte é um estado agrícola muito famoso e que possui fazendas de maiores áreas do que no Reino Unido.
