Nota: Essa história é baseada num livro que eu li, de mesmo nome.Alterei o sobrenome de alguns personagens e outros foram inseridos na história. Quem não gosta muito de romance, é melhor pular fora, a história nem chega a ter aventura.

Capítulo 1

Kisara Trafford ergueu os braços, espreguiçou-se e abriu os olhos. Já desperta, jogou para o lado as cobertas, atravessou o quarto, caminhando pesadamente, e sentou-se na poltrona junto à janela. Sua respiração formava círculos de vapor sobre a vidraça enquanto olhava os gramados cobertos de neve.

Embora o dia estivesse frio e triste, Kisara emocionou-se, como tudo acerca de Lammerton Manor a emocionava. Ali havia sido a residência da família durante sete gerações, até seu pai, Sir John, pai de Kisara, o último descendente masculino dessa linhagem. Desejava, como já acontecera outras vezes, ter nascido menino para poder perpetuar o nome da família.

Mas agora não tinha sentido pensar assim. Entrando no banheiro, deixou correr a água quente, lembrando-se dos dias de sua infância em que o frio era tanto que só conseguia se lavar superficialmente. Como pôde ter sido tão ingênua a ponto de não perceber que a pobreza lentamente envolvia a vida da família? Não poderia culpar-se inteiramente, pois seus pais fizeram de tudo para mantê-la presa a seu limitado mundo. Mesmo sua decisão de procurar um emprego quase fez com que seus pais desfalecessem, horrorizados.

- Trabalhar?! – disse Sir John com surpresa. – Filha minha não trabalha.

- Mas precisamos de dinheiro, papai. E o pouco que eu puder ganhar será melhor do que nada.

- Não quero mais ouvir você falar nisso – o pai retrucou. – Teremos que economizar um pouco, mas continuarei a conduzir esta família.

De qualquer maneira, o fato de economizar em nada ajudou e veio finalmente o dia em que decidiu vender a casa.

- Felizmente não está hipotecada – murmurou ele sem graça, evitando o olhar desolado de sua mulher – e uma vez vendida a casa teremos dinheiro o suficiente para comprar uma pequena propriedade em algum lugar perto daqui.

- E se vendermos minhas jóias? – sugeriu Lady Trafford.

- As melhores já foram. Não, já estou conformado: será preciso vender a casa. Estou certo de que conseguiremos um bom preço.

Apesar de Kisara ter particularmente ter duvidado disso, não o disse a seus pais, pois sabia que nenhum dos dois imaginava quão distante a vida em Lammerton Manor estava das necessidades impostas pela vida moderna. Na verdade, com a possível exceção de algum departamento do governo, ela não conseguia imaginar alguém que quisesse arcar com a responsabilidade de tal elefante branco. Contudo despediu-se do pai, tão encorajadoramente como pôde, quando o viu desaparecer no trem, desejando com ardo que ele pudesse provar que seus temores eram infundados.

Sir John passou uma manhã deplorável com seu procurador e sentindo a necessidade de espairecer, foi almoçar em seu clube.

Sentou-se, mal-humorado, na sala de estar, bebendo uísque com soda enquanto pensava em seus problemas, quando notou um homem sentado no lado oposto olhando-o fixamente.

- Desculpe-me a intromissão – disse ele após algum tempo -, mas ouvi o garçom dirigir-se ao senhor como Sir John, e gostaria de saber se o senhor é Sir John Trafford.

- Sim, sou eu. Por quê?

- Por que tinha um amigo, em Hong Kong, chamado Clive Trafford, que freqüentemente falava de um tio. Perdi contato com ele quando voltou para cá e tenho esperança de o senhor me dizer onde poderei encontrá-lo.

- É tarde demais – disse Sir John. – Clive morreu em um acidente de carro no ano passado.

O homem olhou-o assombrado e apresentou-lhe as condolências.

- Deve ter sido um grande golpe para o senhor. Era seu herdeiro, não era? Falou-me muito sobre Lammerton Manor.

- Sim, nós o amávamos – disse Sir John. – Foi bom que ele não soubesse que Lammerton Manor não seria minha por muito tempo. Eu a estou vendendo, por causa de todos esses malditos impostos.

O homem pareceu convenientemente simpático. – Não há outra saída?

- Nenhuma que eu possa ver.

O homem deu uma olhadela no relógio. – Espero que não se importe com meu atrevimento após conhecimento tão breve, mas, se o senhor estiver só, gostaria de me fazer companhia? Meu nome é Winster. Conrad Winster.

Encantado com a possibilidade de conversar com um homem que havia conhecido seu sobrinho, Sir John aceitou o convite. Sentaram-se a uma mesa próxima à janela, e assim pôde observar discretamente Conrad Winster. Aparentava seus trinta e poucos anos, robusto, postura atlética, o rosto corado de um homem ativo, mas amante dos bons divertimentos.

Durante o almoço, Winster encorajou Sir Hugo a falar sobre as glórias passadas dos Traffords e, na hora do café, admitiram que poderiam ter-se conhecido antes. – Pena não ser um homem com família – ressaltou Winster -, senão Manor seria ideal para mim.

Embaraçado, Sir John acenou negativamente. – Não estou tentando vender-lhe coisa alguma, entenda isso.

- Compreendo perfeitamente. Estava apenas pensando alto. É um mau hábito! O fato é que estou procurando imaginar um jeito de fazer com que o senhor mantenha sua casa.

- Não tenho pensado outra coisa nestes últimos três meses.

- Poderia ajudá-lo. – Winster inclinou-se para frente. – Sou corretor da Bolsa, e o presidente de uma companhia, que é uma das minhas clientes, demitiu-se outro dia por causa do seu estado de saúde e acho que o senhor poderia ocupar esse cargo.

- Meu caro amigo, não sei absolutamente nada sobre Bolsa de Valores!

- Não há necessidade de o senhor conhecer tais operações. Tudo o que precisamos é de uma figura representativa, um homem cujo nome e caráter estejam acima de qualquer suspeita. O senhor vai inspirar confiança em nossos acionistas, esteja certo.

- Não posso fazer isso – protestou Sir John. – Não seria correto. Deve ser preciso uma noção mínima desse ramo de negócios.

- Asseguro-lhe que é absolutamente desnecessário. Tudo que se exige consiste em assinar documentos de rotina e vetar ou aprovar certas transações. O senhor receberia um salário anual, é evidente...

A soma era tão alta que Sir John ruborizou-se, embaraçado. – Não disponho nem de um décimo dessa quantia. É demais para mim.

- Pelo contrário. Homens da sua envergadura são necessários na cidade, hoje em dia. Espero que o senhor aceite minha sugestão e pense no caso.

Ciente do montante em dinheiro, não houve necessidade de Sir John pensar mais sobre a proposta e, quando ele e Winster despediram-se, já estava decidido que assumiria a presidência no dia seguinte.

Em menos de um mês, tudo mudou em Manor. Sir John recebia documentos de aparência valiosa, e sempre que Kisara entrava na biblioteca via seu pai, adequada e pomposamente, assinando-os. Apesar de ela ter tentado descobrir qual a causa de toda aquela mudança, seu pai simplesmente lhe apontava o dedo e dizia que mulheres não deviam ocupar suas cabecinhas com negócios. Com o tempo, Kisara acabou concluindo que seu pai realmente pouco sabia sobre negócios.

Os primeiros sinais de opulência logo começaram a aparecer. Uma moça foi contratada como empregada e a prataria da família foi toda retirada dos caixotes, polida e colocada novamente nas salas principais. As velhas cortinas e os tapetes desgastados foram restaurados. As estufas estragadas foram consertadas e novamente se viram repletas de flores e frutos.

Manor agora parecia inacreditável em todo o seu conforto e, apesar de Kisara desejar saber até quando tudo isso iria durar, preparava-se para viver e gozar cada um desses dias.

Banhada e pronta para o café da manhã, descia a larga escadaria quando viu o policial do condado parado no hall de entrada.

Sir John segurava uma pasta de documentos; ao lado, a esposa.

- Um bom dia para todos – disse Kisara incerta. – Há qualquer coisa errada?

Sua mãe esfregou os olhos, perplexa. – Não sei, querida. O policial Perkings quer que seu pai o acompanhe à delegacia de polícia para prestar um depoimento.

- Sobre a companhia – disse Sir John, antes que sua esposa pudesse responder.

- Por que o senhor não pode esclarecer as dúvidas aqui mesmo? – Embora Kisara tivesse feito a pergunta a seu pai, olhava para o policial Perkings, que mudou de posição, irritado.

- Não na delegacia local, srta. Trafford. O depoimento será tomado pela Interpol.

- Interpol? – Dessa vez Kisara olhou para o pai.

- Por que razão querem ver o senhor?

- Não sei, querida. – Embora constrangido, Sir John respondeu jovialmente. – Mas, seja lá o que for, não há necessidade de preocupar-se. Logo saberemos do que se trata.

O pai saiu, e, vendo-o partir no carro de polícia, Kisara teve a estranha sensação de pressentir uma tragédia.

Era uma tarde de fevereiro, três meses mais tarde, quando os jurados voltaram a ocupar seus lugares no tribunal. Havia agitação na sala do tribunal, abarrotada de gente. Kisara inclinou-se para frente quando os jurados se levantaram.

- O júri chegou a um veredicto? – perguntou o juiz.

- Sim, excelência. O júri considera o réu culpado.

Um murmúrio cresceu na sala do tribunal e abafou a exclamação desesperada de Lady Trafford. Aturdida, Kisara ouviu o juiz pronunciar a sentença de dez anos de prisão e sua voz parecia vir de muito longe. Somente quando Conrad Winster a ajudou a levantar-se, reparou que a sala do tribunal lentamente se esvaziava. Todos voltaram silenciosos para o pequeno apartamento que haviam alugado durante o julgamento. Kisara conduziu Winster à sala de visitas, enquanto sua mãe entrava no quarto.

Deixando sobre uma pequena mesa a bolsa, Kisara, desolada, jogou-se em uma poltrona. – Não posso acreditar! Como puderam considerar meu pai culpado? Ele tinha tão pouca noção do que acontecia naquela companhia quanto uma criança.

Winster manifestou no olhar seu compadecimento. – Infelizmente, o júri julgou apenas os fatos. Alguém da empresa do seu pai tentou comprar ações de uma multinacional estrangeira muito poderosa de forma ilegal, o que acabou prejudicando essa empresa. Quando o golpe foi descoberto, a Interpol foi acionada e seu pai, como dono da empresa acabou levando a culpa.

- Mas meu pai tinha conhecimento dessa ação?

- Não sei. Mas sem a permissão do seu pai isso não poderia acontecer.

- Mas ele nunca faria algo assim!

- Na minha opinião, ele acabou assinando alguns documentos do qual não entendia bem o conteúdo e assim, acabou sendo envolvido no caso.

- Mas então...

- Infelizmente, o dono da empresa que foi prejudicada é bastante obstinado e conseguiu com que seu pai fosse julgado severamente.

- Severamente! É o cúmulo, que grande ironia!

A mãe de Kisara entrou na sala nesse instante.

- Não podemos apelar, sr. Winster?

- Não aconselharia, mas não custa consultar um advogado. – Ele olhou para Kisara. – Eu faria qualquer coisa pra ajudar seu pai, mas é impossível. Se você quiser saber a opinião do advogado, poderei procurá-lo.

Kisara olhou para ele, seus olhos brilhavam de emoção. – Obrigada, não devemos aceitar mais nada do senhor. Já fez muito por nós, eu agradeço.

- Gostaria de me encarregar disso. Sinto-me responsável por todo esse problema. Se não tivesse sugerido o nome de seu pai, creio que nada disso aconteceria.

- Não foi culpa sua, sr. Winster, a situação ter chegado a esse ponto.

- Não me sinto culpado. Mas se pelo menos imaginasse que alguém estava comprando ações de outra empresa desse jeito, eu...

- É inacreditável que meu marido tenha sido acusado de assinar documentos cuja natureza desconhecia!

- Se certas informações não houvessem transpirado, nada teria sido descoberto. As ações trariam lucro para a empresa e algumas pessoas sairiam beneficiadas. Infelizmente, houve quebra de sigilo. Por isso tudo voou pelos ares.

- Tudo é tão monstruosamente injusto! – Kisara rompeu-se em prantos. – Se não fosse o testemunho que o presidente da outra companhia, Seto Kaiba, tenho certeza de que papai sairia absolvido.

- Ele estava apenas cumprindo seu dever como testemunha.

- Ele fez muito mais que isso! Sentiu prazer em acabar com meu pai no tribunal, fez com que todos o vissem como um crápula, alguém que deveria ir para a cadeia elétrica.

- Kaiba pareceu-me muito impiedoso – concordou Lady Trafford. – Suas palavras pareciam desnecessariamente cruéis.

- Você está sendo branda demais, mamãe. Foi o mais violento ataque que eu já vi. Não bastou provar que papai era culpado, ele encarou o caso como uma questão pessoal.

- Era uma questão pessoal, Kisara. A companhia prejudicada foi a dele.

Enquanto falava, Kisara lembrava a figura alta e magra do empresário, os cabelos castanhos, as feições duras, a boca firme e seus fulminantes olhos azuis metálicos. Podia ouvir a voz estridente e sarcástica enquanto dava seu testemunho, de forma implacável.

Lentamente, o júri deixou-se hipnotizar por sua voz magnetizante, por sua poderosa personalidade. Kisara jamais conseguiria esquecer seu ar de satisfação quando foi pronunciado o veredicto e saiu triunfante da sala de tribunal, sem mesmo dirigir um olhar a seu pai, sentado no banco dos réus e cuja vida acabara de arruinar.

- Você não deveria ser tão severa com Kaiba. – A voz de Winster cortou seus pensamentos. – Ele é jovem e ambicioso, e a empresa é muito importante para ele. Sei que procedeu assim profissionalmente, mais do que por qualquer outra coisa.

- Então por que você não defendeu meu pai?

- Eu me ofereci, mas ele recusou.

Lady Trafford deixou a sala pretextando fazer um chá e, quando ela fechou a porta, Winster sentou-se diante de Kisara.

Na ocasião em que foram apresentados, ficou impressionado como uma criatura tão adorável pudesse ser filha de Sir John, pois a imaginava bem mais alta e forte, praticante de equitação como tantas outras moças da sociedade. Sua silhueta e o rosto delicado emoldurado por cabelos brancos (como todos os que acompanham o anime sabem, ela tem cabelos assim, não por ser velha, mas por ser reencarnação do Dragão Branco de Olhos Azuis) não só o surpreenderam, como fizeram com que ele quisesse conhecê-la melhor, e o completo desinteresse de Kisara por ele, como homem, serviu para aumentar ainda mais seu desejo.

Winster não estava interessado em relacionamentos superficiais e aventuras amorosas. Ao conhecer Kisara vislumbrou-a como a graciosa dona de casa que pretendia comprar. A beleza e a educação refinada da jovem seriam um perfeito complemento para sua fortuna e inteligência. (Fala sério, que falta de romantismo, não é?).

- Desculpe me perguntar, srta. Trafford, mas...

- Você não acha que depois de tudo, não deveria me chamar de Kisara?

- Winster sorriu de satisfação. – Ficaria encantado. Mas só se você me chamar de Conrad. Ia lhe perguntar se por acaso você e sua mãe têm planos para o futuro.

Ela fez que não com a cabeça. – Não sabemos ainda se papai irá abrir falência. Caso isso aconteça, não dispomos de nada para vender, a não ser a casa de meus ancestrais.

Winster suspirou. Nunca lhe ocorrera que poderiam vender a casa, pois imaginara viver no futuro com Kisara em Manor, desfrutando com ela a enorme satisfação de possuir a casa de seus ancestrais.

- Você me consideraria como um possível comprador? – perguntou ele.

- Você? – Com medo de feri-lo com sua surpresa, pois descobrira quão sensível era Winster em sua necessidade de se afirmar socialmente, Kisara completou precipitadamente:

- Quero dizer, você não tem família e esta casa é tão grande...

- Com uma esposa e filhos, nenhum homem poderia desejar um lar mais encantador.

- Então você está pensando em se casar?

- Espero um dia fazê-lo, a menos que você ache que tem algum problema quanto a isso.

Kisara ficou corada. - Claro que não. Mas você me parece tão seguro e bem-sucedido sem uma esposa, que não consigo imaginá-lo acomodado na tranqüilidade de um lar.

- Há pessoas que não se imaginava que casassem, mas casaram. Se até hoje não aconteceu comigo, é porque nunca me apaixonei por ninguém.

Apesar de Kisara ter percebido a indireta, não lhe deu importância e continuou a manter a conversa sobre a casa. – Não poderia deixar você comprá-la. É muito grande. Você só quer fazer isso para nos ajudar.

Ele sorriu. – Então não há nada que eu possa dizer. Posso perguntar quais são seus planos?

- Encontrar um pequeno apartamento em Domino e arrumar um emprego, embora não saiba o que possa ser.

Winster pensou por um momento e disse: - Você poderia ser uma excelente modelo.

- Para isso é necessário preparo.

- Não creio que você precise disso. Seus dons naturais bastam para lhe abrir caminho.

Ele parou assim que Lady Trafford voltou com uma bandeja, pois percebeu que Kisara não queria falar sobre o futuro na presença da mãe. Após tomar o chá, Winster despediu-se delas e antes de sair escreveu um nome em um cartão e entregou-o a Kisara. – Vá em frente e procure este homem. Falarei com ele nesse meio tempo e tenho certeza que lhe arranjará emprego.

Kisara olhou para o cartão. – Despoir? Mas ele é o melhor costureiro de Domino. Não terei coragem de procurá-lo!

- Bobagem. Se ele aceitá-la, será porque você realmente tem valor. Você vai ver seu pai pela manhã?

- Sim.

- Então lhe telefono depois.

Enquanto Kisara fosse viva, jamais poderia esquecer sua última visita ao pai. As semanas que se seguiram à sua prisão tinham-no transformado substancialmente. O homem de espírito jovem cedera lugar a um velho de andar pesado, extremamente nervoso e brusco. Acrescia-se a isso sua atitude de autopunição.

Kisara sentiu que poderia suportar tudo, menos a visão daquelas mãos alvas de veias azuladas, tremendo sobre a mesa, enquanto falava com ela.

Kisara e sua mãe retornaram no mesmo dia a Lammerton para iniciar a dolorosa tarefa de arrumar os objetos pessoais com rapidez para que se fizesse o leilão. Os poucos empregados, recentemente contratados, foram despedidos; assim, só contavam com elas mesmas para o trabalho.

Enquanto a mãe se ocupava das arrumações finais, foi a Domino procurar um apartamento. A maioria deles, dos que tinha visto, eram caros demais e o mais baratos, inabitáveis. Finalmente encontrou um pequeno apartamento mobiliado em um bom bairro. O contraste entre a nova casa Manor amargurava sua coração.

Mesmo assim, voltou ao hotel sentindo-se mais animada. Ao tomar o elevador, um funcionário do hotel entregou-lhe vários recados escritos, de Winster, pedindo-lhe que se comunicasse com ele.

Por um momento, Kisara teve a sensação de uma tragédia e, correndo ao telefone no saguão do hotel, discou o número de Conrad. Foi atendida de imediato.

- Trata-se do seu pai – disse ele, sem rodeios. – Sofreu um ataque cardíaco. O médico da prisão telefonou para sua mãe e ela me avisou. Onde está você agora?

- No hotel.

- Espere-me, estarei aí daqui a pouco.

Pareceu-lhe que o tempo não passava até o momento que ele chegou.

- São más notícias, Kisara. Estou apreensivo.

- Você quer dizer que...

- Sim, Kisara, seu pai morreu esta tarde.

Ela inclinou-se e Conrad amparou-a. – Estou desolado por dar uma notícia como esta, mas não havia outro jeito.

- Entendo – murmurou ela. – É terrível papai ter morrido sozinho, ainda mais em uma prisão.

- Eu sei. – Winster a olhava com profunda compaixão. – Eu a levo para casa. Você precisa alar com a sua mãe.

Agradecida, ela aceitou a gentileza. Arrumou apressadamente as malas, voltando logo em seguida.

Até o momento em que deixaram Domino, não se sentia com disposição para falar. Suas primeiras palavras foram sobre o empresário Seto Kaiba. – Se não fosse por ele, papai ainda estaria vivo. Todas aquelas coisas terríveis que disse devem ter influenciado muito o júri. – Kisara calou-se por alguns instantes, depois prosseguiu: - Nunca pensei que pudesse odiar uma pessoa como odeio Kaiba. Se houvesse algum modo de me vingar, eu o faria.

- Não se atormente com isso. Ele estava apenas defendendo sua empresa.

- Ele foi muito além do campo profissional – disse ele friamente. Winster não respondeu, e Kisara mergulhou num profundo silêncio.

Os dias se seguiram como se tudo fosse um pesadelo. Winster insistiu em permanecer em Manor para os funerais de Sir John e o leilão de seus bens. Kisara sentiu que nunca mais poderia prescindir de seu apoio, depois de toda a humilhação sofrida.

Com a falência de Sir John, o dinheiro apurado com a venda dos bens se destinou ao pagamento dos acionistas lesados. Assim que tudo se resolveu, Kisara e a mãe foram partir para Domino, contando apenas com uma pequena pensão, praticamente insuficiente à sobrevivência de ambas.

Winster ficou horrorizado ao conhecer o pequeno apartamento que Kisara tinha conseguido. Além de não gostar do imóvel, não simpatizou com a proprietária. Kisara, porém, não admitiu críticas à srta. Cooper, que provou ter um bom coração, apesar de sua aparente frieza.

Os açafrões que ela plantara, na jardineira da sala de estar, estavam começando a brotar. Despontavam timidamente para a luz e assemelhavam-se à nova vida de Kisara num mundo que lhe era estranho e incerto.


Acabei de dar uma atualizada. Se eu tiver + reviews, prometo que posto mais rapidinho. Idéia é o que não falta. Qualquer dúvida tb, posso esclarecer . Sugestões tb são muito bem-vindas. Até aceito críticas, desde que tenham argumento.