Título da Fic: Mausoléu.

Banda: the GazettE, Miyavi, Alice Nine (a princípio apenas o Nao).

Casais: Reita x Ruki; Aoi x Uruha; Miyavi x Kai x Nao.

Classificação: Slash/ Universo Alternativo/ Vampiros/ Lemon.

Capítulo: 1?

Autora: Aiko Hosokawa

Beta: Yume Vy

Resumo: Uma inesperada novidade surgi no destino de Ruki, que arrasta seus amigos Kai e Uruha consigo, no entanto estão todos prestes a terem suas vidas transformadas de um modo muito mais profundo do que imaginavam...


Mausoléu

Aiko Hosokawa

Capítulo 01 – Herança.

Londres. Inglaterra. – 03:23 A.M.

Um denso manto de nuvens cinza-escuro encobria o céu noturno, derramando por sobre à terra finas, geladas e constantes gotas de água. A maioria das pessoas estava em suas casas aquecidas, protegidas do frio cortante da madrugada, no entanto, havia exceções.

Uma delas era um jovem coberto por pesada capa de chuva preta e que mantinha a cabeça protegida por um capuz que ocultava sua face. Seus passos eram letárgicos e incertos e, freqüentemente, tropeçava nas próprias pernas, sendo assim obrigado a se segurar à parede ou poste mais próximos para evitar sua queda. A consciência do rapaz estava completamente turvada pela grande quantidade de álcool que havia em seu sangue, se encontrava tão grogue que nem ao menos notara que estava em rota de colisão com outro ser, também oculto por uma capa negra.

"Eiiii... Vê seeee... Olha porrr... Onde anda, idiota!". Praguejou o bêbado, com certa dificuldade, afastando-se do outro e erguendo o olhar para encarar a face da pessoa em quem trombara.

De cima a baixo o jovem homem estremeceu, sentindo um frio cortante atravessar seu corpo. A face diante de si possuía uma brancura inumana, mais parecia uma máscara de porcelana sem vida com alguns fios de cabelo negro a lhe adornar, vindos debaixo do capuz, no entanto, o mais atemorizante era os orbes tingidos com o mais puro escarlate que brilhavam predatoriamente.

"Sangue... Você cheira a sangue...". A voz da criatura soou em tom macabro e sádico, enquanto seus lábios se curvavam em um sorriso cruel revelando seus dentes caninos, anormalmente compridos e afiados.

"Co... Como?". Indagou perturbado o homem, incapaz de sair do lugar devido ao pânico que preenchia cada parte de seu ser.

"Assassino!". Afirmou a criatura, curvando-se sobre o outro, lhe envolvendo a cintura com a mão esquerda, enquanto a outra retirava, habilmente, a capa de chuva deixando-a ir ao chão, guiando seus lábios à pulsante artéria no pescoço de sua vítima mortal, que apenas gemeu em seus braços recebendo o êxtase final...

oooOOOooo

Tóquio, Japão.

À leste o sol estava quase completamente oculto tingindo a abóbada celeste com tons de dourado e alaranjado que se mesclavam, gradativamente, com o azul-claro. As ruas estavam repletas de transeuntes que iam apresados de um lado para outro, a maioria em busca do merecido descanso, em casa, depois de um longo dia de trabalho. No entanto, alguns optavam por relaxar um pouco com os amigos bebendo algo em um bar.

Esse era o destino de um jovem de, aproximadamente, um metro e setenta de altura, trajado com um elegante terno preto, aberto, revelando a camisa de um branco impecável e a gravata, também negra, cor que se repetia nos sapatos e a maleta que trazia na mão direita.

O rapaz era possuidor de belas feições, rosto com contornos levemente arredondados lhe dando uma delicadeza masculina, os cabelos bonitos quase chegavam, de modo desigual, a tocar os ombros, partidos para a direita, sendo predominantemente pretos, mas a franja possuía tom chocolate que se integrava à outra cor quase na raiz e um discreto brinco esférico e prateado estava preso junto ao lóbulo da orelha esquerda.

O homem andava apressadamente, trazia na face uma expressão cansada e irritada. Em uma esquina virou à esquerda, entrando em uma rua menos movimentada, a atravessou caminhando em direção a uma porta que, logo, empurrou e entrou.

O local era um bar, uma tênue penumbra estava presente, junto ao cheiro de cigarro no ar. Passando direto por várias mesas, se encaminhou aos assentos mais afastados que ficavam longe das vistas de quem entrasse.

No local objetivado havia dois homens, ambos estavam sentados, mas se podia ver que um era bem mais baixo que o outro. O pequeno possuía cabelos loiros claríssimos, estava vestido com uma camisa preta que tinha os primeiros botões abertos revelando dois cordões dependurados em seu pescoço, era possível se notar ainda que, na orelha direita havia um alargador, uma argola presa a ele e mais quatro brincos, também argolas.

Já o outro homem possuía madeixas loiro-mel, partidas para direita, com várias mechas em tom loiro-claro, este era o mais alto e usava uma jaqueta preta, uma regata de mesma cor e calça jeans escura. Óculos de sol pendiam presos à camiseta.

"Olá!". Disse o recém chegado jogando-se no sofá em forma de 'U' que havia ao redor da mesa, deixando sua pasta sobre esta.

"Nossa, Kai! Que cara!". Falou divertido o mais alto.

"Problemas?". Inquiriu o outro.

Kai suspirou pesadamente, fechando os olhos e deixando a cabeça pender para trás.

"Meu chefe é um boçal...". Confessou esgotado.

"Até que hoje ele está sendo gentil, né Ruki?!". O jovem de jaqueta novamente falou, agora se dirigindo ao loiro ao seu lado.

"É verdade... Ele aprontou de novo?". Ruki concordou e indagou ao moreno.

Os olhos cor ébano de Kai se abriram enquanto ele levava a mão direita à gravata, afrouxando-a e desabotoando os dois primeiros botões da camisa social.

"Tô cansado de concertar as asneiras daquele lá...". Enquanto falava, o moreno terminava de desfazer o nó de sua gravata e logo a enfiou dentro de sua pasta.

"Relaxa! Hoje é sexta, podemos beber até cair!". Falou em tom alegre o de madeixas mel, pegando e erguendo levemente uma pequena garrafa de Smirnoff que estava sobre a mesa.

"Essa é sua especialidade, Uruha, não a minha.". Kai comentou, já sorrindo abertamente.

"Hum... Chato!". Respondeu tomando um gole de sua bebida.

Ruki riu da atitude do amigo mais alto, pegando uma pequena garrafa de cerveja que estava sobre a mesa, ingerindo um pouco da bebida enquanto o amigo moreno pedia um drink ao garçom.

"Parece que o dia foi ruim para todos nós...". Disse o pequeno, recolocando sua cerveja na mesa.

"Hum? Você também?". Piscando os olhos de forma interrogativa, Kai se voltou ao outro logo que o ouviu falando.

"Me mandaram fazer uma resenha sobre o show daquela boy-band americana que toca aqui semana que vem...". Revelou Ruki, já com uma expressão de desgosto na face.

Uruha ocupava-se, no momento, em chamar novamente o garçom, pois sua bebida havia acabado.

"Uhrrr... Que horrível!". Kai articulou com expressão de asco.

"Pois é...". Suspirou o loirinho, bebendo mais um pouco.

"Vocês deviam se espelhar em mim!". Uruha falou em tom calmo, assim que terminou de fazer o pedido.

"Como assim?". Inquiriu Kai, guiando um interrogativo olhar para o amigo, assim como Ruki.

"Ora, minha namorada terminou comigo, a minha empresa está passando por uma crise, alguns já forma demitidos... E eu estou aqui, calmo como sempre.". Disse simplista.

"Em primeiro lugar, Uru, você nunca gostou da Hanna, vivia traindo a garota...". Ruki falou dando de ombros.

"E, segundo, se você não estivesse preocupado com seu emprego, não estaria descontando essa ansiedade na bebida.". Kai completou o raciocínio, ciente de que, ultimamente, o amigo estava bebendo mais do que o normal.

O garçom chegou, servindo o drink a Kai e outra Smirnoff a Uruha que suspirou profundamente, pegando a garrafa e a abrindo.

"Ahf... O triste é que vocês têm razão e, para piorar, acho que já estou sentindo falta da Hanna...". Uruha falou desgostoso, sorvendo uma grande quantidade de sua bebida.

"Você apenas se acostumou a ter a garota correndo atrás de você.". Kai falou simplista, pegando seu drink e sorvendo um pouco do líquido.

"É, por ser...". Uruha concordou, logo em seguida ingerindo mais bebida.

"E cá estamos nós... Os garotos que diziam que iriam se tornar rock star...". Ruki abandonou seu silêncio deixando sua voz carregar uma leve frustração.

"Huf... Pois é... Ainda acho que se tivéssemos conseguido um segundo guitarrista e um baixista decente poderia ter dado certo...". O moreno se pronunciou soando pensativo, recordando-se de que, no passado, não haviam encontrado músicos de qualidade para aquelas funções em sua banda.

"Eu acho que o problema era o nome!". Uruha falou confiante.

Ruki e Kai apenas fixaram seus olhares do amigo, em expectativa pelo que viria.

"É sério! 'Gazette'... Isso não parece nome de banda e sim de jornal!". Completou veemente, o mais alto.

Os outros dois apenas riram em resposta, com o mesmo pensamento bailando em suas mentes... O álcool já estava começando a fazer efeito.

"O mais engraçado dessa história é ainda nos tratarmos pelos nomes artísticos que inventamos.". Com um belo sorriso nos lábios, Kai comentou.

"Isso é verdade, eu já me acostumei, até estranho quando me chamam de Kouyou Takashima...". Uruha proferiu antes de tomar mais um gole.

"No meu caso, até no serviço me chamam de Ruki, pois é assim que assino minhas matérias...". O pequeno falou em tom normal.

"Todos me chamam de Yutaka Uke mesmo, mas sempre que chamam por um colega, que realmente se chama Kai, eu olho...". O moreno confessou.

Todos riram com as constatações mútuas e um agradável clima de descontração se instaurou. Cigarros formam acessos por todos, a bebida foi sendo ingerida ao longo da noite que se estendeu por horas a fio...

oooOOOooo

A madrugada ia alta. No prédio residencial, tipicamente nipônico, todos pareciam dormir, no entanto, o silêncio era quebrados por passos e vozes que praguejavam irritadas vindas de dois jovens que praticamente carregavam um terceiro rapaz, que de tão grogue mal conseguia erguer as próprias pernas para subir a escadaria.

"Merda, Kai! Você não poderia ter comprado um apartamento no térreo?". Ruki falou muitíssimo irritado, enquanto seu braço direito estava enlaçado na cintura do amigo loiro mais alto quase inconsciente.

"Ahh!!! Realmente me esqueci de considerar as bebedeiras do Uruha... Qualquer dia desses, largo ele na rua...". Yutaka disse irritado apoiando o companheiro bêbado.

Com dificuldade, afinal Takashima era mais alto que ambos os que o carregavam e estava completamente embriagado, subiram mais alguns lances de escada, finalmente chegando a um corredor com algumas portas à esquerda e, à direita, havia apenas uma meia parede que deixava ver o prédio vizinho, também um residencial.

Chegando à última porta do corredor, Ruki, utilizando-se de sua chave, abriu a porta e eles logo entraram. A porta foi fechada pelo pé direito de Kai e rapidamente encaminharam-se a um dos quartos e o jovem mais embriagado foi atirado sobre um futton.

"Ainda bem que não sou eu quem divido o quarto com ele...". O moreno falou já se encaminhando à saída do local.

"Ah sim, obrigado pelo apoio..." Ruki falou amargo, olhando para Kai e depois para o jovem deitado de bruços que não moveu sequer um fio de cabelo e já estava apagado.

"Boa noite!". Kai disse educadamente antes de sair.

"Boa noite!". Respondeu Ruki, balançando negativamente a cabeça, era melhor tomar um banho e ir descansar...

oooOOOooo

Manhã do dia seguinte.

Uma agradável sensação invadiu o corpo esguio do jovem jornalista de madeixas loiras. Ruki ronronou baixinho, remexendo-se sobre os lençóis, já desperto, mas com preguiça de abrir os olhos, sua cabeça doía levemente devido à ingestão de álcool, revirou-se e, finalmente, abriu os orbes negros. Estendendo a mão direita pegou seu pequeno celular preto vendo que passava um pouco das dez da manhã.

Com movimentos lânguidos começou a se erguer, sentando-se sobre seu futton e olhando para o lado... Uruha estava lá na mesma posição na qual o deixara. Suspirou profundamente e se ergueu, logo em seguida indo ao banheiro e já sentindo o perfume do café pela casa, escovou os dentes e foi à cozinha.

"Bom dia...!". Ruki falou assim que entrou no cômodo, vendo o amigo moreno de costa, perto da pia.

"Bom dia, Ruki! E como está o nosso querido amigo, Uruha?". Kai disse virando-se para encarar o recém chegado, com um largo e belo sorriso na face, carregando, na mão direita, uma caneca com fumegante líquido escuro.

"Literalmente... Como deixamos de madrugada!". Afirmou, o loiro, em tom divertido pegando uma xícara para se servir de café, assim com o amigo.

"Como era de se esperar...". O moreno falou, ainda descontraído.

A campainha soou interrompendo a conversa da dupla.

"Deixa que eu atendo.". Kai se prestou.

"Ok!". Ruki concordou, despejando a bebida matinal em sua xícara.

O moreno deixou o recinto indo rapidamente à porta, ainda levando sua caneca e, quando abriu a mesma, deparou-se com um jovem carteiro que lhe indicara um lugar para assinar entregando, em seguida, um pacote e se retirou.

Kai então fechou a porta, o embrulho em sua mão era comprido, pouco mais de trinta centímetros e não tinha mais de três de altura, parecia uma pasta, estava revestido com papel pardo, comum em encomendas, porém o que lhe causara estranheza era a origem do mesmo... Londres, Inglaterra.

"Takanori Matsumoto...". O moreno disse assim que voltou à cozinha.

"Eu...". Ruki falou, virando-se para a porta assim que ouviu seu nome verdadeiro.

"É para você... Da Inglaterra.". Informou Kai, estendendo o pacote ao outro.

"Que estranho...". O loiro falou pegando o objeto, com o cenho franzido.

"Também achei... Vou ver TV, depois me fala o quê é isso ai...". Kai disse já saindo do local, para dar privacidade ao outro.

"Certo...". Matsumoto concordou, falando baixo enquanto olhava intrigado para o embrulho em sua mão esquerda.

Ruki deixou a xícara, que trazia na mão direita, sobre a mesa e se sentou sobre uma cadeira. O remetente era, o que lhe pareceu, um escritório de advocacia e isso fez sua curiosidade aumentar. Rapidamente o loiro rasgou o papel, deparando-se com uma caixa de papelão a qual abriu retirando uma pasta arquivo preta e, junto a esta, veio um envelope branco no qual havia apenas seu próprio nome escrito, pegou-o e abriu, começando a ler a carta impressa que estava dentro dele.

Os orbes cor de ébano do jovem jornalista correram rapidamente pelo texto completamente em inglês, conforme lia sentia algo dentro de si estremecer, não conseguia crer naquelas palavras e, quando terminou, pegou a pasta e foi para a sala rapidamente, jogando-se no sofá ao lado de Kai, com uma expressão de incredulidade na face.

"Que cara é essa?". O moreno perguntou desviando a atenção de um desenho que passava na TV.

"Essa carta... Ela tá dizendo que meu tio-avô morreu lá em Londres...". Matsumoto informou fixando seu olhar no amigo.

"Eu sinto muito, Ruki... Eu nem sabia que você tinha parentes por lá.". A expressão e o tom de voz de Kai tornaram-se sérios e pesarosos.

"Tudo bem, nem cheguei a conhecê-lo, ele foi embora do Japão enquanto jovem e nunca mais voltou.". Ruki falava pausadamente, pois não conseguia crer que aquilo tudo fosse real e não pôde conter o pequeno sorriso de alegria.

"Tá, posso entender isso, mas mesmo assim a morte do sujeito não devia te alegrar assim...". Desconfiado, o moreno falou.

"Meu tio não chegou a constituir família... Ele deixou sua herança pra mim.". Ruki revelou, com um meio sorriso nos lábios, sabia que não era exatamente correto ficar feliz com aquilo, mas não conseguia se conter, a perspectiva o deixava elétrico.

"Nossa! E de quanto é?". Kai indagou, levemente estupefato.

"A carta não fala de valores, mas são dois imóveis e um estabelecimento comercial, tipo de pub ou boate, algo do gênero... Alguns documentos estão na pasta.". Matsumoto estava excitado com a idéia, seu instinto lhe dizia que aquilo traria transformações positivas em sua vida.

"Na Inglaterra pubs sempre são um bom negócio...". Kai disse pensativo.

Ruki deixou a carta de lado, cruzando as pernas sobre o sofá, postando a pasta entre elas e a abrindo, intercalando o olhar em direção ao objeto e ao amigo.

"... Se você conseguir vender tudo isso, em Euro... Nossa!!! Dará um belo valor em iene.". O moreno completou imaginando alguns números em sua mente.

"Talvez finalmente você se veja livre de mim!". O jornalista disse sorrindo abertamente ao amigo.

"Deixa de bobeira! Você sabe que eu gosto de ter vocês aqui.". A resposta veio instantaneamente aos lábios do moreno que fixou um firme olhar no amigo, porém no segundo seguinte sentiu-se desconfortável desviando o olhar para a TV.

"Também gosto daqui...". Ruki murmurou sorrindo e olhando para o outro que já não lhe encarava.

O loiro então abaixou o olhar vendo uma página escrita em inglês, lhe pareceu um documento fiscal, reconheceu algumas palavras, porém outras ele sabia que se tratava de termos específicos e não conseguiu traduzi-los. Virando a folha plastificada encontrou outros caracteres ininteligíveis e vários números, e o mesmo se repetiu conforme ia folheando a pasta.

"Que merda!". Praguejou, fechando impacientemente o objeto.

"Qual o problema, Ruki?". Kai perguntou curioso.

"Eu não entendo nada do que tá aqui!". Respondeu levemente irritado, batendo a mão direta sobre a capa dura da pasta entre suas pernas.

"Deixa eu dá uma olhada...". Enquanto falava, o moreno já levava a mão em direção objeto.

"À vontade...". Disse com cara de criança contrariada.

Yutaka iniciou sua empreitada, folheando uma página após a outra prestando atenção a tudo o que seus olhos decifravam, porém sentia-se levemente incomodado com o negro olhar que lhe fulminava curioso e ansioso, mas manteve-se firme e continuou a ler.

"E aí, Kai? Tá entendendo?". Ruki não conseguiu ficar em silêncio por mais de cinco minutos, que lhe pareceram uma eternidade.

"Como trabalho com comércio exterior conheço a maioria dos termos, os outros são fáceis de deduzir...". Informou, em tom morno, sem nem ao mesmo olhar para o amigo.

O loiro mordeu o lábio inferior para conter mais indagações e então passos apressados lhe chamaram a atenção... Eles saíam de seu próprio quarto, atravessando o corredor e pôde ouvir a porta do banheiro batendo com força e soube, não precisava ter visto, era Uruha correndo para pagar o preço por ter abusado demais da bebida.

"Ele não comeu nada, provavelmente vai por o estômago para fora...". Pensou sentindo um pouco de pena do colega de quarto.

"Puta que pariu!!!". A voz do moreno soou muitíssimo surpresa, fazendo o pequeno encará-lo surpreso.

"O que foi, Kai?". Indagou apreensivo.

"Esses documentos são apenas cópias, mas tem as escrituras, documentação fiscal e tudo mais...". Kai começou a falar levemente alterado devido à surpresa e encarando o amigo, porém fez uma pequena pausa para respirar fundo.

"E...? Fala, você tá me deixando nervoso!". O loiro falou exasperado.

"E aí que uma das casas fica nada mais nada menos do que no distrito de Chelsea!". Kai afirmou estupefato.

Ruki piscou os olhos de forma interrogativa, sua mente tentando compreender o que o outro dissera, sabia muito pouco sobre a capital inglesa e suas divisões, no entanto, aquele nome não lhe era estranho. Pensou por alguns segundos até que uma memória lhe veio à mente e prendeu a respiração arregalando levemente os olhos.

"Mentira...". Foi tudo que conseguiu pronunciar diante da constatação.

"Pode acreditar... Tá escrito aqui!". Yutaka confirmou a informação apontando para a pasta em seu colo.

"Mas esse é um dos distritos mais caros de Londres!". Disse o loiro, ainda sem consegui acreditar no que havia ouvido.

"Pois é... E como se fosse pouco, a outra residência fica no Norte de Londres, aquela região que tem mais colinas e parece uma cidade do interior, e o seu pub apenas está em 'West End', a região responsável pela famosa vida noturna inglesa!". Kai informou boquiaberto.

"Puta que pariu!". Ruki murmurou quase sem fôlego, sentindo o coração bater forte e acelerado.

"Que bom que concorda comigo...". Kai comentou som um meio sorriso nos lábios.

"Cara, eu tô rico! Vou vender tudo isso!". Agora o pequeno sorria abertamente sendo completamente invadido por uma grande euforia.

"Vou analisar mais detalhadamente esses documentos, se não se importa.". O moreno falou voltando a olhar para a pasta.

"Claro que não, pode ficar a vontade!". Ruki respondeu feliz por ter seu pedido atendido antes mesmo que o fizesse.

"Bom dia...". Uma voz murmurada chamou a atenção da dupla.

Ambos guiaram seus olhares para a o início do corredor dos quartos e lá puderem ver Uruha recostado à parede com a mão direita sobre a têmpora, apertando levemente, demonstrando que sentia dor no local, o que também transparecia na expressão facial.

"Bom dia...". Kai respondeu meio sem interesse, afinal não havia novidade na postura do amigo.

"Uruha, tenho que te contar as novidades!!!". O pequeno loiro falou saltando do sofá indo em direção ao outro.

"Ai Ruki, não grita! Minha cabeça parece que vai estourar...". Reclamou o mais alto, com o cenho levemente franzido.

"Mas não gritei... Você precisa é de um café bem forte!" Matsumoto falou sem conseguir esconder sua felicidade.

"É uma boa idéia e realmente quero saber o motivo do seu bom humor logo tão cedo...". Uruha disse tentando forçar um sorriso, arrependendo-se amargamente em seguida, pois sentiu uma fisgada de dor muito desagradável.

"Então vamos para cozinha...". O menor falou começando a andar.

Takashima apenas concordou meneando a cabeça, seguindo o outro, olhou, de relance, para Kai que parecia muito compenetrado no que fazia e resolveu não falar nada mais com o amigo, afinal o moreno era a seriedade em pessoa quando se tratava de assuntos relacionados a seu trabalho ou qualquer outro tópico que lhe exigisse essa postura.

"Tão diferente de quando estamos nos divertindo...". O jovem pensou abandonando aquele cômodo e entrando na cozinha.

"O Kai já fez o café, está do jeito que você precisa...". Ruki falou levemente debochado, caminhando até a mesa e se sentando em uma das cadeiras.

"Ele já deve ter feito pensando em mim...". Uruha comentou pegando uma xícara e se servindo.

"É provável...". O jovem já sentado concordou, ciente de que, normalmente, o café naquela casa não era tão forte e sem açúcar.

Uruha se serviu e foi até mesa postando-se de frente para o outro, internamente agradecido pelo gesto de atenção de Yutaka.

"Agora me conta... Qual o motivo de tanta felicidade?". O mais alto perguntou, tomando o primeiro gole da bebida quente e fazendo uma leve careta devido ao gosto, anormalmente acentuado.

Ruki sorriu abertamente colocando os braços sobre a mesa e, logo em seguida, começando a narrar os fatos daquela manhã, revelando o conteúdo da carta e da pasta que recebera e somente no final explicando aonde eram suas propriedades.

"E é isso...". O pequeno concluiu ficando em silêncio.

"Puta que pariu!". Takashima disse incrédulo, enquanto sua xícara jazia sobre a mesa ainda cheia até a metade, pois havia parado de beber para ouvir o amigo.

"Foi exatamente o que eu e o Kai dissemos!". Constatou o loiro mais baixo, sorrindo abertamente.

"Nossa! Isso vai render uma grana boa! Já pensou no que vai fazer?". Uruha indagou, curioso.

"São tantas coisas...". Ruki respondeu pensativo, imaginando o que faria.

O mais alto sorriu em resposta e começou a dar sugestões, falar o que ele compraria, o que achava que combinava com o amigo que, estimulado, seguiu seu ritmo e um animado diálogo se instaurou entre eles... E o tempo passou sem nem sequer ser notado.

Ainda sentado no sofá, Kai finalmente fechou a pasta que estava em suas mãos, a televisão ainda estava ligada. Olhando para a tela, percebeu que seu desenho favorito havia começado e terminado sem que tivesse visto, então desligou o aparelho se erguendo logo em seguida indo para a cozinha, levando a documentação consigo. Rapidamente adentrou ao outro cômodo vendo os amigos sentados à mesa, se aproximando deles, deixando a pasta sobre o móvel e encarando Ruki seriamente.

"Algum problema?". O jornalista perguntou apreensivo.

Uruha se manteve em silêncio com o olhar fixo no amigo moreno.

"Tenho más notícias...". Yutaka começou em tom morno.

"O que foi? Fala logo!". Ruki falou exasperado.

"Bom, como eu disse antes, esses documentos são apenas cópias e para tomar posse de sua herança, você terá que ir até a Inglaterra...". O moreno explicou e fez uma pausa.

"Qual o motivo disso?". Uruha indagou aproveitando a oportunidade.

"Não seria sensato enviar documentos verdadeiros pelos correios e há uma cláusula no testamento que impõe a ida do herdeiro até àquele país.". Explicou sucintamente olhando para o loiro mais alto.

"Até ai tudo bem...". Ruki disse baixinho, ainda apreensivo.

"É verdade, o problema vem agora...". Kai informou.

"...!". Matsumoto engoliu seco em perspectiva.

"... Parece que seu tio esteve doente e, por isso, afastado dos negócios por um longo período. Nesse tempo a administração do pub ficou por conta de um jovem que já auxiliava seu tio antes da doença...". Kai respirou fundo olhando para o amigo jornalista, não gostava de transmitir más notícias, no entanto, sabia que era necessário.

Ruki continuou em silêncio, mas desejava, afoitamente, que o outro fosse direto ao ponto.

"...!". Até Uruha já estava nervoso com a situação.

"... Essa pessoa de aproveitou da ocasião começando a desviar dinheiro. Os desfalques foram aumentando conforme o tempo passava e tudo culminou com um grande desvio, creio que assim que seu tio morreu.". Yutaka finalizou.

"Estava bom demais para ser verdade...". Ruki murmurou deixando a cabeça pender para frente, recostando-a na mesa e a cobrindo com os braços.

"Qual a situação atual do lugar?". Abandonando seu silêncio, Takashima indagou.

"Está no vermelho, preste a falir e, obviamente, fechado já que o tal fugiu. Tem até uma cópia da ocorrência policial, pois os empregados não foram pagos e saquearam o pub, quase atearam fogo...". Em tom pesaroso, Kai informou.

"Nossa...". Um murmúrio quase inaudível deixou os lábios de Uruha.

"E ainda tem divida trabalhista...". A voz de Ruki soou abafada, pois não chegou a erguer o rosto para dizer essas palavras.

"Não é para tanto desânimo! O pub é um comércio muito rentável, vendê-lo será fácil, as residências também. Dá para pagar tudo o que deve e ficar com uma quantia considerável!". O moreno falou em tom animador.

Foi como se uma luz tivesse se ascendido na mente de Ruki. De imediato ergueu a cabeça encarando o amigo.

"O que você quer dizer com 'muito rentável'?".O pequeno indagou levemente empolgado.

Uruha e Kai estranharam a repentina animação do outro, porém nada disseram. O moreno apenas abriu a pasta encontrando rapidamente a página que desejava.

"Essa é a média mensal de lucro.". Yutaka falou, apontando para um determinado número.

"Isso é em Euro, né?". Ruki novamente perguntou, agora surpreendido.

"Exatamente!". O moreno concordou.

"Não tá sobrando número aí?". Takashima indagou incrédulo.

"Não Uru, não está...". Kai respondeu sorrindo abertamente.

"Nossa...". Takanori sibilou deixando-se recostar a cadeira, displicentemente.

Um breve silêncio se fez. Os mais velhos se encararam e depois voltaram seus olhares para o pequeno loiro que parecia completamente abstraído dentro de si mesmo.

"O que foi, Ruki? Quando você faz essa cara...". Uruha disse desconfiado.

"... Está maquinando algo!". Completou Kai, recordando-se de que na última vez que vira aquela expressão no rosto do amigo o trio foi expulso da festa de formatura do colegial.

"Tive uma idéia meio maluca...". Ruki começou a falar, com um sorriso nos lábios.

"Suas idéias sempre são malucas!". Uruha falou debochado, enquanto Kai apenas se remexeu sobre a cadeira, levemente incomodado, sabendo que viria algo, no mínimo, inesperado.

"Chato! Estava imaginando... E se nós três fossemos para a Inglaterra e reabríssemos o bar, como sócios?!". Expôs o que estava em sua mente.

Um constrangedor silêncio se fez presente.

"Você ficou louco?!?". Kai indagou estupefato.

"Tenho que concordar com ele. Não dá nem para imaginar algo assim, temos nossas vidas aqui no Japão.". Uruha tentou ponderar.

"Que vidas? Estamos apenas enterrando nos sonhos e nos tornando o que menos queríamos enquanto jovens... Anônimos no meio da multidão!". Ruki exclamou deixando sua voz carregar uma leve frustração.

Os outros dois se remexeram incomodados, mas permaneceram em silêncio.

"Primeiro foi nossa banda. Agora, veja seu caso Uruha, você desistiu de todos os seus mangás e pode perder o emprego a qualquer momento!". Matsumoto tentava ser o mais convincente possível.

"...!". Uruha abriu a boca para revidar, de maneira mal educada, no entanto, as palavras lhe faltaram.

"E você, Kai? É quase impossível te reconhecer de terno e gravata, você é intrépido e selvagem, gosta tanto quanto, ou mais, da liberdade do que eu e o Uruha e mesmo assim se resigna a um emprego que detesta!". Ruki falou com firmeza.

"Matsumoto...". O moreno sibilou cerrando levemente os olhos, achando que o amigo estava indo longe demais, embora uma pequena parte de si, relutantemente, admitia que aquelas palavras eram verdadeiras.

"E quanto a mim?! Detesto aquela revista idiota! Essa é nossa oportunidade!". Ruki disse ainda mais convicto, afinal tinha que convencer os amigos.

"Você acabou de se formar... Para alguém que está só começando seu emprego é excelente. Você sabe disso!". O loiro mais alto falou, sentindo uma fisgada de dor na cabeça, conseqüência de excesso de álcool que ingerira.

"E se acha mesmo que é um bom negócio, por que não assume o pub sozinho?". Inquiriu, secamente, Kai.

"Não posso fazer isso sozinho! Preciso de vocês!". Ruki disse com ar pedinte, não conseguia se imaginar só indo a outro país e assumindo a administração de algo.

"Até entendo que queira levar o Kai, ele pode te ajudar muito, mas não tem nada pra mim lá...". Takashima falou calmo.

"Não é verdade! Somos uma equipe. Sei que apenas dará certo se formos os três. Eu preciso de vocês!". Ruki falou com firmeza, agora que a idéia lhe havia surgido lutaria com tudo o que tinha para torná-la realidade.

"Você está pedindo demais...". Kai resmungou cruzando os braços.

"E nossa famílias?". O jovem de madeixas mel disse, vacilando ante a possibilidade que lhe era apresentada.

Ruki ponderou por alguns segundos, não havia pensado nisso antes.

"Hoje o mundo é pequeno e quando ganharmos mais dinheiro poderemos vir ao Japão ou levá-los para lá quando quisermos... 'Agora vamos! As asas abrem e vão procurar liberdade e glória'.". O pequeno falava calmamente lembrando e citando uma frase de uma das músicas de sua extinta banda.

Uruha mordeu o lábio inferior guiando seu olhar para a mesa, não sabia ao certo o que responder então olhou rapidamente para Kai, o amigo estava com a cabeça pendida para trás fitando o teto.

"É algo sério demais para ser decidido assim...". Takashima falou voltando a olhar para Ruki.

"Sei disso...". O loiro começou a dizer, porém foi interrompido.

"... Mas, realmente não gosto de deixar as coisas para depois... Aceito seu convite.". Uruha falou sorrindo.

"Sério!?". Ruki quase pulou da cadeira para abraçar o amigo devido à alegria que lhe invadia.

O mais alto sorriu meneando afirmativamente a cabeça, em sua mente um turbilhão de fatos e sentimentos bailava, sentia-se inseguro, um frio glacial se fixou em seu estômago, havia se decidido por um rumo totalmente diferente para sua vida, no entanto, seu instinto lhe dizia que a mudança séria positiva.

O jornalista se sentiu um pouco aliviado, no entanto, seu coração ainda batia apertado, afinal faltava à resposta de Kai e esse parecia muito inclinado a negar e fixou seu olhar no moreno que permanecia imóvel, percebendo que o outro loiro fazia o mesmo.

"Terei que vender esse apartamento...". Yutaka murmurou ainda olhando para o teto.

Os outros dois se encararam, completamente incrédulos e depois voltaram a encarar o moreno.

"Isso é um 'sim'?". Quis saber, Ruki.

"Você vai mesmo?". Uruha perguntou quase ao mesmo tempo em que o outro.

"Realmente está na hora de alçar vôos mais altos e também, se eu os deixar irem sozinhos logo seriam deportados...". Kai começou em tom calmo, enquanto guiava seus olhos escuros para a dupla diante de si e não foi capaz de conter o tom divertido nas palavras finais e seu sorriso brotou natural e abertamente.

Ruki sentiu uma enorme alegria dentro de si e não conseguiu controlá-la, logo se erguendo da cadeira percebendo que os amigos faziam o mesmo e, no instante seguinte, todos estavam abraçados.

"Vai dar tudo certo...". O menor murmurou, fechando os olhos e suspirando levemente e sua mente tentava mensurar a dimensão das transformações que ocorreriam em sua vida a partir daquele momento...

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Os olhos possuidores da cor do ébano estavam fixos ansiosamente do lado de fora da aeronave que se aproximava cada vez mais do solo, possibilitando a vista, parcial, da cidade encoberta por um manto cinzento e nada acolhedor.

Um profundo suspiro deixou os pulmões de Kouyou, enquanto guiava seu olhar para sua direita observando os amigos, Takanori e Yutaka, que somente despertavam naquele momento graças ao aviso de que as poltronas deviam retornar à posição vertical para a aterrissagem.

Praticamente não havia conseguido dormir durante as várias horas de vôo que separavam Tóquio de Londres... A ansiedade lhe corroia internamente. Desde que aceitara o convite de Ruki, um pouco mais de um mês havia se passado, nesse período o trio se ocupou de resolver todas as pendências pessoais necessárias e, durante todo esse tempo, a sensação de gélidas borboletas bailando em seu estômago não lhe abandonava.

Havia sido difícil, embora nunca imaginara que o contrário aconteceria, mas realmente não esperava que sua ex-namorada viesse tentar lhe impedir se dizendo ainda apaixonada. Uma coisa boa havia acontecido, quando fora pedir demissão descobriu que não seria uma das pessoas a ser desligada da empresa por vontade deles, inclusive recebera uma proposta de aumento salarial para continuar, foi bom saber que era considerado um profissional de qualidade. O mais complicado, sem dúvidas, foi se despedir de suas duas irmãs, dos dois sobrinhos e, principalmente, de seus pais que lhe apoiaram, no entanto, não conseguiram esconder o sofrimento em seus olhos, sobretudo sua mãe.

"Uru-cha...". A sonolenta voz de Ruki chamou a atenção do outro.

"Hai?". Respondeu fixando seu olhar, antes perdido, sobre o amigo de cabelos platinados.

"Não conseguiu dormir?". O pequeno indagou esfregando o olho direito, com a mão direita, logo em seguida bocejando levemente.

"Pouco... Estou ansioso...". Respondeu suspirando levemente.

"Estranho seria se não estivesse, mas eu apaguei assim mesmo...". Kai entrou na conversa, espreguiçando-se levemente.

"E não precisa se preocupar, vai dar tudo certo!". Ruki falou tentando animar o amigo.

"Hai... É verdade...". Uruha falou calmo.

Não demorou muito e a aeronave já estava parada no solo. Os jovens pegaram suas bagagens de mão e rapidamente deixaram o avião, encaminhando-se para pegar suas outras malas e partir para seu destino, que lhes trazia tanta ansiedade, porém, havia aquela perspectiva de que seria algo para melhor!

"Aquele advogado vem mesmo nos buscar, Kai?". Uruha indagou ao amigo no momento em que pararam diante da esteira que já transportava algumas malas.

"Sim. Entrei em contato com a empresa que enviou o pacote, eles representam Matsumoto Yuki, o tio do Ruki e enviaram um representante...". O moreno respondeu pegando sua mala na esteira.

"Deixei tudo nas suas costas... Me desculpe...". Ruki se pronunciou também pegando a sua bagagem.

"Não precisa pedir. É natural, afinal é mais fácil pra mim...". O jovem respondeu sorrindo lindamente.

"Ainda bem que despachamos a maioria das coisas antes...". O jovem de madeixas mel comentou também pegando sua mala.

O grupo recomeçou a caminhada, saindo pelo portão de desembarque, buscando algum sinal do representante do escritório de advocacia, logo distinguiram uma folha de papel escrita 'Takanori Matsumoto' e se encaminharam em direção ao jovem de loiras madeixas curtas trajado com impecável terno azul-marinho-escuro, que a portava.

"Olá... Eu sou Matsumoto...". O pequeno loiro falou assim que se aproximou do outro.

"Olá, é um prazer senhor Matsumoto. Eu sou Larry Cancro.". Educadamente, se apresentou.

"Igualmente. Esses são Kouyou Takashima e Yutaka Uke.". Ruki fez as apresentações.

"Ah sim, senhor Uke, nos falamos ao telefone...". Lembrou, estendendo a mão ao moreno, em seguida a Uruha.

"Verdade, é um prazer.". Respondeu sorridente.

"Vamos?". O jovem advogado convidou.

"Sim, claro. Vamos para o apartamento certo?". Uruha se pronunciou já começando a caminhar, junto aos outros.

"Bom... Preciso falar a respeito disso, mas esse não é o local adequando, vamos até meu carro.". O inglês disse ficando, repentinamente, sério.

De imediato olhares foram trocados entre os três amigos, preocupação e dúvida bailavam em seus olhares enquanto atravessavam o saguão do aeroporto movimentado e poucos instantes se passaram e já estavam do lado de fora em frente a um carro preto, sendo que as malas foram colocadas no local adequado.

"Pode ir na frente, Kai...". Ruki falou abrindo a porta traseira e entrando. Uruha fez o mesmo, do lado contrário e o moreno sentou-se ao lado do motorista que logo deu a partida no veículo.

"Por favor, nos diga, o quê há de errado com o apartamento?". Yutaka foi direto ao ponto, assim que o deslocamento começou.

Larry suspirou profundamente.

"Havia alguns documentos que não tínhamos conhecimento, um deles era uma hipoteca daquele local...". Começou a falar, o advogado.

"Hipoteca...?!". Ruki repetiu alarmado.

"Sim. Parece que seu tio a fez, há algum tempo e não conseguimos evitar que a propriedade do imóvel fosse passada ao banco.". Com um leve pesar na voz o jovem informou.

"Por Buda...". Uruha murmurou incrédulo.

"Merda!". O pequeno de madeixas platinadas praguejou.

"E quando as outras duas propriedades?". Kai perguntou objetivo, fazendo os dois amigos, sentados no banco traseiro, olharem preocupados para o loiro que dirigia, esperando uma resposta.

"Depois do ocorrido, que foi ontem à tarde, diga-se de passagem, fizemos uma busca completa em bancos e financiadoras... E está tudo certo. Não há pendência alguma com relação a elas.". Larry disse, ainda em tom sério.

O trio respirou aliviado.

"Nós tínhamos enviado nossas coisas para aquele apartamento.". Uruha lembrou sentindo uma dor em seu coração, afinal sua amada guitarra era um dos pertences que havia despachado.

"Ah sim, eu tomei a liberdade de encaminhá-los para a mansão.". O inglês falou, agora um pouco mais animado.

"Que bom...". O loiro mais alto murmurou sentindo o peito ficar mais leve.

"Mansão?" Ruki repetiu, somente então reparando no que o outro havia dito.

"Isso. A residência no norte de Londres é uma mansão antiga, muito bonita e com um belo terreno ao redor, vocês não terão problemas com vizinhos, pode ter certeza!". Agora sorrindo, Larry comentou.

"Hum... Isso devia estar subentendido, mas eu realmente não havia parado para pensar nisso...". Kai falou, mais para si mesmo, pensativo.

"Melhor pra nós...". Takashima disse feliz, olhando para o lado de fora do carro, vendo um ônibus vermelho de dois andares.

"Tenho que andar num desses...". Pensou distraído.

Ruki permaneceu em silêncio, ainda chocado por saber que havia perdido o apartamento sem nem ter posto os pés no local, em contraposto estava feliz por estar naquele local, a cidade, que via através da janela do carro. Era linda, mesmo com o clima frio e céu encoberto.

"O senhor vai nos deixar na casa?". Uruha falou voltando-se para o advogado.

"Pode me chamar de Larry. Pensei que gostaria de conhecer o pub primeiro, embora eu não tenha as chaves para entrarmos...". Respondeu em tom simpático.

"Seria ótimo!". Matsumoto se pronunciou empolgado.

"Mas não estaríamos abusando de sua boa vontade?". Kai ponderou.

"De forma alguma, será uma prazer!". Falou sorrindo discretamente.

Os metros foram sendo deixados para trás, logo se tornando quilômetros enquanto o grupo permanecia em silêncio. Os recém-chegados olhavam com curiosidade para tudo que havia ao redor, embora fosse uma grande cidade, era muito diferente de Tóquio, principalmente devido às construções antigas que os transportavam para cenários de filmes.

"Ainda falta muito?". Ruki quebrou o longo silêncio que havia se feito.

"Não, em menos de cinco minutos estaremos lá.". Sucintamente, Larry respondeu.

O automóvel virou mais algumas esquinas parando em uma rua não muito larga. O grupo saiu e todos olharam ao redor, o local não era exatamente o que esperavam, quase não havia pessoas na rua, apenas um bar estava aberto e esse era na esquina, um pouco distante de onde estavam e não parecia.

Ruki então fixou seu negro olhar na fachada do estabelecimento. Ela era, predominantemente verde, havia uma porta dupla que preservava o tom natural da madeira marrom, ao lado desta existia duas janelas, ambas tinham seus vidros quebrados e ripas de madeira substituíam os vitrais e um toldo fixo, cáqui se curva inteiriço sobre o local, também havia suportes nas paredes, entre a porta e as janelas que imaginou serem para luminárias, mas não havia lâmpadas.

"Não está tão ruim...". Pensou o jovem.

"Foram os funcionários que fizeram os estragos?". Kai indagou ao advogado, lembrando-se da ocorrência policial.

"Sim, foram...". Larry respondeu.

"Vai dar trabalho reabrir...". Uruha murmurou mais para si mesmo.

"Aquela é a outra entrada!". O advogado informou, apontando para a fachada à esquerda da verde.

Todos os olhares se voltaram para o local. A parede era cinza, parecia velha, havia três portas, duas simples e a do meio dupla, todas de madeira escura. Sobre as duas menores existia um arco sustentado por duas vigas, tudo acoplado à parede e, acima do portal maior, tinha uma seqüência de três aros, decrescentes, cada qual apoiado por seu par de vigas e, acima do maior, duas retas se encontravam diagonalmente formando um falso teto para a entrada recuada, já que a construção era bem mais alta, lembrando a entrada de uma cripta.

"Por Buda...". Kai verbalizou o espanto presente no trio, enquanto um frio glacial subia por suas colunas. Havia algo atemorizante naquele local...

Continua...

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Nota da autora:

Mausoléu: Sepulcro de Mausolo, mandado erigir por sua irmã e esposa Artemísia, em Halicarnasso, considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo; por extensão: sepulcro suntuoso.

Sei que a primeira cena deve ter assustado alguns devido ao clima 'dark', no entanto, essa atmosfera não predominará na fanfic, muito pelo contrário, ela é mais romance mesmo, porém eu precisava/ queria de uma cena inicial com impacto, por isso a fiz assim.

Uma coisa que acho importante citar: irei aderir ao romantismo de Anne Rice. Os meus vampiros irão se alimentar de marginais, preferencialmente, assassinos. Sou uma grande fã da autora e acho quase impossível falar de vampirismo, em uma fic, sem fazer referência à mesma. Lestat, Armand e Marius são minhas grandes paixões! E prováveis fontes de inspiração para alguns argumentos dentro dessa narrativa.

Por que Inglaterra? Só porque acho que combina. Não queria fazer na França, ia ficar ainda mais previsível (). Tem mais dois motivos: Um é que, naquele questionário de cem perguntas sobre os the GazettE, Ruki diz que gostaria de conhecer a 'noite' londrina; segundo, a cidade é conhecida por sua diversidade étnica, então não é de se estranhar o aparecimento de um monte de japa por lá... Rsrs.

Deve estar implícito, mesmo assim vou confirmar. Reita, Miyavi, Aoi e Nao serão vampiros.

Aiko Hosokawa

Belo Horizonte,

13/08/2007. 06:04 P.M.