Dê Erre

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Miro tamborilava os dedos na mesa, compondo um meio-ritmo nervoso. Que teria Aioros para conversar? Estavam juntos não havia uma semana. Uma semana! Demorou mais para aceitarem que se gostavam do que para terem uma discussão de relacionamento. Parou de bater os dedos e coçou a frente de sua testa, acompanhado pelo chacoalhar de sua perna esquerda.

Vestia-se com uma camiseta branca um tanto justa e um shorts que ia até a altura dos joelhos. Nunca preocupou-se com roupas, mas queria estar com uma boa aparência para ver Aioros. Mesmo com a DR. Aliás, seria mesmo uma DR? Aioros simplesmente soltou a bomba, horas atrás: "precisamos conversar" – e foi embora.

Subiu os dedos um pouco mais, passando-os pelos cabelos desgrenhados. Que demora! Enquanto reclamava mentalmente, teve a sensação de que estava gritando suas preocupações para todo mundo, como se seus pensamentos tivessem um megafone. Ouviu a maçaneta, um pouco velha, girando na porta.

Aioros entrou, caminhando seguramente em direção a Miro. Como era bonito, pensou o segundo. Um corpo bem definido, em uma camiseta cuja manga mal aguentava os músculos do sagitariano. Os cabelos castanhos esvoaçantes davam mais um charme. Por que demorou tanto tempo para aceitar que, sim, gostava dele? Sim, eram amigos. Sim, eram dois homens. Sim, tinha tudo para dar errado. Até que pensou: sim, e daí? E ali estavam. Aioros também revelou-se tão apaixonado quanto Miro.

O cavaleiro de Sagitário chegou bem perto de Miro e envolveu suas mãos pela cintura de seu amigo e namorado. Olhando fixamente nos olhos do outro, disparou: "Bom dia". Miro sentiu uma vermelhidão subindo-lhe pelo pescoço, e não conseguiu sustentar o olhar. Com o rosto um pouco virado para o lado, enquanto suas mãos se encontravam juntas e fechadas no peito de Aioros, numa inútil resistência, conseguiu responder bom dia.

"Fa-fala logo", disse Miro, num tom de voz semelhante a quem tenta encher uma bexiga com ar e não consegue. Aioros tirou a mão direita da cintura do cavaleiro de Escorpião e a usou para virar o rosto de Miro para si novamente. Quando este tentou desviar mais uma vez o olhar profundo, acompanhado de um sorriso de canto, Aioros segurou firme o rosto de Miro para que continuassem sustentando aquele olhar.

"Sabe o que precisamos conversar?", finalmente disse Aioros, ambos ainda na mesma posição. Abriu um sorriso sincero, apertou os olhos e soltou: "Eu te amo". Miro cerrou as sobrancelhas, numa careta que poderia ser a pior resposta a um "eu te amo" que já existira. "Você me deixou uma manhã inteira preocupado pra isso?". "Sim. Achei que seria divertido. Você fica lindo todo preocupadinho". Aioros praticamente soprou a resposta no ouvido de Miro, que se arrepiou timidamente.

Miro não conseguiu fazer nada além de deixar sua cabeça cair um pouco para trás, enquanto voltava a se ruborizar intensamente. Tentou lutar, mesmo que sem o menor esforço, contra o domínio de Aioros. Não conseguiu sentir nada além de um intenso calor quando Aioros beijou-lhe suavemente o pescoço, logo abaixo da orelha. Dali, o beijo caminhou lentamente, apenas roçando os lábios em direção à boca, onde Aioros deu uma leve mordiscada no lábio inferior de Miro.

Resistindo, Miro voltou sua cabeça à posição normal. "Você... nunca mais faça isso comigo", disse, quase sem separar a sua boca de Aioros. Sorrindo, o sagitariano apertou mais o corpo de Miro contra o seu. "Não gostou da surpresa? Você acha que vai ter uma DR e acaba me beijando. Não é qualquer um que faz uma piada perigosa dessa". Miro tentou esconder, mas sua cara denunciou. Também sorriu, fechou os olhos e abraçou Aioros como nunca havia abraçado ninguém. Poderiam ficar ali, juntos, para sempre.