Memórias Póstumas de um Guardião
Fanfic por Jaqueline de Marco
Sinopse: A morte não foi o fim da existência do Guardião Dimitri Belikov. Ele se tornou contra a vontade um Strigoi, a raça mais violenta e perigosa de vampiro. Agora, tudo mudou: sua força, agilidade, metas... seu amor. Fanfic Vampire Academy. Spoilers de Blood Promisse e Spirit Bound.
Prólogo
Primeiro, aquele cheiro. Eu conhecia aquele cheiro, mas ele estava... diferente. Era delicioso! Fazia minha boca salivar.
Segundo, aquele ardor nos olhos. Eu lutava para abri-los e expulsar a areia que parecia arranhar minhas córneas, mas minhas pálpebras insistiam em ficar fechadas. Meus olhos estavam secos, o que causava uma dor ainda maior.
E terceiro, aquela dor muscular. Era como se todos os meus músculos tivessem sido esticados e depois relaxados. Nenhum treinamento, mais duro que tivesse feito, tinha me causado tamanha dor.
Treinamento? Sim, eu me lembrava. Passei por treinamento. Eu sabia lutar, me defender... atacar.
Tentei me mover e foi só quando a dor muscular se intensificou que eu percebi que estava deitado num chão de terra fria, em posição fetal. Ficar parado fazia as dores se suavizarem, mas algo dentro de mim dizia que eu precisava levantar.
E tinha aquele cheiro.
- Anda, você precisa experimentar essa. – disse uma voz masculina num tom lunático – Está ótima! Ande!
O cheiro novamente. Ouvi passos e o som de algo sendo arrastado muito próximo a mim e então o cheiro se tornou mais forte, irresistível. A dor muscular parecia um fraco incômodo agora, a ânsia de alcançar o que exalava aquele cheiro guiava meus movimentos incertos, ainda na escuridão dos meus olhos cerrados.
Estiquei meus braços. Sentia a umidade do ar. Com certeza estávamos em algum lugar subterrâneo. Minhas mãos alcançaram uma superfície lisa, fracamente morna... uma pele macia.
- Aqui, segure a humana assim – disse novamente aquela voz.
Um alarme soou na minha mente, algo estava errado, mas não sabia o que era. Aquele cheiro era embriagante. Eu caí de joelhos, perdendo a força nas pernas. A humana caiu sobre mim e eu ouvi o corpo do homem a nossa frente abaixar também. Suas mãos guiaram as minhas em direção ao ombro da humana. Ela tinha um cabelo comprido que cheirava a terra misturada àquele cheiro que tanto me atordoava.
Aqueles cabelos trouxeram uma lembrança à margem da minha memória. O que aqueles cabelos compridos me lembravam? De quem eu estava esquecendo?
Em um movimento automático, afastei os cabelos dela para o lado e o cheiro veio ainda mais forte, senti todo o meu corpo entorpecido. Uma fome me tomou, como se as paredes do meu estômago estivessem se corroendo. Levei minhas mãos aos seus ombros e passei meus dedos por sua pele. Estava molhada, úmida. Levei meu dedo aos lábios. Era delicioso. Lambi vigorosamente minha mão, sentindo arranhões arderem enquanto passava meus dentes, e o que pareciam ser presas, contra minha pele.
- Calma aí. O prato principal é ela – a voz disse de forma sarcástica.
Perdi o controle dos meus movimentos. Passei meus braços sobre aquele corpo frágil. Minhas mãos alisaram de forma precisa o pescoço e ombro dela, deixando sua pele nua e lisa na altura do meu rosto.
E aquele cheiro. Aquele cheiro... de sangue.
Inclinei minha cabeça sobre ela, puxando pelos cabelos a cabeça da humana para o lado oposto. Ela estava coberta de sangue, um sangue quase seco, mas abastecido pela quantidade pulsante que ainda vazava de uma ferida aberta na dobra do pescoço. Lambi o que encobria seu ombro, sentindo minhas presas roçarem fortemente contra sua pele, deixando um caminho de sangue por onde eu a arranhava.
Eu podia sentir a pulsação da sua veia jugular e, estranhamente, isso fez meu estômago doer ainda mais. A fome entorpecia meus atos e com uma força e fúria inexplicável senti minhas presas furarem com facilidade a pele frágil da humana. Senti um rápido espasmo dela antes de perder completamente a noção do que se passava ao meu redor.
Era vida, vida sendo passada para mim. Sentia uma fome de séculos, como se tivesse ficado sem qualquer tipo de alimento por toda uma vida. O sabor não era salgado, mas doce. Quase como um vinho tinto refinado, mas mais espesso, proporcionando mais sabor. Nada no mundo poderia explicar aquele momento.
Senti as pernas dela se remexerem na minha frente, então joguei meu corpo sobre seu corpo, mantendo-a inerte com toda a força que possuía. Força. Era força que recebia através daquele contato. Meus músculos não mais doíam, eu os sentia enrijecer conforme sugava o sangue do pescoço da humana.
Minhas presas, que inicialmente haviam feito dois pequenos furos naquele pescoço, agora rasgavam a pele daquela humana, enquanto meus lábios lambiam desordenadamente o sangue que escorria da minha boca para o ombro dela.
A cada nova sugada, sentia seu corpo mais leve. Não tinha certeza se aquele líquido dos deuses estava se esgotando de seu corpo ou se eu me tornava cada vez mais forte. Provavelmente os dois. Eu era forte, eu sentia que podia quebrá-la ao meio se assim quisesse.
Eu me debrucei ainda mais, ficando completamente sobre ela. Puxei com tanta força sua cabeça para o lado que, de repente não senti mais seu corpo se mexer. Ela não se remexia ou se movia em baixo de mim e aos poucos o sangue pulsante não mais saia da ferida de seu pescoço.
Eu deixei meu corpo cair para o lado, deitando com as costas no chão. Aquele cheiro ainda atraia minha atenção, mas não corroia mais meu estômago.
Eu estava alimentado.
Meus olhos não ardiam mais, mas minhas pálpebras estavam pesadas, como quando acordamos de um sono longo e pesado. Abri com cuidado os olhos. Inicialmente minha visão estava turva, não enxergava com nitidez. Conforme piscava, a distorção se dissipava e então eu vi. Eu vi o novo mundo que me esperava.
Eu estava acordado para uma nova realidade. Estava acordado pela primeira vez na minha existência. Eu era um Strigoi.
