Projeto 30 Cookies do LJ
Set: inverno
Casal: Milo x Camus
Tema: #2 carnaval
Autora: Srta Mizuki
Beta: sis Mudoh Belial
Fandom: Saint Seiya
Personagens: Mu, Camus, Milo
Censura: PG
Sumário: Algumas vezes somos bastante cegos.
Negação
Era uma noite quente, do tipo em que se tornava impossível ficar na cama sem rolar de um lado para o outro, sem dormir. O barulho não ajudava também: havia sons de tambores, flautas, gritos e risadas. Desistindo de vez, vestiu sua túnica e sandálias, pretendendo ver a festa de perto, sem, no entanto, participar. Não passava de uma festa celebrando a colheita, como tantos povos antigos costumavam fazer, a seu modo.
Aquela homenageava Dionísio, pedindo boas colheitas nas vinhas. O santuário todo se preparara por semanas para aquela festa, mobilizando servos e aprendizes, sem despertar a mínima suspeita no mundo moderno ao redor daquela ilha escondida.
Escondeu, por um momento, os olhos com as mãos, as chamas das fogueiras cegavam-no. Quando seus olhos acostumaram, a visão de uma multidão lhe surgiu, os rostos cobertos, pela metade, de máscaras como se participassem de alguma tragédia grega. O barulho era ensurdecedor. Os gregos bebiam em grandes taças de metal, o vinho passava de mão em mão, derrubando-se no chão e nos corpos mal cobertos por túnicas. Sabia que ali não havia limite de idades, vendo vez por outra seus próprios companheiros de armaduras correndo um atrás do outro. Os corpos resvalavam uns nos outros, lascivos. As bocas grudavam uma nas outras, ora na boca de uma serva voluptuosa, ora nos lábios macios de um garoto.
Fascinante de se ver, mas não ousava participar, não sendo de sua cultura e crença aquele festejar. Nem da sua, nem do rapaz da sua idade, sentado na longa escadaria, a poucos metros de si. Os fios lisos e esverdeados cobriam os ombros nus, grudando na pele de alabastro por causa do suor. Podia supor que também estava fora da cama em função do calor e do barulho, mas sabia muito bem que o motivo era diferente, ainda que suspeitasse que o clima abafado lhe fosse ainda mais insuportável. Mas ao contrário dele, podia criar um clima mais fresco.
Oh, mas liberar seu cosmos só o denunciaria ali, não é mesmo?
Com um sorriso no rosto desceu alguns degraus, se aproximando do garoto pálido. Para um cavaleiro, percebeu bastante tarde sua presença, ainda que não emitisse seu cosmos nem fizesse som em suas sandálias de couro macio. Viu os ombros desnudos se sobressaltarem, e o rosto virar para cima, os olhos azuis bem abertos e a boca úmida. Observou os dedos machucados, estivera-os mordendo.
- Mu... – o rapaz disse seu nome, parecendo estar entre alarmado e aliviado.
Sentou-se do seu lado, seus joelhos apenas um palmo de distância. Camus tentou esconder os dedos marcados. Aquilo o divertiu.
- Achei que havia dito que odiava profundamente essas tradições, que eram... como disse mesmo? – fez uma pausa, fingindo estar resgatando algo da memória – Ah, que eram primitivas e totalmente tolas.
Viu-o encolher os ombros e abraçar mais os joelhos, olhando para outro lado e resmungando algo baixinho. Camus havia dito aquilo de forma seca em uma briga com Milo em pleno salão da deusa, no meio de todos, quando o grego lhe convidara a participar. Fora claramente um jeito de magoar o cavaleiro de Escorpião. O motivo, a maioria presente não conseguira imaginar.
- Não me impede de vir aqui e olhar, quando não consigo dormir, impede? – respondeu de forma arrogante que quase fez Mu rir.
- Não, não impede. Eu mesmo não consigo dormir com essa agitação toda.
Os dois permaneceram em silêncio, observou os olhos de Camus percorrer a arena, parando pra observar impaciente uma pessoa ou outra. Mu tentou acompanhar-lhe, notando que eram sempre rapazes de pele bronzeada e cabelos cacheados. Apoiou os cotovelos no degrau atrás deles, soltando uma risada rouca. Camus lhe lançou um olhar irritado.
- O que?
- Está procurando-o.
- Não, não estou. – respondeu ofendido, então ruborizou – De quem está falando?
- Se quer jogar dessa forma, Camus, tudo bem. – respondeu, suspirando – Milo.
- E daí se eu estiver? – murmurou, ainda com as faces rubras. Era-lhe impossível esconder o embaraço nas faces pálidas – Estou preocupado.
- Por quê? É de Milo que estamos falando. Aquele que não perde uma diversão, que bebe até cair, nos faz ficar irritados, só para rir da nossa cara. – deu de ombros – Ambos sabemos que ele acabará indo até sua moradia, cedo ou tarde.
Olhou-o de esguelha, vendo-o pressionar as unhas na carne dos braços, sem responder-lhe. Mu balançou a cabeça, era tão transparente nesses momentos em que baixava sua guarda, quando envolvia certo cavaleiro grego debochado. Imaginou se aquele idiota não havia percebido ainda, ou se havia, e fazia o que fazia por pura diversão.
- Camus, você está com ciúmes.
O francês virou o rosto para ele de súbito, a boca entreaberta e as sobrancelhas franzidas. Sua expressão era de choque e ultraje. Gaguejou um pouco, abrindo e fechando a boca duas vezes, antes de recuperar o autocontrole e vociferar:
- Está delirando, Mu? E está certo, é de Milo que estamos falando. É o meu amigo, e é homem.
O oriental ergueu uma sobrancelha, tanto ele quanto o outro sabiam que o argumento era furado. Em certos treinamentos os rapazes eram até encorajados a se relacionarem mais intimamente entre si.
- Só quero prevenir de ele vir me infernizar bêbado, arrebentado ou chorando no meio da noite. – resmungou, não parecendo muito convincente.
Suspirou mais uma vez, ficando subitamente irritado com aquela mania de negação do francês. Observou com mais cuidado os participantes da festa, avistando alguém que com certeza era o objeto da conversa. Soltou outra risada, chamando a atenção do cavaleiro ao seu lado.
- Não creio que virá tão cedo assim, Camus. Se depender da morena nos braços dele, isso vai longe.
Camus debruçou-se sobre Mu com rapidez, seguindo seu olhar e franzindo as sobrancelhas assim que seus olhos caíram no mesmo lugar. Sentiu uma centelha de cosmos se manifestar, uma brisa gelada passou por eles. Interessante, Camus podia perder um mínimo de seu controle por algo tão ínfimo como o amigo se engalfinhar com uma serva no meio de uma festa onde se supunha que todos fariam o mesmo.
Mu olhou divertido e recebeu de volta um olhar frio e raivoso. Camus se levantou, empurrando-o rudemente. O oriental xingou-o e se levantou também, sabendo que não passava de uma atitude de moleques, mas não ligava. Pôs as mãos na cintura e ergueu o queixo para o outro.
- Porque não admite de uma vez, Camus?
- Não sei do que diabos está falando! Talvez o calor tenha derretido o seu cérebro, Mu!
Antes que o oriental pudesse revidar, o cavaleiro se virou e começou a subir as escadas com passadas largas, irritado.
- Continuar se enganando só vai te machucar, Camus! – gritou, recebendo de volta um gesto obsceno.
Bufou, ficando entre correr atrás do francês hipócrita e dar-lhe uma sova ou deixar quieto. Optou por voltar a observar a festa. Deparou-se com a figura de Milo, mas desta vez afastava a morena de si, tirando a máscara do rosto, olhando na direção em que Camus seguia. Tinha uma expressão de frustração estampada na cara, puxando os cachos azulados para trás.
- Ou machucar ele. – murmurou para si, balançando a cabeça.
Fim
24/02/2009
22hrs:32min
N.A.: Não, eu não presto.
