Isabella entrou na sala de reuniões e pressentiu que ele já estivesse lá. Um arrepio correu por sua espinha quando seus olhos se focaram nele. Como se também tivesse sentido a presença de Isabella, ele virou a cabeça e, pela primeira vez em quase quatro anos, fitou-a com seus olhos negros como pedras de carvão.

Isabella o viu pedir licença a um dos diretores do museu e caminhou até ela. Temera este momento desde que soubera, meses antes, que Edward Cullen, o pai de sua filhinha Emily, seria o principal patrocinador da exposição de arte grega que ela estava ajudando o curador a organizar.

Olá, Isabella — disse Edward ao parar diante dela.

O-olá Edward — retrucou, tentando disfarçar seu nervosismo.

Os olhos negros correram por Isabella, mirando os cabelos castanhos, em seguida a boca, e descendo mais para se demorar na insinuação do decote oferecida pelo vestido de noite, antes de enfim retornar aos olhos azuis.

Isabella teve a sensação de ter sido tocada no corpo inteiro, pois ele parecia transmitir uma onda de calor diretamente a ela, o que fez sua pele formigar e o ar em torno deles crepitar com a tensão.

Parabéns, soube que é a subcuradora. Essa é uma grande conquista para uma ladrazinha barata. Você deve ter enganado a todos sobre quem é de verdade, assim como fez comigo.

Ela sentiu o ressentimento ferver em seu ventre, o mesmo ventre que nutrira e acolhera a criança que ele se recusara a reconhecer como sua.

Sou a mesma pessoa que sempre fui, Edward — disse com frieza.

Tenho certeza de que é, mas fui cego demais para enxergar isso.

Isabella sentiu as faces se incendiarem enquanto uma infinidade de memórias desfilava por sua mente. A visão de seus corpos se embalando em paixão fez os dedos de Isabella se contorcerem dentro dos sapatos de salto alto. Aquele homem a levara a píncaros de prazer íntimo durante os dois meses que passara na ilha de Santorini, estudando a cultura grega.

Ângela Perry, uma das funcionárias do museu, aproximou-se com um sorriso nervoso.

Com licença, sr. Cullen, odeio interromper, mas posso falar com Isabella? Edward forçou um sorriso.

Claro — disse, recuando um passo. — Já acabamos de conversar.

Com a barriga doendo, como se tivesse recebido um chute, Isabella observou Edward se afastar.

O que foi isso? — perguntou Ângela, intrigada. Isabella forçou uma expressão indiferente.

Você sabe como são os bilionários gregos. Eles aperfeiçoaram sua arrogância ao nível da arte.

Bem, arrogante ou não, é melhor você tomar cuidado com Edward Cullen — alertou-a Ângela. — Acabo de receber um telefonema da mulher de Aro, Gaye. Ele está internado no hospital com suspeita de ataque cardíaco.

Oh, não!

Ele vai ficar bem. Mas espera que você preste assessoria ao sr. Cullen durante as semanas em que estiver afastado.

Semanas?— Isabella engoliu em seco.

Os médicos estão querendo submetê-lo a uma angioplastia dentro de um ou dois dias. Ele deve telefonar para explicar o que precisa ser feito, mas enquanto isso terá de assumir o controle.

Eu?

Claro que sim — disse Ângela. — Você é quem tem mais experiência com pequenas esculturas gregas. Alem disso, foi você quem teve a idéia de juntar obras de artistas contemporâneos e antigos. Isabella, esta é a chance que você estava esperando. Geralmente é preciso passar anos como subcuradora para ter uma chance como esta. Poderá mostrar a todos o seu talento.

—Não sei se consigo cuidar de tudo sozinha... — disse Isabella. Aro era a força motriz deste projeto. Era ele quem estava em contato com os patrocinadores.

Bobagem. Você será brilhante. Você sempre se subestima.

Obrigada pelo voto de confiança, Ângela. Mas sou mãe solteira. Não posso dedicar ao trabalho o mesmo tempo que Aro dedicava.

—A maior parte do trabalho já foi feito. Mas você terá de fazer o discurso de boas-vindas esta noite. E você sabe o quanto é importante impressionar os patrocinadores.

Odeio falar em público...

Você será ótima. Tome uma taça de champanhe antes de começar, para acalmar os nervos. E lembre de ser especialmente gentil com Edward Cullen. Ele é o presidente da Alice Foundation, nossa principal instituição benemérita. Sem os fundos oferecidos pelo sr. Cullen e as peças emprestadas por sua família, esta exposição jamais teria sido possível.

Tudo bem, Ângela — disse Isabella, seu tom confiante escondendo o estado frágil de suas emoções. — Sei lidar com homens como Edward Cullen.

Certo. Falta uns dez minutos para o discurso. Por que não se tranca em seu escritório para organizar os pensamentos?

ISABELLA ABRIU a porta do escritório e arregalou os olhos ao ver a irmã caçula estendendo um casaco no chão para improvisar uma cama.

O que você pensa que está fazendo? Jane se virou com um meio sorriso.

Oi, Bella. Só estou descansando entre um trabalho e outro.

Isabella rangeu os dentes.

Já lhe disse para jamais vir aqui neste estado.

Não estou bêbada — disse Jane, tentando se equilibrar. — Apenas um pouco relaxada, só isso.

Onde você arrumou dessa vez?

Arrumei o quê? — Jane tentou fitar os olhos da irmã, mas não conseguiu. — Você é uma chata, sabia, Bella? Devia viver um pouco. Esfriar a cabeça de vez em quando.

Isabella sentiu um frio na barriga ao ver a irmã caminhar trôpega até a cadeira mais próxima.

Por que está aqui?

Os olhos injetados fitaram Isabella.

Vim te pedir um empréstimo, mas não precisa mais. Já me virei sozinha.

Como assim? — perguntou Isabella, à beira do desespero.

Esbarrei num grego rico lá embaixo. Ofereci uma rapidinha, mas o cara me deu o maior gelo. Você não imagina como o sujeito é arrogante. Achei que ele merecia uma lição, e bati a carteira dele.

Isabella engoliu em seco.

Ainda está com a carteira? Ou tirou o dinheiro e a jogou fora?

Jane tirou a carteira do bolso da calça jeans estampada em padrão de leopardo.

Ia dar de aniversário para o meu amigo Brian — disse, entregando a carteira a Isabella. — Parece bem cara.

Oh,não!— arfou Isabella, o coração batendo alucinado.

O que foi? Você o conhece?

Isabella fechou os olhos por um segundo. Com certeza a imaginação lhe pregara uma peça. Isso acontecia o tempo inteiro. Ela pensava ver o rosto de Edward Cullen em cada jornal ou revista que abria. Toda vez que via um homem bonito, de cabelos e olhos negros, sentia o coração subir pela garganta. Fora uma ilusão, provavelmente provocada pelo fato de que acabara de vê-lo.

Abriu os olhos novamente, coração batendo tão forte que ela mal conseguia inflar os pulmões para respirar. Era ele mesmo.

Com dedos trêmulos, fechou a carteira e a colocou na bolsa da irmã.

Como entrou no prédio?

Disse ao cara lá da portaria que eu sou sua irmã.

Isabella refreou um gemido. Os cabelos tingidos de louro de Jane estavam manchados atrás, e a calça jeans apertadíssima era quase tão indecente quanto o decote de seu suéter.

Jane, preciso fazer um discurso dentro de três minutos — disse Isabella, olhando em pânico para o relógio. Jane virou-se para a cama improvisada e começou a deitar.

Tudo bem. Só preciso tirar um cochilo rápido.

Não! — Isabella a obrigou a se levantar. — Não, Jane, você não pode dormir aqui. Se alguém te encontrar... Jane deu de ombros.

Saquei — disse ela. — Você sente vergonha de mim.

Isso não é verdade... É apenas que esta é uma noite muito importante para mim — disse, tentando ignorar o relógio na parede.

Vamos, Bella. Só preciso descansar algumas horas, e então vou embora. Tenho outro cliente às 23h.

Isabella sentiu-se fisicamente doente ao pensar que sua irmã ia para a cama com qualquer um que lhe pagasse por isso.

Como você pode fazer isso consigo mesma? Olhe para você, Jane. Está pálida e fina como um palito. Está se matando aos poucos e eu juro por Deus que não vou ficar parada de braços cruzados, assistindo.

Ficarei bem dentro de alguns dias. Queria beber só mais uma dose antes de parar.

maisumadose.

Quantas vezes Isabella ouvira essa promessa vazia?

E quanto a dar uma nova chance à clínica de desintoxicação? Jane fez uma careta.

Aquele lugar horrível? Não iria lá nem se você me pagasse.

Você é paga para ir a muitos outros lugares horríveis e fazer sabe lá Deus que coisas horríveis com homens horríveis!

Você só está com ciúmes porque não faz sexo há quatro anos.

Bem, veja os problemas que o sexo me arrumou — disse Isabella, estremecendo ao pensar o que Edward faria se descobrisse quem furtara sua carteira.

Ele estava ali perto, junto aos demais convidados, aguardando o discurso que ela faria...

Abriram uma nova clínica particular em Blue Mountains. Li que o pessoal de lá está obtendo bons resultados. É terrivelmente cara, mas você concordaria em ir até lá se eu conseguisse o dinheiro necessário?

Jane deu de ombros.

Talvez sim... Talvez não.

Você pelo menos pensaria no assunto, por favor? — rogou Isabella, e lágrimas de frustração começaram a arder em seus olhos. — Não quero que Emily cresça sem a tia. Jane, você é tudo que temos. Mamãe ficaria arrasada se a visse assim, principalmente depois do que aconteceu com papai.

Jane deitou a cabeça de volta na almofada que estava no chão e fechou os olhos.

Tá legal, vou pensar nisso. Mas não estou prometendo nada.

Isabella abriu a última gaveta de seu armário e tirou o cobertor com estampa de coelhinhos que mantinha para quando trazia Emily ao escritório. Cobriu o corpo esquálido da irmã.

Quando teve certeza de que Jane estava dormindo, Isabella tirou a carteira de dentro da bolsa da irmã. Olhou novamente a foto, e as feições belas de Edward provocaram uma enxurrada de recordações.

Aqueles olhos negros arderam de desejo por ela desde quando se conheceram. Isabella conteve um pequeno arrepio ao pensar na voracidade com que aquela boca explorara a sua. Em como as mãos dele haviam conhecido cada curva e plano de seu corpo, e como a presença máscula e rija a preencheu com a explosão de sua paixão, roubando-lhe a inocência e deixando em seu lugar um apetite que permanecia a despeito do tempo e da distância.

Ela fechou a carteira e conteve um suspiro.

Decidiu que na manhã seguinte iria remeter anonimamente a carteira para o hotel em que ele estava hospedado. Com sorte, ele jamais descobriria quem a teria roubado.