Harry Potter e as Relíquias da Morte.
Resumo: Harry não tem escolha, chegou a hora e juntamente com seus amigos, ele vai em busca das Horcruxes!
Capítulo 01.
As lágrimas videntes.
Era uma noite incomum, exceto pelas toneladas de água que despencavam do céu sobre os terrenos verdes das colinas. Fazia um frio de rachar que denunciava que pouco menos de uma semana estaria nevando ao redor daqueles terrenos.
A tempestade deixava escondida entre as águas um lugar mágico, onde havia um enorme castelo com milhares de janelas espalhadas por ele todo, mas de todas elas, apenas duas havia sinal de vida. A claridade vinha das duas janelas mais altas da torre do castelo. E nesse mesmo cômodo encontravam-se quatro amigos impacientes, com um ar tão agradável quanto à tempestade que caía colidindo contra as vidraças do castelo como se desejassem invadir o local.
Era uma sala considerada ampla, porém vazia, com exceção das quatro pessoas, cinco assentos, que por lógica um deveria estar vazio, mas não, havia um chapéu muito negro, normal, de bico fino ocupando todo o volume do banquinho de três pernas.
- Acho que Hogwarts está praticamente pronta! – comentou Rowena olhando com admiração o lugar em sua volta, os archotes todos bem encaixados em pontos estratégicos da sala para que ficasse tão iluminada como se uma lâmpada gigantesca estivesse acesa (ainda que naquela época lâmpadas ainda não tinham sido inventadas) – Está tudo muito bonito, não acham? Só falta decorarmos aqui com alguns quadros... E...
Embora tivesse perguntado com educação, as pessoas ali presentes não pareciam animadas em responder, principalmente o rapaz de cabelos negros, olhos muito verdes, e a pele clara, tinha um rosto fino, e quando grunhia levemente o nariz, sua língua automaticamente dava uma passeada pelos seus lábios quase roxos, lembrando de leve uma serpente.
- Sabe, seria legal se vocês prestassem atenção no que eu estou falando – comentou Rowena para si mesma – Não creio que a atenção desse tal chapéu seja mais importante do que eu tenho a dizer.
- Não é um chapéu qualquer, Rowena, é o Chapéu Seletor, que selecionará os alunos! – explicou Godric como fosse a vigésima vez.
A princípio estavam os quatro reunidos em volta do chapéu pontudo, em busca de alguma solução para que pudessem transformá-lo em algum tipo de animação que viria a calhar mais tarde assim que os estudantes chegassem ao castelo para serem divididos entre suas respectivas, chamadas Casas, por questões óbvias (já que abrigariam os alunos recebidos no castelo), porém, Rowena já tinha perdido a paciência (mesmo não sendo uma de suas características) mas estava demais de empolgada pela celebração da escola que estava pensando em fundar juntamente com os outros três amigos. Ao todo, quatro amigos, completamente diferentes.
Começando por Godric, tinha o cabelo da mesma cor de uma cenoura, seus olhos eram castanhos, possuía sardas no rosto branco, e logo abaixo, em volta dos lábios havia pêlos ruivos composto por uma mistura de bigode com cavanhaque. Lembrava claramente um leão quando o vento resolvia brincar com o seu cabelo. Não só fisicamente diferente, mas vinha de uma família muito poderosa da Europa, e por mais que seus antecedentes não tenham sido bruxos, os seus pais eram (e considerados puros), mas a verdade é que não pertenciam inteiramente ao sangue puro, mesmo porque o sangue de pessoas não pertencentes ao mundo mágico estava no seu sangue por mínimo que seja.
Já Salazar, era totalmente o oposto, sua família era composta por bruxos de sangue puro, sequer admitiam pessoas que sofreram miscigenação, isso em seu mundo era considerado algo desumano, desleal, não seria aceito de hipótese ao longo das futuras gerações de sua família. Salazar era uma pessoa fria, amarga e sem paciência, porém suas qualidades eram opostas, era amigo legal como ninguém. Um homem de astúcia, como diria o seu pai orgulhosamente.
Helga era uma garota delicada, a única mulher casada do quarteto, tinha uma filha com pouco menos de dois anos que era cuidada pelo marido (não mágico). Seus pais eram inteiramente mágicos, seu pai era um vidente poderoso da cidade onde morava, lia as mãos das pessoas, e tudo mais (Helga tinha doado um pouco disso do pai), e sua mãe era costureira e passara toda a vida ensinando a filha a costurar divinamente. Seus cabelos eram loiros e enrolados, chegavam até a cintura. Seus olhos eram iguais aos de Godric, castanhos, e o tom chegava a ser o mesmo. Sincera, justa, e legal. Rowena, sua melhor amiga podia dizer isso com toda garantia.
Rowena, além de companheira, possuía uma voz meiga, e tinha sonhos desde criança: voar. Logo um novo sonho se apoderou da mulher de cabelos castanhos presos em uma trança, e esse seu novo sonho era: Passar adiante tudo o que aprendera. Seus feitiços que seu pai ensinava no quintal de casa, as poções que sua mãe passava horas na cozinha mostrando à garota. Sentia que queria ser pai e mãe de muitas crianças ao mesmo tempo.
Foram com critério aos animais que as casas receberam seus símbolos, embora os seus nomes fossem devido aos sobrenomes: Grifinória (Leão, pelos cabelos de Godric despenteados ficarem parecendo com uma juba), Sonserina (Cobra, pelo excesso de visitas que sua língua fazia aos lábios, dando uma característica animalesca), Lufa-Lufa (Texugo, por desde pequena lamentar pela morte de seu Texugo), e Corvinal (Águia, afinal, sempre fora o sonho de Rowena voar, por que não uma águia como símbolo de seus sonhos sendo realizados?).
Estavam ali, os quatro, reunidos, pensando que talvez pudesse existir algum feitiço que fizesse um chapéu criar vida. Qual seria?
Em um canto da sala, estavam esquecidos os malões dos fundadores em um canto, isolados, tinham acabado de voltar de suas casas há pouco menos de algumas semanas. Rowena lançou um olhar ao seu malão e perguntou aos demais.
- O que vocês trouxeram?
Eles ficaram em silêncio, apenas Helga corou levemente e sorriu mesmo sem responder.
- Ah! Qual é? Me falem...
- É que... Sabe... Como aqui seria a sala do diretor – disse Helga normalmente – Pensei que... Que... Talvez eu pudesse... – ela agachou até o malão, revirou algumas peças de roupa, e puxou um cobertor dobrado certamente dez vezes mais volumoso que o normal.
- O que você guarda aí dentro? – perguntou Rowena curiosa.
Helga desembrulhou alguma coisa que parecia ser pesada e era. Parecia mais com um formato de troféu, dourado, grande e pesado, e de fato, era!
- O que isso faz exatamente?
- Isso tem poderes que você jamais imagina! Papai era mago, meio vidente, sabe? – explicou Helga – E quando papai morreu, automaticamente seus poderes foram trancados dentro dessa taça!
- Isso quer dizer alguma coisa? – perguntou Rowena coçando o queixo – Porque se sim, podemos quebrá-la agora mesmo, nossa! Eu ia amar ser vidente, descobrir o futuro e...
Para sua decepção Helga não estava tendo a mesma idéia, olhava com uma cara de poucos amigos, tratou de embrulhar logo a taça e pôs de volta na mochila.
- Não, Rowena! Pertence aos meus pais, e não é assim que deve ser usada! Tem toda uma profecia a ser cumprida! Papai disse que um garoto aos 17 anos terá acesso a ela, e à partir de então, coisas inimagináveis acontecerão!
Rowena olhou séria para a amiga e concordou.
- Uau! Eu li vários livros sobre profecias e tudo mais, são interessantíssimos e...
- Outra vez não! – cortou Godric brincando, deixando Salazar sozinho olhando fixo para o chapéu – Falando em objetos para enfeitar a diretoria, eu também trouxe uma coisa... Er... Bem...
Godric não foi na direção de seu malão, e sim de sua mochila, de dentro dela tirou uma bainha duas vezes maior do que a mochila, mas provavelmente a magia havia interferido no volume da mochila.
- Isso é uma espada?
- Tecnicamente, sim! Foi eu mesmo quem a criei! – orgulhou-se diante dos olhos brilhantes de Rowena.
- Mas... Mas elas precisam de materiais encontrados somente na Espanha! Eu li uma vez que... – ela parou abruptamente de falar ao ver a cara de "peixe-morto" que ele fez – Certo! De qualquer forma, é muito bonita.
- Obrigado! – disse sacudindo os ombros e voltando a guardar na mochila – E você, não pensou em trazer nada?
As bochechas de Rowena pinicaram levemente.
- Eu... Eu... Estive pensando em fazer uma biblioteca por aqui, com vários livros sobre Hogwarts... E tudo mais!
- Corta essa! – comentou Salazar sentado ainda onde estava – Eu não vou perder meu tempo escrevendo nada.
Espantados pela primeira vez que Salazar falava em dias, eles viraram a cabeça na direção do moreno.
- E você, o que trouxe?
- Não tenho tempo para essas besteiras! – comentou ranhoso.
Godric arregalou as sobrancelhas, e Rowena cochichou de leve em seu ouvido.
- Podíamos pendurar aquele medalhão horroroso que ele usa! – disse ironicamente.
Helga afastou, sabendo que devia deixar os dois conversando a sós. Desde quando conhecera os amigos soube que eles formavam um par mais do que perfeito, e sabia que mais cedo ou mais tarde acabariam juntos!
- Sabe de uma coisa? – disse Helga tímida querendo quebrar a tensão do silêncio algum tempo depois – Eu não vejo a hora disso tudo começar, sei lá, vai ser tudo muito legal...
- Bagunçar com a molecada! – apoiou Godric rindo recebendo os olhares de censura das duas amigas.
- Quando minha filha completar onze anos vai poder entrar na escola! – disse Helga animada porém o silêncio desabou novamente entre os amigos, e Salazar tinha levantado do banquinho cujo estava sentado – Algum problema, Sonserina? – desafiou ela sabendo o que viria.
- Sua filha não é digna de entrar para essa escola de magia! - disse sério.
Godric congelou no lugar só de imaginar o que o amigo diria se soubesse que esse "digno" também classificava o ruivo.
- Por que, Salazar? Só porque o meu marido não é mágico? – Helga empinou o nariz mostrando que não estava disposta a perder essa batalha por nada no mundo, ainda mais porque incluía sua filha, o que mais amava em todo o mundo.
- Ela é trouxa! – gritou Salazar cerrando os punhos, e Godric precisou levantar sabendo que sua paciência não demoraria a se gastar.
- Trouxa não é termo correto! – corrigiu Rowena chegando ao lado da amiga – É não-mágico! Já lhe falamos sobre isso, Salazar!
Salazar bufou e se pudesse, fogos sairiam por seu nariz.
- Isso é nojento! – gritou com a voz ecoando por toda a sala – É inteiramente ridículo!
- Você acha que os poderes de uma família mágica são melhores do que qualquer outra pessoa, isso é nojento! Você acha que pode mais do que tudo só por ser ofidioglota!
Salazar avançou sobre a mulher, derrubando o banquinho do chapéu, e Godric segurou o amigo pelas duas mãos.
- V-você... V-vai... S-se... A-arrepender p-por i-isso! – dizia pausando entre as palavras, respirando fundo.
- Ela tem razão! – concordou Rowena apertando a mão da amiga como consolo – Você não pode impedir que outras pessoas aprendam magia!
Salazar lançou um olhar penetrante na direção de Rowena que calou-se imediatamente, contudo o silêncio não veio.
- Vocês todos estão cegos!
- Não é verdade, Salazar – concordou Godric em suas costas, segurando suas mãos – Elas duas têm meu apoio enquanto a isso! Os trouxas também tem direito a aprendizagem bruxa!
- Elas eu não posso, mas você... – Salazar puxou as duas mãos com força e virou-se tão depressa para virar um soco em Godric que caiu de costas no chão.
- Amantes trouxas!
Helga tinha lágrimas nos olhos, e via Godric caído, sentia o coração espremer de pena no peito, mesmo que um dia chegasse a defender seus amigos com as mesmas garras, ou até mais.
- Com tantos lugares secretos pelo castelo, por que você não vai brincar com as suas cobrinhas, Salazar? – desafiou Helga fora de controle.
Salazar respirou fundo e voltou na direção das duas.
- Eu juro que vocês vão pagar muito caro por isso! – e saiu da sala batendo a porta com toda a força que podia.
Godric ainda estava jogado no chão, com a cara levemente vermelha no lugar da pancada, as duas ajoelharam ao lado do garoto.
- Está tudo bem? – perguntaram dando uma mão para ele se levantar.
Ele apenas concordou com a cabeça.
- Eu... Eu... Preciso falar com ele! – disse ficando de pé – Ele... Ele não vai deixar isso barato! – Godric largou as duas para trás e saiu correndo seguindo os passos de Salazar.
Helga apenas ficou encarando a bagunça que a sala estava, mesmo não tendo outros móveis em vista, apenas os banquinhos jogados como se um furacão tivesse passado por ali. Ela foi até o chapéu, tirando-o do chão.
- O nosso sonho foi destruído!
Rowena agarrou a amiga pelos ombros e fez um carinho de leve.
- Não, não foi Helga, tudo já foi construído! Ele teria que enfrentar nós três para destruir tudo o que fizemos...
Helga concordou sabendo que era improvável que ele destruísse o castelo todo, mas não era impossível.
- Não podemos construir o Chapéu Seletor sem ajuda de Salazar. Não podemos ensinar aos estudantes sem ajuda de Salazar!
- Daremos um jeito! Você sabe que sempre foi assim... Ele se zanga, sai para espairecer e volta algumas horas depois!
Helga negou com a cabeça.
- Dessa vez vai ser diferente! Eu senti nos olhos dele!
- Salazar vai aceitar isso com o tempo, só precisamos esperar! – disse calmamente Rowena.
Rowena tirou o chapéu remendado das mãos de Helga.
- Ótimo trabalho, só que parece bem mais velho do que era... – riu.
Helga deu os ombros como se não se importasse com o objeto.
- Nunca fui boa em costurar, apenas tentei ajudar...
- Não se preocupe, desde que ele fale, gesticule e selecione, vai ser de uma grande serventia!
Helga riu da amiga.
- Obrigada, Rowena!
- De nada, Helga! Agora só precisamos pensar em uma frase para...
E as lágrimas de Helga deslizaram pelo rosto, molhando a aba do chapéu todo remendado. E antes mesmo que manchasse o tecido, aconteceu algo absolutamente extraordinário, uma luz ofuscante saiu e explodiu na direção das duas.
O chapéu se mexeu no lugar, e as duas saltaram para trás assustadas.
- O que é isso? – berrou Rowena parada de medo no lugar.
- Papai me disse alguma coisa sobre isso – disse Helga lembrando vagamente – Ele... Disse... Que... A ESPADA DE GODRIC!
Helga correu até a mochila do amigo atirada no chão, tirou a espada, e apontou na direção da luz que saía do chapéu.
- VAMOS, ACERTE-O! – gritou Rowena com medo. Imediatamente Helga atravessou a espada de lado no meio do objeto, mas para a sua surpresa, a espada sumiu misteriosamente de suas mãos, como se tivesse sido sugada pelo chapéu.
- Draco Dormiens Nunquam Titillandus! – aconselhou o mesmo mexendo uma dobra que parecia ser sua boca.
- O que?! – exclamou a filha do vidente assustada – E a espada? Godric vai me matar!
- Nunca cutuque um dragão adormecido? – cortou Rowena para ver se tinha entendido direito.
- Exatamente! – disse o chapéu orgulhoso.
E foi assim... Que começou a história do Chapéu Seletor!
