Just Forget the World

"Teddy, Teddy! Será que você pode parar um pouco?" Perguntou Lily, enquanto Teddy andava de um lado para o outro pela sala, checando se pegara tudo o que precisava.

"Desculpa, Lily, mas você me pegou em um mau momento. Estou atrasado para o trabalho, tudo bem se deixarmos para outro dia?" Ele perguntou, sem nem ao menos olhar para a ruiva, indo para o quarto e voltando segundos depois, parecendo enfim pronto para sair.

Lily suspirou resignada, compreendendo que aquele não era o melhor momento, mas ela era conhecida por sua impulsividade, e não seria agora que esperaria por alguma ocasião romântica e propícia para o que estava prestes a dizer.

"Tudo bem, Teddy," Falou, caminhando até ele. Segurou-o pelo rosto, olhando diretamente nas íris no momento castanhas do rapaz, antes de se inclinar e beijá-lo de leve nos lábios, por alguns segundos.

Quando abriu os olhos, deparou-se com duas orbes arregaladas e espantadas, desta vez com um profundo tom avermelhado, como se o que corasse em Teddy não fossem suas bochechas, mas seus olhos.

"Eu amo você." Falou, sorrindo quase travessa com sua ousadia, antes de aparatar com um estalo.

Teddy piscou algumas vezes, tocando os lábios, ainda sentindo sobre eles o perfume do batom que Lily usava. Seria morango? Ou amoras?

"O que ela... Ela me ama?"

Balançou a cabeça. É claro que ela o amava: como um irmão. Assim como a amava também. E o beijo fora apenas... Bem, talvez Lily... Com certeza não fora nada demais. Mas os olhos dela... Brilharam de uma forma tão diferente ao mirá-lo antes de aparatar. Ou quem sabe pela primeira vez ele [i]realmente[/i] reparara naquele brilho.

Ainda confuso, Teddy foi para o trabalho. Foi em vão. Não conseguiu concentrar-se o dia inteiro e acabou apenas complicando a própria vida ao trocar arquivos, errar relatórios, esquecer-se de uma das reuniões do Departamento. Sempre acabava se distraindo, pois aqueles olhos cor de mel que conhecia tão bem acabavam voltando à sua mente, quase como se pudesse visualizá-los perfeitamente, gravados como estavam em suas retinas.

Era quase como se, de um momento para o outro, eles fossem tudo que pudesse ver.

"Droga, Lily... Sempre agindo de forma estranha," Repreendeu-a num murmúrio. Pegou um pedaço de pergaminho e uma pena e escreveu um bilhete para a garota.

"Nosso lugar secreto, hoje, às 19h00min,
Seu Teddy."

Olhou para o bilhete curto e sem nenhuma margem a interpretações – talvez com exceção do 'seu', mas ele sempre o usava quando mandava uma carta para a ruiva –, só esperava ela que aparecesse. Do contrário a buscaria a força na casa dos Potter.

Lily recém completara dezessete anos e estava formada há um mês. Ao que parecia, ela estava disposta a seguir carreira como medibruxa. Teddy mal conseguia acreditar que tanto tempo já se passara desde que colocara os olhos no pequeno embrulho no colo de Ginny, onde um bebê com bochechas rosadas e narizinho empinado balançava os bracinhos e sorria, como se feliz por vê-lo.

"Ela gosta de você, Teddy." Foi o que Ginny dissera naquele dia, e ela estava certa, porque ele sempre fora o preferido de Lily.

Mesmo com a diferença de idade, os dois sempre foram grandes amigos. Teddy era o porto-seguro de Lily, e Lily conhecia-o melhor do que qualquer pessoa, não havia nenhuma sombra de dúvida quanto a isso. Com ela, ele podia ser sempre ele mesmo, sem nenhum medo, sem nenhuma reserva.

Fora nos braços de Lily que ele buscara consolo quando seu noivado com Victoire terminara. Eles se encontraram em seu esconderijo secreto e deitaram lado a lado, olhando para as estrelas, apontando para o céu, rindo, conversando, apenas esquecendo o mundo e os problemas.

Era fácil esquecer de todo o resto quando estava com Lily. Sorriu com o pensamento. Ao que parecia, Lily também era seu porto-seguro. Quando olhava nos olhos dela, via apenas Teddy, não o que os outros esperavam dele ou o que ele próprio esperava dele, todas aquelas obrigações e cobranças externas e internas desapareciam, era límpido e único.

E era Lily.

Sorriu ao ver que o final do expediente finalmente chegara e, depois de passar rapidamente em casa, tomar um banho e colocar uma roupa mais despojada, aparatou para o lugar secreto.

O lugar era um terraço pequeno, mas alto, e parcialmente recoberto, de uma velha construção abandonada. Tinha uma vista ótima da cidade. Era simples, mas era deles. Haviam-no descoberto quase por acidente, há nove anos, quando Teddy procurava um apartamento próprio e Lily, com apenas nove anos e travessa como só ela, sugerira que ele se mudasse para aquela construção velha. Os dois entraram apenas por curiosidade - Lily sugerindo móveis e decoração - até que subiram naquele terraço e pararam, observando a cidade como se a vissem pela primeira vez.

Desde então era onde se encontravam quando queriam estar a sós, juntos e esquecidos do mundo. E ajeitaram o local, deixando-o limpo e agradável, quase uma aberração naquele prédio sujo e antigo.

"Lily...?" Chamou, assim que viu a ruiva encostada no parapeito, seus cabelos ruivos voando em torno de seu corpo graças ao vento noturno. Ela se virou e sorriu.

"Oi, Teddy. Como foi o trabalho?" Ela perguntou e não havia nada de anormal e diferente nela, nenhum acanhamento, nenhum olhar ambíguo.
Teddy quase se perguntou se não havia imaginado a cena matutina.

"Foi péssimo." Lamentou, aproximando-se e parando ao lado dela. "Mas não é sobre isso que quero falar agora."

"Okay, sobre o que você quer falar então? Algo em especial?" Ela perguntou, erguendo uma sobrancelha. Era algo que ela fazia desde pequena, e que Teddy nunca conseguira fazer: erguer apenas uma sobrancelha.

"Você aparatou hoje, sem me dar tempo de dizer..." Falou lentamente, aproximando-se mais um passo.

"Dizer o quê?" Lily ergueu a cabeça para que pudesse fitá-lo diretamente nos olhos.

Ah, aqueles olhos! Eram tudo que Teddy conseguia e queria ver. E como demorara a perceber... que nenhuma luz, de nenhuma estrela, seria mais importante para ele do que as íris estreladas de Lily.

"Que eu também amo você." Falou, sorrindo em seguida. Lily sorriu também e, como pólos opostos de um imã, seus rostos começaram a se aproximar, a distância entre seus lábios diminuindo quase como se o tempo houvesse desacelerado apenas para eles, para aquele momento.

Antes do toque, seus olhos fecharam, mas era como enxergar através das pálpebras enquanto seus lábios se descobriram e suas línguas se encontravam, e seus corpos se colavam em um abraço e em um encaixe perfeitos.

Era apenas certo.


Nota da autora: Fanfic simplesinha escrita para o Projeto Fixação do Fórum 6V. Inspirada no trecho: All that I am / All that I ever was / Is here in your perfect eyes, they're all I can see." Da música Chasing Cars, da banda Snow Patrol.

Vou postar todas as fics que eu escrever para esse projeto aqui, então fiquem à vontade para colocar no Alert e acompanharem, huahauahua!

Reviews são bem vindas. :D