Uma dor lacerante atravessava seu corpo inteiro, numa fração de segundos ele sentiu como se dez descargas elétricas percorressem seus músculos e atingissem seus ossos com pancadas dolorosas. Mal conseguia abrir os olhos, a sensação desesperadora de que estavam sendo esmagados e ao mesmo tempo perfurados por centenas de agulhas ácidas era inexplicável.

Era um milhão de vezes mais insuportável que uma maldição cruciatus, ele percebeu com horror sua pele ser banhada em brasas de fogo, podia sentir o cheiro da própria pele em carne viva. Seus dentes, rachavam ao meio, um a um, mergulhados em uma poça de sangue em sua boca, agora ele não conseguiria mais respirar.

Estaria morto em breve. Os batimentos frenéticos do seu coração perdiam a força, seus pulmões pareciam preenchidos com seu próprio sangue, lágrimas? Ele nem sabia mais o que eram lágrimas. Apenas ouvia gritos e murmúrios ao seu redor como se estivesse em um palco de circo e milhares de espectadores assistissem a sua morte com curiosidade mórbida.

Era isso que Harry James Potter representava no mundo bruxo, nada mais, nada menos que uma grande atração, uma aberração como diziam os Dusleys, que assustava os outros em certos momentos, e logo depois os divertiam com sua desgraçada vida. Ninguém jamais olharia para ele e veria apenas Harry... Ninguém excerto ela.

O senhor das trevas se aproxima, acompanhado dos seus seguidores mais fieis. Ele sorri doentiamente apontando a varinha em direção a seu maior inimigo, caído e ensanguentado no chão... quase sem vida.

-Adeus Harry Potter!

Murmura Voldemort sombriamente.

-Avada Kedavra!

Ele iria morrer. Iria morrer sem dizer adeus... sozinho. Sem tempo para completar seus tristes pensamentos, Harry James Potter deixava o mundo dos vivos partindo precocemente para sua próxima grande aventura. Era um lugar ermo, vazio e silencioso... haviam alguns sussurros no vento, perdidos e distantes... algo como o véu da morte no Ministério da Magia.

Uma imensa ponte em pedras brancas e puras, ornamentadas com anjos e pilares a cada lado. Abaixo dela, um rio fantasmagórico de almas, olhos vidrados no vazio, o céu não possuía cor, era como contemplar o universo infinito com suas estrelas e cometas cruzando o espaço livremente. Em cada extremo da ponte haviam lugares diferentes.

Do lado direito, uma ilha sombria, cercada por uma floresta obscura, com testrálios passeando livremente pela areia pálida da praia. Do lado esquerdo, havia um campo de grama verde e um castelo luminoso, que lembrava muito Hogwarts.

-EU NÃO POSSO ACREDITAR NISSO!

Vociferou o estranho homem de longos cabelos negros e olhos vermelhos como sangue.

-ACORDE!

Gritava o homem ferozmente agitando o jovem garoto a sua frente pelos ombros até que ainda atordoado abrisse os olhos verdes como quem desperta de um longo e agitado sono.

-Erm... o que aconteceu?

Pergunta ainda torpe o grifinório, enquanto timidamente recolocava os óculos redondos sobre o nariz aristocrático.

-O QUE ACONTECEU?

Rebate perigosamente enfurecido o homem de longos cabelos escuros, praticamente avançando sobre Harry, seus olhos vermelhos parecendo perfurar sua pele e seus sentidos invadindo sua mente.

-FRANCAMENTE A PRIMEIRA COISA QUE VOCÊ ME PERGUNTA É O QUE DIABOS ACONTECEU, POTTER?

As lembranças inundaram a mente do garoto imediatamente. Ele estremeceu, um nó doloroso se formou no seu estômago quando recordou a sua... a sua... morte.

-MERLIN! Eu morri!

Reconheceu Harry com desespero.

-OH! Não me diga... Demorou muito tempo para descobrir isso sozinho baby Potter?

Alfineta o homem de olhos vermelho mordaz, seu rosto pálido enrugado em uma carranca de desgosto absoluto.

-NÃO EXISTE CRIATURA VIVA CAPAZ DE LIDAR COM QUATRO DRAGÕES AO MESMO TEMPO! QUEM VOCÊ PENSA QUE É? MERLIN? WOLVERINE? CHUCK NORRIS? O GOKU?

Gritava loucamente revoltado o mais velho, mal permitindo a Harry absorver a notícia de que estava morto. Ele tinha morrido quando partiu sozinho para a floresta proibida, na batalha de Hogwarts, ele estava indo enfrentar Voldemort, estava indo para o seu sacrifício final e acabou preso numa armadilha dos comensais da morte.

Quatro dragões vorazes o esperavam. Ele não teve chance, sua varinha fora destruída, sua capa acabou caindo enquanto fugia das rajadas de fogo de cada uma das criaturas assombrosas que desejavam literalmente comê-lo vivo. Estava sozinho, sem varinha, cercado por aqueles monstros famintos... Diante dos olhos satisfeitos de Voldemort.

-Voldemort está vivo!

Responde Harry sentindo o estômago revirar. Ele falhara miseravelmente em sua única missão, agora tudo estava perdido.

-Tarde demais para tentar dar um de Trelawney garoto!

Acusa venenosamente o homem mais velho. Os longos cabelos negros, tão lisos e sombrios, caindo por seus ombros como um manto escuro, o rosto pálido e ossudo contrastando com a boca fina de dentes perfeitos e os olhos rubros e ao mesmo tempo sem luz.

-Quem é você?

Questiona Harry finalmente controlando sua revolta e encarando o estranho que até o momento esteve a ataca-lo e acusa-lo de cair em uma armadilha.

-Você está lento Potter...

Provoca o homem estranho com uma sombra de sorriso sinistro que levou Harry a estremecer em reconhecimento.

-Você... você é a morte?

Murmurou Harry incrédulo, um misto de pânico e terror se formando no seu peito. O sorriso aparente do estranho se arregalou e uma sensação de frio cercou o grifinório.

-Da última vez você parecia mais feliz em me ver Potter! Saiu daqui prometendo mandar Riddle para mim!

Sibilava a morte enfurecidamente levando Harry a recuar vários passos para trás temendo a reação descompensada do homem a sua frente, algo lhe dizia que não seria muito inteligente desafiá-lo e Harry se recusava a ir contra esse instinto.

-E o que eu recebo pela minha generosidade?

Pergunta severamente a morte enquanto Harry engolia em seco. Os olhos vermelho encontraram os verdes com uma tempestade de ódio irradiando deles.

-Centenas de almas que não deveriam ter cruzado a minha fronteira!

Acusa ferozmente o mais velho batendo com força as mãos sobre um altar de mármore que se materializou do nada. Assustado Harry percebeu vários nomes esculpidos no altar... Cedric, Sírius, Amélia Bones, Remus e Tonks, Snape, Colin, Parvati, Lavender, Luna, Fred Weasley... e por fim Hermione Granger... o Potter sentiu o sangue congelar em suas veias. Os olhos vidrados no nome da sua melhor amiga.

-Reconhece algum deles Potter?

Questiona a morte venenosamente.

-NENHUM DELES DEVERIA TER MORRIDO... ENQUANTO MINHA LISTA DE HONRA CONTINUA A ESPERA DE CERTOS CONVIDADOS QUE NUNCA VIERAM!

Berrava o homem a suas mãos afundavam no mármore do altar, esmigalhando em pedacinhos os nomes de cada um deles.

-Eu pedi Riddle, pedi os Lestrange, eu queria Umbridge, Grayback e Dolohov, Malfoy e seus amiguinhos ridículos... Eu queria os monstros do seu mundo, almas perversas como os dementadores e você me envia os unicórnios coloridos!

Literalmente explodia o mais velho, os olhos mudando de cor para um vermelho ardente quase me chamas de fogo.

-Eu não me lembro de nada disso!

Protesta Harry fervorosamente, sentindo sua cabeça latejar de dor como se o próprio Snape estivesse tentando invadir seus pensamentos através de Legilimência.

-Você não lembra?

Pergunta com um sorriso de escárnio a morte, antes de agitar a mão no ar e um denso nevoeiro se levantar sobre eles com pequenas imagens das suas "lembranças" perdidas. Com horror Harry assistia a cada uma das suas mortes anteriores.

A primeira foi enfrentando o basilisco ao lado de Lockhart, a segunda foi quando ele se perdeu de Hermione e acabou sendo atacado pela versão lobisomem de Remus. A terceira aconteceu durante a primeira tarefa do torneio tribruxo, o dragão levou a melhor destruindo sua firebolt e esmagando o jovem Potter.

A quarta vez, ele estava preso e atacados pelos sereianos por tentar salvar as vítimas que não eram suas. A quinta, Harry tinha atravessado o véu junto a Sírius, na tentativa desesperada de salvar a vida do seu padrinho, ele tinha visto Rony atordoado no chão, Neville sangrando e Hermione sem vida no meio do salão.

A sexta ele não havia conseguido trazer Dumbledore de volta a Hogsmead a tempo quando foram recuperar a suposta horcrux no anel de Sonserina e acabaram morrendo os dois naquela caverna assustadora. A por fim a sétima... ele estava seguindo para o confronto final com Voldemort quando caiu na armadilha dos dragões.

-Satisfeito, Potter? EU te dei seis chances de derrotar o desgraçado das trevas e até agora NADA foi feito!

Interrompe a morte segurando as duas mãos na gola da camisa de Harry enfurecidamente, até levantar o moreno o suficiente para seus olhares se encontrarem.

-Seis oportunidades de ouro para fazer a diferença e você cai como um imbecil nas mesmas armadilhas! Estou perdendo a paciência com você pirralho! Está me custando almas demais!

Acusa a morte em tom tão ameaçador que Harry sente o coração parar de bater em terror.

-Eu estou morto não posso fazer mais nada!

Desespera-se o garoto.

-Não me diga! Se está mesmo morto, o que faz no meio dessa ponte?

Rebate mordaz o homem de longos cabelos escuros soltando Harry bruscamente, o deixando cair no chão aos seus pés. O grifinório levanta-se pela primeira vez olhando em volta... o lugar sinistro mais uma vez o fez estremecer interiormente.

-Que lugar é esse?

Arrisca o garoto sem muita certeza de que a morte estaria disposta a lhe responder.

-Aqui é o lugar onde as almas descobrem seus destinos finais!

Responde friamente o mais velho.

-Estamos sobre o rio do esquecimento Potter! E você não pode atravessar essa ponte!

Completa solenemente a morte ganhando total atenção do grifinório.

-Porque não posso atravessar? Eu já estou morto mesmo, não há outro destino para mim!

Protesta Harry em confusão. Todas suas esperanças escorrendo para longe de seu alcance.

-Por que sua outra metade não está aqui! Você só pode atravessar com sua alma completa Harry!

Uma voz doce ecoa do lado esquerdo da ponte, e com surpresa, o moreno de olhos verdes percebe seus pais olhando para eles com preocupação e carinho. Harry sente o ar sumir de seus pulmões e seus joelhos fraquejarem. Seus pais... Lily e James Potter estavam mesmo ali? Tão perto dele?

-Ma... Mãe? Pai?

Pergunta incrédulo o grifinório, sentindo os olhos arderem com a eminência de lágrimas. O que ele mais queria agora era correr até eles e abraça-los, falar o quanto sentiu sua falta, como foi sua vida até agora, queria poder dizer que os amava muito e que nunca mais queria se separar deles novamente.

-Harry meu filho!

Exclamou Lily com seus olhos refletindo a mesma emoção que encontravam em seu filho. Seu coração apertado e o desejo desesperado de pegar seu pequeno nos braços e protege-lo de todo o mal que o perseguia mesmo após a morte.

Ela teria cruzado a linha, teria entrado na ponte e abraçado seu filho único quando o braço de James serpenteou sua cintura a segurando firmemente no lugar, lembrando à Lily de seu estado real. Eles estavam mortos, do lado oposto ao do seu filho. Harry não poderia atravessar a fronteira sem sua alma gêmea.

-Por que... Porque eles não podem atravessar também?

Questiona Harry horrorizado com a ideia de não poder abraçar seus pais.

-Eles já encontraram seu lugar na imortalidade, James e Lily Potter já cumpriram sua missão no mundo mortal e agora estão onde deveriam estar... ao contrário de você! Não há como alcança-los sem sua metade!

Explica severamente a morte, encarando solenemente o casal Potter sem nada fazer.

-Não! Eu não quero esperar outra metade, eu quero ver meus pais AGORA!

Bradou Harry fora de si, tentando inutilmente chegar aos seus pais, e quanto mais corria na direção deles, mais a ponte parecia se esticar, os afastando ainda mais. Com lágrimas embaçando seus olhos, com o coração acelerando dolorosamente no peito, ele tentou, deu tudo de si para alcança-los, mas nada pareceu mudar. Tal como se estivesse parado no mesmo lugar sem ter dado um único passo em direção aos seus pais.

-Não pode atravessar eu já disse!

Repete a morte agarrando-o pelo ombro violentamente e jogando-o para trás antes de estender a mão em direção ao Potter.

-O tempo de vocês está acabando, é melhor falar logo o que precisam e deixem a fronteira!

Exige a morte diante do olhar estupefato de Harry. James estreitou os olhos e sua mãos encontrou a de Lily em um aperto confiante.

-Ele tem razão Harry! Não temos muito tempo!

A voz firme e marcante do seu pai o fez congelar seus protestos contra a morte e encará-lo.

-Nós dois viemos aqui, porque estamos preocupados com você filho!

Continuava James seriamente.

-Não é sua hora de morrer!

Interfere Lily enxugando as lágrimas que escapavam por seu rosto delicado.

-Não permita que sua vida gire em torno de uma profecia! Há muito mais que você deve fazer antes de seguir para a vida eterna!

Continua ela docemente, desejando poder tocar seu filho, ele estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo.

-Existem muito mais motivos para se manter vivo do que buscar uma morte solitária pelas mãos daquele monstro meu filho!

Garante James com um pequeno sorriso para o seu garoto. Seu filho Harry o fitava com tamanha admiração e saudades que lhe custava um esforço absurdo para não chorar.

-Sua alma gêmea, seus amigos, seu futuro... seus filhos! Nós desejamos Harry, que você possa viver e viver muito, viver a vida que nós dois não pudemos!

Completa Lily ternamente e agora Harry chorava abertamente.

-Vocês... vocês estavam vendo tudo o que acontecia?

Pergunta ele com a voz embargada.

-Sim, Harry... nós nunca deixamos de olhar por você!

Responde Lily fervorosamente.

-Acompanhamos suas aventuras com Hermione... e o pirralho Weasley!

Diz o maroto com uma expressão sombria no rosto ao mencionar Ron. Harry franziu a testa ligeiramente desconfiado.

-Foi divertido ver como sempre dava um jeito de escapar das armadilhas de Voldemort... ainda mais as armadilhas de Dumbledore!

Confessa James severamente a agora Harry estava atônito.

-Tome cuidado filho, nem sempre podemos confiar naqueles que chamamos de amigos!

Alerta Lily seriamente.

-O que vocês querem dizer? Rony e Hermione nunca me fariam mal e Dumbledore sempre me protegeu!

Protesta Harry sentindo um estranho sentimento de revolta contra as palavras dos seus pais. Lily e James trocaram olhares assustados e a morte resolveu interferir.

-Ele ainda não sabe!

Responde secamente o homem mais velho para os dois Potters do outro lado da ponte. Harry encarou a morte enfurecido.

-O que eu ainda não sei? Porque meus pais não querem que eu confie em Dumbledore e nos meus amigos?

Exige Harry impaciente.

-Porque Dumbledore é o responsável pela morte dos Potter na noite de Hallowen de 1991!

Revela sem o menor receio a morte deixando Harry mudo em choque.

-Ele sabia nosso paradeiro assim como Peter!

Continua Lily sombriamente.

-Aquele maldito permitiu que Sírius apodrecesse em Azkaban e escondeu Rabicho com os Weasleys!

Confessa James entre dentes para terror de Harry. O moreno estava sentindo-se jogado em um buraco negro, o chão teria sumido de seus pés. A decepção que sentiu era sem tamanho, tão injusto, tão terrível... o homem em quem ele mais confiava... era culpado pela morte de seus pais.

-Ele usou Snape para ajuda-lo a manter sua localização em segredo com os Dusley!

Continua o maroto, sentindo Lily estremecer ao seu lado com a menção da família da sua irmã.

-O plano era transformar você em um mártir, um peão cego preparado para morrer em nome do mundo bruxo!

Explica James enquanto Lily parecia se acabar em lágrimas.

-Não... não é possível...

Murmurava Harry em desespero.

-Filho tem que acreditar em mim!

Protesta James severamente trazendo Harry de volta à realidade.

-Como quer que eu acredite que as pessoas que eu mais respeitava e admirava até agora estavam me enganando o tempo todo?

Vociferava Harry com toda força.

-Porque eles estão falando a verdade!

Interfere a morte com os braços cruzados e um olhar de indiferença no rosto assustadoramente pálido.

-Se Dumbledore estivesse me usando dessa forma, Sírius saberia!

Argumenta Harry em desespero.

-Sírius foi mantido isolado por tempo demais, ele só sabia aquilo que Dumbledore permitia que ele soubesse, nem mesmo Remus teve a chance de ajuda-lo!

Garante Lily sentindo o coração partido com a dor nos olhos do seu filho.

-Não!

Protestava Harry caindo de joelhos e socando o chão com força.

-Eu sinto muito Harry, mas isso ainda não é tudo!

Intervém James gravemente e Harry teve de engolir em seco, tomando forças para levantar o rosto e enfrentar as duras verdades de seus pais.

-Não pode confiar em seus amigos!

Afirma James categoricamente e nisso o coração de Harry afundou dentro do peito. Rony e Hermione também? Ele não poderia suportar mais.

-Os Weasley estavam ajudando Dumbledore com seu plano de sacrificar você!

Interfere Lily furiosamente com um brilho amargo nos seus olhos.

-Mãe... os Weasley... Oh Merlin! Os Weasleys foram uma família para mim!

Sussurra Harry sentindo cada pedaço do seu coração quebrar em outros milhares de pedacinhos.

-Oh meu filho... eu sinto muito, sinto muito!

Chorava Lily novamente desejando pegar Harry no seu colo e acalentá-lo com fazia quando ele era apenas um bebê.

-Não é sua culpa Lily!

A confortava James com o braço ao redor dos seus ombros, antes de voltar-se a Harry.

-Você precisa tomar cuidado com eles filho... sua vida já foi muito atacada pelos interesses de Riddle e Dumbledore! Encontre sua alma gêmea e mude seu destino, não cometa o mesmo erro que nós dois, não oriente seus esforços em nome de uma profecia!

Aconselha James firmemente até que a morte se coloca entre eles com uma ampulheta em suas mãos.

-O tempo acabou!

Determina o mais velho e Harry levanta-se bruscamente.

-NÃO! ELES NÃO PODEM ME DEIXAR AGORA!

Insiste o garoto assistindo impotente seus pais desaparecem lentamente.

-Nós te amamos Harry!

Murmura emocionada Lily.

-Temos orgulho de você, nunca esqueça disso!

Completa James.

-NÃO! Não me deixem, eu não posso enfrentar tudo isso sozinho! Eu preciso de vocês!

Desespera-se Harry tentando alcança-los novamente.

-Você vai encontrar um meio meu filho!

Garante Lily suavemente.

-Escute sua mãe Harry, ela não foi a bruxa mais inteligente da nossa geração por qualquer motivo!

Aconselha James piscando um olho antes de desaparecer em uma cortina de fumaça a sua frente.

-Comovente!

Diz a morte longos minutos depois, recebendo um olhar fulminante do grifinório.

-O que significa isso?

Exige o moreno entre dentes.

-A verdade! Seus pais arriscaram sua imortalidade vindo até a fronteira para encontra-lo! Eles desejavam que você soubesse a verdade antes de voltar!

Explica a morte diante de um Harry cético.

-Voltar? Do que está falando, estou morto e preso nessa maldita ponte!

Bradava o grifinório com as mãos fechadas em punhos ferozes.

-Cheio de perguntas... está me cansando Potter!

Reclama o mais velho jogando os longos cabelos por cima do ombro.

-É tão persistente quanto a garota Granger!

Conclui a morte, bastante atento à reação de Harry. A expressão do garoto mudou de fúria para o medo. Seus olhos vacilaram e o coração acelerou quando ouviu o sobrenome dela.

-Hermione? Hermione esteve aqui? Onde ela está?

Exige Harry olhando em volta freneticamente em busca de sua melhor amiga nascida trouxa.

-Oh sim, ela também não podia passar... ao que parece o imbecil que seria sua alma gêmea não estava por aqui!

Revela o mais velho.

-Rony?

Questiona o moreno hesitante.

-Acredita mesmo que um neandertal como aquele seria a alma gêmea da bruxa mais brilhante desde Rowena Corvinal?

Provoca a morte com um sorriso de escárnio.

-Ele gostava dela!

Interfere Harry furiosamente.

-Ele envenenou a garota com poções do amor para mantê-la longe de sua verdadeira metade!

Confronta a morte para horror de Harry.

-Isso é impossível! Rony nunca iria conseguir fazer isso!

Protesta Harry ceticamente.

-Sozinho? OBVIO que não! Ele teve ajuda da sua adorada mamãe e do seu adorado Dumbledore!

Vociferava a morte andando de um lado a outro furiosamente. O pobre grifinório levava as mãos ao rosto esfregando os olhos por baixo dos óculos freneticamente. Morrer estava se revelando uma aventura muito pior do que viver.

-Porque ele iria querer Hermione? POR QUE ELA?

Gritou Harry possesso de ódio. Maldição, Dumbledore, Snape, Rony e sua família contra ele, mas usar Hermione era imperdoável.

-Ainda não conseguiu ligar os pontos Potter? Tut, tut! Você me decepciona!

Diz o homem com sarcasmo.

-Resumindo... a culpa é sua!

Completa antes que o grifinório possa protestar.

-Minha culpa?

Repete ele incrédulo. Merlin, culpa dele? Ele jamais permitiria que alguém machucasse Hermione, mesmo que fosse seu melhor amigo Rony.

-Você teria evitado muitos problemas se tivesse encontrado e reivindicado sua alma gêmea mais cedo!

Comenta indiferente a morte enfurecendo ainda mais o Potter.

-PARE DE MUDAR DE ASSUNTO!

Gritava Harry fora de si, recebendo em troca um olhar mortal do homem pálido que o fez congelar doa pés à cabeça.

-É tão ridicularmente tolo que ainda não entendeu que a garota Granger é sua outra metade? O que tem feito com seu cérebro Potter, o deu como alimento para hippogrifos? Quem foi a única pessoa que até agora não abandonou ou duvidou de você? Quem arriscou sua vida, abandonou seus pais, abriu mão de um futuro promissor para seguí-lo? Quem mais? O cão cerberus de três cabeças?

Acusa a morte tão transtornado, que Harry mal percebeu quando seu corpo voltou a se mover. Ele estava certo, Hermione esteve ao seu lado independente das condições e das circunstâncias, independente dos riscos, ela o colocava acima da sua própria segurança...

Ela superava seus medos por ele, enfrentava quem viesse, o que viesse, ela o via como ele realmente era, não se iludindo com sua fama ou com as mentiras que o cercavam, ela estava sempre ali, ao seu lado, dando força, sendo sua rocha, sua âncora no mar tempestuoso, sua proteção quando os céus estavam em fúria.

-Mas... Mas, Gina...

Murmurava Harry em choque absoluto com a revelação. Pelas barbas de Merlin, quando pensava estar se recuperando de uma verdade bombástica, surgia logo outra mais surpreendente ainda.

-Ginevra e Ronald contavam com os mesmos métodos para manter você e Granger afastados!

Afirma o homem dando de ombros como se falasse sobre algo casual. Harry encarou a morte com raiva. Como ele poderia ser tão indiferente? Mal se importava e logo depois parecia a ponto de mata-lo novamente... era uma criatura definitivamente assombrosa.

-Eu não quero mais voltar... eu não posso suportar encontra-los novamente!

Diz o grifinório tão magoado quanto decepcionado.

-Granger não desistiria no seu lugar... e ela não poderá seguir em frente se você não o fizer!

Diz severamente a morte e com isso Harry ofegou. Hermione, a sua metade, sua melhor amiga, sua alma gêmea, a pessoa que abriu mão de tudo por ele estaria eternamente condenada a ficar entre os vivos e os mortos por sua causa.

-MALDIÇÃO!

Praguejou o moreno de óculos redondos.

-É por causa da insistência da menina Granger... e da interferência de alguns superiores, que estou aqui! Para te dar essa ÚLTIMA oportunidade Potter!

Continuava a morte agitando a mão no ar e um longo pergaminho surgiu diante do grifinório e ao seu lado uma pena vermelha.

-Basta assinar e poderá consertar todas as merd... todas as coisas erradas que fez!

Explica rapidamente o homem ignorando o choque de Harry.

-Não vou assinar sem saber o que tenho que fazer!

Defende-se Harry pensando exatamente como Hermione faria se estivesse em seu lugar.

-ARG! Não me atrapalhe ainda mais moleque! Tenho muitas outras almas para buscar enquanto estou perdendo meu precioso tempo com você!

Sibilava a morte antes de apontar cada estrofe do contrato com irritação.

-Isso garante que você retorne para a primeira morte causada por Tom Riddle durante seu tempo em Hogwarts, e também garante que você manterá suas memórias intactas na sua linha do tempo anterior!

Os olhos de Harry ampliaram-se em surpresa.

-É como usar um time-turner?

Pergunta ele impressionado.

-NÃO! Isso é muito mais sofisticado que um time-turner garoto! Agora preste bem atenção!

Alerte impaciente.

-Você retornará ao ano de 1994, deve seguir a sua linha de tempo normalmente até o momento que ativar a chave do portal e acabar com o ritual... Seja cuidadoso, Dumbledore e Snape estarão livres para vasculhar sua mente! Não esqueça que somente a sua alma gêmea pode saber desse acordo!

Vociferava a morte deixando Harry atônito com tanta informação.

-É sua última chance! Traga Riddle para mim e viva mais uns cem anos com a sua sabe-tudo!

Reclama a morte ao que Harry abre a boca em protesto.

-Hermione não é uma sabe-tudo! E por que raios essa obsessão por Riddle?

Questiona o grifinório impaciente.

-O desgraçado sabe sobre as almas gêmeas, no entanto não foi agraciado com um delas, por isso para evitar atravessar a minha ponte ele dividiu sua própria alma! Maldito desgraçado tem escapado ileso por anos!

Vociferou tão furiosamente o homem que Harry optou por não interrompê-lo para avisar que o contrato já estava assinado. Ele ficou ainda mais preocupado quando o nome da morte no contrato atendia por Alexander Gray.

-Ele pensa que pode fugir para sempre, mas dois podem trapacear nesse jogo! Ele tem as Horcruxes... Mas eu tenho o Potter! Você é meu trunfo e em troca de uma longa e feliz vida ao lado da menina inteligente, você manda aquele bastardo para mim!

Divagava febrilmente apontando para o garoto como se estivesse diante de um júri e Harry estremeceu novamente com o comportamento assustador do homem de longos cabelos negros.

-Mas... como vou explicar a Hermione que somos almas gêmeas?

Pergunta o moreno nervosamente.

-Um beijo e depois tudo acontece naturalmente, eu garanto!

Responde dando de ombros a morte.

-Tudo o que?

Murmura Harry para si mesmo sem conseguir evitar o rubor em seu rosto com sua imaginação girando em torno das infinitas possibilidades para esse "tudo acontece naturalmente".

-Muito bem Potter! Aguarde notícias minhas em breve, trate de salvar o moleque Diggory!

Dispensa a morte assim que seus olhos encontram o pergaminho assinado e volta-se para Harry satisfeito.

-Eu vou tentar o meu melhor!

Promete Harry seriamente.

-E só mais uma coisa...

Diz a morte antes de entregar uma ampulheta dourada nas mãos de Harry.

-O que?

Pergunta Harry hesitante.

-Mande para mim o máximo deles que tiver chance!

E com isso Harry desaparece da ponte das almas deixando uma morte preocupada para trás.

-É melhor não cometer erros Potter... ou estarei demitido antes que possa soletrar RIDDLE!

Murmura ele para si mesmo, preparando-se para enfrentar seus superiores e justificar a sétima vez que enviava o garoto Potter de volta no tempo. Estaria com a corda no pescoço, mas, caso o seu plano desse certo, entregaria Voldemort pessoalmente ao senhor do inferno e com isso garantiria sua tão desejada promoção.