Nota: capítulo corrigido.


A guerra tinha acabado.

Voldemort estava morto. Finalmente. Bem, esse não seria um pensamento certo vindo da cabeça de um comensal, seria? Bom, ele não tivera tempo suficiente pra se considerar um. Tinha sido um joguete apenas. Uma arma tão mortal quanto qualquer outra que não fosse de carne e osso.

O fato era que finalmente a guerra tinha terminado.

Voldemort tinha caído de uma vez por todas, enterrado em seus próprios objetivos. Traído por todos com quem contava. Mas não era de se estranhar. A fome de poder contagiava a todos, corrompia a todos. Tinha aprendido desde cedo o quanto o poder era importante. E viciante.

Nos áureos tempos de colégio, divertia-se usando seu nome para impressionar os outros alunos. Divertia-se usando sua autoridade de monitor; ao lado do Lorde das Trevas não teria sido diferente. No começo, as pequenas missões o divertiam. Mas ele não era tão bom quanto o resto deles todos. Mas tinha sido fiel. Mais fiel que seu pai. Bem, pelo menos era isso que Ele havia dito. Deveria ser esse o motivo pelo qual Ele o tinha protegido, quando a derrota mostrou-se inevitável. Mas então, algo saiu diferente do planejado. Ele não queria mais se tornar Voldemort. Ele queria ser apenas Draco.

A simples lembrança de Voldemort lhe causou náuseas.

Sentado sozinho em seu pequeno palacete, lembrou do colégio. Dos amigos. Dos inimigos. Ah, os inimigos. Permanecendo ali, refletiu sobre tudo o que acontecera nestes últimos 7 anos. A formatura, a guerra, as mortes. As tão terríveis mortes causadas por ele. Sua mão estava manchada de sangue, bem como sua alma. Ao fim da guerra, percebeu que nunca fora o menino mal que gostava de transparecer. Mas agora, agora era diferente. Tinha perdido sua alma de vez. Tinha morrido pra sempre.

O retrato de seu pai sobre a lareira o enfurecia. Um pai nunca deveria desejar ao filho um futuro como o qual Lucius desejou a ele. Lucius Malfoy. Odiava seu nome, odiava aquele nome, odiava o pai.

Não podia fechar os olhos, porque ao fazer, ouvia os gritos desesperados das pessoas que matou. E sentia a explosão da varinha ao lançar os feitiços mortais. E depois, não ouvia mais nada. Apenas o som dos corpos caindo sem vida no chão. Quantas pessoas deveria ter matado? Não sabia contar, não se lembrava. Na verdade, mal lembrava como tinha feito. Não era um assassino. Perguntava-se, às vezes, se não teria ficado sob domínio do i Imperius. /i Talvez não. A bem da verdade era que não se importava. Nunca se importou. Por isso deve ter sido escolhido.

Bem, isso foi uma ironia, não é?

Enquanto todos falavam de Harry Potter e sua profecia imbecil, Draco estava sendo preparado por Voldemort. Mas ninguém sabia, não é mesmo? Ninguém sabia do destino dele, porque ninguém se importava com isso. Só Ele. E seu pai. E Snape.

A lembrança do antigo professor e aliado o entristeceu. Mas não devido a qualquer sentimento por ele. Apenas pela conclusão de que estava sozinho. E do quanto a palavra sacrifício significava pra ele.

As duas palavras tinham saído da sua boca como que em câmera lenta. Avada kedavra e pronto, o homem alto, corpulento e de cabelos escuros, lisos e sujos caiu morto logo a sua frente. Sem vida. Pra sempre.

Não sabia ao certo o que o levou a matá-lo. Era a escolha que tinham feito por ele. Ele tornou-se um assassino, ele havia sido preparado para ser tão frio quanto possível. Voldemort o tinha preparado para ser tornar Ele mesmo. "Você tem muito mais do Lorde do que você imagina, rapaz". Os olhos de Snape brilhavam enquanto ele dizia isso. Bem, ele não se lembra de terem perguntado pra ele se ele queria se tornar um lorde das trevas. Provavelmente, ele não queria. Mas ele não teve escolha, não é? Num jogo de vida ou morte todos escolhem a vida, não é mesmo? A sua vida. Com ele não era diferente. A não ser o fato de que tinham escolhido por ele.

Olhou mais uma vez pro quadro. A imagem do pai o estava aborrecendo. Sentia-se tão só como nunca e aquela imagem não estava ajudando.

"Grande dia hoje, não?" Riu de si mesmo ao terminar de pronunciar a frase. Sua voz ecoou por toda a grande sala. Parecia tão ridículo assim conversar com o quadro do pai? Provavelmente sim, o que o fez lembrar o quanto detestava passar por ridículo.

"Adeus, pai!" E jogou o quadro na lareira, ouvindo o fogo consumi-lo em minutos.

Caminhou pesadamente até a escada e arrastou-se degraus acima até chegar em seu quarto. O quarto de repente parecia muito grande pra ele. Assim como o resto da casa. Mas não tinha animo e nem vontade de sair de lá.

Jogou-se na cama com muito gosto, sentindo o lençol de seda encostar em seu rosto. Era um bom momento para chorar. Mas ele não sabia o que era isso. Não se lembrava de ter chorado em nenhum momento de sua vida.

Não chorava quando era pequeno, nem mesmo quando, aos dois anos, se machucou seriamente ao colocar a mãozinha num caldeirão fervendo. Tinha doído, mas segurou o choro para não desapontar o pai, que o olhava com severidade. Não era agora, com 24 anos, que iria chorar, não é mesmo?

Mas a sensação o intrigava. Porque se sentia assim? Esse vazio, essa sombra. Não sabia e não se importava. Mas não conseguiu adormecer de imediato.

Sua cabeça fixou no pergaminho. Tinha sumido da casa de Snape. Traidor. Precisava dele, precisava saber o que estava escrito ali. Precisava saber o que acontecia com ele. Algo estava muito errado. E nem mesmo sob a ameaça da morte iminente, o professor lhe tinha entregado. Maldito. Sua morte tinha sido vã, então. Mas ele sabia; apenas, não conseguiu refrear as palavras. Onde quer que estivesse, ele iria encontrar.

Precisava de um plano. Rápido e eficaz.

Seu pensamento foi perturbado por um barulho vindo da porta da entrada da casa. Alguém estava entrando. Ele se escondeu, sumindo atrás das cortinas, tentando observar pela janela. Esperou alguns minutos, ouviu passos, então ela apareceu. Viu sua porta ser aberta com cautela, uma luz suave se apagando na entrada. Então a reconheceu. E em poucos segundos, traçou seu plano.


"Srta. Weasley?" – um homem corpulento, baixo e de bigodes compridos parou a sua frente. "Mandaram isso para você." – ele estendeu o pedaço de pergaminho enrolado para a mulher ruiva.

Ela suspirou e olhou para cima, encarando o papel. "Obrigada, Bill. Quem deixou para mim?" – ela perguntou pousando o papel sobre a mesa de sua sala.

"Não sei. Apenas mandaram, sem remetente, nem nada."

"Okay, Bill. Obrigada." – ela sorriu ao homem. Ele não se demorou, deixando a sala tão logo ela começou a desenrolar o pergaminho.

O papel envelhecido estava impregnado com cheiro de coisa velha. Ela olhou de relance. As letras estavam quase apagadas, mas era possível perceber que não se trava de escrita comum. Ela tirou os olhos do papel para encarar o escritório. Era uma sala grande, que ficava no Departamento de Mistérios. Cercada de grandes estantes cheias de livros e armários que continham objetos estranhos, estudados por ela. Era um trabalho divertido para ela. Depois de tantos anos lutando, tinha se cansado da ação. Optou pelo trabalho intelectual. Conseguiu um bom cargo no Ministério. Era uma boa profissional. Altamente treinada. Altamente confiável. Muito competente. Não demorou a crescer lá de quem era.

Ainda que sua vida fosse passar quase o dia todo lá dentro, cercada de coisas para analisar e reportar. Quase todo dia, alguma coisa nova aparecia sobre sua mesa. Alguma coisa na qual ela tinha que trabalhar. Achar feitiços, desvendar mistérios. Ela adorava.

Olhou novamente para o pergaminho. Mais uma vez, reconheceu que a escrita ali não era comum. Não sabia dizer o que era ao certo. Parecia um anagrama, escrito um uma linguagem antiga. Talvez não. Talvez não fosse nada disso. Mas de qualquer forma, ela estava cansada demais para pensar naquilo aquela hora. Começou a enrolar novamente o pergaminho, quando um pequeno borrão prendeu sua atenção. Aproximando a vela do papel, ela estudou o borrão até que um súbito de compreensão passou por sua cabeça. Conhecia aquele endereço. Alguma coisa em sua cabeça trabalhou para ligar o pergaminho ao endereço. Se tiver alguma coisa misteriosa por trás daquele pedaço de papel, ela pensou, está naquele lugar.

Escondeu o papel no fundo de uma gaveta da mesa. Sabia que o pergaminho tinha sido mandado pra ela por algum motivo. Longe dos olhos do Ministério. Precisava apenas saber quem o tinha mandado e por que. Levantou-se rapidamente, guardou a varinha no bolso da capa e aparatou.

O vento gelado bateu em frente com o rosto dela. Ótimo, pensou, brilhante idéia de sair no meio da noite, apenas para morrer congelada

Tinha aparatado em frente da antiga Mansão dos Malfoy.

A casa tinha um aspecto assustador. Escura, sombria e vazia. Realmente não sabia o que esperava encontrar dentro dela. A família tinha sido morta durante a guerra. Lucio tinha fugido de Azkaban com a ajuda de Draco, mas morreu na ultima grande batalha, pelas mãos de algum dos aurores. E Draco, bem, ninguém tinha muita certeza, mas todos pensavam que ele deveria ter morrido durante alguma batalha. Foi realmente uma carnificina. Eram tantas pessoas, lutando por todos os lados. Embora não se lembrava de tê-lo visto. Mas não tinham visto muitas pessoas, que estavam lá e morreram lá. Ela era uma sobrevivente, no fim das contas.

Tentou afastar da lembrança as imagens horrorosas daquilo tudo. Estava acabado. Quer dizer, tinham achado e destruído todas as Horcruxes e Harry tinha matado Voldemort. Estava tudo acabado.

"Alohomora". A porta da entrada abriu-se. "Lumus Máxima". Agora a entrada estava iluminada.

A sala escura brilhou com a varinha de Gina. Ela vasculhou o local; não havia muita coisa. Parecia que a casa havia sido furtada. Observou os sofás rasgados e as cortinas caídas. Acreditou que a casa deveria ter sido muito bonita em algum tempo.

Sentiu um calor vindo da lareira. Chegou perto apenas para constatar que ela tinha sido acessa não fazia muito tempo. No canto, reparou no quadro queimado. Mas não podia dizer quem estava pintado ali. Embora soubesse que não estava mais vivo. Seja quem for que tenha acendido a lareira, não tinha muito respeito pelos mortos.

A casa era realmente grande. Olhou ao redor da sala; não esperava encontrar qualquer coisa ali. Passou para outra sala, e depois outra e depois outra. Iguais. Ricamente mobiliadas e enfeitadas. Mas igualmente sombrias e mortas. Suspirou.

Desanimada, procurou as escadas. Provavelmente acharia alguma coisa em algum dos quartos ou talvez no escritório.

O corredor que levava aos quartos de cima da casa era ainda mais sombrio do que a sala. Diminuiu a luz que vinha da varinha e entrou na primeira porta que encontrou. Era um escritório. Parecia um bom lugar para começar a procurar. Olhou nas gavetas da escrivaninha, em cima da mesa, nos armários, nos livros e nada. "Parece que não tem nada aqui" - falou para ela mesma.

Saiu do escritório e seguiu adiante, parando na frente da porta de um quarto. Olhou tristemente para uma placa pendurada que dizia 'Draco'. Não conseguiu lutar contra a curiosidade de entrar. Estudara na mesma escola que ele por 6 anos. Lutara contra a família dele. No ímpeto, desejava saber quem ele tinha sido. Apagou a luz da varinha.

Gina entrou cuidadosamente no quarto de Draco. A primeira vista, esse era o único cômodo intacto. Não quis acender a luz, não sabia por quê. Deixou apenas a luz vinda das janelas iluminar o ambiente.

Viu de relance algumas fotografias. Draco e alguns amigos da antiga Sonserina. Draco e a mãe. Draco e o pai. Quase uma criança normal pensou ironicamente.

Depois passou os olhos pela estante de livros e o armário. E quase caiu quando seus olhos encontraram os dele.

Piscando uma vez, ela focalizou os olhos cinzentos brilhando com a pouca luz vinda da rua. Sentiu um arrepio cobrir-lhe o corpo todo. Um pequeno sorriso se formou nos lábios do homem a sua frente.

"O que você está fazendo na minha casa, Weasley?" – a voz dele saiu grave, quase como se estivesse condensada.

"Não pode ser." – ela deixou escapar.

Draco riu. "Você sempre foi burra assim na época da escola? Me admira ter conseguido um emprego no Ministério."

Gina levantou a varinha. Draco estava vivo e estava na sua frente. O Ministro ia ficar muito satisfeito. Ela mirou o rosto do rapaz. O mesmo cabelo loiro, liso, jogado sobre testa, os mesmos olhos cinzas e frios.

Gina permanecia muda, sem tirar os olhos do rapaz que a fitava. Snape havia sido morto ainda naquela noite e de repente, encontrava Malfoy, escondido na casa dos pais. Há quanto tempo estaria ali escondido?

"Achávamos que estava morto, Malfoy."

"Bem" ele disse, olhando para o próprio corpo, "Parece que estavam errados, ahn."

É, ele até que era bem irônico demais para um fantasma. Malfoy levantou da sobreira da janela em que estava sentado e adiantou-se na direção de Gina, que instintivamente, manteve a varinha estendida para ele.

"Corta essa, Weasley. Não pretendo lutar mais essa noite." – e sem que ela pudesse pensar, ele já havia a desarmado.

Mais? A palavra soou na cabeça de Gina.

"Ah, Weasley. Não me olhe com essa cara."

Ela continuou sem responder.

"Mas você não me respondeu, o que esta querendo aqui?" – os olhos acinzentados dele cortaram qualquer tentativa de resposta inventada dela. Ela olhou para os lados, tentando encontrar uma resposta, mas não obteve êxito. Ele a mirou mais uma vez, levantou um pouco a varinha dela e usou uma das grandes habilidades que tinha. Dentro da cabeça dela, ele viu quando ela recebeu um pergaminho, quando ela notou a escrita diferente e quando ela encontrou o endereço. Sorriu em satisfação. O destino até que estava ao seu lado. Então era isso que Snape tinha feito. Mandado o pergaminho pra algum idiota do Ministério. Ótimo.

"Snape está morto, Malfoy. Vim procurar qualquer pista que indicasse o responsável por isso." – ela mentiu, não percebendo que ate então, ele já havia entrado dentro de sua cabeça. Ela nunca tinha aprendido oclumência, de qualquer jeito.

"Ora, ora...mas então existe justiça nesse mundo". A ironia do moço não a convenceu. "E por que você acha q encontraria qualquer coisa aqui, Weasley? Meus pais estão mortos. Não tem nada aqui que possa te interessar." – ele a encarou ainda mais seriamente. – "A não ser que esteja interessada em comprar velhas relíquias de família. Sendo as da minha, deve valer uma nota. Quem sabe você possa vender depois e parar de passar fome".

"Me poupe da sua ironia. Estou aqui por ordens do Ministério. A casa estava vazia e você estava sendo dado como morto, sendo assim, tornou-se território do Ministério. Mas acho que o Ministro vai ficar bem mais satisfeito ao saber que pelo menos você esta vivo. Então aproveite seus últimos momentos de liberdade, em sua doce casa." Virou-se e saiu andando, sem dar tempo para ouvir qualquer resposta.

"Você não vai fazer isso, Weasley."

"Isso o que, Malfoy?"

"Me denunciar."

Ela riu.

"Não vou? E por que não vou denunciar você Malfoy?" – ela perguntou desafiadoramente.

"Porque antes mesmo de você pensar em falar com alguém, eu acabo com a sua vida." – ele disse serio, apontando para a ela a própria varinha. – "Ao invés de me denunciar, você vai me trazer uma coisa. Um pergaminho. Você sabe do que estou falando." Ele caminhou em direção a ela, sabendo que ela lhe lançava um olhar atento.

"Não tenho idéia do que você está falando, Malfoy." – ela disse se esquivando do olhar dele.

Agora o rapaz estava tão próximo dela que ela podia sentir o hálito dele perto do ouvido dela.

"Não acho que você vai pagar pra ver, Weasley. Eu preciso daquele papel. E você vai trazê-lo pra mim amanhã à tarde".

Desde quando seu sobrenome se tornara tão detestável? Só podia sentir a proximidade de Malfoy e o quanto ela tinha se tornado ameaçadora.

"Espero você amanhã. Não se atrase."

"Você ficou maluco? Não vou te trazer nada. Ainda por que não sei do que você esta falando."

"Ah sabe, sabe sim. Aquele pergaminho que você recebeu hoje, misteriosamente. Aquele em que constava o meu endereço. Traga-o para mim."

Ela balançou a cabeça, não acreditando nas palavras dele. Não sabia como ele tinha descoberto, mas o fato era, ele tinha um interesse grande naquilo e ela queria saber porque. E acima de tudo, queria saber o que tinha escrito naquele papel.

"Quando você vier, te devolvo sua varinha." – ele deu as costas pra ela e sumiu na escuridão do corredor da casa.

Ela não pode aparatar. Procurou um pouco de Pó de Flu, embora achasse quase impossível que existisse isso naquela casa. Por sorte, havia algum resto na cozinha, sabe-se lá por que.

Chegou em casa suja de pó, cansada e muito irritada. Depois de tudo o que vinha enfrentando para conseguir colocar em ordem o Ministério, agora tinha que se preocupar com o que fazer com o ultimo assassino maluco do exercito de Voldemort a solta.

Bufou, desanimada. Preparou-se para aparecer no Ministério na primeira hora do dia seguinte. Sentiu um pequeno aperto no peito. Uma sensação ruim. Uma intuição estranha. Não sabia o que deveria fazer primeiro. Contar a alguém que ele estava vivo parecia uma boa idéia. Mas não antes de garantir que o pergaminho estivesse a salvo. Assim que chegasse no Ministério no dia seguinte, ela o esconderia. Então, contaria para o Ministro que ele estava vivo. E daí, era um problema do Ministério encontrá-lo e prendê-lo.