Titulo: Tristes Lembranças
Anime: Gundam Wing
Autora: Patty-Chan
Classificação: Yaoi, Angst, 1+2
Disclaimer: Gundam Wing infelizmente não me pertence, se pertencesse sem duvida o Heero teria beijado o Duo durante o anime. O Duo teria dado um fora nele. O Heero teria sofrido bem mais e no fim eles terminariam juntos '' Mas voltando ao assunto. Gundam Wing tem seus direitos registrados pela Sunrise e todos os seus produtores. Todos os personagens que não fazem parte da série original são criações minhas e de minha mente esquisita
Sobre a fic: Essa é uma fic velha. Na verdade ela começou a ser publica em pequenas partes no Webfanfics a muito tempo atrás, quando ele ainda existia . Eu resolvi posta-la aqui em um formato diferente. O de fases que eu tinha usado pra trabalhar com a fic na época. Portanto para quem já leu não estranhem. A fic tem apenas 3 fases que englobam os pequenos capitulos nos quais ela foi dividida. Como quase ninguém viu o ultimo capitulo da fic é um dos outros motivos pra eu reposta-la. Como levou quase um ano pra saie eu acho que vcs merecem ver. u.u' ou talvez não?
Capítulo - 01
O americano atravessou a rua, uma chuva gelada começou a cair e o nevoeiro tornou-se mais denso e o frio mais presente. Acelerou os passos, pisava firmemente nas possas de água. Fechou um pouco mais o sobretudo tentando evitar o frio intenso. As lágrimas a lhe escorrerem pelo rosto se confundiam com a chuva e sua imagem com os longos cabelos presos numa trança desgrenhada, molhada pela fria chuva, naquele nevoeiro sombrio, numa rua deserta o deixavam com um ar assustador.
Parou embaixo de uma marquise e ficou observando a chuva cair sobre a cidade escura. Sentou-se no chão molhado deixando-se levar pelos sentimentos, pela primeira vez em anos se dera à permissão de chorar. Que chorasse, precisava livrar sua alma daquilo. O medo, a dor, a angustia, a solidão. Não podia voltar para casa assim, deveria recolocar sua máscara de americano feliz. Não poderia deixar que seus amigos vissem seus medos, suas fraquezas...a tristeza profunda que marcava sua alma.
Duo não sabia ao certo quanto tempo passara ali, sentado embaixo da marquise aos prantos, mas sabia que deveriam estar preocupados com ele, já estava tarde. Levantou-se e foi em direção a um telefone limpando as lágrimas e tentando ajeitar sua voz para suavizar a impressão de que estivesse chorando.
Rezou para que fosse Quatre quem atendesse ao telefone, afinal o loirinho era o único que não perguntaria nada se percebesse que ele realmente não queria falar. Mas Deus como sempre não atendeu suas preces. Pode ouvir claramente a voz do soldado perfeito do outro lado acabando com todas as esperanças que tinha de não ser interrogado.
"Muchi muchi?"
Não agüentaria mentir, não naquelas condições, desligou o telefone na cara do japonês sem nem mesmo dizer alguma coisa e voltou a caminhar pela rua. Decidiu voltar a pé para casa iria demorar, umas duas horas, mas seria melhor, quem sabe até lá conseguisse se acalmar. A noite estava terrivelmente assustadora, como se tentasse revelar a verdadeira alma daquele ser que procurava respostas há tanto tempo e era incapaz de encontrá-las sozinho.
Conforme Duo andava cenas de seu passado lhe traziam lembranças nem sempre agradáveis, sempre achara que com o fim da guerra poderia se considerar completo e vingado, assim então podendo viver novamente, sem fingir, sem mentir. Mentiras e mortes, era só nisso que sua vida se baseava. Ele que sempre dizia nunca mentir, realmente nunca tinha mentido para outra pessoa se não ele mesmo. Ele que se auto denominava Deus da Morte, era apenas um jovem que implorava pela vida...digna e amorosa, que muitos tem e não dão valor.
Ficou de frente para a porta da linda casa que pertencia a Quatre, não era uma mansão como as outras, ele não queria esbanjar. Então comprou uma casa de tamanho médio, antiga, parte da história de Londres. A porta de madeira, as janelas tudo na casa havia sido mantido o máximo de tempo possível, e o que não fora conseguido, fora restaurado.
Receou entre entrar ou não, afinal não havia conseguido recuperar a coragem para repor sua máscara. Era tarde mas Heero ainda deveria estar acordado fazendo alguma coisa no laptop. Ele com certeza perguntaria alguma coisa. Mesmo que não fosse muito do feitio do soldado perfeito, Duo deveria admitir que Heero estava se esforçando para se tornar um pouco mais humano e estava conseguindo, pouco a pouco mas estava.
Colocou a antiga chave na fechadura da porta 1 tomou fôlego e entrou. Como imaginava estava um silêncio absoluto na casa. Tirou o sobretudo molhado e subiu as grandes escadas que davam no andar superior, destinado apenas aos três grandes quartos. Abriu a porta lentamente, Heero estava tão concentrado que nem mesmo percebera, coisa que era normal, afinal ele, Duo Maxwell, era muito barulhento quando queria, mas também sabia ser muito silencioso quando necessário. E aquilo era necessário. Aproveitou da concentração do amigo e foi direto para o banheiro, mas embora fosse bom em se esconder, Heero era bom em perceber...
Duo! Você demorou mais do que o habitual.
Como se isso importasse pra alguém. – o americano respondeu num tom melancólico se dirigindo para o banheiro e sendo seguido por um par de olhos azul-cobalto que estranharam aquela resposta...
Heero ouviu Duo ligar o chuveiro e novamente se virou para a porta do banheiro. O laptop avisou que a tarefa mandada havia sido concluída, mas isso não tirou o olhar de Heero de onde estava. Seu parceiro dos tempos de guerra nunca havia agido daquela forma, costuma chegar tarde isso era uma verdade, mas eram raras às vezes que passava das quatro e meia na rua, ainda mais em dias de semana. Jamais havia chego tão tarde. Só havia uma possibilidade possível para Heero: Duo passara a noite com alguma dessas mulheres que ele falava. Os olhos azul-cobalto geralmente frios demonstravam uma tristeza perceptível naquele momento. Não era novidade nenhuma para Heero, sabia que sentia alguma coisa pelo americano, não sabia o que era, mas sabia que sentia, já era um começo. Ouviu o chuveiro sendo desligado e virou-se rapidamente para o laptop, fingindo estar trabalhando mais uma vez. Não podia admitir para os outros, mas sempre ficava arranjando alguma coisa para fazer até Duo chegar, se preocupava com ele, ainda mais nos últimos dias em que ele estava agindo tão estranhamente.
Duo saiu do banheiro e imediatamente deitou-se na cama cobrindo-se completamente, escondendo o rosto embaixo das cobertas, não queria que Heero o visse, não estava agüentando e sabia que iria chorar mais cedo ou mais tarde. Considerava-se culpado por tudo que havia acontecido, a seus pais, a seu amigo, ao padre Maxwell e a irmã Helen...Considerava-se culpado por matar, por mentir, por estar vivo.
Heero olhou atentamente Duo se esconder embaixo dos cobertores. Estranhou o fato do americano não ter nem se quer comentado alguma coisa de ele estar acordado. Duo sempre costumou fazer alguma piadinha a respeito do laptop ou pelo menos perguntar, inutilmente, o que Heero tanto fazia naquela "máquina infernal". Mas dessa vez...nada, nem sequer uma palavra. Somente aquela resposta MUITO estranha.
Bom dia Heero! Dormiu bem? – o loirinho cumprimentou amavelmente como de costume e já colocou um pouco de café em uma xícara
Sim Quatre e você? – ultimamente estava tentando ser mais comunicativo, Quatre era uma boa opção para treinar, afinal trocar palavras com Trowa era extremamente interessante, o problema era iniciar uma conversa que não os levasse ao assunto "guerra", conversar com Wufei era impossível, ele não era aberto a diálogos, e com Duo era um exercício de paciência já que o americano falava, falava e falava...mas não o deixava falar, sendo assim só sobrara Quatre, que era uma companhia extremamente agradável, sempre fora, mesmo nos tempos de guerra.
Eu também, obrigada por perguntar. – o loirinho sorriu e se levantou assim que viu Trowa chegando na cozinha. Pegou algumas torradas do forno e lhe ofereceu ainda antes de sentar.
Posso perguntar-lhes uma coisa? – Heero perguntou enquanto tomava mais um gole de café.
Claro Heero – o árabe sorriu sentando-se novamente e esperando atentamente o japonês começar.
Vocês têm notado alguma diferença no comportamento do Duo? – Heero falou num tom de voz casual, tentando esconder a preocupação que o americano estava lhe causando.
Na verdade Heero, realmente ele está um pouco mais distante que o costume... – Quatre comentou, parecendo notar isso somente naquele instante.
Aconteceu alguma coisa? – Trowa procurou ser mais claro do que o árabe.
Na verdade, ele estava um tanto estranho ontem quando chegou, pensei que talvez vocês pudessem saber de alguma coisa. Mas se ele não comentou nada, não deve ser relevante.
Tem razão. – o garoto de olhos esmeraldas concordou e voltou a tomar silenciosamente seu café.
Heero! – o loirinho chamou o japonês que rapidamente.olhou indagando o que ele queria com um resmungo. – E se realmente algo estiver atrapalhando Duo e ele não quer nos contar?
Trowa e Heero se entreolharam e responderam em uníssono
Não podemos fazer nada.
Bom dia! – Wufei entrou pegou uma torrada e já ia saindo quando viu a cara dos três sentados à mesa - O que aconteceu? Parece até que alguém morreu.
Wufei você tem notado algo de estranho no Duo ultimamente? – o loirinho perguntou num tom preocupado.
No Duo? É ele está meio pra baixo ultimamente...Esses dias eu sem querer o vi se lamentando sobre algo, não prestei atenção no que era, achei que se ele precisava se lamentar provavelmente queria fazer isso sozinho. – Wufei falou normalmente e ficou esperando uma resposta de um dos colegas.
Será que deveríamos falar com ele? – Quatre perguntou para todos lá presentes.
Eu acho que Heero deveria falar com ele. – Wufei falou e voltou a se dirigir para a porta
Por que, Wufei? – a voz de Heero saiu tão fria quanto o gelo
- Você dorme no mesmo quarto que ele, vai ser mais fácil você aborda-lo na hora certa do que um de nós, até porque se perguntarmos sem mais nem menos ele não vai responder
Tem razão – Trowa concordou e Wufei acabou desistindo, começando uma conversa com os outros dois.
A manhã correu normalmente, com Quatre tocando algumas melodias, todas extremamente agradáveis, Trowa lendo um livro e Heero no laptop, estava pesquisando um pouco mais sobre Duo em seus históricos, tentando saber o que o estava chateando.
Duo acordou ouvindo a maravilhosa melodia do violino de Quatre, embora aquilo não fosse o suficiente para reanimar seu astral, não sentia vontade de sair da cama, era tão bom ficar ali, quentinho, sossegado, quentinho, gostoso, quentinho...
Novamente puxou a coberta completamente, as lembranças de sua infância estavam voltando. A igreja destruída, o padre, a irmã...tudo, o por que de seu nome...uma triste lembrança. Voltou a chorar. E nessa hora Heero entrou no quarto, ouvindo os soluços e as palavras desconexas do americano.
- Duo? Está tudo bem? – tocou de leve nos lençóis, não pretendia assustar o colega em tal situação.
Duo tentou enxugar as lágrimas de baixo do lençol mesmo, mas não adiantou muito, seus olhos ainda estavam inchados e ele ainda soluçava quando Heero puxou as cobertas...
Embora não aparentasse Heero ficou chocado com a imagem que viu, Duo Maxwell...Antigamente conhecido como Shinigami, encolhido debaixo das cobertas, com os olhos inchados de tanto chorar e uma expressão de profunda tristeza no rosto...Parecia que estava um pouco além do fundo do poço, algo que Heero jamais imaginou ver.
- Duo? – tentou falar num tom menos frio, não sabia o que estava havendo mas sabia que se fosse o habitual soldado perfeito poderia piorar a situação em que o amigo estava. E não era isso que queria, sentiu um aperto no coração ao ver o americano sempre tão alegre e vivaz naquele estado, queria ajudá-lo, era Duo...Ele não chorava, ele não era triste...Era ele quem animava todos, não podia ficar triste...
- Sai daqui, Heero – a voz de Duo saiu fria...Não parecia ele, definitivamente não era ele.
Heero olhou para o amigo, não sabia o que era aquilo que estava sentindo, mas conhecia aqueles sintomas, era uma doença grave...Por saber do que poderia se tratar retirou-se do quarto como o amigo pediu, desceu as escadas correndo e foi direto para o laptop, precisava descobrir se era o que ele realmente estava pensando.
Nossa Heero pra que essa pressa toda? – um Wufei curioso apareceu depois de vê-lo correndo pelas escadas.
- Duo está doente. – respondeu secamente, Wufei o estava atrapalhando, precisava ter certeza daquilo e precisava saber o por que daquilo.
- Maxwell doente? O que ele tem? – tomou mais um gole de café tranqüilamente, Duo não era sua preocupação.
- Depressão – Heero respondeu rispidamente...Realmente Wufei o estava atrapalhando.
O chinês se engasgou com o café na mesma hora em que ouviu as palavras de Heero. Trowa poderia ter depressão, Quatre poderia ter depressão, Heero poderia ter depressão, até ele poderia ter depressão...Mas Duo? Duo Maxwell? Com depressão? Era algo inimaginável.
- Olha Heero você tem certeza? Ele anda meio pra baixo Mas não devemos exagerar, certo? – Wufei não podia acreditar naquilo...Era realmente impossível, Duo era uma pessoa feliz...Sempre foi uma pessoa feliz...
Heero imprimiu algumas folhas, pegou-as e subiu novamente as escadas em direção ao seu quarto...Wufei tinha razão...E exatamente por isso iria levar Duo a um médico.
Abriu a porta do quarto e encontrou Duo exatamente como tinha deixado...Descoberto, encolhido na cama e chorando, como uma criança desamparada. O japonês dobrou as folhas, colocou-as presas no elástico da bermuda, foi até a cama do americano e o pegou no colo.
- O que você está fazendo? – Duo levou um susto quando sentiu as mãos do japonês a segura-lo fortemente. Mas recebeu um olhar reprovador em resposta a sua pergunta.
Heero desceu as escadas carregando Duo no colo, que nem mesmo protestava, quem sabe dessa vez Heero não o matasse como ele sempre prometia. Wufei que ainda estava na sala ficou olhando a cena chocado. Heero com uma expressão extremamente séria descendo as escadas com Duo no colo, que tinha os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, os cabelos desgrenhados meio presos na trança e meio soltos e ainda vestia a roupa com que fora dormir.
Quatre e Trowa que estavam chegando na sala naquele exato momento ficaram olhando sem entender o que estava se sucedendo.
- Aonde vocês vão? – Wufei perguntou ainda pasmo com a passividade de Duo.
- Eu entro em contato de lá – Heero não queria assustar Duo, queria o melhor para o amigo e pela primeira vez na vida sentia vontade de chorar, talvez porque Duo também estivesse chorando...Ainda sussurrando palavras desconexas.
Heero parou o carro em frente a um dos parques de Londres, ficou observando seu companheiro, sentado no banco ao lado. Não falava nada, não se movia...Absolutamente nada...
- Duo, olhe pra mim – sua voz não saiu nem um pouco semelhante a habitual, do tom habitual frio e gélido ele passou a utilizar um tom amável e terno.
O americano foi tirado de seus devaneios por um chamado tão atencioso, olhou para Heero e pela primeira vez viu algum tipo de sentimento nas íris azul-cobalto. Medo? Sim parecia medo. Mas Heero não era capaz de sentir nada, muito menos medo, deveria ser mais um de seus devaneios.Estaria tão mal assim?
- Uhn? – não queria falar, não conseguia.Aquelas imagens vindo a sua mente...Seus pais, seu melhor amigo, o padre, a irmã...Tudo destruído, mortos. Por que eles não puderam se salvar?
Heero viu o desespero nos olhos violetas, imploravam por algo. Morrer? Talvez, mas ele não sabia o que podia fazer, nenhum médico atenderia sem hora marcada...a não ser que...
- Eu vou levá-lo a um médico, você não esta bem. – voltou-se a direção e ligou novamente o carro sob o olhar do americano. Duo estava confuso, quem visse aquela cena pensaria que Heero estava preocupado com ele, mas essa não era a verdade. Heero não se preocupava com ele, nunca se preocupou. Quando ele tentava chamar a atenção do japonês não importasse de qual forma fosse, só recebia olhares frios e ameaças de morte caso não parasse. Heero jamais entendeu que aquela era a forma dele de pedir ajuda, de implorar que alguém o tirasse daquele inferno que era sua vida e o mostrasse a verdadeira alegria, a verdadeira felicidade.
Enquanto dirigia Heero pegou o pequeno telefone celular e começou a discar alguns números. Sally Po, sim sua última esperança, os médicos da antiga Aliança não se negariam a atender um ex-piloto Gundam, deveria ter algum em Londres, alguém que pudesse ajuda-los, ajudar Duo. Sim se Sally sempre simpatizara muito com Wufei, sem dúvida também adorava a companhia de Duo, não gostaria de vê-lo naquele estado lastimável em que se encontrava e encontraria alguma forma de ajuda-lo.
Entrou no atual prédio dos Preventers em Londres com Duo em seus braços, ele não se movera um segundo se quer, parecia ate mesmo um animal assustado, conversou rapidamente com um dos porteiros que lhe indicou o lugar para onde deveria ir. Realmente Sally e Lady Une haviam providenciado tudo para que Duo fosse atendido o mais rápido e o melhor possível.
Heero era alvo de olhares curiosos, talvez por estar carregando Duo, talvez pela maneira como o estivesse carregando, possessivo...E cada um que o olhava mais indiscretamente era fuzilado pelas íris azul cobalto.
Entrou na sala que lhe fora indicada anteriormente e viu uma jovem secretária, que apenas ergueu uma sobrancelha ao ver aquela cena um tanto atípica.
- No que posso ajuda-lo meu jovem? – perguntou estranhando ver aqueles jovens sem o uniforme dos Preventers entrarem tão...À vontade.
Meu nome é Heero Yuy, Sally Po e Lady Une mandaram-me vir aqui – a voz sensualmente gélida do soldado perfeito encantou a secretária. Aquele jovem aparentemente indomável era estranhamente sensual sem nem mesmo perceber.
- Ah sim, eu fui informada de que o senhor viria. O doutor Gray o espera. – abriu a porta para que o japonês pudesse passar levando o americano ainda imóvel nos braços.
- Pode coloca-lo na maca meu jovem – o médico de cabelos e barbas grisalhas pareceu simpático aos olhos de Heero, poderia confiar Duo a ele? Não sabia.
Não confiava em ninguém, e no estado atual em que o americano se encontrava confiar num estranho não seria algo sensato a se fazer, porém colocou-o na maca como o médico pedira.
Muito bem, vejo que ele realmente não esta bem, sabe me dizer desde quando está assim? – o médico perguntou já examinando Duo.
- Desde ontem à noite. – a resposta fria e seca de Heero fez o Dr Gray sentir um frio na espinha como nunca sentira antes. Estaria com medo do homem que estava acompanhando seu paciente?
- E você sabe se ele tem algum motivo? – Dr Gray percebeu que fizera o jovem de aparência rebelde pensar. Heero não sabia o que tinha feito Duo ficar daquele jeito, só queria que ele voltasse novamente a ser o que era. Mas talvez, a guerra que passara? Não Duo sempre levou na brincadeira. Mas será que Duo gostava de matar pessoas?
- Não – a resposta de Heero veio apos uma análise dos fatos: Duo nunca demonstrara nenhum problema em matar pessoas, aparentemente gostava disso ou então não se autodenominaria Deus da Morte. Também jamais demonstrara algum tipo de arrependimento pelas pessoas que havia matado, nem pelos atos que tinha cometido, sendo assim, para ele, a guerra não passara de uma grande brincadeira para se divertir.
- Estranho, realmente estranho! Você tem consciência que isso é uma depressão profunda ou um estado de choque grave? – o médico estranhou que não houvesse nenhum motivo para aquele estado. Duo nem mesmo se mexia, não falara nada, não reclamara...Seja lá o que tivesse acontecido, era realmente grave.
- Sim, senhor! – a voz de Heero não saiu tão fria como ele planejara.
- Vou pedir para que leve seu amigo a esse psicanalista – disse enquanto pegava um cartão dentro da gaveta de sua escrivaninha – acho que ele poderá ajudar mais do que eu. Não se preocupe com hora marcada, ligarei agora mesmo e direi que é urgente.
Heero se sentiu mais seguro ao ouvir aquilo. O tal Dr Gray parecera realmente preocupado com Duo, talvez devesse ter falado? Não...Se Duo quisesse comentar algo ele mesmo falaria.
O consultório do psicanalista indicado pelo Dr Gray não ficava muito longe e em cerca de quinze minutos Heero já se encontrava lá com Duo. A secretária pediu que esperassem a saída do paciente que estava sendo atendido naquele momento e avisou que eles seriam os próximos.
Enquanto esperava sentado no sofá observava Duo. O japonês o tinha colocado sentado no outro sofá e daquela maneira ele permanecera. Os lindos olhos violetas fitavam o nada, a respiração era lenta, quase imperceptível. Quem o visse poderia jurar que ele estava morto.
- Duo? – ele chamou baixinho, esperava que o americano saísse gritando que era uma brincadeira e que ele o havia pego...Mas isso não aconteceu, Duo continuava fitando o nada.
- Sr Maxwell? – a secretária chamou e Heero levou Duo até o consultório. O jovem psicanalista que os atendeu foi bem simpático e após uma conversa rápida com Heero pediu para que ele se retirasse porque queria falar com Duo sozinho. O japonês saiu, a contra gosto, mas saiu.
Heero esperou, esperou, esperou, cansado de esperar resolveu avisar aos amigos onde estava já que se lembrara de que havia dito que ligaria avisando para onde levaria Duo. Falou com Wufei, esperou mais um pouco...Folheou algumas revistas velhas, leu algumas notícias de política onde comentava alguma coisa de Relena, esperou mais um pouco e então finalmente o psicólogo o chamou para entrar.
A surpresa de Heero ao ver Duo sentado e conversando, não muito animado, mas já estava conversando, com o jovem Dr, foi inexplicável. Duo se levantou, indo em direção a sala de espera, foi andando com a cabeça baixa na tentativa de não encarar as íris azul-cobalto que o seguiam surpresas.
- Sente-se, por favor, senhor Yuy – o médico sentou-se na sua cadeira e fez menção para que Heero sentasse-se também.
- O que aconteceu aqui? – Heero perguntou se sentando e ainda olhando a porta pela qual Duo saíra.
Bem, vou tenta ser específico, o caso do seu amigo é grave, irei lhe recomendar alguns remédios, também pedirei que o traga aqui pelo menos duas vezes por semana. – o Dr disse já fazendo a receita do remédio que Duo necessitaria.
- Mas...Q que de tão grave ele tem? – Heero nunca gostara de falta de explicações, queria saber o que Duo tinha e ia descobrir.
- Uma depressão profunda, honestamente senhor Yuy, não sei como não foi reparada antes. – o olhar do médico era visivelmente repreendedor.
Como assim? – o japonês não entendera, Duo mudara drasticamente em uma semana, não poderia ser algo tão grave.
- Então parece que realmente não sabe? – o médico esperou que Heero mencionasse algo, mas ele apenas aguardou que continuasse – O problema do seu amigo vem de muitos anos atrás senhor Yuy, em todo caso vou lhe dar mais uma sugestão, mas isso o senhor faça se lhe agradar...
O japonês esperou as palavras atentamente, a confiança que aquele médico tinha do que dizia e a forma como o americano saíra dali o fizeram acalmar-se um pouco mais, aquele homem provavelmente poderia ajudar Duo.
- Eu sugiro que de mais atenção a Duo, leve-o para passear, peça-lhe pra que conte sobre seus medos. Até hoje Duo nunca havia falado disso com ninguém e isso desencadeou uma depressão como a que o senhor viu. Se demorasse mais alguns minutos para perceber não sei o que poderia ter acontecido. Mas como eu ia dizendo leve-o para lugares que o agradem, lugares que ele goste de ir, Duo precisa de carinho, de amigos e se realmente o quiser bem é isso que fará por ele.
Quando saiu da sala do médico Heero encontrou um Duo sorridente folheando as mesmas revistas velhas e chatas que ele folheara. O japonês não sabia o que dizer, o que fazer, descobrira naquele dia, naquele momento, que Duo não era assim. Descobrira que Duo não era apenas alguém que matava por achar divertido, que tinha medos...Descobriu que o Deus da Morte era apenas uma fachada para esconder alguém que estava morto há muito tempo, e aquele jovem doutor lhe incumbira a missão de traze-lo novamente a vida, e ele como o soldado perfeito que era e que jamais recusara uma missão em sua vida, aceitara. Faria tudo para ter Duo, alegre e sorridente de volta.
Duo acordou com os raios de sol batendo em seu rosto suavemente, não estava sentindo-se bem mais uma vez. Abriu os olhos e viu Heero na janela abrindo as cortinas. O sol iluminando levemente o corpo do japonês, a leve brisa que soprava entrando pela janela e encontrando-se com os fios castanhos tornavam aquela imagem agradável aos olhos de Duo. Mesmo estando doente ainda era capaz de ver em Heero algo que...Queria ser?
Ah você acordou? Tão cedo? – Heero olhou para o americano ainda deitado, apesar de não aparentar estava surpreso pelo companheiro de quarto estar acordado tão cedo.
- Uhun – Duo apenas fez um muxoxo sentando-se na cama e deixando seu tórax bem definido exposto.
Eu não tinha a intenção de te acordar, mas estava trazendo o café da manhã que Quatre preparou, vai querer? – Heero deu um meio sorriso
Duo olhou fixamente nas íris azul-cobalto, em toda sua vida jamais vira Heero sorrindo, jamais o vira demonstrar qualquer tipo de emoção e...Ele estava se esforçando para ajuda-lo? Será que Heero Yuy se importava com ele?
Sim – Duo pronunciou as palavras lentamente, deveria ser coisa da sua cabeça perturbada, pois Heero jamais se importaria com alguém, muito menos com ele...Duo Maxwell, nem mesmo era esse seu nome...
O japonês levou a bandeja até a cama do americano e foi até o guarda roupa, abrindo a parte designada ao companheiro.
Hei! O que está fazendo? – Duo perguntou depois de tomar o primeiro gole do leite com muito esforço, não estava com fome apesar do café da manhã parecer apetitoso.
Vamos sair! Vou leva-lo ao parque para caminhar, depois vamos ao shopping comprar umas coisas e por fim eu pretendo levá-lo na sorveteria, eu sei que você adora sorvete. – Heero escolheu uma blusa vermelha de manga comprida e uma calça preta, pegou também um casaco e colocou em cima da cama sorrindo para um Duo visivelmente espantado.
A mente de Duo trabalhava a mil por hora, tentando processar todas aquelas informações, afinal o soldado perfeito tinha separado, bem dizer, seu dia inteirinho para acompanha-lo? Mas por quê? Ele realmente não conseguia entender.
Heero puxou uma cadeira e virou-a para a cama de Duo, passou a observa-lo tomar o café submerso em seus pensamentos, o americano nem mesmo reparara que ele o estava observando. Heero reparava cada detalhe, a expressão que ainda não havia chegado nem perto do que fora um dia, os lindos olhos violetas ainda emanavam aquela tristeza e o sorriso radiante não mais estava presente. Foi então que se lembrou das palavras do médico "Eu sugiro que de mais atenção a Duo... Duo precisa de carinho".
Duo... – sua voz não saiu alta e o americano só escutou porque estava um silêncio profundo no quarto.
- Hn? – o americano o olhou terminando o pouco que tinha comido do café.
- Não vai comer mais? – Heero perguntou andando em direção a ele novamente.
Duo fez um movimento de negação com a cabeça e voltou a deitar-se, como que dizendo que não estava a fim de sair aquele dia. E realmente não estava, queria morrer, queria que tudo e todos sumissem da sua frente.
Duo – a voz de Heero continha um tom suplicante, mas o americano nem mesmo se moveu.
- Desculpe, eu não to me sentindo bem hoje cara. – Duo fechou novamente os olhos e deixou as imagens a as palavras invadirem sua mente novamente perdendo-se em seus próprios devaneios enquanto Heero observava ele mergulhar-se cada vez mais em um precipício que ele já sabia possuir apenas um fim, a morte...Do Deus da Morte.
O japonês saiu do quarto levando a bandeja, quase como foi entregue a Duo, para a cozinha.
- Ele não comeu muito – Quatre olhou preocupado para Heero.
- Não! – a típica voz do soldado perfeito se fez presente. Trowa que estava sentado na mesa levantou uma sobrancelha diante de tanta frieza, ele e Quatre apenas observaram o soldado perfeito sair irritado.
- O que deu nele? – Quatre perguntou se aproximando do moreno e olhando a porta por onde Heero saíra.
- Você não sabe? – Trowa sorriu ao ver a ingenuidade que seu koi às vezes mostrava.
- Não! – Quatre o olhou com um olhar que pedia uma explicação.
- Ele está desesperado. – as palavras de Trowa entraram como uma bomba nos ouvidos de Quatre. Heero! Desesperado? Era impossível.
Como assim? – o olhar de espanto era visível no rosto do loirinho
- Ele ama Duo, mesmo que não tenha percebido, vê-lo nesse estado é desesperador demais.
Quatre analisou aquelas palavras. Se fosse seu Trowa numa cama naquele estado lastimável ele estaria muito mais do que desesperado. Será que Heero realmente amava Duo como seu querido Trowa havia dito? Bem...Havia uma remota possibilidade.
O soldado perfeito ficou na varanda um bom tempo pensando e pensando. Tudo que poderia alegrar Duo lhe passou pela cabeça. Nada lhe serviu. Começou a escutar o latido de um cachorro e uma criança provavelmente que brincava com ele chamava por seu nome. Foi então que teve a idéia mais simples que poderia existir, e isso alegraria tanto ele quanto Duo.
Entrou rapidamente na casa e subiu as escadas em direção ao quarto, Duo estava dormindo angelicalmente na cama, com as cobertas estendidas sobre todos o seu corpo e as mãos fechadas como se tivesse dormindo rezando.
Perfeito – Heero falou baixo para ele mesmo, colocaria seu primeiro plano em prática e com certeza conquistaria a confiança do americano pelo menos para tira-lo daquela maldita cama.
Foi até a escrivaninha e ligou o laptop, era tudo questão de um e-mail para seu velho 2 amigo Dr J. digitou calmamente cada palavra do e-mail. Releu e enfim o enviou, só teria que aguardar uma resposta e quem sabe poderia ver Duo sorrir novamente com a única coisa que era capaz de lhe fazer sorrir. Olhou no relógio e viu que já estava na hora do almoço.
- Hei Heero! O Quatre preparou um almoço de dar água na boca, você vai comer com a gente ou vai almoçar mais tarde? – Wufei perguntou quando o japonês apareceu na cozinha, não era muito freqüente sua aparição no almoço, pois sempre estava trabalhando em alguma coisa importante e não gostava de ser interrompido.
O japonês não respondeu nada, apenas sentou-se em uma cadeira vazia e ficou esperando Trowa e Quatre terminarem de colocar as coisas na mesa.
Wufei tentou quebrar o clima de tensão durante todo o almoço, ele não era bom nisso, nunca fora e não seria agora que ia ser, mas não queria ver todos preocupados com Duo, afinal o americano fazia uma falta desgraçada com seus falatórios intermináveis sobre qualquer assunto que fosse.
- Quatre? – Heero se fizera ouvir pela primeira vez desde o inicio do almoço
Diga Heero! – o loirinho sorriu amavelmente vendo que o outro não tinha o olhar mais seguro que possuía.
Você conhece ferrets? – Quatre o olhou visivelmente surpreso, não esperava uma pergunta tão..tão...simples.
- Sim conheço e são muito bonitinhos por sinal, mas eu nunca vi um de verdade – o loirinho falou com um dedo no rosto como que tentado se lembrar de uma imagem ou coisa assim. – mas por quê?
- Não é nada não – os quatro ouviram o som de passos descendo as escadas. Duo ficou na porta vendo que todos o estavam observando.
- Heero! Aquela máquina estúpida está apitando. Hei, Quatre que tem pra comer aí? Eu to morto de fome! – ele sentou-se à mesa rapidamente e começou a colocar a comida no prato. A alegria de todos os pilotos era inimaginável, afinal o amigo parecia um pouco melhor apesar das olheiras profundas e da aparência frágil.
Heero entrou no quarto e foi imediatamente ler o e-mail que havia chego.
"Caro Odin! 3
Não imaginava que depois de tanto tempo você me faria um pedido desses, mas afinal ele é seu e apesar de eu ter mesmo me apegado a ele se você acha que poderá ajudá-lo eu enviarei o mais rápido possível.
Tanto eu quanto os outros cientistas ficamos surpresos ao saber o estado de saúde em que Duo Maxwell se encontra e o Dr G. pediu que dissesse o quanto ele se surpreendeu pois apesar de todas as coisas horríveis que Duo passou ele jamais mostrou algum tipo de pesar por isso, apenas desejava a vingança e o bem das colônias assim como você e os outros pilotos. Assim que tiver noticias de melhoras informe-nos imediatamente.
Dr J."
Uma imensa alegria tomou conta de Heero, finalmente poderia estar na companhia dele de novo. Desceu as escadas 4 e chegou na cozinha a tempo de ver o americano terminando seu almoço.
Duo eu tenho que ir ao shopping você quer ir comigo? – Heero o convidou mesmo que isso necessitasse em desmascarar seu plano.
- Não Heero, eu acho que vou jogar um pouco de videogame, não to com animo pra sair.
- Tudo bem então. – sendo assim o japonês saiu porta afora indo em direção ao shopping comprar o que necessitava com tanta urgência
Heero comprou todas as coisas que achava necessárias para poder cuidar dele. Pelo menos se Duo não se alegrasse com aquilo ele se alegraria, sempre se alegrava com a presença dele.
Não gostava muito de shoppings, mas a loja que ficava lá era a mais perto e não pretendia deixar Duo muito tempo sozinho. Ansiava pela chegada de seu amigo, poderiam ir junto com Duo passear.
O japonês chegou em casa com várias sacolas assustando até mesmo seus colegas.
Heero ligaram do espaçoporto lhe avisando que chegou uma encomenda no seu nome. – o loirinho sorriu amavelmente se oferecendo para pegar algumas das sacolas.
Quatre mal terminou de ajudar seu amigo com as sacolas e já o viu saindo novamente, provavelmente indo buscar a tal encomenda.
Heero terminou de assinar o último dos papéis e finalmente encontrou quem estava tão ansiosamente esperando. Sabia que Duo iria gostar.
O americano entrou no quarto e estranhou não encontrar o japonês, provavelmente Heero estava envolvido em outra missão de prevenção da paz. Ele realmente deveria gostar de batalhar. Foi então que o americano viu uma luz entrando pela porta que se abria lentamente, junto com aquela luz Heero que segurava alguma coisa, a visão do japonês naquele feixe de luz era incrivelmente...sexy? Duo não sabia explicar direito o que achava, mas naquele segundo seus olhos violetas só viam Heero, como um anjo que vinha salva-lo de sua própria foice, que o chamava com os penetrantes olhos azul-cobalto novamente para a luz, e retirando-o daquela eterna escuridão em que sempre vivera.
Duo? – o japonês o tirou de seus devaneios ao chamar por sue nome tão...docemente?
Heero? – só nesse momento Duo percebeu no que estava pensando e corou fortemente, repreendendo-se mentalmente por pensar tal coisa.
- Eu trouxe um amigo, espero que não se importe – Heero ficou ali parado em frente ao pequeno feixe de luz como que esperando uma resposta do americano que estava apenas a olha-lo preso em seus pensamentos.
O sentimento que se apoderou de Duo fora estranho, "amigo"? Heero tinha vindo com um amigo...o japonês nunca dissera que eles eram amigos. Sentiu inveja do tal "amigo" de Heero, e sentiu ciúmes...afinal, será que aquele amigo era apenas um amigo? Até mesmo porque Heero Yuy não tinha amigos. Pelo menos era o que Heero havia lhe dito uma vez. Aquela dor profunda voltou a assola-lo e as imagens a retornar em sua mente. As imagens de sua vida que tanto o perturbavam. As imagens das mortes, e seu amigo...de tudo, a dor profunda que aquilo lhe causara.
- Não tem problema pra mim – novamente usava de sua máscara, novamente fingia, mentia e se apunhalava, deitou-se na cama e cobriu-se, tremia, tremia exageradamente...e não sabia por quê...
O japonês saiu do quarto para entrar novamente em poucos segundos, trazendo um lindo ferret de pelagem cor de mel consigo.
Hei, Duo! Quero lhe apresentar meu amigo Herói 5
Duo estranhou ao ouvir aquele nome, parecia nome de animalzinho de estimação...olhou por entre as cobertas e viu o maravilhoso ferret nos braços de Heero que fazia carinho na cabeça do bichinho.
Que animal é esse Heero? Uma doninha? – Duo se levantou e foi ver o bichinho mais de perto.
É um ferret! Da mesma família da doninha. Eu o tenho desde que era pequeno e pedi ao Dr J que o enviasse novamente agora que a guerra acabou. – o japonês dizia aquilo com uma empolgação atípica do soldado perfeito. Aquele seria Heero Yuy?
- Eu sabia que você gostava de animais, mas nunca pensei que tivesse um tão...exótico... – Duo acariciou o pelo macio e olhou novamente com um sorriso bobo para Heero. Aquele sorriso meigo e infantil, que só Duo possuía e que inundava o coração de todos os outros ex-pilotos, e principalmente de Heero, de alegria.
Quer pegá-lo? – Heero ofereceu colocando o bichinho que logo se aconchegou no colo do americano.
Pela primeira vez em muito tempo, Duo sentiu-se bem, talvez por saber que era aquele pequeno animalzinho que ligava o soldado perfeito ao pouco que sobrara do seu lado humano, talvez por saber que aquele pequeno animalzinho representava muito para Heero e talvez por saber que aquele pequeno animalzinho poderia acalmar seu coração assim como provavelmente podia acalmar o coração de Heero. Mas será que...o japonês sabia daquilo e o fizera de propósito?
Duo despediu-se do seu psicanalista e saiu do consultório procurando o carro de Heero que deveria estar chegando para buscá-lo. Sentia-se sempre um pouco melhor ao sair das consultas, era como que retirar a tristeza de sua alma, mas sabia que aquilo não era o suficiente, ainda sentia-se sozinho e desamparado. Mesmo que Heero viesse tratando-o muito bem nas últimas semanas, sabia que japonês não faria isso por muito tempo, até mesmo porque não era do feitio dele ficar tratando de um marmanjo.
Os pensamentos do americano foram interrompidos ao ver o carro preto estacionando bem a sua frente. O japonês estava com a habitual regata verde e com uma calça jeans, o toque de diferente dessa vez eram os óculos escuros. Sem sombra de dúvida Heero ficava incrivelmente sexy com aqueles óculos.
- Vamos Duo? – o japonês deu seu meio sorriso convidando o americano para entrar.
Foi nesse instante que Duo sentiu seu coração acelerar. Aqueles braços fortes sempre visíveis, aqueles olhos tão incrivelmente penetrantes e sedutores, agora escondidos por uns simples óculos, aquele corpo másculo que fazia qualquer garota parar no meio da rua e seguir os passos do japonês. Aquela personalidade terrivelmente estranha, aquela perfeição em tudo que ele fazia, aquele meio sorriso carregado de mistério, aquele passado tão enigmático...
Duo! Vai ficar muito tempo aí olhando pro nada ou vai entrar? – o tom de irritação utilizado pelo japonês fez Duo entrar mecanicamente dentro do carro e fechar aporta sem nem mesmo mencionar uma palavra, fato que com certeza o japonês estranhou muito.
Estavam quase chegando em casa e Duo continuava em sua auto-análise, percebera finalmente que o japonês o confundia, não sabia o que sentia pelo amigo, nem mesmo sabia se ele o considerava um amigo...
- Heero? – tinha que tirar aquela dúvida que destruía seu coração e despedaçava sua alma, Heero era o único com quem ele se importava atualmente, mas será que o japonês também se importava com ele, como pessoa? Ou seria apenas como um parceiro de missões pela paz? Ou nem mesmo isso seria...
- Uhn? – o japonês sentiu-se estranho, o temor na voz do americano o perturbara, geralmente Duo saia muito mais comunicativo de suas consultas e no entanto hoje ele estava extremamente calado.
- Você...bem...você me considera seu amigo? – o tom de voz usado por Duo saiu mais baixo do que o desejado e o tremor explícito fizeram aquela pergunta revelar tudo que Duo estava pensando por si só.
Heero pisou bruscamente no freio fazendo o carro girar uma vez na pista. Encarou o americano e em seguida tirou os óculos escuros com uma raiva aparente. Os olhos azuis fitavam com raiva os violetas e denunciavam, ao mesmo tempo em que vasculhavam os pensamentos do americano. Os sons das buzinas dos carros de trás nem mesmo era ouvido e nenhum dos dois ligou para aquilo no momento, para ambos só existiam Heero Yuy e Duo Maxwell no universo, e ninguém mais e nada mais...
Você sabe a resposta. – Heero disse com raiva. Como aquele baka poderia não saber aquilo? Faria tudo que fosse necessário para vê-lo sorrir e o baka ainda tinha a audácia de perguntar se ele o considerava um amigo?
- Não Heero! Eu não sei, não sei o que você pensa, não sei se me considera um amigo, um parceiro de missões ou um estorvo na sua vida, não sei quem você é não sei nada sobre você, só sei que seu codinome é Heero Yuy e que nem mesmo esse é seu nome, só sei que você é um ex-piloto de Gundam e que veio da região L1 é só o que sei sobre você...da onde você veio e o que fazia...nada mais...Não sei nada mais Heero. – a ultima frase foi dita em meio a lagrimas e desespero e o olhar frio do japonês mudara para um olhar confuso, não sabia o que fazer, não sabia o que dizer...pois tudo que Duo havia dito era a verdade.
- Mas assim como você não sabe nada sobre mim eu não sei nada sobre você, apenas que seu nome é Duo Maxwell, isso se realmente for seu nome e também sei que você foi criado na região L2 e nada mais...de certa forma não somos muito diferentes, pois da mesma forma que você não sabe nada sobre mim eu não sei nada sobre você, e da mesma forma que você não consegue adivinhar meus pensamentos eu não consigo adivinhar os seus...sendo assim eu lhe pergunto...Duo Maxwell você me considera seu amigo?
Os dois ficaram presos analisando um a pergunta do outro, finalmente perceberam que nunca haviam se conhecido, não passavam de meros colegas, e que nenhum deles conhecia os medos um do outro, seus pensamentos ou seus desejos...
- Vamos pra um lugar que não seja o meio da rua...logo os caras ai de trás vão chamar a policia e então esse assunto será esquecido. – o japonês voltou a dirigir mudando totalmente de direção.
Heero estacionou o carro em frente a um dos parques londrinos, pegou o casaco do banco de trás e saiu logo depois do americano. Os dois caminharam um longo tempo, um ao lado do outro em um silêncio profundo...sabiam um o que o outro estava pensando, aquelas perguntas e afirmações ainda ecoavam na mente de ambos. Mas nenhum dos dois tinha coragem de tomar iniciativa naquela conversa...nenhum do dois tinha coragem de revirar seu passado e nem mesmo queria revirar o do outro, com receio de encontrar algo que realmente poderia afasta-los. Sentaram-se embaixo de uma grande árvore, observavam as aves planarem no céu meio acinzentado, e as crianças correrem em meio ao verde do parque. Alguns casais andavam de mãos dadas enquanto outros levavam o cachorro pra passear, algumas pessoas apenas se exercitavam e outras passavam apressadas sem nem mesmo perceber o lindo lugar onde estavam. Mas aquele lugar trazia uma paz para o coração dos dois jovens, uma paz inexplicável e incrivelmente confortante. Porém aquele assunto teria que ser resolvido.
- Heero... – Duo decidiu começar aquele difícil assunto para ambos, ele iniciaria falando e novamente não obteria nenhuma resposta de Heero...
- Eu lhe contarei o que quiser...mas antes quero que saiba que realmente o considero meu amigo e só por isso vou lhe dizer. – o olhar sempre frio e impassível de Heero dera lugar a uma expressão de medo e tristeza. Algumas mechas da franja cobriam parcialmente seus olhos e naquele momento Duo teve certeza de que aquele ao seu lado não era o Soldado Perfeito mas sim Heero Yuy...ou seja lá como que ele se chamasse, aquele era o seu amigo...de verdade, o raro lado humano de Heero que Duo imaginava somente existir para o meigo Herói, aquele lado humano que ele jamais vira porém com o qual sempre sonhara.
Naquele momento, enquanto o vento soprava e os dois se olhavam com amargura e pesar soube que nunca mais estaria sozinho, e que sempre teria a amizade de Heero para lhe confortar...e que finalmente depois de tanto tempo...seu nome "Duo" voltara a fazer sentido. Ou talvez, até mesmo quem sabe, Deus não estava lhe mostrando um milagre e trazendo das cinzas e do mundo dos mortos o lado humano de Heero Yuy que jamais fora revelado a nenhum dos pilotos Gundam? Um milagre? Ou talvez Heero realmente era quem o tiraria do mundo das sombras...e ele Duo Maxwell quem traria calor para aquele coração frio como o gelo?
O americano olhou profundamente nos olhos azuis de seu amigo, pela primeira vez contaria aquilo a alguém com suas próprias palavras...nem mesmo Dr G sabia direito a história, só pequenas informações que havia descoberto por conta própria.
Heero...eu acho que sou eu quem deveria contar primeiro... – as palavras já estavam difíceis de sair antes mesmo do americano começar...
- Mas Duo... – o japonês ia protestar quando foi interrompido
- Eu estou lhe causando muitos problemas por causa disso...e acho que o justo é você saber o que realmente é, e então se você quiser e quando quiser...poderá me contar o que achar necessário. Entendido? – o olhar de Duo lembrara Heero do tempo de missões, onde Duo sempre aparecia sorrindo e acabava, mesmo que por um curto espaço de tempo, com aquela tensão profunda da guerra. Era aquele mesmo olhar que o cativara, que o encantara e que o fizera perceber o quão vazia era sua vida. Porém ironicamente agora ele ouviria a verdade, a história de Duo, que ninguém conhecia, que o fizera entrar naquela depressão profunda, que o fizera perder aquele sorriso e aquela vontade de viver.
Entendido – Heero aceitara aquilo, precisava saber a verdade, precisava ajudar Duo, era o que o médico havia pedido, era sua missão...ajudar Duo.
Quando eu era pequeno meus pais morreram na guerra, então passei a viver na rua. Eu nunca quis ver mais ninguém, que representasse alguma coisa pra mim, morrer. Então eu encontrei um menino, não muito mais velho que eu, ele me ensinou a sobreviver sozinho, éramos os melhores amigos que poderiam existir – nesse momento os olhos de Duo se encheram de lágrimas e sua voz começou a falhar, aquelas lembranças ainda eram claras demais em sua memória.
- Duo...se isso te machuca tanto...é melhor não continuar – Heero estava falando a verdade, sentiu um aperto no coração ao perceber a dor que se apoderava de seu amigo ao lhe contar aqueles fato...mas na verdade, aquelas eram as verdadeiras lembranças de uma guerra...aquelas eram as verdades que nunca eram ditas, nem em livros, jornais ou revistas, aquela era a dor de um civil, que havia perdido tudo e não de um soldado...que morrera em batalha, será que era isso que Treize sempre quisera dizer? Quem poderia saber...
- NÃO! Eu...eu quero te contar Heero... – a verdade expressa naqueles olhos violetas era evidente e Heero não teve como negar continuar a ouvir.
- Tudo bem, Duo.
- Esse meu amigo um dia foi arrumar comida pra gente...nós tínhamos descoberto um depósito da Aliança em que eles guardavam algumas coisas e estávamos roubando comida de lá... Eu comecei a estranhar quando vi que ele estava demorando demais, então resolvi sair do lugar que eu estava e ir atrás dele, eu sabia que isso contrariava o nosso plano inicial mas...eu fiquei preocupado, ele era a única família que eu tinha... – o americano parou por um instante olhando o céu acinzentado de Londres, como que perdido demais em suas lembranças.
O que aconteceu com ele Duo? – aquela história estava ficando interessante, e apesar de Heero não entender bem o por que, saber que Duo tivera um amigo tão...próximo o incomodava.
Eu o encontrei voltando pro local que tínhamos combinado trazendo uma sacola com a comida necessária. Ele estava estranho, cambaleava um pouco, e se segurava na parede como que precisasse dela para andar. Foi só então que eu percebi que ele estava ferido. – Duo abaixou a cabeça e a franja cobriu parcialmente seus olhos, ele considerava que aquele dia, era o dia em que realmente havia morrido.
- Ferido? E...o que houve? – Heero não conseguia negar que estava curioso, embora tivesse cuidado para que não fizesse seu amigo ir mais longe do que realmente gostaria naquela conversa...
- Foi só quando eu cheguei mais perto que eu vi, ele havia sido baleado, uma de suas mãos estava sobre o ferimento que não parava de sangrar. Eu corri na direção dele, e ele não tendo mais forças pra ficar de pé caiu, eu cheguei a tempo de segurá-lo. Meu amigo, meu melhor amigo, minha única família, a única pessoa importante pra mim...estava morrendo, por causa daqueles soldados desgraçados da Aliança. Ele me pediu desculpas... Ele me pediu desculpas Heero...desculpa por não poder continuar mais a me ajudar, porque não poderíamos mais ficar juntos, mas ele jurou que sempre estaria ao meu lado e enquanto eu lembrasse dele ele estaria no meu coração e então seriamos um só... Foi então que ele morreu...e eu passei a me chamar Duo... – Apesar de não haverem mais lágrimas nos olhos do americano a tristeza era evidente em seu olhar. Eram tristes lembranças para Duo...
Heero ficou observando aquela cena, agora entendia porque Duo...dois, era simples, Duo levava seu amigo consigo não importava onde fosse...eram duas pessoas, sempre juntas, o laço que unia aquela amizade era tão forte que a morte não pudera separar? Heero não entendia aquilo muito bem. Mas sabia que seu ex-parceiro de missões precisava somente de um amigo... 6
Algumas gotas de chuva começaram a cair, Duo se levantou e estendeu a mão para Heero, sabia que tinham combinado de contar um para o outro sobre seu passado, porém contar coisas tristes em meio à chuva era meio desagradável.
- Vamos para outro lugar? – Duo sorriu, pela primeira vez depois de muito tempo confiava em alguém...e esse alguém era ninguém mais ninguém menos do que Heero Yuy...se esse realmente fosse seu nome.
- Vamos – Heero levantou-se e foram caminhando calmamente pela chuva em direção ao carro. Nenhum dos dois tinha pressa, não tinham porque querer se apressar.
Heero continuava pensando no que Duo acabara de lhe contar, e soube distinguir o que estava sentindo, inveja, inveja do amigo de Duo. Que apesar de ter morrido ainda era lembrado cada vez que alguém chamava pelo americano. Sentiu inveja do carinho que Duo tinha por aquele rapaz, sentiu inveja por nunca ter sido tão especial assim para o americano.
Heero? Não vai abrir o carro? – somente naquele momento Heero percebeu que já estavam na frente do carro há algum tempo.
- Eu gosto da chuva. – Heero falou ainda em meio a seus pensamentos
- Você pode gostar, mas eu to com frio... – Duo fez uma cara de pobre coitado que conseguiu arrancar um meio sorriso de Heero.
- A chuva sempre me deu uma sensação de que estavam limpando minha alma...e meus pecados – Heero comentou depois de achar a chave em um dos vários bolsos de seu casaco.
- Eu nunca tinha pensado dessa forma – Duo entrou rapidamente no carro tentando fugir das gotas que engrossavam.
- Dessa forma? Pensava nela de outra maneira? – Heero perguntou curioso já ligando o automóvel.
Quando eu estava na igreja me ensinaram que chovia nas colônias por causa da climatização artificial, mas que na Terra era diferente. -
- Diferente como? – Heero resolveu continuar aquele tema mesmo, perguntaria a Duo sobre a igreja num outro momento.
- Me diziam que na Terra chovia porque Deus via as crueldades que os humanos cometiam, e ficava triste, então ele chorava e as gotas da chuva eram as lágrimas de Deus. – a sinceridade que Duo falava aquilo fez Heero pensar em como poderia alguém de coração tão puro ter sido levado pela guerra. Quatre podia até ter um coração puro, mas ele escolhera guerrear. Duo parecia que tinha sido arrastado por tudo aquilo...assim como ele...
- Duo, vamos voltar? – Heero não estava se sentindo bem, lembrar de tudo não era muito agradável para ele, talvez também não fosse para Duo.
- Claro – o americano sorriu, para Heero fora mais um dos radiantes sorrisos do amigo, para Duo significava o começo de uma nova vida.
Quatre subiu as escadas e parou no meio do corredor olhando para a porta do quarto do americano e do japonês. Andou mais alguns passos e colocou a mão na maçaneta, abriu a porta lentamente e avistou a típica bagunça de Duo contrastando com a perfeita organização de Heero, percorreu o quarto novamente com os olhos e avistou ao lado do laptop de Heero uma gaiola com o simpático ferret. Entrou no quarto e fechou a porta devagar para que ninguém pudesse ouvir o som, aproximou-se mais da gaiola e ficou observando o bichinho algum tempo.
- Olá Herói...eu sou Quatre... – ficou olhando para o pequeno animal mais alguns minutos até ouvir Trowa lhe chamando.
- Quatre? – o jovem de olhos esmeralda analisou novamente o loirinho, desde que Duo tivera ficado doente, Quatre estava agindo estranhamente.
- Olá Trowa? O que você quer? – Quatre sorriu docemente, porém Trowa o conhecia muito bem para saber quando algo incomodava o loirinho...
- O que está te incomodando meu anjo? – direto ao ponto. Trowa não gostava de enrolar...era melhor assim, ou então Quatre conseguiria se desvencilhar de alguma forma, o árabe tinha suas maneiras de fugir de questões que não lhe agradavam
- Não é nada não – Quatre sorriu amarelo, quando Trowa não enrolava muito era realmente difícil fugir...
- Eu te conheço Quatre, quero saber o que está te incomodando tanto – Trowa aproximou-se e abraçou o árabe suavemente olhando no profundo azul de seus olhos.
- Estou com um mau pressentimento Trowa...se Duo pode ficar assim agora, todos nós podemos – os olhos azuis de Quatre demonstravam toda sua preocupação para com o outro.
- Se Duo ficou assim, foi porque ele e Heero não souberam admitir nada antes...e ainda não souberam, não se preocupe logo tudo vai se resolver – Trowa deu um beijo suave em seu namorado tentando acalmá-lo, nesse momento ouviram o som da porta se abrindo.
- Olá Heero, Duo! – Quatre cumprimentou os amigos enquanto Trowa nada falou, ficaram observando o americano e o japonês subirem as escadas...
- Viu só? Eles ainda não disseram nada um para o outro – Trowa comentou com um sorriso discreto no rosto...
- Disseram o que? – Quatre perguntou genuinamente curioso
- Que se amam... – Trowa ficou observando a reação de seu koi...realmente ele parecia ainda não ter percebido
- Como você sabe disso? – Quatre o olhava confuso, ainda tentando entender a situação
- ...Está na cara, só não vê quem não quer – Trowa terminou aquela conversa por ali, já tinha falado demais por um dia...
Heero estava escovando Herói enquanto Duo estava no banho, como aqueles momentos com seu precioso Herói eram bons, faziam-no esquecer das terríveis batalhas, das mortes, do sofrimento...será que era aquilo que Duo procurava? Consolo? Ou ele apenas queria esquecer seu passado? Pensando dessa maneira...Heero também queria esquecer seu passado, e já tentara se matar antes...diversas vezes, porque agora não mais queria isso?
Duo saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e uma nos cabelos tomando o fôlego de Heero. Era uma visão linda demais, Duo era perfeito, o tórax bem definido, nunca tinha antes visto o Shinigami sem seus trajes negros.
- Heero você viu minha escova de cabelo? – Duo perguntou tirando a toalha e secando as mechas castanhas...que agora caiam suavemente sobre seu tórax.
Heero olhava admirado, já havia reparado como a beleza de Duo era exótica e atraia o olhar de todas as pessoas que estavam por perto, mas nunca tinha reparado que parte desse encanto era a sensualidade do americano, uma sensualidade que Duo possuía e nem mesmo fazia idéia do quão forte era, pois sem querer ele já era sensual, foi então que veio uma idéia a mente de Heero... e se Duo quisesse ser sensual? O japonês ruborizou só ao pensar nas inúmeras possibilidades...
- O Heero! Vai ficar olhando muito tempo ou vai me responder? – Duo já estava nervoso com aquele olhar gélido em cima dele...
- Está ali no meio da sua bagunça...entre as roupas sujas, e as limpas, embaixo da cueca preta – Heero continuou olhando e acariciando Herói enquanto Duo procurava a escova no meio das coisas. Foi nesse pequeno instante de tempo que Heero deu uma folga com a mão que o pequeno ferret se desvencilhou e saiu correndo pelo quarto.
Duo olhou e viu o bichinho vindo em sua direção rapidamente, tentou segurá-lo mas escorregou em uma camiseta e caiu com tudo no chão...Heero que vinha correndo atrás tropeçou em um sapato e caiu sobre o americano. O ferret se aproximou e ficou encarando os dois pilotos que quanto mais tentavam pegá-lo mais se enrolavam naquele amontoado de roupas, sapatos, pernas e braços...por fim estava Heero deitado de bruços no chão e Duo sobre ele, já sem a toalha que o cobria anteriormente...
O ferret continuava encarando-os, naquele momento tanto Heero quanto Duo, se sentiram patéticos...dois pilotos gundam, treinados, os melhores soldados da Terra e das Colônias, incapazes de...pegar um ferret dentro de um quarto.
- Patético – Heero falou colocando a testa no chão em sinal de desistência...Duo que ainda estava em cima dele sorriu...
- Heero? Você sempre foi assim? – embora a pergunta do americano pudesse soar estranha para alguém que entrasse no quarto naquele momento e visse aquela cena, Heero entendeu perfeitamente bem...
- Não Duo...só você e esse danadinho aí me viram assim – a resposta de Heero era apenas o começo de uma longa história...e assim como Duo, ele teria que contar seu passado.
Duo olhou para Heero corado ao perceber a situação em que se encontravam, provavelmente o japonês lhe mataria por estar deitado nesse estado em cima dele. - Hee...Heero me desculpa, por favor – disse se levantando, pegando a toalha e correndo novamente em direção ao banheiro, deixando um Heero perplexo e admirado, tentando ainda entender o que havia acontecido.Duo fechou a porta do banheiro e assegurou-se de tê-la trancado, olhou para o seu reflexo no espelho e teve certeza, certeza de que se saísse dali Heero o mataria. Havia demorado para se dar conta de que estava nú sobre o japonês... "Deus ele vai me matar"...Vários pensamentos correram por sua mente enquanto colocava suas roupas...Várias formas de torturas diferentes, mas então um desespero maior se apoderou dele ao perceber que Heero poderia ao invés de mata-lo, apenas ignora-lo. As lágrimas novamente surgiram e Duo deixou-se levar, Heero poderia deixar de falar com ele, poderia não querer nem mesmo olhar mais na cara dele...Eram amigos, estavam ficando amigos, depois de tanto tempo finalmente parecia que havia conseguido romper parte da barreira de gelo imposta pelo soldado perfeito, mas agora...Agora ele poderia voltar a odiá-lo profundamente como odiava antes...Como sempre o odiara...O americano voltou a olhar sue reflexo no espelho, a imagem refletida possuía olhos vermelhos e inchados, as íris violetas com um ar de desespero e sofrimento...Era um fato...Heero o odiava, profundamente, como ele não tinha reparado em algo tão evidente antes? Não era uma barreira de gelo que Heero impusera, apenas ele não gostava de Duo...Pois com Trowa ele era mais comunicativo, até com Quatre ou Wufei, mas com ele, com Duo Maxwell, ele era o soldado perfeito...Diante daquela constatação, Duo não fez mais nada além de chorar...Pelo grande equivoco que ele julgara ter cometidoHeero estava preocupado, já fazia mais de meia hora que Duo havia se trancado no banheiro depois da confusão que seu estimado Herói causou. O japonês olhou novamente para o chão onde anteriormente estava caído com o corpo nú do americano sobre si. - O que eu estou pensando – Heero apoiou levemente os cotovelos na escrivaninha e passou a mão pelos cabelos com uma expressão de desespero. Não sabia o que estava acontecendo com ele, não entendia aquelas reações, aqueles pensamentos.Finalmente ouviu a porta do banheiro se abrindo e Duo saindo com um sorriso maroto, como era antigamente, como nas épocas de guerra. Heero olhou profundamente nas íris violetas e então percebeu...- Ah desculpa a demora Heero, é que o meu cabelo embaraçou inteiro, daí eu tive que ficar um tempão pra tirar os nós...Sabe como é né? – Heero nada respondeu, ficou apenas olhando, finalmente havia percebido a verdade, e ainda não acreditava como pudera ter sido tão tolo em não ver antes como amava Duo, como amava aquele sorriso, aqueles olhos que emanavam alegria, aquele jeito tresloucado de agir, de pensar, de viver. Porém naquele mesmo momento em que Heero percebera seus sentimentos, ele esquecera totalmente do "pequeno" problema que Duo estava enfrentando, esquecera aquela depressão, aquela tristeza...Para ele, naquele momento só existiam Heero Yuy e Duo Maxwell naquele quarto. Seu coração batia descompassado enquanto se embriagava naqueles olhos violetas, aparentemente felizes. Mas enquanto Heero admitia seus sentimentos para si mesmo, Duo recolocava sua máscara de felicidade e alegria, não que antes fingisse ser feliz, ele era, mas agora apenas não suportava mais carregar todo o peso daquelas recordações sozinho. Para ele Heero o odiava, enquanto Quatre, Trowa e Wufei apenas o toleravam, ele tinha a obrigação de alegra-los para que não o odiassem, não queria que o odiassem como achava que Heero o odiava. Não queria de forma alguma.- Eu vou dormir, boa noite Heero – disse sorridente deitando-se em sua cama. – Heero estranhou aquilo, normalmente Duo não dormia tão cedo, mas quem sabe estivesse cansado...
Heero despertou com
os raios de sol batendo suavemente em seu rosto, não ousou
abrir os olhos, seu sonho tinha sido bom demais para que ele voltasse
a realidade tão rapidamente, ficou ali, deitado em sua cama
apenas ouvindo o canto dos pássaros e o som do vento que batia
nas árvores, o clima estava tipicamente londrino...E foi só
nesse momento que Heero resolveu abrir os olhos. "Hora de
encarar a realidade".Sentou-se em sua cama e passou a mão
pelos cabelos olhou para o lado e o susto que levou por não
ver Duo ali fora indescritível. Levantou-se rapidamente e
abriu a porta do banheiro não encontrando ninguém...Nem
se preocupou em trocar de roupa, desceu as escadas correndo em
direção a cozinha e também não o
encontrou. Olhou para o relógio que marcava seis e meia e
pensou em todas as piores possibilidades possíveis.
Recostou-se na parede e foi deixando-se cair ao chão
suavemente, seus olhos azuis fixos em lugar algum perdidos demais em
seus próprios pensamentos.Duo
entrou na cozinha e ficou observando aquela cena muito estranha,
Heero ainda de pijamas (o japonês jamais sairia do quarto de
pijamas sem um bom motivo), sentado no chão da cozinha,
olhando para o nada como se estivesse morto.-
Heero? – chamou pelo japonês andando mais alguns passos na
direção deleAssim
que ouviu a voz de Duo, Heero saiu de seu transe, não pode
evitar um sorriso ao ver o americano, com um agasalho de ginástica
uma faixa impedindo que a franja lhe caísse nos olhos e a
trança por cima do ombro. -
Nunca mais faça isso, você... – Heero percebeu o que
ia falar e parou, não ia admitir a Duo que tinha ficado
assustado. Não ia admitir que sentira como que seu mundo
tivesse desabado naquele instante...-
Credo, mas eu só fui comprar pão – a cara de Duo era
de quem realmente não estava entendendo nada-
Pão? E desde quando você acorda tão cedo? –
Heero não acreditou naquela história, Duo nunca
acordava cedo, para o americano acordar cedo significava estar de pé
as dez e meia e não às seis...Às seis era
madrugada...- Desde
quando eu não dormi nada durante a noite – Duo lançou
um olhar de "você é o culpado" para Heero.-
Os remédios? – o japonês falou indiferente ao olhar do
outro- Os remédios
colaboram, mas você falando a noite toda piora – Duo parou na
frente de Heero como que esperando uma explicação...Coisa
que certamente não viria-
Falando a noite toda? Não diga asneiras baka! – Heero já
estava indo para bater em Duo quando se lembrou do que o médico
lhe dissera "Duo precisa de carinho" ·
-
Sim...Você estava chamando alguém...Não estou
recordando o nome agora, mas pelo visto...Essa pessoa significou
muito para você... – Após Duo falar aquilo Heero
parecera voltar ao seu estado de choque. A verdade era que não
sabia o que podia ter falado. Seu passado era um segredo até
mesmo para o Dr J. Era um segredo, porque lhe feria, porque mostrava
o quanto não sabia nada sobre nada...-
Duo...É que... – as palavras eram difíceis de sair,
mas lembrou-se da história de seu amigo, e pelo pouco que
sabia, ele nem havia começado a lhe contar...O
americano percebeu as dificuldades que Heero estava tendo com as
palavras, coisa um tanto atípica, e que só poderia ser
culpa do que ele imaginava. -
Quando eu terminar de contar a minha você conta a sua lembra? –
Duo mostrou um sorriso maroto, trazendo um imenso alivio para o
japonês que em retribuição mostrou um meio
sorriso.- Bom dia!
Dormiram bem? – o loirinho perguntou entrando na cozinha
ligeiramente entusiasmado, sem duvida sua noite havia sido
ótima.-
Claro! Ah Quatre, como eu acordei cedo eu comprei o pão...Mas
que tal você preparar umas panquecas hein? – Duo fez uma cara
incrivelmente meiga, arrancando facilmente um sim de seu
amigo.- Está
bem Duo, só porque agora de manhã você tem
consulta com seu psicólogo não? -
É e eu preciso estar bem alimentado – o americano mostrou um
sorriso encantador e logo depois já estava se deliciando com
as panquecas que Quatre havia feito.
Duo olhou novamente para seu reflexo no espelho, estava vestindo uma blusa roxa, uma calça preta e por cima um pesado casaco de inverno também preto, com vários bolsos e alguns detalhes prateados. A ponta da trança presa com um elástico roxo para combinar com a camiseta e com o violeta de seus olhos, dava o "charme final".
Você está pronto Duo? – Heero abriu a porta do quarto se deparando com a bela imagem do americano, terminando de ajeitar sua franja.
- Sim, só mais um detalhe – Duo falou enquanto pegava um vidro de perfume.
- Você só está indo ao psicólogo, não tem pra que se enfeitar tanto. – o japonês já estava há meia hora chamando Duo para que fossem logo, mas o americano sempre tinha "mais um detalhe" para ajeitar em seu visual.
- Credo Heero não é porque eu vou ao psicólogo, que eu tenho que andar igual um mendigo. – Duo falou dramatizando excessivamente a situação.
Entraram no carro e não tardou para estarem novamente no já conhecido consultório, com a já conhecida secretária que sempre ficava conversando com Duo até ele ser atendido. A jovem garota não podia negar que em sua concepção quem necessitava daquelas consultas era o jovem japonês que ela se quer sabia o nome, e não o lindo e sensual Duo Maxwell que arrancava suspiros de muitas pacientes do Dr Wakifield. Porém como toda a secretária que tem acesso a ficha de pacientes, ela uma vez fora dar uma "olhadinha" para ver se encontrava o telefone do jovem Maxwell, quem sabe não poderiam sair juntos, e lá encontrou alguns dados sobre seu estado...ficara realmente alarmada, nunca imaginara que um jovem tão lindo, simpático e aparentemente feliz pudesse ter uma depressão tão profunda como era dita na ficha.
O americano despediu-se da jovem quando o seu já "amigo" Dr Wakifield o chamou para iniciarem sua consulta. Heero que já estava acostumado a acompanhar o americano, depois de tanto tempo, já levava seu laptop para poder aproveitar o máximo possível seu tempo, mesmo porque aquelas revistas velhas não o entretiam mais.
- Muito bem Duo, como se sente hoje? – o Dr Wakifield sentou-se em sua cadeira deixando que Duo ficasse a vontade no consultório aconchegante.
Duo começou a olhar o lugar, gostava de lá as cores suaves da parede possuíam um tom salmão, o tapete branco ficava sobre um piso antigo de madeira que brilhava intensamente, o lugar tinha um ar de sala antiga, com móveis de madeira e poltronas macias, coisas já difíceis de se ver naqueles tempos. E o americano tinha uma queda por antiguidades, talvez por causa de sua infância na igreja.
- Honestamente Richard?7 Não muito bem – Duo falou sentando-se em uma enorme poltrona branca, a que ele sempre julgara a mais confortável.
- Aconteceu alguma coisa? – o jovem doutor que não aparentava ter mais de vinte e seis anos possuía cabelos loiros e os olhos azuis, era um homem alto e de expressão gentil, lembrando para o americano um pouco seu amigo Quatre, perguntou realmente curioso. Se tinha algo que o fascinava era a vida daquele paciente, Duo Maxwell. Um ex-piloto de Gundam, sobrevivente da guerra que a Aliança fez contra as colônias, e sobrevivente a Tragédia da Igreja Maxwell. Lembrava-se de quando o Dr Dorian Gray 8 tinha ligado pedindo que tratasse com urgência daquele paciente. Na época achara que era apenas mais um filho de um membro da Aliança, ou coisa assim...Mas conforme Duo foi contando sua história mais ele o fascinava.
- Sim... Sabe aquele cara que sempre vem me trazer aqui? – Duo nunca tinha contado de seus amigos também serem ex-pilotos de gundam ao psicólogo, mas o homem talvez pudesse imaginar algo assim.
Yuy não?
- Sim, Heero Yuy, eu...Sempre o considerei meu melhor amigo – agora a voz de Duo era uma triste melodia.
- Considerou? Não considera mais? – Richard perguntou ligeiramente intrigado, só havia falado uma vez com o jovem japonês que sempre vinha trazer o americano nas consultas e ainda havia sido na primeira consulta de Duo, onde dissera que deveria cuidar bem do americano...
- Bem, o Heero nunca foi à pessoa mais amável desse mundo...É o jeito dele sabe? – um sorriso maroto surgiu nos lábios do americano
- Então, o que está te incomodando nele?
- Na verdade...Eu só percebi que ele me odeia – a naturalidade com que Duo falava as coisas que o incomodavam davam uma pequena mostra de quão grave era seu estado. Para ele a diferença entre ser amado ou odiado não era grande, sempre julgava que todos a sua volta apenas o toleravam, por algum motivo que não sabia qual era.
- Eu lembro que a primeira vez que nós conversamos você me disse que não se incomodava com o fato de alguém lhe odiar ou não. Por que esse garoto em especial lhe incomoda?
- Honestamente não sei, Heero é diferente dos outros, ele não diferencia muito as coisas, e ver que ele me trata com desprezo é pior do que qualquer coisa...Você entende?
- Mais ou menos, esse jovem parece ser bem diferente dos outros pra você não? – Richard mostrou um meio sorriso, era por pequenos motivos como esse que amava sua profissão. Eram nessas horas que via como o ser humano era incapaz de admitir coisas tão obvias para ele mesmo e criava mil e uma idéias na cabeça
Não vou negar, Heero é fascinante. Talvez por ser o oposto de mim sempre tenhamos sido rivais, mas eu sempre achei que essa era uma forma de manter nossos laços de amizade...como eu fui idiota – Duo comentou naturalmente. Certamente o que parecia óbvio demais para o Dr a sua frente era uma duvida permanente em sua vida.
- Duo, por acaso alguma vez Heero disse que o odiava? – a expressão gentil no rosto do jovem Dr era o que tinha feito com que Duo confiasse nele a primeira vez que o viu, desde então essa mesma expressão era sempre freqüente, ele era a única pessoa que parecia adorar ouvir o que Duo tinha a dizer...também pudera, Quatre o estava pagando muito bem para isso.
- Não, nunca, mas as ações dele dispensam palavras...- novamente aquele olhar triste se apoderou do lindo rosto de Duo...
- Por que você não pergunta ao próprio Heero o que ele sente por você?
- Você deve estar louco Richard! Ele faria o tão famoso "Omae o Korosu" em mim. – Duo comentou com um sorriso amarelo.
Omae o Korosu? Você vai me perdoar pela minha ignorância Duo. Mas eu desconheço o significado dessa palavra. – Richard comentou com um sorriso gentil
- Significa "eu vou te matar" em japonês...Heero é de descendência japonesa, apesar de não parecer, por causa da cor dos olhos dele.
- Ele não lhe mataria...Tenho certeza disso meu amigo
- Ah mataria sim... – o americano passou lentamente a mão pelos fios da franja que caiam em seu rosto
- Ele gosta de você Duo, se não por que ele lhe traria aqui em todas as consultas?
- Porque ele é o soldado perfeito Heero Yuy, e aquele velho gagá do Dr G deve ter mandado o outro velho gagá ordenar que ele cuidasse de mim
- Soldado Perfeito? Como assim? – Richard sentiu vontade de rir diante daquela situação, então realmente o amigo de Duo era um soldado, ao mesmo tempo em que o americano fazia as coisas parecerem engraçadas, o jovem Dr tinha consciência do quão triste era ver dois jovens com não mais de dezessete anos tão brutalmente marcados pela guerra.
- Ah sim, eu nunca lhe contei não é? Heero Yuy é o soldadinho perfeito...ele nunca erra, ele nunca falha, e ele sempre cumpre uma missão...acho que ele cumpriria uma missão até mesmo se aquele velho gagá o mandasse pintar a bunda de vermelho e subir num poste. – a raiva com que Duo falava aquilo surpreendeu até mesmo seu psicólogo.
- Duo...a minha pergunta é se Heero o odeia ou se você o odeia... – Duo ficou pensando naquilo, seria Heero que o odiava, ou ele que odiava Heero por ser tão...perfeito..
- Acho que chega por hoje Richard...- o americano levantou rapidamente e foi caminhando lentamente até a porta, era a hora de se deparar com os gélidos olhos azuis de Heero...
- Chame-o aqui eu preciso falar com ele – os pensamentos do ex-piloto do DeathScythe foram cortados bruscamente.
- Falar o que? – Duo perguntou visivelmente espantado
- Duo, eu tenho que dar uma avaliação do seu quadro a cada três meses, preciso informar-lhe se você melhorou ou não...e antes que me diga que eu posso informar a você essas são as regras, eu devo cumpri-las. Não se preocupe nossa conversa não sairá daqui. – era incrível como em três meses Richard podia conhece-lo tão bem, respondeu todas as suas perguntas antes mesmo de fazê-las.
- Heero – Duo chamou baixinho mas foi o suficiente para que o japonês tirasse os olhos da tela do laptop.
- Pronto? Podemos ir? – ele perguntou salvando o arquivo fechando a máquina.
- O Dr quer falar com você – Duo não olhava nos olhos dele, pelo contrario, estava de cabeça baixa, olhando para o chão, como que encarar os olhos azuis fosse uma tortura. Heero resolveu deixar para esclarecer aquela situação depois.
O japonês dirigiu-se até a porta do consultório entrando devagar e silenciosamente. Realmente aquela sala era um ambiente agradável, talvez por isso Duo gostasse tanto de ir lá, sabia que ele gostava de coisas antigas.
- O senhor que falar comigo? – perguntou ainda na porta.
- Sim, feche a porta por favor senhor Yuy.
- Algum problema? – Heero perguntou intrigado, só havia falado com aquele homem uma vez.
- Sim e não, na verdade eu deveria falar com o senhor hoje sobre o atual estado de Duo, costumo conversar com os acompanhantes de meus pacientes de três em três meses para manter-lhes informados do quadro. – viu que tinha a atenção do japonês e prosseguiu – Eu iria lhe dizer hoje que Duo estava bem e havia melhorado, mas visto a consulta de hoje e as condições que ele apresentou eu devo lhe informar que o senhor não esta colaborando como eu pedi inicialmente. – Heero arqueou uma sobrancelha com aquele comentário. Não tinha colaborado com o que? Estava fazendo tudo como lhe fora ordenado.
- Como assim? – perguntou visivelmente irritado
- Lembra-se que quando trouxe Duo aqui eu lhe pedi que cuidasse bem dele, por que ele precisava de carinho?
Sim – curto e grosso, era assim que Heero preferia, não gostava de rodeios.
- Então, o senhor tem consciência que mesmo depois da nossa conversa, ele continua achando que você o odeia? – a expressão de Heero mudou radicalmente da impassível frieza do soldado perfeito, para a de um simples humano chocado com o que acabara de ouvir.
- Como? – ele precisava ter certeza de que seu cérebro não estava lhe pregando nenhuma peça.
- Isso mesmo senhor Yuy. Duo acha que o senhor o odeia. Ele tem um serio problema de aceitação devido a sua infância...Sendo assim ele faz todo o possível para que todos ao seu redor o aceitem, o fato do senhor não demonstrar isso, ou realmente não aceita-lo, faz com que ele somente aumente essa baixa estima. – Heero estava chocado em ouvir aquilo, jamais pensou que era ele o principal culpado pela doença de Duo, jamais pensou que poderia feri-lo sem nem mesmo toca-lo...
Richard percebeu a confusão que se passava na mente do japonês, não podia fazer muito para ajudar, já tinha percebido que ele amava o americano...embora também soubesse que seu paciente era um tanto lerdo para perceber isso. Mas sabia que Duo também amava aquele jovem a sua frente...sua missão era apenas fazer aquelas pobres crianças, que tanto haviam sofrido por causa da guerra serem felizes...mas uma vez lhe havia sido dito "só sabemos reconhecer a felicidade de duas maneiras, ou se sofremos muito para conquista-la ou se sofremos muito após perde-la" E pelo visto aqueles jovens iriam sofrer antes de conseguirem ser felizes.
- Senhor Yuy, creio que você possa conversar com Duo sobre isso futuramente, apenas preciso saber se o senhor esta ciente do que está acontecendo.
- Sim Dr...eu entendo perfeitamente a situação. – neste momento ele retomara a expressão do soldado perfeito, assustando o jovem doutor a sua frente.
Heero saiu do consultório sabendo que Duo já o aguardava no carro...novamente teriam que ter uma conversa dolorosa...dessa vez era ele...Heero Yuy, quem deveria esclarecer aquela situação e para isso, seria necessário tocar em um ponto que não lhe agradava: Seu passado, seu mentor. Ou seja, sua vida antes de se tornar um piloto gundam, aquilo que até mesmo Dr J tanto ansiava conhecer e jamais descobrira...Quem realmente era Heero Yuy...ou deveria dizer, Odin Lowe Jr.
Heero entrou no carro e sequer olhou para Duo, já tinha arquitetado um plano perfeito para que pudesse esclarecer aquela situação. Nesse momento deu um meio sorriso, ainda tentava entender porque sempre tinha que criar planos ao invés de encarar de frente alguma situação...Apesar de seus amigos acharem todos os seus planos brilhantes, ele sabia que os fazia apenas por não ter coragem de encarar tudo como Duo fazia, sem planos, sem estratégias, na cara e na coragem, como o próprio americano dizia.
Duo estava com medo...Sabia que Richard poderia não ter contado tudo a Heero mas sabia que tinha feito um pequeno resumo de tudo que julgara importante o japonês saber...Será que havia dito que achava que Heero o odiava? Será que era por isso essa indiferença de Heero?
O americano percebeu que estavam fazendo um caminho diferente do habitual, ficou olhando um pouco a paisagem acinzentada da cidade. Porém sua curiosidade o venceu, precisava saber para onde estavam indo...
- Hee...Heero! – o tom usado por Duo fora receoso, que não passou desapercebido pelo japonês.
- Vamos a um lugar antes de ir pra casa, quero que você veja uma coisa Duo. – o tom de voz usado pelo japonês era bem diferente do habitual do soldado perfeito, se assemelhava a um tom compreensivo e carinhoso...Duo sorriu diante daquela situação, o japonês não parecia realmente estar bravo com ele.
Duo ficou observando a paisagem por um longo tempo, até perceber que ainda não tinham chego no tal lugar. Já haviam saído dos limites da cidade, deveriam estar na auto estrada há algum tempo. Imediatamente olhou para o japonês, mas antes mesmo de perguntar alguma coisa Heero lhe respondeu:
Já estamos chegando, aguarde mais um pouco certo?
A viagem transcorreu silenciosa, Duo sem saber para onde estava indo, e Heero absorto em seus pensamentos, ainda tentando descobrir se a decisão que tomara era a mais correta. Embora não tivesse certeza, saberia que era a única forma de fazer com que Duo acreditasse que não o odiava.
Pararam o carro em frente a uma antiga cabana, provavelmente de caça. Heero ficou ali, estaticamente observando aquele lugar, que tivera uma importância significativa em sua vida, como se ainda pensasse se deveria ou não fazer o que havia decidido. Por fim abriu o porta-luvas e retirou um pequeno saquinho, de um veludo azul da cor de seus olhos. Desfez cuidadosamente o nó e retirou uma chave, que apesar de antiga ainda tinha o brilho do metal novo.
- Vamos lá – falou para Duo que apenas o observava tentando entender todas aquelas ações.
O japonês abriu cuidadosamente a antiga porta de madeira. Procurou o interruptor que acendia as luzes, que rapidamente iluminaram o lugar dando a Duo a visão de uma cabana aconchegante, onde a maioria dos moveis estavam cobertos por lençóis brancos e possuíam uma grande camada de pó, no teto podia-se ver as teias de aranha. O que dava ao americano a certeza de que fazia muito tempo de que ninguém ia até aquele lugar
- Que lugar é esse Heero? – Duo perguntou puxando um dos lençóis do que parecia ser o sofá, tossindo pouco depois devido ao pó. Heero acendeu a lareira antes de responder a pergunta de seu amigo.
- É uma das casas que meu tutor possuía quando eu era criança. – diante daquela revelação, Duo não encontrou nenhuma palavra que pudesse dizer...Apenas se surpreendera...
- Heero, eu disse que eu primeiro ia terminar de contar a minha... – Duo foi interrompido pela maravilhosa musica que Heero colocara para tocar, num estilo clássico – Que musica é essa? Eu tenho certeza que já ouvi...
- Jesu of mans desiring guitar...De Bach 10, você deve ter ouvido, o Quatre de vez em quando toca...
- Certo, certo mas isso não explica o porque de você ter me trazido aqui...
- Quero que você veja uma coisa, mas ainda é cedo – disse olhando o relógio.
- Ok, mas você pode me dizer que coisa é essa? – perguntou já deitado no sofá que era extremamente confortável e olhando o japonês ajeitar uma escrivaninha de madeira
- Não, você vai ver depois – Heero abriu uma das gavetas e retirou uma pequena caixa coberta de pó. Duo ficou observando aquela cena, o olhar de Heero nem mesmo parecia o do soldado perfeito, e sim de uma criança, uma criança que encontrara um brinquedo muito precioso.
Heero abriu a caixa e levantou uma fotografia, olhava atentamente cada detalhe...Estava tão absorto em seus pensamentos que nem mesmo reparou que Duo já estava atrás dele, também olhando a foto...
Era naquela mesma casa, havia neve ao redor e um Heero ainda criança segurava uma arma, atrás ele um homem mais velho apoiava-se suavemente em seus ombros e sorria. Um sorriso triste, cheio de mágoas e pesar. Heero possuía o mesmo olhar de sempre, inexpressivo mas ao mesmo tempo frio.
- É você Heero? – Duo perguntou mesmo já sabendo a resposta.
- Sim – a voz de Heero saiu baixa, seu autocontrole já tinha ido embora há muito tempo, não agüentava mais aquela vida, não agüentava ver pessoas sofrendo por causa do que ele fizera, não agüentava ver Duo daquela maneira...
- E quem é o homem ao seu lado? – duo perguntou apontando para o homem da foto.
- Odin...Odin Lowe...Meu...Meu pai adotivo11 – era a primeira vez desde que tudo tinha começado que Heero falava aquilo para alguém.
Duo estava chocado, não sabia que Heero tinha conhecido algo próximo a uma família, inclusive sempre pensara que o Dr J havia feito alguma lavagem cerebral e o feito esquecer de tudo, afinal Heero lutava apenas para cumprir suas missões, apenas salvar as colônias e mais nada, não havia um motivo no fundo disso tudo...Havia?
- Heero...Eu não sabia que você tinha tido uma família – Duo falou ainda chocado com sua mais recente descoberta
- Duo, eu sei que você queria contar o seu passado primeiro, mas eu quero que você saiba de toda a verdade, pra poder entender algumas coisas... – Heero falou se virando e olhando carinhosamente para Duo.
- Mas Heero – Duo ia protestar mas sentiu a mão de Heero tocar seu ombro...
- Por favor, Deixe-me lhe esclarecer tudo – era impressão de Duo ou Heero estava chorando? Diante daquela situação Duo não pode negar ouvir o amigo, mesmo que Heero o odiasse, ninguém deveria carregar fardos tão pesados sozinho.
- O que aconteceu com seu pai Heero? – Duo mostrou um sorriso amigo, era aquele o consentimento que Heero precisava...
- Foi Odin quem me treinou, ele me ensinou grande parte do que eu sei, principalmente ele me ensinou que se eu seguisse minhas emoções nunca iria me arrepender de qualquer coisa que fizesse na vida... – Duo ouvia tudo atentamente, ainda não acreditava que Heero pudesse estar lhe contando sua historia. – Ele dizia isso porque se arrependia profundamente de uma coisa que fez. Arrependia-se profundamente de ter matado Heero Yuy. – os olhos violetas arregalaram-se demonstrando toda a surpresa de Duo
- Heero Yuy? – o jovem americano apenas conseguiu dizer isso
- Sim, quem mandou que ele matasse Heero Yuy foi um homem chamado General Septem. Odin só se arrependeu quando percebeu que era ele quem havia acabado com a chance de paz no espaço sideral. Alguns anos mais tarde Dekin Barton entrou em contato com ele e pediu que matasse Septem.
- Espera aí? Dekin? A Operação Meteoro?
- Isso mesmo. Ele me levou junto para a L3, mais precisamente X18999...Nós deveríamos matar Septem e retornar a L1...Mas houve alguns erros e, nós não conseguimos matar Septem...
- O que aconteceu depois? – o americano estava interessado na história
- Nesta mesma colônia Quinze estava comandando uma rebelião para derrotar a Aliança, mas essa rebelião foi reprimida pela Oz. Já que o plano de Dekin não deu certo e ele não conseguiu matar o Septem, ele decidiu matar Odin, para que ninguém soubesse dos seus planos. Odin antes de morrer me entregou um detonador, que era da base em que nós estávamos tentando matar Septem. Ele me pediu que eu não morresse, então.Detonei a base inteira da Aliança e depois tentei derrubar um outro prédio da Oz, eu bem que tentei acertar o prédio com um lança mísseis, mas um Leão entrou na frente levou os tiros.
Nossa! Heero! Que história – Duo olhava pasmo para o amigo – Como você encontrou o J?
- Depois disso eu passei a vagar pelas ruas, um
dia, quando eu finalmente consegui voltar para L1, e estava passando
por um beco, um velho muito estranho me olhou e disse "eu gosto do
olhar em seus olhos" E me perguntou se eu não gostaria de
pilotar um Gundam...O resto você pode imaginar... 12
Duo
olhava pasmo para aquela história, sempre havia imaginado que
desde bebezinho Heero estava com J, nunca havia passado por sua
cabeça a probabilidade de Heero não ter vivido com J a
vida toda.
- Mas Heero, então esse Odin, colocou o nome do cara que ele matou em você? 13
Não! Meu nome não é Heero – o japonês falou olhando no relógio – Venha, já ta na hora de te mostrar o que eu queria.
- Mas Heero... – Duo falou, queria saber como deveria chamar seu amigo, afinal aquele nem mesmo era o nome dele.
- Vamos se não a viagem não vai ter valido a pena – Heero abriu a porta e o vento gélido e cortante entrou na cabana aquecida.
- Ok – Duo saiu ainda sem entender muito bem o que Heero queria tanto lhe mostrar, já tinha até esquecido o fato do soldado perfeito o odiá-lo.
Eles andaram por um bosque com algumas arvores já sem folhas com um pouco de neve em seus galhos. O silencio era permanente nenhum deles tinha coragem de iniciar uma conversa com medo de um ferir o outro. O americano apenas seguia o japonês até chegarem numa parte do bosque onde Heero parou.
- É aqui? – Duo resolvera quebrar o silencio observando sobre o ombro do japonês o lugar onde estavam. Numa cena um tanto incomum, Heero estava mais à frente observando uma linda vista de toda uma pequena vila rodeada pelo bosque em que estavam, e Duo atrás dele, na ponta dos pés tentando ver alguma coisa sem ter que chegar muito perto do grande despenhadeiro que tinha alguns passos à frente.
- Sim – Heero disse se sentando em uma das pedras próximas ao despenhadeiro. Duo ficou ali, em pé, esperando o que Heero queria lhe mostrar.
- Esse lugar tem o pôr-do-sol mais lindo do mundo – assim que Heero terminou de falar Duo pode ver claramente o que ele quis dizer, o Céu estava manchado com um tom alaranjado, as nuvens com formatos variados davam um toque final para o grande espetáculo que era ver a grande estrela dar seu show final do dia. O Sol que naquela hora possuía um tom alaranjado pouco mais forte do que o que se misturava no céu se escondia lentamente atrás de uma imensa montanha cujo cume estava coberto de neve. Realmente um espetáculo da natureza.
- Heero! É lindo – Comentou sentando-se ao lado do japonês sem nem mesmo perceber, ainda vidrado no show que presenciava.
- Que bom que gostou! Mas o melhor é
no final – e novamente, depois de algum tempo, Duo viu que Heero
tinha razão. O sol havia se escondido quase que totalmente
atrás da montanha, mas era possível ainda ver sua luz,
que iluminava exatamente o lugar onde eles estavam 14 -
- Eu descobri quando era pequeno, e decidi nunca mostrar a quem não merecesse – Heero falou olhando no fundo dos olhos violetas.
Foi então que Duo reparou, aquele lugar era especial para Heero, e o estava mostrando somente para ele, por que? Por que Heero estava fazendo isso se o odiava?
Heero percebeu a duvida nos olhos ametistas, respirou fundo e reunindo toda a coragem que podia começou a colocar a ultima parte de seu "plano" em ação.
- Duo, por que você acha que eu o odeio? – o americano olhou surpreso para o garoto de olhos azuis, os mesmos olhos que pediam uma resposta, os mesmos olhos que o prendiam, os mesmos olhos que o faziam sofrer.
- Porque, você mesmo diz isso Heero – a naturalidade com que Duo falou surpreendeu, chocou, feriu. Então era isso mesmo que Duo pensava? Então ele realmente achava que era verdade? Não nunca o odiara...Jamais.
- Eu nunca disse isso pra você seu americano baka! – Heero gritou fortemente, queria que Duo percebesse o quanto estava errado.
- Não? E todas as vezes que você ameaçou me matar? E todas as vezes que você me tratou pior que lixo? Por que, Heero? Por quê? Diga-me, por que todos me odeiam? É por que eu sou órfão? Deve ser, sempre foi assim... Eles nunca me quiseram, eles adotaram todos. TODOS menos eu. Eles me abrigavam, me levavam pra casa deles e depois me mandavam embora, como se eu nunca tivesse tido nenhum tipo de sentimento. Diga-me Heero, por quê? O que eu fiz de tão errado pra merecer isso? Hein? Eu só tinha oito anos – nesse momento Duo foi tomado pelas lagrimas, não havia como parar de chorar. Caiu de joelhos no chão, cobrindo o rosto com as mãos, tentando esconder a vergonha que julgava ser sua vida. Sua vida cheia de angustias, sofrimentos e mortes.
Heero olhava pasmo a cena, não havia entendido muito bem o que se passara, mas precisava fazer seu amigo, seu amor, parar de chorar, precisava acabar com aquele sofrimento que o possuía, que o consumia, que quase o matara. Desesperado, Heero fez a única coisa que julgara poder fazer naquele momento. Abraçou Duo, com toda a força que tinha, precisava mostrar ao amigo que ele não estava sozinho, que agora ele era especial. Que ele sempre fora especial.
- Acalme-se Duo, por favor! – Heero sussurrava no ouvido do americano enquanto acariciava delicadamente seus cabelos.
- Por que Heero? Padre Maxwell, irmã Hellen, eles estão mortos por minha culpa, só minha. Eles eram os únicos que gostavam de mim. – Duo falava em meio a gemidos e lágrimas abafados.
- Ninguém morreu por sua culpa Duo, você não pode se culpar por algo que não tem culpa.
- Mas eu tenho! – Duo gritou olhando profundamente nas íris azuis. A face vermelha pelas lagrimas – Eu tenho, se eu não tivesse feito o acordo com aqueles caras para roubar o móbile suit da Aliança, nunca teriam colocado fogo na igreja, é tudo minha culpa Heero. Sempre foi, ninguém queria ficar comigo porque eu era muito agitado, ninguém me queria por perto porque eu sempre fui um folgado, alegre e estúpido. Um grande estúpido que não serve para nada a não ser atrapalhar os outros.
- Não você não é nada disso Duo. – Heero procurou falar com a voz mais terna possível, precisava mudar a opinião do americano.
- Claro que sou, apenas um baka como você diz. Apenas um idiota que atrapalha a vida de todo mundo, que sempre atrapalhou. É por isso que você me odeia, eu o atrapalho, eu sempre o atrapalhei. Desde o primeiro dia que nos conhecemos. Eu o impedi de cumprir sua missão, eu sempre o impedia, eu sempre o atrapalhava. Sabe por que? Sabe por que? Porque eu sou apenas um estorvo pra todos. Só isso que eu sou...É por isso que você me odeia – Duo por fim terminou sua resposta, que estava mais para um grande desabafo desesperado. Calou-se olhando para o chão coberto de neve. Esperava agora mais uma das palavras gélidas de Heero, e ficou ali esperando um bom tempo...Fitando o chão, a pureza da neve. Cansado de esperar e achando que Heero já ia embora olhou para frente, nesse momento voltou a ver as íris azuis, pareciam úmidas. Estavam úmidas. Viu apenas uma lagrima rolando pelo rosto do japonês. Mas foi o suficiente para se surpreender.
- Realmente Duo, você é um grande idiota. Você realmente acha que eu te odeio? Realmente acha que é um estorvo? Diga-me. Porque se for isso mesmo que você achar, a única coisa que posso lhe dizer é que SIM, você realmente é um estorvo, um imenso estorvo que conseguiu destruir todo o meu treinamento de anos, um imenso estorvo que fez com que eu voltasse a sentir, que eu amasse. Que eu amasse você. E eu amo, eu amo você mais que tudo. Eu faria qualquer coisa para vê-lo feliz, para vê-lo sorrir de novo, como você sorria no dia que nós nos conhecemos, porque naquele momento você me atrapalhou, sim me atrapalhou porque entrou no meu coração, com uma palavra, com uma ação você conseguiu destruir anos de treinamento. Você conseguiu com que eu ficasse louco, louco de paixão, de amor. Louco por você, eu preciso de você. Preciso muito. Por isso não diga que eu o odeio, porque se é isso que parece, é só porque eu tenho medo. Tenho medo de que você me negue algo tão lindo, tenho medo que você não me queira ao seu lado. Somente porque eu te amo, e é por isso que eu te odeio, eu te odeio porque você me fez te amar. E é por isso que eu te amo 15 – Duo ficou olhando perplexo para Heero. O japonês havia acabado de confessar que o amava? Era isso mesmo? Claro que era. Heero o amava. Isso só podia ser um sonho. Um sonho impossível.
- Hee...Heero – os olhos ametistas vasculhavam os azuis a procura de uma mentira, mas não encontraram, pelo contrario, haviam lagrimas, muitas delas. Que caiam livremente pelo rosto do japonês. Duo levou a mão suavemente ao rosto de Heero e o acariciou limpando em seguida uma das lagrimas que caia. – Eu também te amo...
Naquele exato momento Duo viu o sorriso mais lindo do mundo, mais lindo que aquele pôr-do-sol, mais lindo que qualquer coisa que já vira. Era o sorriso de Heero, puro, verdadeiro, singelo. O americano não conseguiu evitar. Aproximou seus lábios dos do japonês e lhe beijou. Um beijo puro, doce que demonstrava toda a pureza daqueles sentimentos. Um simples beijo, dado ao fim de um pôr-do-sol, um beijo que trazia consigo o brilho das estrelas, para iluminarem seus caminhos na escuridão da noite.
Após as sucessivas declarações de amor e dos incansáveis beijos apaixonados, Heero e Duo retornaram a casa de Quatre, afinal não haviam avisado que ficariam fora, e certamente todos ficariam preocupados com eles.
Duo abriu a porta entrando com um sorriso radiante em seu rosto, Heero vinha andando lentamente logo atrás dele.
- Boa noite, vocês demoraram já estávamos ficando preocupados – disse o loirinho sorrindo gentilmente.
- Ah é que o Heero me levou pra conhecer um lugar e eu fiquei tão encantado que acabamos demorando. – o americano disse quando já voltava da cozinha com uma enorme maça em mãos
- A propósito Duo, Sally ligou para você, disse que era importante. – Wufei comentou quando descia as escadas para averiguar que quem estava chegando realmente eram seus amigos.
- Sally? Ela não disse o que queria? – Duo perguntou olhando para Heero que fazia uma cara de quem não havia gostado muito de saber que uma mulher tinha ligado para Duo.
- Mais ou menos, algo sobre o que você pediu pra ela procurar. Alguma coisa assim!...O que você pediu pra ela procurar pra você em Duo? – Wufei perguntou com um certo tom de malicia na voz, estava louco para poder provocar o americano, e ele parecia estar bem disposto a isto naquele momento.
- Huahua meu querido Wufei, se eu te contar você não acreditaria – o americano respondeu com o mesmo tom malicioso, porem interiormente sabia que estava certo. Wufei jamais acreditaria no que ele havia pedido...
Trowa e Heero apenas observavam mais uma pequena briga se formar, o rapaz de olhos verdes não deixou de notar um meio sorriso na face do japonês e sorriu já constatando o que provavelmente havia acontecido...
- Já contou a ele? – perguntou sério e no típico tom de voz calmo e baixo, fazia algum tempo que Heero havia lhe dito que amava Duo e sem duvida Trowa o havia apoiado muito.
Hoje, ainda há pouco pra dizer a verdade. – Heero respondeu sem tirar os olhos de seu amado baka! Que agora estava correndo pela sala sendo perseguido por Wufei.
- Ele parece estar feliz e você também! – Trowa comentou, era difícil ter certeza absoluta sobre algo referente a Heero, mas quanto a Duo...Era muito fácil perceber seus sentimentos.
- Ele corresponde ao que sinto – apesar do tom frio usado por Heero, Trowa sabia que ele estava feliz, muito feliz.
A conversa dos dois, a briga de Duo e Wufei e a leitura de Quatre foram interrompidas pelo som do telefone.
- É pra mim! – Duo e Wufei gritaram ao mesmo tempo quase derrubando o telefone no chão, porém Duo o atendeu primeiro.
- Hello! Aqui é o Duo! Oi Sally! O que queria comigo?
- Duo eu encontrei algo sobre o que você me pediu há alguns meses atrás, você se lembra?- Claro! Você encontrou alguma foto?
- Mais que isso! Espero que esteja sentado, pois acabo de encontrar seus possíveis pais.
Continua
Maio de 2003 / Junho de 2003
1 se a casa foi restaurada e mantida como era antigamente...deveria ser utilizada uma chave por mais estranho que isso pareça para o ano 198 d.c
2 bota velho nisso
3 eu já
mencionei em uma outra fic minha e volto a comentar aqui o suposto
nome de Heero Yuy é Odin Lowe Junior...por isso o Odin no
lugar de Heero já que o Hee-chan só mudou de nome na
hora que estava vindo para a Terra.
4 já notaram como o
Hee-chan ta descendo escadas? o.O?
5- u.u' pequeno trocadilho com o nome Heero '' (falta de criatividade é f -.-) mas eu num sei o nome do ferret do Hee-chan se alguém souber please me diga ok? Um site que tem bastante coisa sobre ferrets: http:www.terravista.pt/AguaAlto/2174/furE3o.htm
6 – Eu vi isso num site também não me lembro qual, não sei se essa historia é verdade mas eu achei interessante colocar
7 o nome é uma referência ao personagem Richard Wakifield (trilogia de Rama de Arthur C. Clark)
9 também referencia a um personagem, no caso Dorian Gray (O retrato de Dorian Gray)
10 eu gosto de musica clássica o.o''patty com gosto bem diversificado
11 Odin Lowe é o suposto pai de Heero...Nada confirmado...Mas eu vou trabalhar assim mesmo, pq acho que é melhor, mesmo porque o próprio Odin dissera que Heero era seu filho no mangá...Embora ele provavelmente tivesse apenas mentindo pra mulherzinha do aeroporto u.u''
12 nhai todos esses fatos estão no mangá u.u num me critiquem se num acharem tudo aquilo...ainda prefere o passado do Trowa e do Duo
13 Duo e sua santa inocência '' Lembrem-se ele num sabe que é codinome
14 num consegui explica direito essa parte gomem
15 que coisa mais confusa
Por favor comentários pra euzinha
