"I was praying
That you and me
Might end up together
It's like wishing for rain
As I stand in the desert"
Os cabelos castanhos balançavam a medida do vento, deixando-os ainda mais bagunçados. De sua boca entreaberta saia fumaça, seu olhar era perdido em qualquer ponto a sua frente. O fiel amante, cigarro, sempre preso entre as pontas de seus dedos. Era um péssimo hábito, admito, mas o deixava tão sedutor. Mais sedutor do que era, corrigindo.
Quando seu olhar saiu da inércia e perseguiu toda extensão do ambiente, encontrou o meu quase instantaneamente. Seus olhos brilhavam e seus lábios foram tomados por um sorriso aberto. O sorriso que fazia meu dia valer a pena.
- Little Damphir.
Pude sentir seu hálito de nicotina misturado com menta. Sorri em resposta. Suas mãos cálidas tomaram a lateral de meu rosto e seus lábios logo pousaram sobre minha testa e demorou ali uns segundos.
- Não deixarei que vá passar as férias com Lissa novamente tão cedo. – Brincou fazendo um bico manhoso – Ninguém me protege como você, Rose.
- Não seja mimado, Adrian. Há a sua disposição guardiões tão capacitados ou mais capacitados que eu.
- Nunca, minha pequena.
Com suas palavras me perdi e não duvido que minha cara fosse de uma boba apaixonada. Mas antes de qualquer ato constrangedor a mais de minha parte, alguém pigarreou atrás de nós.
- Olá Christian! Prima! – Cumprimentou os dois devidamente e acenou com a cabeça para os guardiões ali presentes, demorando seu olhar em Dimitri, dando um sorriso inexplicável.
"Apesar de não sentir suas emoções, sua ansiedade e felicidade em vê-lo são notórias, Rose. Pode disfarçar melhor."
A voz de Lissa ecoou em minha cabeça, e tão rápido que assimilei suas palavras, desviei meu olhar.
Minha melhor amiga, Vasilisa Dragomir, vulgo eu (e muitos outros) Lissa tem para comigo uma ligação muito especial, que vai além da compreensão humana. O que no nosso mundo muita coisa é assim. Um laço causado pelo seu raro poder, o espírito. Uma via única de como saber e sentir seus sentimentos e partilhar das imagens por seu ponto de vista, e em troca disso ela devolveu-me a vida.
Em todos os anos estudando na Academia fui treinada e preparada para ser guardiã oficial da princesa Vasilia. O que não veio ocorrer por uma série de fatos indesejáveis, como ser muito impulsiva, como ser frágil ao relacionar-me ao meu futuro parceiro de profissão, Dimitri Belikov, comprometendo a segurança de minha moroi.
Uma época difícil e por mais que Lissa insistisse, não teve volta, levando meu cargo de sua guardiã e meu romance com Dimitri à zero. Desolada e sem perspectiva fiquei, todavia, há sempre uma luz no fim do túnel.
Adrian esteve lá para mim, estendeu-me sua mão e acolheu essa criança perdida no deserto. Apesar de toda sua fama, era uma pessoa maravilhosa e responsável – ao seu modo. Meu protegido e eu desenvolvemos um relacionamento muito saudável, o que ele não sabia é que esse coração surrado se apaixonou novamente e por ele.
Para mim Adrian vai além de um amigo, é minha base, o rumo da minha vida.
Eu havia saído por duas semanas de férias com Lissa e Christian, seu namorado. Além de tudo, Adrian foi uma ponte de ligação minha com ela depois de tudo, nos vemos sempre que possível. Na viagem obrigatoriamente passei um tempo com Dimitri e por mais que tivesse certa tensão sobre nós, foi gratificante.
No final das contas, o guardião Belikov sempre seria uma parte importante da minha vida e não havia o porquê de alimentar mágoas, meu amor por Adrian havia me curado.
Depois de voltar a minha moradia, deitei sobre a cama e peguei no sono um momento depois, ficar fora das proteções me causava uma séria dor de cabeça.
Não sei por quanto tempo dormi, mas acordei já anoitecendo com as batidas insistentes na porta. Levantei-me já irritada com aquele som.
- Já vai! – Eu disse com a voz um pouco fina, alta e irritada do que o normal.
- Quando mau humor, Rose.
Fiquei repentinamente surpresa.
- Mãe! – Dei espaço para ela entrar – O que faz aqui?
- Eu vou bem, Rose, obrigada por perguntar.
- Desculpe-me pelos modos, é que acabei de acordar, a viagem foi cansativa.
- Imagino. – umedeceu os lábios – Só passei para ver como estava.
- Estou bem mãe. – Sorri.
- Já que certifiquei isso, vou indo. – Virou-se a caminho da porta e de repente parou – Adrian pediu que eu a lembrasse que vocês têm um jantar a noite, ele na verdade, um baile da corte.
- É verdade, havia me esquecido.
Minha mãe não prolongou sua visita, despediu-se de mim com um abraço desajeitado e rumou de volta ao trabalho enquanto eu tentava arrumar uma roupa de ultima hora. Como era sozinha, meu dinheiro servia para umas futilidades, sempre tendo peças novas para meu vestuário.
Ainda estava no meu período de recesso e Adrian havia me convidado, não estava indo como sua guardiã. Meia hora depois estava pronta e assim que terminei de me arrumar soou novamente as batidas na porta.
Meu acompanhante havia chegado, cumprimentou-me como um verdadeiro cavalheiro. Tomou-me pela mão depois de beijá-la e seguimos corredor a fora. Apreciei sua presencia no silêncio e observando a beleza da corte.
Os bailes são sempre tão elaborados e elegantes que me dava uma insegurança entrar ali, não fui criada de modos reais como a maioria dos morois presentes. Assim que entramos os olhares caíram sobre nós, me fazendo ficar rígida. Ele apertou minha mãe e deu um sorriso de lado.
Concentrando-me em achar Lissa ali, evitei encontrar olhares curiosos e até de certo modo, maldosos. Reconheci sua cabeleira loura pouco tempo depois e acenei discretamente, chamando sua atenção.
Ficamos um tempo conversando, principalmente Christian, que estava muito mais falante que o normal. Dimitri estava na parte do fundo do salão com sua roupa de guardião, assim que percebi seu olhar sobre mim, acenei para ele que respondeu igualmente.
Adrian saiu para dançar com sua mãe, Daniela. E Christian foi ao encontro de sua tia Natasha, restando apenas nós duas. Fiquei de longe observando o modo gracioso como Adrian se movia na dança.
- Por que não fala com ele? – Ela perguntou acompanhando meu olhar – Não acha que já chega de pensar em amores impossíveis e agir?
- Ele é meu moroi, Lissa. Ficaria mal visto para nós e sem contar que ele é noivo de Mia. – Respondi sem entusiasmo.
- A qual não ama. – Acrescentou revirando os olhos, como se fosse eu a absurda da história.
Nossa conversa teve fim quando ele voltou juntamente com sua mãe, esta fez um breve referencia diante de Lissa e me cumprimentando um sorriso singelo. Trocamos breves palavras e logo se foi, levando minha companhia e deixando a dela.
Adrian logo ergueu suas mãos a minha frente, fazendo um convite mudo. Segurei em sua mão sem protestar. Seguimos para uma parte de fora do salão, um jardim que tinha próximo. Ainda se podia ouvir a musica.
- Concede-me esta dança, querida Damphir?
Sorri , nos ajeitamos na posição e começamos a dançar. Não tinha habilidades para isso então deixei que, com toda sua desenvoltura, me guiasse. Logo notei que parecíamos loucos dançando cercados de rosas e parei com os movimentos.
Ele me olhou confuso e divertido, e quando desmanchamos as feições foi percebemos o quão perto estávamos. Suas mãos estavam na lateral da minha silhueta e as minhas envolviam seu pescoço.
Meu olhar se perdeu num caminho de ida e volta constante entre seus lábios e seus olhos, e com uma coragem motivada pelo momento, inclinei minha cabeça fazendo com que nossas testas ficassem coladas. Nossos narizes se acariciavam e seu hálito quente estava me levando a delírio.
- Rose...
De uma forma suave seus lábios sopraram meu nome e com esse movimento nossos lábios se esbarraram pela proximidade. Vi o desejo consumir seu olhar. Fechei os olhos esperando seu contato que não veio.
Senti forçar sua testa mais a minha e soltar um longo e pesado suspiro.
- Me desculpe Rose. – Nos afastou com pesar – Temos que ir.
