Disclaimer: O anime/mangá Inuyasha não me pertence. Ele e seus personagens são de autoria de Rumiko Takahashi. A história aqui descrita é apenas e somente para dirvesão e não fins lucrativos.
MDP: Universo Alternativo (História totalmente diferente da narrada por Rumiko em sua série de Anime/Mangá)
Gênero: Romance/Aventura
Por: Telly Black
Resumo Geral: Ele, Hanyou e Herdeiro do trono da cidade proibida. Ela, uma Miko - aquelas que eram consideradas sagradas pelos Humanos. Viviam em dois extremos, mundos separados não apenas pelo ódio, mas pelas fronteiras da terra e da água. Mas quando os dois extremos se encontram, aos poucos, descobrem que não estão apenas unidos pelas Marcas de um pecado.
Marcas de um Pecado
ღ
Hakai
\Capítulo Um\
ღ
ღ
A ira subiu-lhe a cabeça de forma indescritível. E, naquele momento, sua única vontade era a de socar seu único herdeiro, por ele ousar desobedecer-lhe e desafiar-lhe diante de todos os criados.
Como Suprema Ordem e Realeza de Batsu, exigia o cumprimento incontestável de todas as ordens e comandos que dava. Exigia, principalmente, o respeito. Inclusive de seu filho. Entretanto, regras e ordens jamais foram respeitadas por ele. Ameaças, de nada adiantavam contra ele, e por fazê-las, recebia palavras ignorantes e de desacate como resposta.
Jamais tivera uma boa relação com o herdeiro, mas tudo piorara nos últimos meses. Nos últimos meses, governar Batsu deixara de ser um de seus objetivos. As únicas coisas que desejava fazer era desobedecer-lhe todas as ordens, e para toda sua atenção era voltada às mulheres a frequentarem o cômodo dele durante a noite.
# Não ouse gritar-me, insolente. – mandou em um tom mais elevado, erguendo-se do trono, e fazendo com que mais alguns criados deixassem a sala às pressas. – Ainda sou o Rei. Ainda sou seu pai. Exijo respeito!
O jovem soltou um suspiro de deboche diante àquelas palavras. Poderia ser o pai biologicamente, entretanto, desde a morte de sua mãe, não o estava sendo de fato. Com aquele cargo apenas sabia mandar e exigir, e não respeitá-lo ou dar-lhe conselhos ou o apoio que necessitou quando sua mãe morreu.
# Vá para o inferno com seu respeito!
Cuspiu as palavras pesadas, fazendo o restante dos presentes arregalarem os olhos em horror. E para evitarem tornar tudo ainda mais difícil, precipitaram-se para fora da sala. A qualquer minuto poderiam se tornar alvos da ira de ambos.
# Não farei o que me pede…
Virou as costas para o progenitor a fim de retirar-se da Sala do Trono. Entretanto, com o fechar da mão com unhas pontiagudas em seu braço, foi obrigado a cessar o movimento e tornar a fixar os olhos em seu pai.
Sua atitude apenas o enfurecera mais.
# Não ouses virar-me ás costas, insolente! Sendo de sua vontade ou não, há de obedecer-me. Há de casar-te com quem quero! Se me desobedecer, tratarei de pôr um fim na vida da camponesa a seguir-lhe por todos os lados.
Nos olhos dourados, idênticos e mais jovens que os seus, o Rei notou o brilho do ódio. Sentimento alimentado não apenas por aquelas palavras, mas pelo sorriso a brotar nos lábios reais. Ele conseguira atingi-lo. A jovem camponesa com fama de bruxa era a única verdadeira companhia dele, e sua única fraqueza.
# Não ousaria tocá-la e realizar essa injustiça… por capricho. – pronunciou entre dentes.
Embora nunca houvesse matado alguém sem motivos o faria daquela vez, para ter o controle sobre o destino do filho. Controle perdido por completo, após a morte de sua segunda esposa, vencida impiedosamente por uma doença, no ano anterior.
A ela, o jovem Herdeiro obedecia sem contestar ou reclamar. Com um simples olhar, conseguia silencia-lo. Fazê-lo o respeitar da maneira devida, mesmo contra a vontade. E até o fazia abaixar a cabeça e pedir desculpas ao ultrapassar os limites.
Quando Izayoi era viva, ele não se atrevia a trazer mulheres estranhas para o interior do Castelo só para irritá-lo. Sem ela, uma guerra infinita e terrível foi iniciada entre ele e o filho. Uma guerra que ele nem ao menos sabia como começara.
# Caso haja necessidade o farei sem pestanejar. – rompeu o contato com o filho, e tornou a sentar no trono banhado em ouro.
Inuyasha deu um passo a frente ainda sem acreditar nas palavras do pai. Conhecia o temperamento dele, mas jamais acreditara que ele seria capaz de realizar tamanha crueldade, apenas para conseguir domá-lo.
# O povo se voltará contra ti.
# Não hei de importar-me com isto.
Despreocupado, deu com os ombros. Era evidente que ele seria capaz de contornar pequenos detalhes a seu favor. Ele era o poderoso e conhecido Inu no Taishou.
# Sua noiva chegará dentro de poucas horas para acompanhar-nos durante o jantar. – comentou, como se nada estivesse errado. – Espero que esteja pronto e bem vestido para recebê-la ao chegar. Seria bastante incômodo ter de lhe arrastar a força até ela. Agora… – fez um gesto com a mão, anunciando que havia terminado com ele. – pode retirar-se…
O jovem pegou o ar com força pela boca, tentando acalmar a própria raiva e a vontade de arremessar-se contra o progenitor. Assim que conseguiu um pouco de controle, abandonou a Sala do Trono, enquanto o amaldiçoava, silenciosamente, por usar de golpes baixos contra ele.
Avançou pelo corredor em direção ao seu quarto sem nem olhar para os lados. E ao alcançá-lo, bateu a porta do cômodo com violência, não se importando com o fato de assustar a criada que estava ali para arrumar o cômodo.
Um simples olhar foi suficiente para fazer a jovem abandonar as tarefas, e retirar-se imediatamente do quarto. Tudo isso após uma reverência e pedido de perdão. Sabia que a jovem trabalhadora nada tinha a ver com aquilo, entretanto, pouco se importava. Queria descontar sua raiva em alguém, e se permanecesse ali, ela seria esse alguém.
Socou o móvel ao lado da cama, e caminhou até a sacada. Passou a mão no rosto e, mais uma vez, desejou ter nascido com a cor de cabelos e olhos da mãe, ao invés dos olhos dourados e cabelos prateados do pai, características dos homens de sua família.
Apoiando os braços no parapeito de concreto, sentiu o ar da tarde bater em sua face, e observou a cidade onde nascera: Batsu, o único reino Humano e Imortal existente.
A mistura harmoniosa de ambas as raças, Humana e Youkai, era uma das principais características do Reino de Batsu. Ali, nenhum deles se preocupava com as diferenças, ou em qual das duas raças deveria controlar o Mundo. Aceitavam-se e conviviam sem criarem problemas. E devido a isto, era conhecida como a Cidade do Pecado ou Cidade Proibida. Por isto, todos seus habitantes eram condenados, renegados e tidos como pecadores nos olhos de estrangeiros.
Youkais eram mal vistos pela comunidade Humana. Aliar-se a eles era um erro. Apaixonar-se por eles, era um pecado há ainda ter perdão – afinal todos possuíam momento de fraqueza. Entretanto casar-se ou ter filhos, com a chamada raça impura, era um pecado imperdoável, e tinha como penitência, a exclusão.
Poucos concordavam e aceitavam a convivência. Muitos Youkais almejavam a morte dos Humanos, assim como muitos Humanos desejam o total extermínio Youkai. Viviam em constante guerra pelo domínio do Planeta e escravidão da raça que perdesse.
Uma batalha sem fim.
O fruto da união entre as raças era visto de forma ainda mais preconceituosa. Tratado como mestiço ou bastardo, a raça Hanyou não pertencia a nenhuma das duas sociedades e era desprezado e indesejado por ambas.
Por isso, ao surgir à oportunidade de casá-lo com uma jovem Humana sem preconceitos, seu pai enlouquecera.
Odiava tal atitude. Seu pai desejava tanto o seu casamento com uma donzela nobre desconhecida, de um reino distante, que colocaria a vida de uma inocente em risco. Um casamento, algo lhe dizia, que apenas aconteceria pelo interesse da jovem no poder que ela ganharia ao controlar Batsu. Afinal, apesar de ser considerado um reino maldito, Batsu ainda era o maior em questão bélica e monetária do mundo.
Suspirou e fechou os olhos.
Sentia falta mãe. Se ela ainda estivesse viva, ela conseguiria contornar a situação e impedir a realização do matrimônio, sob aquela circunstância. Discordaria com o fato da obrigatoriedade do acordo, e ficaria do lado dele, censurando o marido por ousar ameaça-lo através da vida de uma camponesa. Aliás, sua mãe também fora uma.
Porém, teria de aceitar a realidade. Casar-se-ia a força com uma desconhecida, para seu pai não acabar com a vida da camponesa apenas para irritá-lo.
Abriu os olhos e os estreitou, fixando-os em um ponto no meio da aglomeração dos comerciantes. Teria de obedecê-lo, a não ser, que ele desaparece com ela antes.
...
Inu no Taishou estava de pé, com os braços cruzados à suas costas, diante da enorme janela da Sala do Trono. Seus olhos estavam fixos no horizonte. Sua mente perdida em pensamentos.
Desde a morte da mulher amada o mundo ao seu redor virou de cabeça para baixo. Todo o Reino de Batsu sentira a morte da mulher que ocupara o lugar de Rainha, e ainda se lembravam dela. A ela deviam tudo, inclusive a saúde de seus filhos, que agora eram assistidos de perto por seu herdeiro, que resolveu tomar o lugar da mãe e continuar com a tarefa dela.
Detestava ter de admitir tais coisas, mas ela era quem conseguia manter uma perfeita situação no Reino.
Ergueu a cabeça e virou o rosto, ao ouvir o baque causado pelo contato do calçado com o piso elegante e polido do palácio. Sorriu forçada e fracamente para o Conselheiro Real, a parar a poucos passos distância, lhe fazendo uma mesura excessivamente forçada.
# Imagino que, pela maneira como o Príncipe Inuyasha abandonou o Salão, deva ter usado um artifício baixo para obriga-lo a realizar tua vontade, meu Senhor. – afirmou em voz baixa, fixando os olhos castanhos sobre o Rei. – Sei… não devo me meter em teus assuntos… Mas não deveria utilizar-se desses artifícios com teu filho, Majestade.
# Era a única forma…
# Sabe… – Myouga caminhou até o Rei, parando a dois passos de distância. – Se a calmaria vier, será seguida de uma tempestade ainda pior. A infelicidade não traz a felicidade, meu Senhor. A Senhora Izayoi gostava de dizer-lhe isso. Seria bom recordar-se disso, antes de acabar com a vida do Príncipe, Majestade.
Abaixou a fronte, suspirando. Sim, sua esposa gostava de dizer-lhe tais palavras. Mas seu objetivo não era acabar com a vida de seu filho, e sim, salvá-la. Ele sabia o que era melhor e certo para o Herdeiro.
# Izayoi já não está mais entre nós, Myouga.
Aquela era a triste realidade, e lembrar-se disso ainda lhe feria.
Virou-se para caminhar de volta ao trono.
# Mande preparar o jantar e os quartos de hóspedes. – disse encerrando a curta conversa.
...
A carruagem trazendo os convidados para o jantar daquela noite, chegou pouco antes do pôr do sol.
Por ordens de seu pai, encontrava-se a entrada do castelo, trajando uma veste de festa. Afinal, a Princesa que chegava acompanhada de seus pais, necessitaria de uma calorosa recepção para sentir-se bem vinda. Para ir se acostumando com o local.
A donzela era uma bela mulher. Não poderia negar.
Os cabelos negros eram longos e caíam até o quadril. O vestido cor de madeira cobria as belas formas de seu corpo, e quase alcançava o tom de seus olhos, a brilharem com um sentimento estranho. Algo que ele não gostou de ver.
Por obrigação, capturou e beijou a mão da jovem, e em seguida olhou para o pai dela.
Um homem de expressão fria, e calculista. O sorriso satisfeito e alegre nos lábios finos era, obviamente, falso. Os cabelos negros chegavam a ser do mesmo tamanho dos da filha, e estavam trançados.
Algo naquele homem não lhe agradara. Seus olhos vidrados não traziam confiança. E o mesmo poderia se dizer de sua esposa, a não conseguir fazer o sorriso alcançar os olhos frios e vermelhos. Porém, Inu no Taishou pareceu não notar nada estranho. Sua preocupação era causar boa impressão aos recém-chegados.
Fingindo paciência que não possuía, aguardou as apresentações. Assim que os convidados foram encaminhados para seus aposentos, inventou uma desculpa e retornou ao quarto. Preferia esperar ali o tempo passar até a hora do jantar. Não estava disposto a fazer sala e conversar sobre futilidades com desconhecidos.
Cruzou o braço abaixo da cabeça e olhou para o teto. E assim, deixou sua mente vagar perdida em vários assuntos. Principalmente àquele que fazia seu pai acreditar que ele necessitava de ajuda para arrumar uma esposa.
Batsu não precisava de alianças. O Reino estava distante e era alheio a todas as guerras. Havia muitas mulheres em Batsu, em especial aquela que ocupava sua mente em alguns momentos. E apesar de ser o futuro Soberano de Batsu, as mulheres não viriam a ela apenas por isso. Tinha boa aparência e era jovem. Herdara, todas as características de seu progenitor: desde o corpo forte e esguio, passando pelos cabelos tão pratas quanto a melhor prataria, até os olhos tão dourados quanto o ouro.
Não havia razão para ser empurrado para um casamento.
Apenas deu-se conta que fechara os olhos ao ouvir a fraca batida na porta, que indicava a entrada de uma das criadas. Sentando na cama, Inuyasha observou Lina, a mesma criada que acabara por expulsar do quarto mais cedo, fechar a porta.
# Perdoe-me por incomodá-lo, Alteza. Entretanto, Vossa Majestade deseja sua presença na sala de jantar o mais rápido possível. – avisou em voz baixa.
# Lina! – a chamou antes de ela dar-lhe as costas e retirar-se do quarto.
Lina trabalhava naquela casa há anos. Fora ela quem ajudara, desde pequena, sua mãe a criá-lo. E continuava a fazer isto. Ela era seus ouvidos, sempre lhe informava o que necessitava chegar ao seu conhecimento. E sempre impedia de chegar aos ouvidos alheios o que ele queria apenas para si. Foi através dela, que descobriu a respeito dos planos que seu pai fazia para seu casamento.
E embora detestasse a atitude dele quanto às mulheres que ele trazia para se deitar, era ela quem o acobertava e impedia que fosse visto na companhia delas. Apenas por causa de e que os boatos fossem parar na boca do povo.
# Deseja algo de mim, Alteza?
Saltou da cama e pegou um pedaço de pergaminho. Com uma pena, escreveu rápidas palavras nele, antes de dobrá-lo e entregá-lo a criada.
# Vá à cidade e entregue este bilhete para ela.
Mandou, sem se importar em dar nomes. E quando Lina sorriu, mostrou que sabia exatamente de quem ele falava.
# É urgente! – Lina fez um gesto afirmativo com a cabeça. – E Lina… prepare uma trouxa com roupas femininas para mim…
# O que desejar, Alteza. – sorrindo, guardou o bilhete no decote. – Irei agora mesmo a cidade. Tinha mesmo de fazê-lo. – fez uma reverência. – Com sua licença.
A criada abriu a porta do quarto e retirou-se silenciosamente. Aquilo era o que Lina sabia fazer de melhor. Desaparecer e andar pelo castelo sem ser notada.
Inuyasha ficou a pensar por algum tempo. E ajeitando de forma displicente o cabelo e as vestes, decidiu que era melhor descer para o jantar. Apenas esperava ter paciência para conversar e conhecer melhor a futura esposa.
Todos já se encontraram na sala de jantar. E embora já estivessem perfeitamente acomodados em seus devidos lugares, se levantaram para saudá-lo. Agradeceu e ocupou seu lugar e desculpou-se cordialmente pela demora – deixando seu pai saber, pelo olhar, o quanto odiava aquela situação.
# Estávamos justamente falando dos detalhes do casamento. – afirmou Inu no Taishou, erguendo uma taça de vinho numa demonstração de que não se incomodava com o que ele sentia. – Discutíamos inclusive, a data da cerimônia. Afinal… não há motivos para demorar a realiza-la…
Inuyasha sorriu forçadamente erguendo a cabeça e fixando o olhar na jovem donzela sentada a sua frente. Ela trajava um vestido azul-marinho com detalhes em tons mais claros da mesma cor. Ela sorriu e após tomar um singelo gole de vinho passou a língua nos lábios.
Franziu o cenho e olhou para o próprio prato vazio. Era estranho. Nenhuma mulher que tivesse respeito por si mesmo, passaria a língua nos lábios para o futuro noivo na mesa durante jantar.
Decidido a ignorar aquilo, Inuyasha pegou a taça de vinho. E sob o olhar do progenitor, fingiu naturalidade e fixou a atenção em sua futura sogra. Os cabelos negros, presos totalmente em um coque, pareciam deixar ainda mais evidente o chamativo decote do vestido verde que trajava.
Seus olhos escuros transmitiam um ar coquete, deixando-lhe claro que ela não deveria ser uma presa difícil de conseguir.
"Aposto que ela tem milhares de amantes." Concluiu.
E disse a si mesmo: nenhum homem deveria deixar uma mulher daquela cuidar de sua filha. Kira já dava sinais de seguir os passos incorretos da mãe.
# Com o perdão da palavra… Você escolheu uma bela mulher para ser mãe de seus filhos, Hiromi. – comentou Inu no Taishou. – Tem a beleza de sua mãe, Senhorita. – charmosamente, elogiou a donzela.
# É muita gentileza sua, Senhor Inu no Taishou. – sorriu sensualmente. – Mas não sou mãe legítima de Kira. – confessou Kagura, tocando a mão da jovem em questão. – Infelizmente. – acrescentou com pesar. – Kira é filha do primeiro matrimônio de Hiromi. Entretanto… apesar de não ser sua mãe legítima, desejo o de melhor e a felicidade dela.
Inu no Taishou pareceu atordoado, enquanto analisava Kagura e Kira.
# Perdoe-me… desconhecia esta informação.
# Poucos sabem a respeito de meu segundo casamento, Inu no Taishou. – manifestou-se pela primeira vez, desde que sentaram à mesa, Hiromi, lançando um olhar estranho para Inuyasha. – Então meu jovem… Quais são seus planos para o casamento? Se desejares ter herdeiros? Quantos?
Atento ao pai, que naquele momento pareceu deslocado à mesa, Inuyasha demorou a responder.
Como seu pai não notara que Kagura e Kira não eram mãe e filha? Isto era óbvio no cheiro das duas.
# Deixarei essa escolha para a Senhorita sua filha. – anunciou, tomando um pouco da sopa e fixando os olhos na donzela. Deixaria para se preocupar com as reações estranhas do pai, mais tarde. – Quantos filhos deseja ter, Senhorita?
# Um casal, Príncipe Inuyasha. – a voz de Kira soou melodiosa e ao mesmo tempo, mecânica. E, durante pausa, ela tomou mais um gole de vinho. – Um casal que almejo esperar para ter. Sou jovem ainda para engravidar.
Inuyasha ergueu uma sobrancelha, controlando a vontade de rir.
"Jovem para casar, mas não para engravidar?"
Largou a talher e pegou sua taça de vinho. Enquanto a girava com cuidados, manteve os olhos em um ponto fixo no meio do líquido, cor de sangue.
Seu pai pigarreou lançando-lhe um olhar de aviso. Obviamente um pedido para ele controlar a língua. Inu no Taishou conhecia-o muito bem todos os gestos dele. E aquele significava que ele estava preste a estragar tudo.
# Diz-me para esperar até o momento certo para engravidá-la, princesa? – perguntou. Cada vez se mostrava menos agradado com a situação. – O que exatamente quer dizer com tais palavras? Nada de deitar-se comigo, é isso? Pois se desconheces senhorita, não há como controlarmos isso. Uma noite apenas pode significar na gravidez…
A mulher mais velha à mesa arregalou os olhos. O pai da donzela ficou inexpressivo. E seu progenitor o censurou silenciosamente, obviamente, desejando acabar com ele. Mostrando não dar atenção a eles, levou a taça de vinho aos lábios sem romper o contato visual que mantinha com Kira.
# E não estou disposto a me casar se não poderei aproveitar os benefícios dele.
# Inuyasha! – o tom de aviso de seu pai o obrigou a romper o contato visual.
O rapaz largou a taça sobre a mesa. Decidido a não escutar reclamações do progenitor e muito menos aturar os olhares dos convidados, retirou-se. Sem pedir licença, afastou-se. Sabia que mais tarde, após inventar desculpas e desculpar-se pela atitude impensada do herdeiro, iria atrás dele, para tomar satisfações.
Fechou a porta do quarto e ficou aguardando por esse momento.
...
# Perder o controle de nada adiantará meu Senhor.
Tentando aplacar a ira de seu Soberano, Myouga deixou sua voz ecoar pelo corredor. Suas pernas curtas, transformando ainda mais difícil a tarefa de segui-lo até o cômodo do Herdeiro.
Embora o Conselheiro acreditasse ser impossível, o jovem rapaz conseguira deixar o governante ainda mais irritado do que quando brigaram mais cedo àquele dia. As palavras impensadas e de desrespeitosas a mesa, renderam um bom tempo de desculpas. Se Inu no Taishou não soubesse lidar tão bem com assuntos como aquele, o casal e a jovem estariam no caminho de volta para casa.
# Nada irá me impedir de acabar com esse ingrato, Myouga. – disse o Soberano. – Inuyasha!
Alcançando a porta, abriu-a com brutalidade. E ao entrar, fechou-a com a mesma violência deixando o conselheiro do lado de fora.
# O que diabos estava pensando ao dizer aquilo à Princesa? Responda-me, ingrato!
Despreocupado, Inuyasha abriu os olhos e sentou-se na cama. Notando a ira do pai, manteve-se calado. Se respondesse, deixaria seu gênio dominas, e apenas aumentaria a fúria dele. E, se deixasse uma discussão explodir, com toda a certeza os dois acabariam se odiando ainda mais.
# Se achas que vai fazer a Princesa Kira desistir do casamento, está muito enganado!
Com o dedo em riste, Inu no Taishou pronunciou as palavras entre dentes. E antes de perder o controle e ceder a tentação de arrebentar-lhe o rosto ousado, respirou profundamente.
# Não importa o que faças ou deixes de fazer. Há de se casar com ela. E se ousares aprontar mais uma dessa, não hesitarei em arranjar um motivo para decapitar a camponesa.
Dando as costas, abandonou o cômodo.
...
Os olhos castanhos se fecharam deixando uma lágrima cair. Ao mesmo tempo, os braços magros apertaram-se ainda mais contra o tecido a formar uma mala improvisada.
Ainda desacreditava no que os ouvidos captavam. Nunca chegou a pensar em ver-se obrigada por ele, a abandonar de vez o local onde vivia.
# Entenda de uma vez… – Inuyasha pediu desesperado.
# Eu entendo, Alteza… – murmurou, tornando a abrir os olhos. – Entendo o desejo do Senhor Seu Pai em matar-me acaso continue recusando o casamento com a desconhecida. Apenas… – soltou o ar com força. – é difícil…
# Melhor isso, à sua morte. – segurou-a pelo ombro. Queria embalá-la em um abraço. – Vá antes que algum guarda nos veja…
Inuyasha moveu a cabeça negativamente, e recuou um passo, a soltando quando ela tentou se aproximar mais. Se a abraçasse não a deixaria ir.
# Ande!
Ela tocou o braço dele com a mão livre.
# Vá de uma vez! – soou mais bruto do que queria. – Eu irei te buscar quando a poeira baixar. Prometo!
Hesitante, ela fez um movimento afirmativo. Sem dizer mais nada, deu-lhe as costas e saiu correndo em direção a floresta que dava acesso à fronteira do reino. E foi através dela que Inuyasha a viu desaparecer. Quando a atravessasse, ela estaria a salvo e poderia agir de acordo com a própria vontade. Casar-se com Kira não teria necessidade sem as ameaças concretas.
...
O crepúsculo da manhã veio com tons estranhos de vermelho e alaranjado, despertando a curiosidade de muitos habitantes de Batsu, que acreditavam que amanhecer e o entardecer revelavam quando uma desgraça acontecia ou estava preste a acontecer.
Alheio a tudo isso, Inuyasha moveu-se incomodado na cama. Colocando o travesseiro na cabeça ao ouvir as batidas repetitivas na porta, tratou de ignora-las. E sentou-se querendo assassinar quem se atrevera incomodar seu sono, quando entraram em seu quarto sem autorização e abriram as janelas do quarto.
# O que diabos pensa que está fazendo, Lina? – perguntou, piscando os olhos por causa da claridade.
Mas, ao invés de responder, a criada avançou contra ele, tomando-lhe o braço e o puxando para fora da cama. Ela estava desesperada.
# O que aconteceu, Lina? Por que está assim?
# Precisa ir imediatamente ao Hall de Entrada meu Senhor…
Sua voz falhou enquanto uma lágrima desceu pelo rosto da criada. Ele saltou da cama. Lina jamais chorara e estivera tão desesperada em sua vida.
# É urgente…
Olhou para o céu e sentiu um arrepio subir-lhe a espinha, ao notar a cor da aurora. Vestiu um roupão por cima da roupa de dormir e saiu do quarto, com a criada em seus calcanhares, já a soluçar. Sentia uma ansiedade tenebrosa. E ao virar no corredor que dava para a entrada do castelo, congelou. A pouca cor em seu rosto desapareceu em segundos.
Não podia vê-la, mas o cheiro do sangue impregnava corredor inteiro. Viu o pai parado à entrada, falando com dois guardas do Reino. Cego, avançou pelo corredor.
Ao notar sua presença seu pai fez um movimento com a cabeça, afastando os dois guardas.
Quase correndo, Inuyasha a alcançou, e seus lábios tremeram ao ver o corpo completamente retalhado dela. Uma flecha estava atravessada em seu peito, e seu corpo largado como se fosse nada, diante das escadarias do castelo. Na frente de praticamente todos os moradores de Batsu, a encara-la com desprezo.
Tentou ir até ela, mas três guardas o agarraram e o puxaram para o interior do castelo. Tentou lutar, porém os Youkais da guarda eram fortes e eficientes.
# O que você fez? – sua voz quase não saiu ao voltar-se para o pai. – O que você fez? – gritou, deixando sua eira explodir.
# Essa bruxa infligiu as leis de Batsu. Roubou utensílios do castelo, difamou nossa família e tentou matar um de nossos guardas.
Inu no Taishou disse as palavras friamente e em voz alta, apontando para o corpo destruído. Ele não se dirigia ao filho, mas sim ao povo de Batsu.
# Aproveitou-se da boa pessoa do meu filho…
# Blasfêmia! – Inuyasha gritou, não acreditando que seu pai havia sido capaz de tal ato. – A matou com o objetivo de me atingir e me obrigar a cumprir suas vontades. É um desgraçado.
A Princesa Kira e seus pais apareceram no corredor, atraídos pela confusão.
# Matou-a por ser covarde.
# Vejam o que esta bruxa fez ao meu filho. – ignorando-o, voltou-se para o povo. – O corpo dela deva ser cremado sem piedade. E a morte dela servirá para conscientizá-los dos problemas que essas são e nos trazer. Assim como enfeitiçou meu filho, pode enfeitiçá-los. Pessoas como ela merecem a morte.
Inuyasha arranjou forças de lugares desconhecidos e conseguiu se livrar das mãos dos três guardas que o seguravam. O ódio por seu pai aumentara de maneira inexplicável. E por isso avançou contra ele, e sem pensar duas vezes fechou os punhos e acertou a face do pai.
Inu no Taishou caiu entre o primeiro e o segundo lance de escadas, que separava o castelo do solo de terra da cidade. Os lábios sangraram pela força do soco, mas erguendo a mão, impediu que os guardas se aproximasse, tanto para socorrê-lo, como para segurar o Herdeiro.
# Ela não era bruxa. Jamais fez nada contra ninguém, seu desgraçado! – Inuyasha continuou gritando e apontando para ele. Lançou-lhe um olhar de nojo, enquanto o progenitor se levantava, tocando o local atingido. – A usou para me ameaçar. Para obrigar-me a casa com aquela vadia.
Sem remorso apontou para Kira, fazendo os habitantes do reino prenderem ainda mais a respiração. Mas não se importava com aquilo naquele instante.
# Sempre lhe achei um infeliz… mas nunca entendi a razão pelo qual Sesshoumaru abandou Batsu… Mas agora eu entendo… ele viu o seu verdadeiro 'eu'. Você não merecia minha mãe… – gritou mais ainda. – A única coisa que merecia era a morte!
Lançou um último olhar vez para o corpo da jovem, e sem querer tocá-la para não desabar, adentrou no castelo. Empurrou para fora de seu caminho os guardas e o Rei Hiromi, que desejara tirar satisfações do modo a como ele se referira a sua filha, exigindo o perdão por tamanha ofensa.
...
# A atitude de seu pai foi errada, Príncipe Inuyasha, mas não deve evitá-lo pelo resto de sua vida. – aconselhou Myouga.
Desde a cena no Hall de Entrada, o jovem mantinha-se trancafiado nos aposentos, ignorando as batidas do pai, a ameaçar arromba-la. Até mesmo as criadas, à porta, ele ignorava mandando-as desaparecer antes que acabassem recebendo para si a ira que ele destinava ao pai.
O dia na cidade continuava o mesmo de sempre, como se nada tivesse ocorrido. A única pequena diferença eram as fofocas que tinham como tema Possessão do príncipe por uma bruxa, e da morte bem feita da camponesa bruxa, cujo nome poucos conheciam.
Não tinha vontade de fazer nada. Seu peito ia sendo cada vez mais consumido pelo ódio que sentia pelo progenitor. E pelo nojo que sentia por ter o sangue dele correndo em suas veias.
# Se ficar de frente para ele, irei matá-lo, Myouga. – disse com os dentes cerrados.
Até mesmo mudar sua posição na cadeira, diante da porta fechada da sacada, parecia um gesto perigoso. Até mesmo falar aumentava a raiva.
# Como uma mulher como minha mãe se apaixonou por ele? Ele não vale o grão de comida que come.
# Não fale assim, Senhor Inuyasha.
Myouga pediu, e sentiu um frio na espinha ao ver os olhos dourados e cobertos de ódio se voltarem para ele.
# De nada adiantará ficar nesta situação com seu pai. Ainda terá que se casar… Hiromi aceitou a desculpa e ainda quer casar a filha com você.
"Acho que ele está desesperado para se livrar dela…"
# Que vá ele e esse casamento para o inferno!
Alterou-se saltando da cabeça, e com um soco a jogando contra a parede, assustando Myouga. A cadeira se partiu em pedaços, misturando-se ao pó que caíra quando um pedaço da parede se soltou.
# Se ele quer tanto o casamento, que ele se case com aquela vadia! Não irei desgraçar minha vida por causa dele. Agora me deixe em paz! – abriu a porta do quarto. – Saia, Myouga!
O Conselheiro o obedeceu, por saber estar pisando em terreno perigoso. Aquela história acabaria mal. E o céu, através de outro crepúsculo ensanguentado, lhe deixava claro aquilo. Sem se preocupar em fazer reverências, Myouga deixou o cômodo.
Inuyasha suspirou ao bater e trancar a porta. Pegou um dos objetos arrumados sob o móvel, e atirou-o contra a porta da sacada, estraçalhando o vidro que a formava e deixando o ar do fim da tarde entrar no aposento abafado.
Não. Ela não queria a morte do pai. Na verdade, gostaria de vê-lo sofrer e muito. Afinal, sempre fora adepto da ideia de que a morte, sendo o fim de tudo, era boa de mais para pessoas como seu pai estava se mostrando ser. Queria vê-lo sofrer o mesmo ou muito mais do que ele sofria naquele instante, por perder de maneira bruta a única mulher que realmente gostava dele.
Um forte estronde e um tremer de terra, interrompeu seus pensamentos de vingança. Quase perdeu o equilíbrio, e abismado, observou o céu escurecer de forma abrupta e inesperada.
Deu um passo a frente, pensando ser algo criado por sua mente transtornada, mas os dois fenômenos tornaram a se repetir. Desta vez, acompanhados pelos gritos de terror.
Assim, correu até a sacada.
E o que viu, o chocou.
Era impossível explicar o que acontecia. Mas enormes bolas de fogo surgiam por entre a floresta a dar entrada a cidade, atingindo qualquer que fosse o alvo, ou desafortunado que estivesse em seu caminho.
Os habitantes de Batsu corriam para todos os lados tentando fugir do ataque, que também vinha pelo céu tomado por uma nuvem de Youkais voadores, prontos para matarem. Mesmo dali, podia sentir o desejo forte deles pelo sangue.
Batsu jamais havia sido atacada. Nunca dera motivos para ser atacada, então por que a invasão?
Viu as tropas de Batsu armar-se para a batalha e proteção dos mais fracos, e tornou a entrar no quarto.
Pegou a espada, pendurada na parede, e prendeu sua bainha na cintura.
Talvez, se matasse algum dos invasores, conseguisse diminuir a fúria que sentia pelo pai. Ouviu um estrondo e virou o rosto para ver a fumaça emergir como resultado da explosão da porta de seu quarto, e estreitou os olhos ao não ver ou sentir o cheiro de ninguém.
Como seria possível o ataque chegar tão rápido ao interior do castelo?
Deu alguns passos, pensando ser uma brincadeira de mau gosto de seu pai, e tornou a girar no mesmo lugar ao sentir uma presença atrás de si. Entretanto, nada pode ver ou fazer, enquanto uma esfera de energia atingia seu corpo violentamente, o atirando sem piedade contra a parede.
