CAPÍTULO I

Mamãe! Mamãe! Com a respiração ofegante de tanto correr de um lado para o outro da casa, à procura da mãe, Isabella colocou a mala no chão de tábua corrida e esperou resposta. Reinava o silêncio.

— Mamãe?

Então, ela ouviu um barulho vindo da saleta e rapidamente, abriu as portas a tempo de ver sua mãe retirar o banquinho que usava para descansar os pés, da frente da poltrona em que estava sentada.

Isabella respirou aliviada. Ela receava por sua mãe, já idosa, morar sozinha.

— Aí está você!

A mãe ajeitou os óculos no nariz, e olhou para a única filha. Sorriu levemente. Os lábios das duas eram realmente idênticos.

— Onde achou que eu estaria? — perguntou a mãe sarcástica. — Amarrada a um trilho de trem, esperando pela morte, ou raptada por piratas?

— Você é insolente, mamãe! Sua imaginação émuito viva, e esses livros de aventuras malucas não ajudam em nada.

— E você não os lê o suficiente! — comentou Renée. — É séria demais a respeito desse seu trabalho.

Isabella ignorou o último comentário da mãe. Como não ser obcecada por trabalho, a única atividade que lhe restava, quando sua vida amorosa era um total desastre? Decidiu ignorar esse problema também e beijou a testa de Renée.

— Por que precisava me ver? Eu viria para o Natal de qualquer maneira. Está tudo bem, não? O que está fazendo deitada no meio da tarde?

Foi então que Bella percebeu a bandagem no tornozelo da mãe.

— Oh, céus! O que você fez? — ela exclamou, horrorizada.

— Isabella, por favor! Não há motivo para pânico — disse a mãe, calmamente.

— Mas o que aconteceu? É só isso que quero saber.

— Eu torci o tornozelo, nada mais.

— E o que o médico...?

— Ele disse que está tudo bem, só preciso tomar algum cuidado — interrompeu ela. — O único problema é...

— O quê?

— Não posso trabalhar. — A Renée recostou-se na poltrona novamente, admirando as belas formas da filha.

— Então desista do trabalho, mãe. Já falei que ganho o suficiente para mandar-lhe o que a Sra.. Cullen — ela pronunciou o nome com relutância — lhe paga.

— E eu já repeti inúmeras vezes o quanto adoro a independência que meu pequeno emprego me dá, e não tenho a menor intenção de largá-lo.

— Mas mamãe! Precisa ser um trabalho de faxineira?

— Você, Isabella, me envergonho de dizer, é uma esnobe.

— Não sou esnobe, apenas preferiria que não trabalhasse em lugar algum.

— Quer dizer, prefere que eu não trabalhe na mansão, da qual quase foi dona...

Bella cerrou os lábios e uma pontada de dor de cabeça atingiu sua testa.

— Isso é parte do passado.

— Está certa. Na verdade, tenho novidades para você.

— Que tipo de novidades?

— Ele vai se casar. Está noivo!

O coração de Isabella disparou e sua boca secou.

— É mesmo? Então está noivo? Que maravilha. — disse ela engolindo com dificuldade.

— Não concorda comigo? O querido Seth...

— Seth?

— Claro que é Seth, seu ex-noivo, o homem com quem você iria se casar. Quem mais poderia ser?

Isabella tentou se recompor para não deixar transparecer nada diante da mulher que a conhecia bem demais e mudou de assunto, oferecendo-lhe chá.

Como sempre, a velha senhora aceitou e Bella perguntou a si mesma o que sua mãe diria se soubesse que não era em Seth que estava pensando, e sim em Edward .

Edward Cullen, o irmão de seu ex-noivo! O homem de olhos de um cinza semelhante à prata polida, ou talvez ao frio aço, feições atraentes e corpo sexy. Edward Cullen, que mudara todo o curso da vida de Bella, sem ao menos perceber que fazia isso...

Fora num lindo final de tarde, com o sol se pondo em uma profusão de cores cálidas, compondo-se em pinceladas que iam do laranja quase ao violeta. Indiferente à beleza do crepúsculo, Isabella esperava por Seth na varanda da casa dos Cullen, a fim de romper o noivado. Depois de muito pensar e de passar muitas noites sem dormir, a decisão se tornara definitiva. O namoro havia sido conturbado demais para ser levado adiante.

Seth e sua mãe haviam se mudado há pouco tempo para Woolton e se instalaram na mansão mais bela e imponente do pequeno vilarejo. A casa fora herança de um parente distante.

Bella conhecera Seth, numa das curtas, mas regulares visitas que fazia à sua mãe, vindo de Londres, onde vivia e trabalhava. Logo no primeiro encontro, sentiu-se atordoada e encantada com o charme e persistência do futuro noivo. Depois de ser envolvida romanticamente de todas as maneiras, acabou por acreditar que enfim se apaixonara de verdade.

Apesar de ocupar um cargo alto no trabalho, onde os homens a temiam, ela deixou-se encantar pela irreverência saudável de Seth. Ele a respeitava e aceitava a idéia antiga que Bella tinha sobre sexo apenas depois do casamento. Aos vinte e quatro anos, ela concluiu que encontrara o perfeito cavalheiro. E realmente era verdade!

Mas não era o suficiente. Deixando de lado o fato de ser três anos mais novo e ainda estar na universidade, enquanto ela já havia se estabelecido numa carreira de sucesso, havia mais um motivo que impedia o casamento. Isabella simplesmente não estava apaixonada. Amava o carinho, afeto e compreensão de Seth. Não corresponderia nunca com a mesma intensidade, pois ele dizia que a adorava. E não seria justo casar nessas condições.

Bella pretendia dar-lhe a notícia da maneira mais gentil possível. Seth era jovem, bonito e muito divertido. Com certeza superaria a separação e logo encontraria uma outra jovem mais adequada a seu temperamento e idade.

Sentada no banco de vime da varanda, ela passava a mão nervosamente pelos cabelos lisos e negros, como se desejasse tirar todos os inexistentes nós. Ela teria que contar a sua mãe e à mãe de Seth, ambas viúvas.

Ela não tinha muitos parentes, nem Seth. Imaginava se o irmão mais velho, que morava nos Estados Unidos seria avisado. Esse era o rico e bem-sucedido irmão, a quem Seth e a mãe tanto pareciam temer.

Provavelmente não o avisariam. Fazia apenas uma semana que haviam se tornado noivos. Muito pouco tempo para um anúncio oficial. Afinal, fora um compromisso de tão curta duração!

Enquanto olhava pela janela da suntuosa mansão, ouviu um barulho atrás de si. Ao virar, perdeu a cor e a fala. A sensação de ser vigiada pelas costas era perturbadora, mas logo o reconheceu. Bella já havia visto fotos do irmão mais velho. Aliás, havia porta retratos dele por toda parte e recortes das colunas sociais em que aparecia. Sabia que aquele homem era o famoso e temido Edward.

Edward, o rico, poderoso e abençoado filho mais velho. Ele não tinha nada semelhante a Seth, apesar dos traços familiares serem iguais.

Os dois irmãos podiam ser considerados opostos completos. Enquanto os olhos de Seth eram sorridente! e calmos, os de Edward mostravam-se duros, frios e brilhantes. Os lábios do noivo eram carnudos e adoráveis de beijar, os do cunhado uma linha fina e ríspida, mas incrivelmente sensual. Ao imaginar-se sendo beijada por ele, corou e Edward sorriu, como se adivinhasse seu pensamento.

Por um momento, como se tivesse sido congelada, Bella não conseguiu tirar os olhos daquele homem sensual e imponente. A onda de desejo que emanava dele era forte e poderosa. Sentiu-se corar novamente e as pernas tremeram.

— Você deve ser Edward — disse ela, recuperando um tom de voz firme, depois de restabelecer a confiança e si mesma.

— E você deve ser a caçadora de fortunas.

Por um momento, ela achou que tinha ouvido mal, mas ao encontrar os olhos de Edward , percebeu que ele não era uma pessoa civilizada.

Parecia mais um bárbaro. Ela forçou-se a permanecer calma, pois um instinto que a prevenia de um perigo indefinido a impediu de responder a altura.

— O que acabou de dizer? — indagou, quase que calmamente.

— Oh, céus! Eu deveria ter adivinhado... era bom demais para ser verdade. Você não poderia ter cérebro e beleza juntos, não é? Eu a chamei de caçadora de fortunas, que tem o mesmo sentido de cavadora de ouro. Trata-se de um termo antigo, minha cara, quase arcaico, mas o significado é bem simples...

— Tenho plena consciência do significado. Como se atreve? — Bella já estava perdendo o controle.

— É bem fácil. Você pode achar estranho, mas acostumei-me a proteger meu irmão caçula e ainda não desisti desse meu dever. O que devo pensar, quando ele me comunica que se casará com uma pessoa a quem mal conhece e é alguns anos mais velha?

— São apenas três anos! — ela o interrompeu furiosamente. — E que diferença faz? Muitos homens se casam com mulheres mais velhas.

— Casam mesmo? Em especial, os universitários que acabaram de ganhar uma fortuna de herança? É isso que leva essas mulheres mais velhas a se casarem com eles, Isabella?

Bella estremeceu ao ver os lábios de Edward curvando-se ao dizer seu nome. A língua dele batendo nos dentes, tornava o ato de falar em algo sensual como ela nunca vira antes.

— Não preciso permanecer aqui e ouvir isso — disse ela, mas parecia estar paralisada e seus pés colados ao precioso tapete persa.

— Mas ficará. E me ouvirá até o fim.

Ela percebeu os olhos cinzentos de Edward se fixaram nos seus seios, moldados pela camiseta justa de algodão. Aquele olhar provocava uma sensação desagradável, mas Bella não tinha forças para interromper o momento de temor e magia.

Seus mamilos enrijeceram, provocando um imperceptível sorriso nos lábios de Edward. Naquele momento, ela se sentiu a mais desprezível das mulheres. Estava sendo tratada como uma caça dotes mal intencionada.

— Sim... exatamente como imaginei. — Ele sorriu satisfeito, confirmando algum pensamento íntimo. — Um corpo quente e uma cara de santa. São ótimas armas para a conquista de uma grande fortuna, mas eu prefiro que as use com alguém mais velho que meu irmão, entendeu?

Isabella sentiu raiva, pois ele ainda fitava seus seios, que quase doíam com o desejo de serem tocados e beijados por aquele homem.

— Não preciso conquistar nenhuma fortuna. Tenho uma carreira de sucesso num banco de investimentos e ganho muito bem.

— E como o conseguiu? — perguntou, ele num tom insultuoso. — Dormiu com o diretor?

A insinuação era tão ofensiva que Bella quase perdeu a fala.

— Por que está fazendo isso? — murmurou ela, chocada.

— Já lhe disse que estou tomando conta de meu irmão. E ele precisa ser mantido à distância de mulheres como você.

Com a face queimando, Isabella levantou a mão e bateu no rosto de Edward com toda a sua força. Habitualmente muito polida, sabia que deveria estar chocada com a própria atitude, mas, para sua surpresa, aquela sensação foi deliciosa.

— Em um minuto — ele disse calmamente — vou responder à essa atitude sua, senhorita, mas antes quero que ouça com atenção o que vou lhe dizer.

— Não tenho que ouvir nada, seu...

— Engula essa raiva ridícula e cale a boca, Isabella — disse ele em voz baixa, provocando um arrepio, que percorreu a espinha de Bella. — Meu irmão não passa de um garoto, é muito jovem e emocionalmente imaturo. Se casasse com você agora, cometeria um grande erro. Seth não está pronto para qualquer relacionamento sério, muito menos para o casamento.

E nem ela estava, apesar de Edward Cullen não ter condições de saber desse detalhe. Percebeu a determinação no rosto másculo, a arrogância e domínio de sua personalidade dura. Um homem acostumado a conseguir tudo o que quer, não importa a maneira. Até aonde ele iria para impedir esse casamento?

— Você não pode nos impedir! — disse ela, depois de descobrir o quanto o perturbava com sua própria determinação.

— Tem toda a razão, eu não posso. Mas o que eu poderia fazer seria bloquear o acesso de todos os bens de Seth. Essa casa é legalmente minha, apesar de estar com a intenção de passá-la para o nome de minha mãe, pois já possuo muitas propriedades. Entretanto, posso mudar de idéia. Imagino que sua atração por Seth perca grande parte da intensidade sem os adornos que você esperava, não é?

Bella conhecera muitos homens cínicos e brutais em seu ambiente de trabalho em Londres, mas este fazia os outros parecerem amadores e quase ingênuos.

— Se eu quisesse me casar com Seth, nada do que você fizesse poderia me conter. Então, você perdeu, não é?

— Eu nunca perco, Isabella. Nunca.

— E mesmo? — replicou Bella, igualmente arrogante.

— Tenho uma proposta para você.

— Vá em frente. Costumo avaliar as mais absurdas na minha área de trabalho.

— Estou disposto a oferecer-lhe uma quantia em dinheiro para acabar com esse noivado. Se, por outro lado, você não aceitar e se casar, aviso-a que não receberá um tostão da herança de Seth, enquanto não me provar que o casamento de vocês é sólido e verdadeiro. Entendeu?

Os olhos cinzentos de Edward eram gelados e faziam Isabella arrepiar-se de apreensão.

— Não é somente porque sou mais velha, certo? Ou porque acredita que esteja me casando por dinheiro. Simplesmente, você não gosta de mim. Não é mesmo?

— Não se trata de simpatia pessoal. Na verdade, acho mesmo que não gosto de você, mas como se pode gostar ou não de alguém só com um conhecimento tão rápido assim? Entretanto, está certa em sua percepção. Na verdade, sua idade e sua ganância não são meus verdadeiros motivos para terminar o noivado.

— Por que então?

— É muito simples. Você não é a mulher certa para ele.

— Que direito tem de me dizer tal absurdo?

— Este — disse ele, quase que brutalmente, e segurou-lhe a cintura para aproximar o rosto e beijá-la com furor.

Naquele instante, algo acontecera. Algo assustador que mudaria sua vida para sempre. Como ele conseguira deixá-la nesse estado com apenas um beijo? Bella sentiu-se desesperada. Um intenso desejo consumia seu corpo e ela se imaginava no paraíso.

Bella abriu seus lábios para ele, como se tivesse esperado a vida toda por esse beijo. Seu corpo estremeceu, agora desejando mais, muito mais do que somente um mero toque de lábios ávidos. Queria que Edward a tocasse, onde nunca fora tocada antes. Desejava que aqueles dedos másculos tirassem sua camiseta e seu jeans, que ele a deitasse no chão e fizesse amor com ela pela primeira vez.

Mas a realidade retomou seu lugar. Um barulho vindo da casa chamou-lhes a atenção. Bella sentiu as mãos de Edward escorregarem de sua cintura e a língua ágil escapar de sua boca.

Bella não pretendia responder, tomada de raiva contra si mesma. Momentos atrás sentira-se no paraíso, mas o que realmente acontecera, é que Edward a tratara como uma prostituta e ela se comportara como tal.

Aquele homem sem escrúpulos vencera, tinha todo o poder e ela nenhum. Bella não queria vê-lo novamente nunca mais em sua vida.

Então, percebeu que Edward também a queria demais. Seus olhos estavam diferentes possuídos por um desejo incontrolável. Apesar de desprezá-la, Edward não conseguira dominar a atração física por ela e era um homem que conseguia tudo. Bella desesperou-se, pois temia muito aquela proximidade, sabia que no fundo, não resistiria àquele homem. Então, congelou seus olhos numa expressão de desdém.

— Essa... quantia que me ofereceu, quanto é exatamente?

A luz dos olhos dele desapareceu, e Edward a fitou como se a simples presença dela contaminasse o ar. Ele disse o valor e Bella sorriu satisfeita.

— Eu aceitarei, mas com uma condição.

— Sem condições, minha cara, a não ser que eu as faça.

— Somente terminarei o noivado se concordar em não contar a Seth nada sobre o que houve aqui.

— Você achou mesmo que eu feriria os sentimentos de meu irmão dessa maneira? E apesar de me sentir tentado a contar-lhe sobre a sorte que teve, não seria cruel ao ponto de desiludi-lo com o fato de que iria se casar com uma vagabunda barata. Está bem claro?

— Perfeitamente. E agora, podemos concluir nosso negócio?

Edward tirou o talão de cheques do bolso e assinou-o.

Isabella passou a mão pelo cabelo freneticamente, tentando apagar as lembranças em sua mente. Após mais de dois anos essas recordações não deveriam estar ainda tão vividas. Ela não era tão ingênua a ponto de achar que poderia esquecer um homem como Edward Cullen, mas não precisava estremecer e corar cada vez que pensasse nele.

Ela pegou a bandeja com o chá e dirigiu-se a sala onde estava sua mãe. Por que lembrar de tudo agora? Porque se recordava daqueles momentos sempre que vinha para casa? Esta era uma das razões que fizeram suas visitas se tornarem mais espaçadas, para tristeza da mãe e sua. Aquele lugar estava cheio de lembranças de Edward Cullen e do beijo que mudara sua vida.

No dia seguinte ao encontro dos dois, ela tomara várias atitudes, mas a primeira fora devolver gentilmente o anel a Seth. Ele não brigara nem discutira com ela. Dissera apenas que não estava surpreso. Depois, fora visitar uma tia na Escócia e também descontara o cheque doando tudo para caridade. Após entregar a enorme quantia de dinheiro para a Associação de crianças abandonadas, Bella fez a promessa de nunca mais pensar em Edward . Mas ainda não tinha adiantado.

— Isabella! Onde está o chá que me prometeu? — gritou a mãe.

— Já vou indo!

Sorrindo, Bella serviu o chá e biscoitos. Estava delicioso, mas ela conseguiu dar apenas uma mordida na bolachinha. Forçando-se parecer natural, estendeu a lata de biscoitos para a mãe.

— Como vai se virar com esse pé enfaixado?

— Ah, eu espero que ele melhore logo. Isabella disfarçou o sorriso, sua mãe era como um livro aberto!

— Quer que eu fique aqui até você sarar, não é mesmo?

O sorriso da Renée abriu de orelha a orelha.

— Você ficaria, querida?

Bella sabia que, depois de cinco anos trabalhando para o banco, não teria o menor problema em tirar uns dias para ficar com a mãe doente.

— Claro que fico, mamãe, mas terei que voltar a cidade para pegar mais roupas.

— Tudo bem, doçura. Tem mais chá para mim?

— Então, com que Seth vai se casar? — perguntou Bella, enquanto a servia.

— Com uma moça que conheceu nos Estados Unidos, uma herdeira, aparentemente.

— Isso irá agradar Edward — comentou ela.

— Não sei porque implica com esse homem, ele é tão charmoso.

— Pois esse é o último adjetivo que eu usaria para descrevê-lo.

— Por que não gosta dele?

— Como posso gostar de alguém que mal conheço? Ele é muito arrogante, se julga um presente de Deus para as mulheres e, pelo que soube, muitas concordam com ele.

— Bem, é melhor eu ir agora, para poder voltar antes do anoitecer — disse Bella, tentando mudar o assunto.

— Dirija com cuidado, está bem, querida?

— Não dirijo sempre o mais cuidadosamente possível?

— Na minha opinião, você gosta demais do acelerador! Isabella era uma motorista cuidadosa, e sabia quando era prudente correr ou diminuir a marcha. Em apenas uma hora, estava em seu charmoso apartamento e ligou para o chefe. Ele disse que ela poderia tirar o tempo que desejasse.

— Está falando sério, James?

— Não! Retiro tudo o que disse, sentirei muito a sua falta.

— Prometo ligar quando estiver de volta, serão poucos dias.

— Ligue-me antes, se desejar. Se precisar de um ombro amigo...

— Lembrarei disso, James. — respondeu Bella, rindo. James nunca fizera segredo de sua admiração por Isabella e aceitava normalmente as recusas dela. Era um homem bonito, rico e sabia que Bella não costumava sair com colegas de trabalho.

Mas a verdade era que Bella não saía com ninguém que a convidasse. Ela até tentara, mas a simples lembrança do beijo de Edward , a remetia a um passado forte demais para esquecer.

Ela esvaziou a geladeira, ligou a secretária eletrônica, colocou a mala no porta malas do carro esporte vermelho e voltou para a estrada.

A viagem fora agradável, exceto quando um carro preto e muito mais potente que o dela, forçou-a a mudar para a pista de baixa velocidade, bruscamente, e sumiu no horizonte. Obviamente era um homem, pensou ela irritada.

Quando entrou na pequena cidade, viu o carro novamente, estacionado no melhor restaurante da aldeia. Situado a alguns quilômetros da casa de sua mãe, o local era conhecido apenas pelos moradores, pois os turistas frequentavam o outro lado da vila. Bella imaginou que estaria dirigindo um carro tão caro, naquelas redondezas.

Ao chegar na casa da mãe, descarregou sua bagagem e fez o jantar com os mantimentos que havia trazido de Londres. A noite estava tranqüila, até a Renée jogar a bomba.

— Isabella?

Bella conhecia bem aquele tom e se preparou para ouvir.

— Sim, mamãe?

— Eu gostaria de pedir-lhe um favor, querida.

— De algum modo, achei que fosse isso. Pode pedir.

— E um tanto complicado de explicar... Lembra quando lhe disse que Seth estava noivo?

— Sim, mamãe, e eu não me importo.

— Não estava imaginando nem por um minuto que você se importasse. Afinal foi você quem terminou.

— Mas você ia dizendo...

— Oh, sim. Bem, ele chegará em dois dias e com minha perna machucada e tudo, não há ninguém para arrumar a casa...

— Não tenho muita certeza exatamente de onde pretende chegar, mamãe — disse Bella, colocando o copo de vinho sobre a mesa.

— Bem, estava pensando se poderia me ajudar.

— Ajudar?

— Sim... poderia me substituir, até que minha perna fique boa.

— Quer dizer... limpar a casa dos Brockbank para você? — perguntou a filha, incrédula.

— É isso mesmo, querida.

— Pagarei alguém da vila para fazer o serviço.

— Duvido que consiga uma pessoa tão rápido e perto do Natal. E depois, você sabe como Margareth Cullen é meticulosa. Não deixaria qualquer um entrar na casa e mexer nas antigüidades dela. Você não teria muito trabalho, Bella, apenas aspirar o pó e lavar a cozinha. Seria um tipo de pagamento.

Pagamento! — Isabella piscou os olhos, assustada.

— Seria um gesto bonito, depois de ter terminado o noivado com Seth. Poderia limpar a casa para ele, concorda? A não ser que não esteja sendo sincera comigo e ainda sinta uma ponta de ciúmes...

— Oh, mamãe, você consegue ser hilariante algumas vezes! Mas e a Sra.. Cullen? Certamente ela não me quer em sua casa.

— Ao contrário, querida, ela está muito feliz em tê-la por perto. A Sra.. Cullen sempre gostou de você.

— E mesmo? — perguntou Bella, surpresa.

— Então, me fará esse favor? — aproveitou a mãe imediatamente.

— Sim, mas sob uma condição.

— Qual é?

— Aonde está Edward ?

— Ele está na França ou Alemanha, comprando uma nova empresa. A Sra.. Cullen diz...

— Mãe, eu não tenho o menor interesse em saber de nada sobre Edward .

— Foi você quem perguntou...

Se já era terrível ouvir qualquer comentário sobre ele, pior ainda seria entrar na casa dos Brockbank e se deparar com todas aquelas lembranças.

Bella se perguntava como a mãe conseguira persuadi-la a fazer esse favor. Há dois anos que não chegava nem perto da casa, desde aquela tarde em que Edward lhe deu o cheque.

Bella achou que não seria bem recebida pela Sra.. Cullen, mas a bela mulher de traços graciosos estendeu-lhe a mão e sorriu sincera, tão logo ela chegou.

A Sra.. Cullen tinha os olhos iguais os de Seth e Bella sabia que Edward era muito parecido com o pai, o qual morrera num acidente marítimo, quando os dois ainda eram muito pequenos.

— Olá, Isabella. Fico feliz em tê-la aqui me ajudando.

— Mamãe insistiu e eu não vi problema algum — mentiu Bella.

— Eleanor é tão responsável, não sei o que faria sem ela aqui — a Sra.. Cullen fez uma pausa. — Ela lhe disse que Seth vai se casar?

— Sim, ela me disse. Estou muito feliz por ele Sra. Cullen.

— Achei que ficaria. Quer tomar um chá comigo?

— Talvez uma outra hora, prefiro começar logo, se não se importa.

— É claro que não, querida.

Isabella parou no hall e olhou para um porta-retratos de prata em cima da mesinha. Edward era definitivamente fotogênico! O fato de que uma simples fotografia dele lhe provocasse arrepios na espinha, quase a fez sair correndo daquela casa, mas ela respirou fundo e lembrou que prometera à mãe. E depois, Edward estava na Alemanha.

Ela vestia uma calça jeans, a mais velha que tinha. Era uma calça que modelava suas formas, mas não poderia mais usá-la para sair, estava surrada. A camiseta que antes era preta, agora estava russa e um pouco encolhida de tanto lavar, o que deixava aparecer o umbigo.

Como não achou um esfregão, encheu um balde com água e sabão e começou a lavar o chão da cozinha. Da maneira antiga, de joelhos!

Era agradável ver o chão brilhando. Em Londres, seu salário permitia uma faxineira, mas era prazeroso fazer o trabalho por si só.

Bella estava quase acabando de secar o chão, quando a porta da cozinha se abriu e, para sua surpresa, não era a Sra.. Cullen. Ela olhou para aquelas pernas compridas e foi subindo o olhar até se deparar com um rosto cruel e os cinzentos olhos frios de Edward Cullen.