Título: Two Rivers
Autora: Isabelle Delacour
Beta: Samantha Tiger Blackthorn
Banda: the GazettE.
Casal: Aoi x Kou
Classificação: NC-17
Gênero: Slash, Angust, Lemon, Romance, Aventura
Tema musical: Dois Rios – Skank; Cassis - the GazettE
Dedicatória: Para minha Querida Beta Samie e minha afilhada Ifurita... Espero que gostem.
Resumo: Quando a vida te obriga a navegar por um rio de águas turbulentas e por amor deve-se encontrar o retorno dessa correnteza. E seus braços sentem, seus olhos ainda vêem, e os lábios ainda beijam... Dois rios inteiros sem direção.
Disclaimer: Esses homens lindos e talentosos não me pertencem, o que é uma pena, então apenas tomo a liberdade e o atrevimento de me divertir com eles.
Avisos: Esta estória é Slash e contém Lemon: um romance entre dois homens e com sexo explícito. PORTANTO, SE NÃO GOSTA NÃO LEIA.
Capítulo I –
In The Wings Of Freedom
Olho pela janela do quarto daquele motel barato em algum lugar do mundo, nessa altura dos acontecimentos não me interessa muito onde estou. O que importa é que me sinto seguro, e aquele maldito demônio do Zeus não vai me encontrar nunca mais.
Vejo os pingos da chuva que molham a janela naquele fim de tarde e peço à deusa que olhe por você meu chibi. Mas aquele começo de um novo dia prometia ser diferente dos demais. Era a primeira vez em dias que tinha forças para me levantar da cama. Os ferimentos, alguns ainda não cicatrizados, ainda me causavam um pouco de dor. Dor! Eu podia sentir dor agora. Eu voltava a sentir as coisas como se minha humanidade tivesse sido devolvida. Uma lágrima atravessa minha face com a sua lembrança. Sua lembrança que me manteve vivo até hoje, apesar de eu nunca mais pensar em você desde aquele dia maldito. Quem sabe em meus sonhos que eu nunca lembrava no dia seguinte, mas sei que foi por você e pela tola esperança de lhe ver novamente.
Eu não entendo bem no momento como vim parar neste buraco perdido em algum lugar do mundo. Minha mente está entorpecida com alguma coisa. Faço um esforço para conseguir me lembrar dos últimos dias, uma angústia percorre meu coração. Angústia... Outro sentimento humano. O que está acontecendo comigo? Então minha mente foi obedecendo aos comandos da minha vontade...
- Zeus, não pode matar pessoas inocentes, não que eu me importe com qualquer uma delas, mas não é política da Organização. Nunca matamos crianças, você sabe disso melhor que eu. Até para nós, há limites!
- Ah!! Sim! Você tem limites? Você é um assassino anormal e barato e vai obedecer minhas ordens! Nunca! Jamais! Não questione minhas ordens novamente, agora volte lá e mate aquela pirralha... Como bom cão de caça que é! Agora vai, está me entediando...
Eu encarava minhas botas ainda manchadas de sangue. Sangue inocente da babá que cuidava da garotinha de olhos assustadiços que eu não pude matar. Naquele dia eu deixei meu parceiro cuidando da segurança do lado de fora, nós não sabíamos que o alvo era uma garotinha de dois ou três anos. Era a primeira vez que a Organização me incumbia de tal tarefa. Não tinha conhecimento que outros agentes já haviam feito algo parecido.
Saí de lá de dentro muito rápido, apenas mandei uma mensagem com "trabalho concluído" para tirar minha parceira de lá, não sabia se Cassiopéia terminaria o trabalho, ela também agia estranhamente nas últimas semanas. A noite me engoliu e eu só voltei para a organização naquele momento e já falava com Zeus, meu chefe. Ele já sabia da minha falha no momento em que entrei na sua sala. Não me arrependo do que não fiz. Então eu olhei para ele que estava de costas para mim naquele momento olhando alguns documentos. Ele já havia dado o caso como encerrado.
- Não...
- O que disse? – O demônio perguntou, sem se voltar para me encarar.
- Eu não vou fazer Zeus. Não vou matar nunca mais, nem aquela garotinha, nem quem quer que seja.
- Eu ouvi bem? – Ele se virou e me encarou surpreso. – Tenho um rebelde sem causa aqui? Sabe muito bem que não pode resistir a mim. Sabe que posso mandar alguém para cuidar daquela sua familiazinha medíocre que você tanto presa. Esqueceu-se disso? Não creio, você é meu melhor soldado! Não se esqueceria de algo tão básico, não é mesmo?
- Não. Não tenho mais medo, você não pode achá-los. Não pode achar quem está morto. Você sabe disso e agora eu tenho certeza. Não é verdade Zeus? Seu reinado sobre mim termina hoje.
- Então? O que acha que farei com você?
- Vai pro inferno!
- Já estamos nele esqueceu? E eu sou seu senhor!
Ele não disse mais nada, pois leu em meus olhos que eu jamais me curvaria, então eu senti meu sangue congelar e fui privado de movimentos. Ele arrancou meu uniforme eu não podia resistir a ele, não comandava meus movimentos, era como se alguma corda imaginaria amarrasse meus músculos. Eu podia sentir seu hálito podre em meu pescoço ele sempre quisera isso, me possuir. Consegui afastá-lo até aquele dia.
Depois que ele me possuiu grosseiramente, eu por algum motivo perdi os sentidos. Ou talvez ele tenha me deixado inconsciente para continuar seus jogos de tortura em outro momento. Acordei em uma das celas da Organização usada para interrogatórios. Uma câmara de torturas que daria calafrios até no melhor torturador de Hitler. Um sorriso amargo estava em meus lábios. Eu não sairia vivo dali. Não mesmo! Zeus tinha o controle sobre todos os assassinos da Organização. Eram, na sua maioria, aberrações, feiticeiros ou simplesmente psicopatas, eu estava na categoria de aberração, todos nós tínhamos chips implantados em algum lugar do corpo para que Zeus nos controlasse.
Durante dias Zeus voltou e me torturou, por sorte havia perdido o interesse de me estuprar. Isso teria me matado de nojo. Eu já havia perdido muito sangue e não duraria muito mais. Foi quando ouvimos gritos e sons de tiros, Ele me torturava, tinha minha coleira, então eu não podia me voltar contra ele, com meus poderes psíquicos. Ele tinha implantado em seu braço um chip de controle, com este dispositivo ele comandava todos ali. Tinha poder de vida e morte sobre nós.
Então vi Cassiopéia entrar na sala, a última pessoa que imaginei ver naquela situação. Mal pude reconhecer a garota, de estatura baixa, parecia até indefesa, rosto meigo, ela tinha as vestes cobertas de sangue. Seu rosto inexpressivo. Tudo aconteceu rápido demais. Ela fez algo inusitado, cortou o braço de Zeus com sua katana, então eu invadi sua mente com minhas últimas forças, ele implodiu, meu carrasco jazia morto em meus pés. E eu quase. Ela me soltou e fez com que eu vestisse uma capa longa, para cobrir meu corpo nu e muito ferido. Ela não disse nada. Mas por um segundo me lançou um olhar de alivio. Continuou matando quem quer que cruzasse nosso caminho.
Eu me mantive consciente para não ser um peso morto para ela que me arrastava pelos corredores da Organização, quando conseguimos sair dos muros daquele inferno, ela me jogou em um carro, ela não dizia nada. Eu... Eu não ousei perguntar nada, não conhecia aquela garota que estava ao meu lado. Sim era Cassiopéia, minha parceira, mas, não era ela, ela sempre muito desastrada nas missões. Não levava nada a sério, nunca se concentrava em nada a não ser em suas pesquisas, que por vezes tínhamos que fazer para nossas missões. Ela me dava informações precisas, um gênio com computadores, péssima em campo. E definitivamente essa não era a Cass que eu conhecia. Meu instinto dizia para não questionar a garota. Apaguei em algum momento da fuga. E as lembranças daquele dia terminam aí. Não sei o que aconteceu.
Ouço uma porta sendo aberta imediatamente fico alerta.
- Oriom, Oriom... O que faz fora da cama? – A garota de olhos negros, pálida, de uma beleza tosca, cabelos negros também, curtos e bagunçados, um piercing no canto da sobrancelha, que vestia negro sempre, pousou levemente a mão sobre meus ombros.
- Cassiopéia... Eu deveria saber que não me deixaria morrer em paz... Você é um pé no saco sabia? – Ela abre um sorriso debochado e me abraça.
- E perder a única pessoa que me tira do tédio? Vai sonhando! Mas, sério cara. Senta aqui. Que tal um pouco de água? Algo para comer? – Ela tenta se mostrar indiferente, mas eu sei que ela está preocupada e sem dormir por minha causa.
- Não. – Vou para a cama, sinto-me um pouco cansado. – Apenas deite aqui comigo.
- Pirou é? Tenho mais o que fazer. Não vou ser sua babá, grandão! – Ela faz cara de indignada pra mim.
- Cass, não vou pedir novamente. Anda logo, eu sei que está a um passo de desmaiar por aí de exaustão. E eu não vou colocar você na cama anjo!
Ela se aninhou a mim feito uma criança, de uns tempos para cá ela fazia isso vez ou outra. Ela era um mistério para mim. Nunca consegui ler sua mente. E isso me encantava nela. Minha melhor amiga.
- Cass, a Organização deve estar no nosso rastro uma hora dessas, temos que sair daqui. Seja lá onde for que me trouxe.
- Já nos acharam.
- E?
- Calma, eu coloquei dois cadáveres dentro do carro da nossa fuga, forjei um acidente e não sobrou nada de nós dois para contar a história. Depois me agarrei a você e finalmente consegui teletransportar levando alguém comigo.
- Teletransporte? Isso é novidade, eu não sabia que... Você poderia ter nos matado isso sim. – Eu me viro para olhar para ela. Ainda não acredito no que ela me conta, é bizarro demais até para aberrações como nós. Ela me ignora e continua.
- Antares está à frente da Organização agora. E nos declarou oficialmente mortos. Eu retirei nossos chips de controle e fiz aquele "patuá" que está descrito em seu diário.
- Você foi mentora e executora desse plano suicida sozinha? E ainda está viva? – Falo em tom de troça só para provocar.
- Vai brincando, vai. Eu conto pro Antares que você não morreu.
- Não entendo Cass...
- Depois eu é que sou burra...
- Por que fez isso? Por que me salvou? Por que acabou com sua vida? Você sempre respeitava as regras de Zeus à risca. Não entendo...
- Comecei a pensar melhor sobre o que fazíamos. Sobre as coisas que me contava sobre a vida dos humanos normais. Quando voltei à Organização depois da ultima missão e não encontrei você, percebi que havia algo errado. Comecei a entrar na mente de alguns idiotas que nem notaram minha presença. – Ela riu de sua superioridade. – Aí fui ver nossa ultima missão, invadi nossa rede, e descobri a idade do nosso alvo. Então sabia exatamente onde você estava não precisava ser nenhum gênio para isso. Eu só precisava de um plano, e não melar as ações do dia, eu pagaria com minha vida e a sua se eu fosse desastrada! Caro demais. Então precisei responder a mim mesma essa pergunta. E lembrei... Quando voltou pra me buscar naquela missão que eu mesma estraguei...
- Nunca deixaria você para trás anjo. Você é um pé no saco, mas, eu tenho um gosto péssimo para amizades!
- Tem sim, e eu também. Então teremos que nos aturar por enquanto.
Deixo que ela durma um pouco, ela sempre tem o sono conturbado, mas quando está junto a mim é diferente: Seu sono se acalma. Fecho meus olhos ficando em paz com meus pensamentos.
Oficialmente estou no inferno, como hóspede ilustre. Sim já estive lá, mas fui resgatado por um anjo. Quando eu já havia entregado os pontos. Ela apareceu. Cheia de perguntas, tão irritante, várias vezes estive a ponto de colocar uma bala em sua cabeça. Mas, por sorte não o fiz. Apenas aprendi a trabalhar com Cassiopéia.
A garota era cria da Organização. Ela havia nascido ali, dentro daqueles muros. Não sabia o que era família ou uma vida normal, ao contrario de mim que tive tudo isso, e perdi. Ela havia sido designada para ser minha parceira. Os meus parceiros não duravam muito, eu nunca me importei com eles na verdade, eu me tornei pior que um assassino, a vida não tinha a menor importância para mim naquela época. Mas, esse anjo mudou tudo isso. Ela com suas perguntas acerca do mundo fora dos muros da organização me fez lembrar que era humano, enquanto explicava com muita má vontade como era viver fora dos muros da Organização.
Em contrapartida eu havia despertado nela seu lado humano. A garota agora estava meio que sem rumo, acredito eu. Ela me tirou de lá cuidou dos meus ferimentos que não eram poucos, me resgatou do inferno em que eu vivia e me deu uma liberdade que eu já julgava perdida para sempre há muito tempo. Então ela se tornava a partir daquele momento minha responsabilidade. E pensando bem, quem garantia que ela sobreviveria com todo aquele talento para ser atrapalhada? Ah! Sim! Ela tinha talento, eu não havia mais dado nenhuma arma de fogo para ela, depois que ela havia atirado no próprio pé. E a mantinha só nas pesquisas, informações, camuflagens e outros detalhes que as missões exigiam. E vê-la armada até os dentes... Acho que ela se inspirou em um filme que a levei para assistir no cinema. Foi sua primeira vez em um cinema, era um filme em que Schwarzenegger se armava até os dentes para resgatar a filha. Definitivamente era a única explicação.
Mesmo sendo um desastre ambulante, ela cuidava de mim ali naquele lugar de péssimo gosto. Era um quarto que tinha uma pequena saleta com janelas e porta na mesma parede de entrada um sofá antigo e puído, muito bom, muito bom mesmo, para jogar fora é claro. Uma mesinha de centro com tampo de vidro e um vaso com uma flor de plástico com muitas pétalas faltando um item talvez retirado de um cemitério decadente qualquer. Uma divisória em alvenaria separava as camas do resto do ambiente esta ia até o teto. Do chão até a metade, de madeira pintada de rosa ridículo. E da metade até o teto, barras que tinha silhuetas de garotas nuas em intervalos regulares. Os colchões eram uma lástima, tinham um cheiro que eu nem tentei identificar. A cor das paredes era em tons de rosa, um pior que o outro. Jurei que se ficasse aqui por mais tempo eu acertava a cabeça dela depois a minha! Fala sério alguém poderia ter um gosto pior que esse para decoração? Eu estava no meu limite quanto a isso, era melhor dormir pra não ter que encarar aquelas paredes. Acabei dormindo também.
Não sei onde aquela insana está no momento. Me preocupo com ela na verdade. Não gosto quando ela sai e eu não sei onde está. Mas, sinto que está tudo bem, ou estou ficando fora de forma. Espero que não. Não fui salvo pela ultima pessoa na face da terra que esperava me ajudar para ser morto agora. Agora quero viver, e viver muito. No momento me sinto meio tonto. Acho que são os remédios que ela me dá para a dor. Então não tenho escolha fecho os olhos.
Durante um tempo que não sei precisar alternei momentos de inconsciência. Até que passei a ficar mais acordado. Descobri que ela estava trabalhando em uma lan house local e mantinha um contato com os computadores da Organização monitorando assim os passos de todos. Ela era uma maldita hacker e ninguém podia com ela lá. Ela havia planejado tudo: conta bancária, novas identidades, novos visuais, continuava improvisando sozinha. Ela me enviava mensagens mudas de que precisava de mim, das minhas censuras, das nossas brigas, e eu experimentava uma letargia que me contaminava. Mas ela esperaria por mim, esperaria que eu voltasse a reagir e não apenas ver os dias se passarem naquele túmulo rosa para onde ela havia me levado.
Pela primeira vez em muito tempo não estou cuidando de ninguém. Alguém cuida e se preocupa comigo, é uma sensação estranha, muito estranha para mim, mas eu gosto. É bom saber que alguém vela por você para variar. Não sei o quanto isso vai durar, mas eu gosto.
Abro os olhos e olho ao meu redor. Pela primeira vez também não sei o que fazer. Não sei que direção tomar, sua lembrança me assalta novamente e sinto que somos dois rios inteiros sem direção... Ando pela sala com mil perguntas em minha mente. – O que devo fazer? – Olho sobre a mesinha e vejo um livro, é uma Bíblia, então desconfio que estamos em algum lugar dos Estados Unidos. – Só nesse país teria um livro desses em um lugar assim... Digo, de tanto mau gosto. – Viro os olhos para o pensamento. Não importa. – O que devo fazer? Sei que não mereço, mas, estou... Orando... Preciso de ajuda. – Sinto que lágrimas caem dos meus olhos. A porta se abre deixando a claridade do fim de tarde inunde a sala.
- Ah! Qual é? Alguém aí em cima ta de sacanagem comigo?
- Boa tarde pra você também Oriom!
Cass entra junto com a luz. – Isso é a reposta à minha prece? Cass? – Fecho os olhos e respiro fundo. Sim. Talvez. Ah sei lá! Talvez o rosa das paredes esteja afetando meu cérebro afinal.
- O que há? Tem algum problema com seus olhos? – Ela tenta ser engraçada quando entra em minha mente. Pela primeira vez. E eu não a impeço. – Cara... Calma vai dar tudo certo. – Ela se retira da minha mente. – Credo! E eu que pensava já ter entrado em tudo que é buraco, mas você... Não quero entrar aí novamente!
Cass me abraçou, ela sabia que eu precisa me sentir seguro naquele momento. Eu sobrevivi a Zeus, graças a ela, então eu deveria confiar na garota em meus braços.
