Bem, Luminous surgiu depois de uma conversa bastante longa com um primo meu, que está cursando Cinema. Por alguma motivo resolvi tirar várias dúvidas sobre o que era necessário para se fazer um filme, ou simplesmente rodar uma pequena cena. Na verdade, sobre praticamente tudo que ele está estudando, e o que virá a estudar. Não consegui absorver todas as explicações, porque acreditem ou não, rodar uma "simples" cena é mais difícil do que parece. MUITO mais difícil; mas uma ideia surgiu, (e eu juro que se não estivesse me preparando para a minha futura carreira "política", com absoluta certeza escolheria dirigir filmes :D) resolvi extrair o básico do que me foi passado e criar essa série de pequenas histórias, ou melhor dizendo, de pequenas cenas. Pequenas cenas que descreveriam uma história e um momento. Enfim, espero que gostem, que leiam e que acompanhem, quem sabe.
Uma explicação bem superficial e rápida:
Plano Sequencia: seria aquele que corresponde a uma sequencia bastante extensa do filme. Ângulo Plongê: coloca-se a câmera nivelada ou acima dos olhos da pessoa (personagens), focando-a em um plano superior (mas não necessariamente em sua face). Plano Conjunto: mostra um grupo de pessoas ou objetos. Plano próximo: se foca em um ou dois personagens (mais especificamente a face, por exemplo). Plano Geral: mostra um cenário extenso, um cenário completo.
É isso ai! Provavelmente cometerei vários erros na perspectiva cinematográfica, mas não dizem que o que vale é a intenção?
Charlie Brown do Coldplayfoi uma inspiração a mais, recomendo x)
Sakura Haruno.
Sakura Haruno com os dedos rijos. Sakura Haruno segurando um dos postes do carrossel. Sakura Haruno e sorrisos.
Uma garrafa de vodca.
Sakura Haruno e mais sete pessoas. Sakura Haruno e amigos.
Felizes.
Bêbados.
Alterados.
Sete pessoas em total harmonia. Pelo menos naquelas breves momentos da mais pura letargia embriagada.
Um cavalinho dourado, ela escolhera. O vira de longe, no instante que os rapazes decidiram por inventar outro uso para as pecinhas de madeira.
O parque era velho. Fedia e chorava.
Mas o grupo não desistira. Foram obstinados nos seus intentos, rodando e rodando e rodando as manivelas descascadas de tinta azul. O brinquedo girou e girou e girou. E Sakura Haruno agarrou seu cavalinho dourado-cínico. Uma garrafa na mão, sorrisos, dentes e boca. Tudo muito simétrico, tudo muito bonito.
Uma cena.
E começaria mais ou menos assim:
Com várias tomadas e profundidades, dualista e multidimensional. Extensa, coesa, sincronizada, limpa, funcional, errada, conturbada, tendenciosa, ritmada, fluída, montada e plano sequência: girando e girando e girando.
Paradoxo.
Ângulo Plongê. Escuro, luzes; falta de ar, fumaça, carrossel. Meninos arfando, garotas gritando. Pessoas, frio, vento. Carrossel. Seu giro contínuo. Copos de vodca em mãos; copos de alguma outra bebida jogados no chão do parque interditado. Cigarros, batom, cochichos, risos, amizades, beijos e um olhar.
Plano de conjunto.
Garota animada, perturbada, errada, olhar atravessado, também bobo, mal direcionado. Sakura Haruno procurando. Plano próximo, ou penas um close, mas ainda sim um desvio atento à expressão analítica da outrora garota perdida no seu pedacinho dourado-cínico. Atinada em encontrar uns cabelos escuros, diferentes do seu. O seu rosa feio. Rosa chiclete.
Segundos depois, e ali estavam os tons fugidos. Igual à noite, mas diferente das luzes da cidade que expandiam-se em um caleidoscópio astrofísico por entre cavalos de madeira pintados desde amarelo a azul céu.
Garoto.
Sasuke Uchiha.
Antipatia.
Ele pousando finalmente ao seu lado. Olhos muito estreitos. Intraduzíveis, mas atentos. Cansado da tarefa de colocar o brinquedo danificado em movimento.
Plano geral.
A menina do rosa chiclete estendendo um dos braços para fora do carrossel. Mãos e dedos firmes. Segurando o poste metalizado. Cabelos, muito vento, tudo amarrado naquela saturação dissonante do inverno. Algo do meio, um lugar-comum.
Depois, um pequeno instante da mais pura observação: do palatável, da antipatia em se estereotipar. Tudo isso por parte dele, o lado masculino da questão. A percepção da instável mistura de lados opostos que se marcava bem ali.
Ela sempre fora muitos sorrisos e carinhos.
Ele, contundo, sempre sério. Bebidas o deixavam pensativo, burocrata, formador de opiniões. Gostava de analisar. E, naqueles descritos segundos, observando a garota dos cabelos discrepantes e dos olhos insossos – fechados, moldurados por uma expressão de profundo júbilo – Sasuke Uchiha abitolou-se.
Fosse pelo braço esquerdo dela estendido – enquanto o direito fazia o trabalho de lhe dar sustentação nas voltas e mais voltas do brinquedo –, fosse pelos dedos agarrando o ar e o metal, fosse pela garrafa de vodca, antes bem protegia pelas mãos, jogada vários metros dali. Fosse o motivo que fosse. O garoto simplesmente não conseguia parar de admirar.
Sakura Haruno e sua costumeira alegria. Sakura Haruno e aquela felicidade radiante grudada à boca.
Sakura Haruno obliterando-o em seu ato escapista. Assim, com os olhos bem fechados, a boca aberta e os dentes a mostra, um ímpeto discreto na longínqua maciez bêbada.
Rodando.
Mas ele, Sasuke Uchiha, escondendo não apreciar.
Outro Plano próximo.
Ela lhe servindo alegria escancarada. Ele limitando-se simplesmente a guarda-la para si. O brinquedo gira. O carrossel não para. As luzes da cidade destacam-se como borrões ao longe, do lado de fora. Mãos se tocam. Sakura Haruno. Sasuke Uchiha. Um ao lado do outro. O vento despenteia os cabelos, joga fiapos pela face, mas tudo numa harmonia simplificada. Quase ensaiada.
A cena é esta.
E, então, é o fim.
