Título: O Começo do Fim
Autora: Kwannom
Censura: M
Gênero: Ação/Aventura/Angst
Beta: Nenhum até o presente momento
AVISOS: Violência, linguagem e sexo explícitos
Disclaimer: Eu não sou proprietária de nada do Senhor dos Anéis. Todos os personagens e nomes de lugares mencionados pertencem a JRR Tolkien. Eu não pretendo, nem estou tendo qualquer ganho financeiro com a criação dessa história. Apesar disso, os personagens originais - Wilrog, Haleth, Siward, Seyton e outros - são meus e ninguém tasca:D
Linha temporal: Ano 3423 da Segunda Era. Universo Alternativo.
Sumário: Fic derivada de A Máscara Dourada.Wilrog, um jovem humano que sonhava em ser um guerreiro tão valoroso quanto Beren, acaba por se tornar o mais temível capitão de Sauron. Esta é a sua história.
NOTA DA AUTORA
Olá!
Quem já leu ou está lendo A Máscara Dourada sabe o carinho especial que tenho pelo personagem Wilrog. Há muito tempo eu queria escrever algo só sobre ele, o meu vilão favorito, mas não encontrava tempo. Finalmente pude colocar minhas idéias no papel e esta acabou se tornando a primeira vez que escrevo direto em português. Esta história vai falar sobre alguns fatos importantes da vida de Wilrog, numa tentativa talvez infrutífera de fazer com que meus leitores entendam porque eu gosto tanto dele. Os textos serão mais curtos e vou, com todas as minhas forças, terminar essa fic no máximo em seis capítulos. Cada um deles será dedicado a um acontecimento que moldou a personalidade de Wilrog.
Acredito que não será necessário ter lido A Máscara Dourada antes de começar a ler esta pequena saga de Wilrog. Aqueles que já conhecem o meu trabalho sabem que o meu texto envolve um alto teor de violência com o qual os leitores de primeira viagem talvez não se sintam confortáveis. Então, veja com bastante cuidado os avisos dessa fic antes de ler esta história.
No mais, engulam a pílula e sigam o Coelho Branco. Mas depois não digam que eu não avisei ;)
Lore aka Kwannom
Apaixonada por Derfel Cadarn, Capitão saxão dos exércitos do rei Arthur;
Fissurada em Hephaestion, General amante de Alexandre o Grande;
Protetora de Wilrog e
O pior pesadelo de Haldir bwahahahaha.
COMEÇO
A cidade estava calma, famílias dormiam. Às vezes se podia ouvir ao longe o latido de um cachorro ou o uivo de um lobo. O barulho estridente de vidro de garrafa sendo estilhaçado foi abafado pelo grito de homens que brigavam na taverna.
Estava tudo como devia ser.
Dentro de seu quarto, o garoto Wilrog estava acordado, ouvindo atentamente todos os ruídos e silêncios da noite.
Ele não conseguia dormir.
Naquele dia, um grupo de meninos o havia insultado. Chamaram sua mãe de prostituta, mas ele não sabia o que a palavra significava. Os meninos fizeram questão de mostrar o que era ser uma prostituta e Wilrog viu, pela primeira vez, o que sua mãe fazia quando dizia que ia sair para trabalhar. Ele não soube por que, se por ódio, vergonha, ou ciúme, mas chorou enquanto os meninos riam dele.
Wilrog cerrou os punhos, os lábios trêmulos de raiva, enquanto seu corpo se sacudia com os soluços. Os xingamentos dos outros garotos o atingiram como se fossem socos.
"O filhote da prostitutazinha está chorando... Você deve ser filho do porteiro da cidade, pirralho, porque ele é tão feio e chorão quanto você," disseram.
"Sabia que meu pai já foi pra cama com ela também? Ele disse que foi a melhor noite da vida dele. A minha mãe que não gostou nenhum um pouco disso..."
"Aquela puta realmente gosta do que faz. Você não vê, pelos gemidos que ela dá toda a vez que aquele velhote barrigudo passa as mãos nela?"
Wilrog engoliu em seco, o corpo todo dele tremia de ódio. Ele se voltou para os seus agressores e a fúria, que devia estar presente nos olhos de um adulto e não nos de uma criança, fez com que os meninos se calassem, assustados. Não eram tão mais velhos do que ele, mas se achavam superiores.
Imbecis!
Wilrog cerrou ainda mais os punhos e sentiu as unhas entranharem na carne. "Ninguém fala assim da minha mãe," disse, a voz embargada.
Então, os lábios trêmulos de Wilrog se curvaram num sorriso sombrio e ele avançou.
E os garotos não tiveram tempo nem de correr.
Os gritos deles se seguiram aos socos de Wilrog que caíam como pequenas pedras em narizes, barrigas e cabeças. Ele era uma criança, mas era ágil e forte para a idade. O mais alto deles tentou revidar, dando-lhe um pontapé no estômago, mas Wilrog conseguiu se desviar e com uma rasteira o jogou no chão. O garoto caído se contorceu, tentando rastejar para longe dele, mas Wilrog o agarrou pelos cabelos e se abaixou ao seu lado.
Não ia deixar aquele moleque que havia falado mal de sua mãe escapar. Não, não ia.
Seus ouvidos se encheram dos sons de gemidos que vinham dos garotos caídos ao seu redor. Um estava com o lábio partido, outro com um nariz quebrado enquanto o último segurava o abdômen e chorava baixinho. Apertou os dedos no cabelo do garoto que continuava caído, o sentimento de total controle fazendo seu coração bater mais rápido. Seus punhos doíam e suas roupas estavam sujas de respingos de sangue e terra. Ele apertou ainda mais a mão em volta dos cabelos negros do menino, que gemeu.
"Do que foi que você chamou a minha mãe?"
O menino se contorceu. "Me larga, seu pirralho!"
Wilrog enfiou o rosto do outro garoto com força na terra e depois o puxou novamente pelos cabelos. "Pirralho? Eu sou mais velho do que você... moleque." Ele se aproximou do ouvido do garoto que tremia sob o seu julgo. "Chame minha mãe de prostituta mais uma vez," disse por entre os dentes cerrados, "fale qualquer coisa dela, e você vai se arrepender." Com estas últimas palavras, enfiou mais uma vez o rosto do garoto na terra e se levantou.
Lançando um último olhar de desprezo para o garoto caído, voltou caminhando para casa, ainda sentindo um nó no estômago e os cantos dos olhos queimarem. Não vou chorar.
Estoicamente, sem derramar uma lágrima sequer, alcançou a porta de entrada da sua casa. Não vou chorar.
Quando cruzou o batente e a porta se fechou atrás dele sentiu o nó crescer em sua garganta e afinal as lágrimas rolaram quentes pelo seu rosto.
E chorou abertamente, com vergonha dele mesmo, o rosto infantil que já prenunciava a beleza que iria ostentar quando ficasse mais velho se contraindo de tristeza.
Quando sua mãe retornou, ao cair da noite, já tinha enxugado as lágrimas. Ela o abraçou com a mesma ternura de sempre e Wilrog ficou confuso. Como ela pode fazer aquilo com um homem e depois me abraçar com tanto carinho? Nada fazia sentido, mas não falou sobre o assunto e ajudou a colocar a mesa para o jantar.
Agora, tentava dormir e não pensar, mas toda a vez que fechava os olhos via novamente as mãos daquele homem gordo em sua mãe. Ele suspirou. Era uma criança e não podia fazer nada, mas no futuro ia ser um guerreiro poderoso e sua mãe não precisaria mais dormir com homem nenhum por dinheiro.
Isso! Serei poderoso, o maior dos guerreiros, como Tüor e Beren!
Sorrindo, olhou para o teto e deixando-se ser embalado pelas sombras formadas pela luz da lamparina, dormiu.
W&W&W&W
Já era madrugada quando o som de um grito estrangulado quebrou o silêncio da noite.
Wilrog acordou com o barulho. Esfregou os olhos e se levantou, ainda sonolento. Aos poucos, foi tomando consciência dos outros sons que se erguiam num caos. Grunhidos, retinir de armaduras e espadas, o som surdo de uma flecha cortando o ar. Seu coração se acelerou no peito.
Estavam sendo atacados!
Ele pegou um pequeno punhal que guardava junto à cama e correu para a pesada janela de seu quarto. Como era um pouco baixo e não conseguia ver através do beiral, Wilrog arrastou um banco e subiu nele, abrindo a janela com cuidado. O brilho do fogo nos telhados de palha entrou pela abertura e iluminou o seu rosto numa aura vermelha. Flechas incendiárias cortavam o céu como estrelas cadentes e uma família tentava desesperadamente sair de uma das casas atingidas, mas era empurrada novamente para dentro do fogo por um Orc.
Os olhos de Wilrog se encheram de terror e ele estremeceu quando ouviu os berros enlouquecidos dos homens e mulheres que estavam sendo queimados. Um monstro enorme parou por uns instantes farejando a casa, e o susto de vê-lo tão de perto quase fez Wilrog cair do banco, mas ele se equilibrou e continuou a observar, o coração disparado. Aqueles monstros eram horríveis, repugnantes e podia sentir o fedor deles dali!
Orcs. Era a primeira vez que via um! Sempre eram atacados por Homens Selvagens, nunca por aquelas feras nojentas. Ele se inclinou para frente, sua curiosidade infantil vencendo um pouco o terror e o impelindo a ver mais de perto uma daquelas criaturas horrendas, quando um braço o agarrou por trás e o puxou para longe da janela, esperneando e gritando.
"A curiosidade pode matar, garoto."
O intruso de voz melodiosa o colocou no chão e Wilrog se virou rapidamente, com o pequeno punhal apontado ameaçadoramente para aquele homem enorme, os olhos verdes brilhando de raiva.
"Quem é você!"
"É melhor eu ficar com isso," o estranho disse se ajoelhando e tomando gentilmente o punhal das mãos dele.
Wilrog franziu o cenho. Tinha algo estranho naquele homem... Ele era diferente, usava uma armadura dourada e a pele emanava um brilho pálido na escuridão. Quando um vento afastou os longos cabelos negros do intruso, Wilrog viu uma orelha pontuda se erguer por entre as mechas.
Um Elfo! pensou, maravilhado e assustado ao mesmo tempo. Já tinha ouvido muitas histórias sobre aquelas criaturas mágicas, perigosas e misteriosas. Nunca confie num Elfo! Fora este o conselho que ouvira sobre aquela raça por muitos anos.
"O que você está fazendo na nossa casa? O que você fez com a minha mãe?" perguntou, desconfiado.
O Elfo riu de leve da petulância dele, mas antes que o guerreiro pudesse responder, sua mãe invadiu o quarto com uma espada velha, que fora de seu avô, nas mãos.
"Saia de perto do meu filho! Agora!" ela disse por entre os dentes, as mãos tremendo de leve no cabo da espada que segurava de forma desajeitada.
Wilrog olhava de sua mãe para o Elfo, mordendo o lábio de apreensão. Ela não era páreo para aquele guerreiro e com certeza poderia se machucar! O intruso respirou fundo, se levantou graciosamente como era alto! e se virou para encarar sua mãe.
Wilrog prendeu a respiração. Se ele machucar minha mãe, eu acabo com ele!
Por um momento sua mãe e o Elfo se encararam em silêncio, enquanto Wilrog apertava e afrouxava os punhos das mãos de ansiedade, as palmas molhadas com um suor frio. O que ocorreu depois o deixou atônito; sua mãe começou a chorar, deixou a espada cair no chão, e o Elfo a abraçou, dizendo palavras numa língua que parecia música e que Wilrog não conhecia.
"Mãe?" ele sussurrou e os dois adultos se voltaram para ele.
Mais palavras desconhecidas se seguiram enquanto Wilrog observava a tudo sem saber o que fazer e, de repente, os olhos cinza-prateados do Elfo estavam fixos nele. Aquele olhar o encarava tão intensamente, o devastava tão profundamente, que Wilrog sentiu medo e recuou. Por que ele está me olhando desse jeito?
Sua mãe veio até ele, afagando seus cabelos como costumava fazer, o assegurando de que estava tudo bem, mas os olhos verdes dele agora estavam fixos no Elfo. Aquele intruso o perturbava e seu cenho infantil ficou franzido. Sua mãe tomou seu rosto entre as mãos e o fez desviar sua atenção para ela.
"Wil, este é um velho amigo de sua mãe, o nome dele é Gildor Inglorion," disse ela e o Elfo inclinou a cabeça de forma polida. "Seja educado e o cumprimente."
A mãe o empurrou de leve e Wilrog, ainda desconfiado, estendeu a mão pequena para o Elfo. "Muito prazer, eu me chamo Wilrog."
A enorme mão do Elfo praticamente engoliu a sua e os olhos dele não deixaram os seus.
"Quantos anos tens, pequeno Wilrog?"
Wilrog ergueu o queixo, petulante. "Dez."
O guerreiro desviou os olhos dele e pousou aquele olhar aguçado em sua mãe, com uma expressão que Wilrog não pôde identificar. Então o guerreiro sorriu, afagou os seus cabelos como sua mãe havia feito e se voltou para ela.
"É melhor nós sairmos daqui agora, Frea, antes que os Orcs invadam esta casa," disse e sua mãe concordou.
"Vamos Wilrog."
O Elfo foi na frente e Wilrog teve que segui-lo, apesar de não entender por que um guerreiro élfico se daria ao trabalho de ir até aquela cidade salvar as vidas de uma prostituta e do filho dela. Sua mãe pediu algo na língua estranha que Gildor recusou, pelo que Wilrog pôde entender.
Quando chegaram à porta dos fundos da casa, Gildor se voltou para eles.
"Fiquem atrás de mim e façam o que eu mandar."
Wilrog fez que sim com a cabeça, sua boca seca e seu coração acelerado no peito. Seus olhos, fixos na porta, se arregalaram de espanto quando Gildor desembainhou uma longa espada élfica que brilhou mortalmente sob a luz fraca da lamparina. Com cuidado, O Elfo finalmente abriu a porta.
Um silêncio que apavorava ainda mais do que o barulho da guerra se seguiu. Nenhuma sombra se movia na pequena horta no fundo da casa. Gildor fez sinal para que eles ficassem calados e não o seguissem. Sorrateiro como um felino, ele deu um passo e cruzou a porta.
"Ele está aqui! O bastardo do Elfo está aqui!" o grito grosseiro encheu o ar e Wilrog viu Gildor aparar o golpe do machado de um Orc que estava escondido ao lado da porta com uma rapidez que ele nunca tinha visto antes.
Sua mãe se agarrou a ele e Wilrog observou o guerreiro, espantado. Gildor empurrou a fera contra a parede e de um só golpe sua espada afiada se entranhou da orelha direita até o ombro do monstro, fazendo com que o Orc fosse ao chão sem vida. O fedor pútrido que o sangue negro da besta exalou fez Wilrog ter vontade de vomitar. Assim que ela caiu morta no chão, outras logo apareceram no pátio, arreganhando os dentes amarelos e podres e urrando ameaçadoramente.
Mas Gildor parecia não se abalar.
Wilrog viu o guerreiro élfico guardar a espada ensangüentada e pegar o arco. Um sorriso arrogante iluminou sua face antes que as flechas partissem da arma numa sucessão tão rápida que a boca de Wilrog se abriu de espanto. Isso é impossível! Os Orcs gritaram de pavor e fugiram quando viram os companheiros sendo mortos.
Entre os monstros que haviam caído, um encontrava-se ainda vivo, contorcendo-se no chão. Gildor cravou-lhe uma flecha no peito sem hesitar e a fera parou de se debater, morta.
"Venham comigo!" o Elfo gritou para eles e Wilrog se apressou em seguir em seu encalço com um sorriso de admiração estampado no rosto. Quando viu que sua mãe relutou em segui-los tão prontamente, ele voltou até ela e a puxou pela mão.
"Venha, mãe, eu não vou deixar nada de mal acontecer com você."
Ele apertou a mão dela com carinho, dando-lhe um sorriso encorajador e finalmente sua mãe deixou a casa. Os dois correram para alcançar Gildor que já havia matado mais dois Orcs no caminho e estava alguns metros à frente. Passaram pelos fundos das casas e quando chegaram à rua principal, Wilrog teve uma idéia do caos que havia se instalado. Alguns Elfos lutavam solitariamente contra uma horda de Orcs, mas estavam em menor número. Pessoas corriam, casas queimavam.
A rua de terra estava com corpos espalhados por todo o lugar e Wilrog reconheceu o rosto de um dos meninos com quem havia brigado pela manhã num corpo que estava jogado contra uma parede. Ele não desejara a morte do garoto e ver alguém tão próximo da sua idade morto o deixou apreensivo. Ver aquilo lhe trouxe a idéia de que não era invencível e de que poderia morrer naquele dia, jogado num canto como se fosse um nada. Como se não tivesse sentimentos, nome ou vida. Seria apenas mais um corpo no chão.
Duas flechas passaram zumbindo pelos seus ouvidos e o trouxeram de volta do seu devaneio. Sua mãe chorava baixinho ao seu lado enquanto continuavam a seguir Gildor até a entrada da densa floresta que se estendia pelo lado direito da vila e por onde, pelo visto, o Elfo pretendia escapar.
O arco de Gildor havia parado de trabalhar, pois suas flechas já tinham acabado, e ele agora cortava os Orcs que cruzavam seu caminho com precisão. A frieza com que os matava deixou Wilrog abismado. Gostaria de algum dia ser um guerreiro quase tão perfeito quanto o Elfo.
Estavam passando por uma rua estreita agora, e o fedor de sangue fazia o estômago de Wilrog se revirar. Já podiam ver a borda da floresta dali e aquilo parecia ter dado asas aos pés de Gildor. Vez ou outra ele se voltava na direção deles para ver se estavam bem. Entretanto, da última vez que olhou, seus olhos cinza-prateados se arregalaram.
"Frea, Wilrog, cuidado!" ele gritou enquanto era atacado novamente, mas o aviso não chegou a tempo.
Wilrog foi jogado ao chão quando uma fera pulou de um dos telhados em cima deles. O golpe o deixou sem ar e ele viu o monstro partir para cima de sua mãe com uma espada em riste.
"Mãe!" Wilrog gritou, tentando se levantar com uma mão no estômago. Suas pernas se firmaram e quando se voltou na direção dela parou de súbito, o sangue esfriando nas veias, diante da cena que se desenrolava diante dos seus olhos.
Sua mãe estava em pé na sua frente, com as costas voltadas para ele, e por entre os longos cabelos louros dela se projetava a ponta da espada do Orc.
"Seu desgraçado!" Wilrog berrou, lágrimas escorrendo pela face.
O mostro grunhiu numa espécie de sorriso e desprendeu a espada do corpo de sua mãe, que caiu mole no chão.
"Eu vou te matar seu desgraçado!" Wilrog berrou novamente, a raiva e a dor fazendo com que sua garganta se contraísse e suas mãos tremessem.
"Vai me matar com o quê? As mãos? Pode vir, pirralho. Eu adoro fatiar crianças."
Wilrog soltou um grito e se lançou sobre o Orc, completamente cego pela tristeza. A fera ergueu a arma, arreganhando os dentes amarelos de satisfação. Vou te matar, desgraçado! pensou Wilrog e quando ergueu o punho para bater no monstro, ouviu um som metálico reverberar no ar e a espada élfica de Gildor passou voando por ele e se encravou no Orc cortando metal e carne.
O corpo da fera foi ao chão e Wilrog cuspiu nele. Tentando em vão enxugar as lágrimas com as costas das mãos, ele deixou-se cair de joelhos ao lado de sua mãe. Os olhos dela estavam sem vida e abertos, encarando o vazio. Wilrog a abraçou e encostou o rosto no peito dela, seu corpo sendo sacudido por soluços. Estavam tão perto de fugir, tão perto! O que ia ser dele agora? A solidão o envolveu com suas garras frias e ele não percebeu quando Gildor se ajoelhou ao seu lado.
"Eu sinto muito, pequenino."
Wilrog ergueu o rosto para ver que Gildor também tinha lágrimas nos olhos. O Elfo tomou sua mãe gentilmente nos braços, abraçando-a com força e depositando-lhe um beijo demorado nos lábios. Aquela estranha demonstração de carinho não demorou muito. Logo Gildor estava se levantando novamente.
"Vamos, pequenino. Eu ainda tenho você para salvar."
Wilrog olhou para ele, engolindo um soluço. O que importava ele viver agora? Não tinha mais sua mãe, então não tinha nada. Nada. Gildor se abaixou e o carregou.
"Não desista, pequenino. Você não vai estar só."
Wilrog não protestou e se deixou carregar. Não se importava com mais nada. Gildor continuava a matar os Orcs que ousavam desafiílo, mas o ato de carregar Wilrog limitava seus movimentos. Quando Gildor correu, Wilrog viu os Orcs surgindo por entre vielas e telhados se juntando para correr atrás deles.
Nada importava.
Chegaram à borda da floresta e Gildor o colocou no chão.
"Corra para a floresta e se esconda. Eu o encontrarei em breve," disse enquanto entregava-lhe o pequeno punhal que havia sido confiscado, mas Wilrog apenas o encarou com um olhar vazio.
Nada importava.
"Vamos, corra!" Gildor gritou exasperado, quando viu as feras se aproximando. "Por sua mãe... por mim, corra, Wilrog!"
Wilrog viu Gildor se retesar, espada em punho, aguardando as feras. E então correu. Correu como jamais correra em toda a sua vida.
Os ruídos da luta foram ficando para trás, mas ele não parou de correr, nem quando o silêncio o envolveu. Estava escuro e frio. Cada sombra da floresta o assustava, cada pequeno ruído parecia ser o dos pés de um Orc em seu encalço.
Quando as câimbras fizeram suas pernas perderem as forças, foi ao chão, caindo numa ribanceira. Cortou os joelhos durante a queda, o suor cobria sua pele e ele respirava com dificuldades. Estava perdido. Não fazia idéia de qual direção havia tomado.
Para todo o lugar que olhava, só via árvores e mais árvores. Onde estava Gildor? O Elfo havia prometido que não o deixaria sozinho! Estava perdido, perdido... Trouxe os joelhos para junto de si e recomeçou a chorar. As sombras da floresta pareciam se erguer pavorosamente para cima dele.
Wilrog se encontrava só e apavorado.
De onde estava, tão longe da aldeia, não viu Gildor e os Elfos acabarem com todas as feras e depois irem à procura dele. Mas por alguma vontade dos Valar, não o encontraram.
Por quase um ano Gildor continuou voltando até a floresta à procura de Wilrog. Mas não havia nenhum sinal do menino e o Elfo chorou a morte da criança que agora vivia entre os animais da floresta, completamente sozinho e alheio ao mundo.
Pois a persistência de Wilrog era grande e ele viveu escondido entre as árvores, sem saber como escapar daquela prisão verde, esperando o dia de ser libertado.
E, um ano depois, esse dia chegou.
W&W&W&W
A/N: Os que chegaram até o final, por favor, me digam o que acharam. Esse capítulo não foi betado por ninguém, então pelo amor de São Neo, me digam se eu estiver assassinando o português!
Gildor Inglorion não é invenção minha. Ele é o Elfo que encontra Frodo quando ele e Sam estão indo para Bri. Dizem que é um alto senhor élfico. Para maiores detalhes, consultar The Encyclopedia of Arda.
Obrigada a (thanks to) Rainien, Azashenya, Novedhelion, reginabernardo2002, SadieSil e Leila pelo apoio (for your support).
