Hoje é o meu dia de folga no campo por isso estou em casa a fazer as minha tarefas domésticas, desde que tive de sair da escola aos 10 anos tenho trabalhado no campo e nos meus dias de descanso cuido da casa. A minha mãe, Ella, também trabalha na colheita comigo já o meu pai, Byron, faz o transporte dos cestos da colheita para a fábrica.

Trabalhar assim é muito duro e não tenho tempo para mim, trabalho para esta família e para podermos ter comida na mesa todos os dias. O meu irmão mais novo, Michael ou "Mike", ainda só tem 9 anos e ainda frequenta a escola eu tento ajudá-lo sempre que posso, quero que ele tenha um futuro que eu nunca terei. Sempre sonhei ser professora e ensinar no centro da cidade mesmo sabendo que isso nunca ia acontecer vindo de uma família pobre nos subúrbios da cidade. Ser professor era um privilégio que poucos tinham.

São agora 6 da manhã e em breve vou ter de me levantar para limpar toda a casa, amanhã a minha tia Mary vem passar o fim-de-semana connosco. Eu adoro-a, ela trabalha numa editora na cidade e traz sempre algum presente para mim e para o Mike. Ela casou com um homem da cidade, mas ficou viúva 3 anos depois do casamento e agora está a viver sozinha numa grande cidade. Um dia quero ir com ela.

Levanto-me da cama e preparo o pequeno-almoço para mim e para o meu irmão, os meus pais já saíram. Vou até ao quarto do meu irmão para o acordar para ir para a escola.

"Bom dia Mike, vá lá está na hora de acordar senão vais-te atrasar."

"Não quero." Puxando o lençol sobre a cabeça.

"O pequeno-almoço está à tua espera, tens 15 minutos."

15 minutos depois

"MIKE VAIS CHEGAR ATRASADO!"

"Pronto, pronto já estou aqui…"

"Tens de sair em 5 minutos, come rápido." digo enquanto lavo a loiça.

Juro que este rapaz me faz ficar mais velha com toda a preocupação que me dá, mas eu não posso viver sem ele. Ele é o menino mais doce que eu conheço e também é muito protetor em relação a mim, não sei como seria a minha vida sem ele.

"Já acabei! Até logo maninha." colocando o prato na pia e dando-me um beijo no rosto.

"Até logo Mike."

Quase 4 horas depois toda a casa está limpa. Olho pela janela e vejo que está a chover. Mais tarde tenho de ir buscar o Mike à escola se continuar.

Aproveito o tempo que me resta para ler, na minha idade não é comum as raparigas lerem. Normalmente nos tempos livre bordam, preparam o seu casamento ou tomam chá com as amigas. Nunca fui uma dessas raparigas sempre gostei da minha independência, mas tinha de a manter isso só para mim porque ninguém ia aceitar e o mais provável era acabar sozinha na rua.

O livro que estou a ler é sempre o mesmo porque não tenho dinheiro e mesmo se tivesse não podia comprar outro na livraria, não é adequado.

Olho para o relógio "17 horas" o Mike sai daqui a 30 minutos e ainda está a chover. Vou mesmo ter de o ir buscar.

3 horas depois

"Pai, mãe como foi o trabalho hoje?"

"Terrível, esta chuva vai fazer com que este mês o salário seja menor." Diz o meu pai.

"Com o inicio da chuva não sei como vamos sobreviver." Diz a minha mãe.

A vida é injusta para nós, mas eu vou encontrar uma solução e passar fome não é uma delas.

"Posso arranjar outro trabalho para compensar." Digo eu.

"Como Aria? Tu já fazes muito por esta família se não fosses tu, eu não sei o que era de nós neste momento." Diz a mãe.

"Quero que saibas o quanto estamos gratos por ter a sorte por te ter como nossa filha." Diz o meu pai.

É tão difícil manter tudo isto, mas não quero nem pensar o que será do meu irmão. Ter de desistir da escola com 9 anos para trabalhar? Eu quero mais que isso para ele, quero lhe dar a oportunidade que eu nunca tive sorte de ter.

"Obrigada, mas eu vou arranjar uma maneira." Digo entre soluços.

"A tua mãe e eu não queremos que te preocupes com isso, o inverno vai chegar em breve e a chuva vai fazer parar grande parte da colheita a culpa não é tua filha." Diz o pai.

"Eu sinto-me cansada vou para a cama agora."

"Boa noite filha."

"Boa noite querida." Diz a mãe.

A tia Mary chega amanhã e não podia estar mais ansiosa. Ela é a única pessoa que sabe que eu adoro ler e às vezes quando nos vem visitar deixa-me ler os livros que ela traz às escondidas para mim e eu leio em apenas uma noite para lhe devolver no dia seguinte, damos um passeio pelo parque e discutimos o livro. Ela é o meu ídolo.

Deito-me finalmente na cama amanhã vai ser um longo dia.

Manhã seguinte

"Vamos lá Aria é hora de acordar a tia já chegou."

Olho para o relógio 9.00h.

"Porque não me acordaste mais cedo?" salto da cama muito depressa.

"Tens de descansar Aria às vezes parece que não dormes!" diz preocupada.

"Eu estou bem mãe." Digo eu a coçar os olhos de sono.

"Então levanta-te e vem tomar o pequeno-almoço, é o teu favorito."

"Panquecas? Com mel?" digo eu com espanto. Ela acena que sim com a cabeça. "Desde quando há mel cá em casa?"

"Foi a tia que trouxe para ti." Diz com um sorriso.

A tia já cá está? Penso. "Desço já, só mais 5 minutos."

"Ok querida" diz a minha mãe.

5 minutos mais tarde

"Tia Mary!" grito assim que vejo a mulher 2 anos mais velha que a minha mãe e corro para os seus braços.

"Querida Aria, estás uma mulherzinha!" Abraçando-me.

"Faço 21 anos daqui a dois dias tia" digo eu.

"Pois fazes minha querida és uma senhora! E os pretendentes?"

"Eu não tenho tempo para isso tia e os rapazes daqui são parvos de mais para mim." Digo eu baixinho. Enquanto ela ri da minha insinuação.

"Um dia vais-te apaixonar não te preocupes Aria, pretendentes não faltaram tu és linda."

Com a minha tia aqui sinto-me completamente feliz, ela é a minha melhor amiga e depois de um pequeno-almoço que já não tinha há muitos meses falamos sobre muitos temas da grande cidade.

"Eu realmente sonho em poder viver na cidade. Era uma oportunidade para mim e para toda a família." Digo para a minha tia. Os salários da cidade são mais altos o que podia ajudar muito a minha família que está a passar por dificuldades neste momento.

"Sim talvez até pudesses voltar a estudar. Olha Aria, eu não te quero pressionar, mas eu tenho conhecimento de uma família que precisa de uma criada de servir no centro da cidade. Eu sei não é o que esperavas poder fazer na cidade, mas surgiu esta oportunidade e eu disse que conhecia uma pessoa que podia estar interessada. O trabalho é teu se quiseres." Diz a minha tia.

Eu levo um tempo para processar toda a informação.

"Quando é que eu tinha de ir? Onde é que vou viver? Eu não sei se consigo realmente deixa a mãe, o pai e o Mike sozinhos." Digo.

"Tem calma Aria, se aceitares tens de vir comigo amanhã à noite. E como todas as criadas de servir vais viver na casa da família em que trabalhas. Não me vais ver muitas vezes talvez apenas aos dias de folga. Eu sei que vai ser difícil deixar tudo para trás, mas podes sempre escrever para os teus pais e se não gostares podes voltar quando quiseres."

"Eu tenho só de pensar um pouco." Eu digo.

"Claro, mas não deixes até ao último minuto ainda tens de fazer as tuas malas antes de ir. Eu vou falar com a tua mãe sobre isto, mas a palavra final é tua."

Eu vou para o meu quarto para pensar melhor no assunto. Eu tenho de ajudar esta família, o inverno está a chegar e a colheita não vai ser o suficiente para manter comida na mesa e esta proposta veio do céu. Eu só tinha de aceitar. E se não gostarem de mim? E se a cidade não for o que eu espero? E… Chega eu vou ficar com este trabalho. Tiro a mala do meu armário e começo a arrumar as minhas poucas roupas.


Aqui está o primeiro capitulo da nova história que vou escrever a partir de agora! Espero que gostem :)

Beijinhos e até ao próximo capítulo :)